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Mushoku Tensei: Jobless Reincarnation – Volume 16 – Capítulo 7

A Biblioteca Labirinto

Sair do círculo de teleporte foi como acordar de um sonho. Não importa quantas vezes eu experimentasse, jamais me acostumaria. Isso me fazia lembrar bastante dos encontros com Deus-Homem.

Olhei para meus companheiros. Quase todos tinham olhares surpresos no rosto. Até mesmo a sempre séria Eris estava boquiaberta enquanto olhava em volta. Ghislaine foi a única que não pareceu surpresa.

Pensando bem, ela é a primeira do povo-fera a usar um círculo de teleporte.

Foi a primeira vez que vi Ariel totalmente chocada. Ela olhou para cima, com a boca entreaberta e seus olhos desfocados, olhando para longe.

Fico imaginando se ficaria brava comigo se eu colocasse meu dedo em sua boca.

Deixa quieto. Mesmo que não ficasse, Sylphie com certeza teria um ataque.

— Ah! — Ariel finalmente piscou e recuperou a compostura. Ela se virou para mim. — Chegamos ao nosso destino, não é mesmo?

— Sim.

Estávamos em um local de piso e paredes de pedra, semelhante às ruínas da Tribo Dragão que visitei. Todos os outros círculos de teleporte que utilizei levavam a lugares como este. A única diferença era que este aqui tinha uma porta decente, e o local estava preenchido pelo cheiro de tinta, pergaminho e mofo. Isso me garantia que definitivamente tínhamos chegado à Biblioteca Labirinto, mesmo que não houvesse livros ali.

— Disseram-me que não havia perigo real aqui, mas, no final das contas, o lugar é um labirinto — eu disse. — Vamos ficar atentos.

A tensão voltou aos rostos de Sylphie e Luke. A expressão de Ghislaine permaneceu ilegível como sempre, e Eris… bem, Eris parecia bastante animada.

— Eu vou assumir a liderança! — declarou ela, indo em direção ao corredor que levava mais a fundo no labirinto.

— Calma aí!

— Gah?!

Agarrei-a pela blusa para impedir seu avanço. Ela se virou e me encarou.

— Qual que é a sua?

— Eris, pode haver armadilhas. Deixe outra pessoa assumir a liderança. Se uma luta começar, você pode tomar a vanguarda, mas por enquanto, fique para trás.

— Certo. — Ela franziu os lábios, fazendo beicinho enquanto relutantemente recuava para trás de mim.

Beleza, mas tem um problema: quem deveria assumir a liderança? As únicas pessoas com alguma experiência em um labirinto sou eu e…

— Hm? — grunhiu Ghislaine.

Ghislaine, eu acho.

Geese e vários outros me contaram tudo o que eu precisava saber sobre as terríveis consequências de deixar Ghislaine liderar um grupo. Como alguém do povo-fera, ela poderia ser capaz de farejar o perigo e evitá-lo, mas tinha o talento de tropeçar em todas as armadilhas possíveis e pular de cabeça em enxames de monstros. Ela definitivamente não era uma boa escolha para nos liderar.

— Já que tenho um Olho da Previsão, vou assumir a liderança — eu disse. — Eris seguirá logo atrás de mim. Ghislaine e Luke protegerão a Princesa Ariel de ambos os lados e Sylphie cuidará da retaguarda. Parece ser a melhor maneira de prosseguir. O que vocês acham?

Pessoalmente falando, achei que era uma formação inteligente, e todo mundo parecia concordar, acenando com a cabeça em silêncio.

— Não tenho objeções — disse Ariel. — Vamos deixar você assumir a liderança, Lorde Rudeus.

Com o selo de aprovação de Ariel, entramos em formação.

Eu estaria explorando o caminho à frente, mas pelo que Orsted me disse, a Biblioteca Labirinto diferia de outros labirintos, pois quase não havia armadilhas. Desde que evitemos quebrar uma regra chave, ficaremos bem.

Falando nisso… devo avisar o resto.

— Enquanto estivermos aqui, pedirei que não utilizem magia de fogo — eu disse.

— Por quê? — Eris exigiu saber.

Sylphie imediatamente entendeu meu raciocínio.

— Porque se você usar magia de fogo em um labirinto, esgotará todo o oxigênio.

O rosto de Eris contorceu em perplexidade, como se não entendesse o que aquela última palavra significava. Sylphie era claramente mais experiente neste campo, mas seu palpite, embora bom, estava errado.

— Há isso também — admiti. — Mas na verdade é porque os monstros aqui ficarão com raiva e atacarão qualquer um que danificar, queimar ou roubar qualquer um dos livros. Não espero que tenhamos que lutar, mas se tivermos, por favor, tenham cuidado para não danificar nenhum dos tomos.

— Que monstros estranhos — murmurou Eris.

— Bem, para ser mais específico, eles são na verdade familiares do Rei Demônio que vive nas profundezas deste labirinto. Qualquer um ficaria com raiva se alguém danificasse suas coisas.

— Faz sentido — assentiu Eris. — Certo, entendi!

Felizmente, desta vez ela quis mesmo dizer isso, não estando apenas agindo de maneira corajosa.

— Não estou falando apenas com você, Eris. Também quero que vocês tenham cuidado, Ghislaine, Luke.

— Entendi — grunhiu Ghislaine.

Ansioso, Luke franziu a testa e disse:

— E se não tivermos outra escolha?

— Não sei dizer quanta tolerância esse Rei Demônio tem. Também é a minha primeira vez aqui.

— Tudo bem… — Luke estendeu a mão em direção ao punho de sua espada, as sobrancelhas ainda franzidas. Ele não era um espadachim muito habilidoso. Para os padrões médios, era bom o suficiente, mas não chegava nem perto do nível de controle perfeito que Eris e Ghislaine tinham. Ele provavelmente sabia que havia uma grande probabilidade de acertar um livro se começasse a balançar a lâmina.

— Se o que me disseram for verdade, não espero que a gente vá batalhar — eu disse.

— Eu confio em você nisso, mas… na chance de termos que lutar, talvez seja melhor eu ficar atrás.

— Sendo assim, deixaremos a guarda da Princesa Ariel para você.

Luke assentiu, confiante de que pelo menos conseguiria fazer isso.

— De qualquer forma, vamos andando.

Dito isso, abri a porta à nossa frente.


— Oh, uau… — Ofeguei quando passei pela porta. Não tive como evitar. Um corredor sem fim se estendia diante de mim, mas não era só isso. Suas paredes, de três metros de altura, eram compostas por estantes de pedra que se prolongavam ao longe. Os livros estavam guardados nas prateleiras. — Entendo, então esta é a Biblioteca Labirinto…

Fui até uma das estantes de livros. Os volumes eram mais como manuscritos, sem encadernação de capa dura. Na verdade, alguns não tinham uma lombada e eram apenas feixes de papel unidos. Não, não apenas alguns, mas sim a maioria do material nas prateleiras. Grande parte parecia mais um amontoado desorganizado de papel de rascunho e anotações do que uma coleção de notas organizadas. No meio dessa bagunça, vi apenas um volume que tinha uma capa. Seu título era Ledger, escrito na Língua do Deus Demônio. Com base nisso, imaginei que continha registros contábeis de alguma loja em algum lugar do Continente Demônio.

Calmamente olhei para a prateleira da parede oposta. Era igual. De que adiantaria um monte de papel rascunhado como esse para alguém? Era um mistério para mim. Pelo menos se encaixava no significado de Biblioteca Labirinto, até mesmo o seu conteúdo era como um labirinto.

— Rudeus? Qual é o problema? — perguntou Eris.

— Oh, não. Não é nada.

Tentar encontrar o livro que procurávamos seria como procurar uma agulha num palheiro. Eu me perguntei se realmente seríamos capazes de localizar algum material sobre o Rei Gaunis.

— Vamos, temos que continuar andando — disse.

Caminhamos por um bom tempo depois disso. As estantes seguiam até o infinito. No início, tudo que podíamos ver era um corredor que seguia em frente, mas aparentemente tinha uma ligeira curva. Havia uma breve lacuna nas prateleiras, onde o corredor se ramificou na forma de um H.

Decidi seguir em frente, deixando um sinal para marcar onde estávamos antes de seguir em frente. Encontramos vários monstros em nosso caminho. Um era um caracol grande o suficiente para bloquear metade do corredor. Tentáculos que se contorciam saíam de suas costas. A mera visão causou um arrepio na minha espinha. Foi só quando percebi que aqueles tentáculos estavam segurando diversos livros que me senti menos cauteloso. Eu não tinha ideia de como a criatura era chamada, então decidi chamá-la provisoriamente de Caracol-Cthulhu.

Também encontramos um slime negro. De longe, não consegui distinguir outras características além de que era um slime, então decidi chamá-lo assim mesmo por enquanto. Ambas as criaturas estavam pegando livros e puxando-os para seus respectivos corpos, descendo o corredor. Eles não chegariam ao seu destino tão cedo, mas ficava claro que moviam-se com propósito, ou seja, não estavam apenas andando sem rumo.

Havia também algumas formigas bípedes negras, que chegavam na altura do meu joelho. Também pareciam ter seus próprios destinos, nem mesmo nos dando um olhar enquanto seguiam seu caminho. Não tinham características chamativas, por isso, por falta de algo melhor para chamá-las, decidi me referir a elas simplesmente como formigas.

Embora as formigas nos tenham visto, não pareciam agressivas, em vez disso, desapareciam labirinto adentro. Eu estava tão acostumado a monstros atacando indiscriminadamente que parecia um pouco anticlimático. Eris e Ghislaine saíam correndo para matá-los a toda hora. Foi um pesadelo tentar detê-las.

Ainda não tínhamos encontrado nenhuma armadilha. No início, nos movemos pelos corredores com muita cautela, mas depois de uma hora sem nada, parecia bobagem continuar pisando em ovos. Fiquei feliz, já que isso demonstrava que a informação de Orsted era precisa. Ele não tentou nos enganar. Nesse ritmo, eu realmente começaria a confiar nele.

Então, novamente, eu já tinha experiência com um certo grupo que tentou ganhar minha confiança antes de me apunhalar pelas costas.

Não vou citar nomes, mas digamos que começa com M e rima com Zod.

— Ah, é um beco sem saída.

Foi uma hora de caminhada até encontrar um. Ficamos atentos o tempo todo, examinando as prateleiras enquanto avançávamos, mas mesmo com o ritmo lento, era provável que tivéssemos caminhado cerca de quatro quilômetros. A curva do corredor era suave o suficiente para que eu não achasse que tínhamos completado uma volta completa ao redor do labirinto ainda.

De qualquer forma, este corredor não tinha nada sobre o Rei Gaunis. Os volumes cobriam uma junção de assuntos e idiomas, mas uma coisa que tinham em comum era a data de publicação. Todos foram publicados por volta do final da segunda Grande Guerra Humano-Demônio, a qual aconteceu há cerca de trezentos anos.

— Vamos refazer nossos passos até onde o caminho se dividiu pela última vez — eu disse, dando meia-volta.

A área em questão era aquela que se dividia na forma de H, com dois caminhos levando para o interior e dois para exterior.

Acho que o mais próximo seria aquele voltado para os corredores exteriores.

— Ei, Rudy… Por que não tentamos entrar primeiro? — sugeriu Sylphie.

— Oh? Por que sugere isso? — perguntei.

— Eu dei uma olhada e parece que os corredores externos contêm volumes mais antigos, enquanto os internos parecem ser mais recentes.

Se isso fosse verdade, então ir para dentro nos levaria aos anos do reinado de Gaunis, aqueles após a Guerra de Laplace.

— Beleza — eu disse. — Nesse caso, vamos refazer nossos passos um pouco mais para o corredor que dá para dentro.

Sylphie, observadora como sempre. Eu deveria saber que você teria um olho afiado para isso.

Caminhamos novamente por um tempo. Como Sylphie comentou, quanto mais andávamos, mais recentes eram os livros. Ao mesmo tempo, a curva do corredor tornou-se muito mais perceptível. Isso também significava que os próprios corredores eram muito mais curtos do que haviam sido. Estávamos nos aproximando do centro do círculo.

Eu imaginava o que encontraríamos no meio. Já que isso era um labirinto, talvez o mestre do lugar? Seu guardião? Orsted disse que os livros foram criados por um demônio amante de livros, mas talvez isso não fosse tudo. Pode ser que outra coisa também vivesse ali. Considerando minhas memórias do Labirinto de Teleporte, eu não queria lutar se não precisasse.

A Guerra de Laplace começou há cerca de quatrocentos anos. Não deveríamos ter que ir até o centro para encontrar essa seção, lembrei-me, tentando controlar minha ansiedade.

— Este lugar é meio chato — resmungou Eris, mal-humorada.

Ah, isso traz muitas memórias.

Eu já tinha visto Eris ficar entediada antes. Era melhor avisá-la para não tentar nada engraçado só porque não estava sendo entretida.

— Eris, eu sei que você não está se divertindo, mas se tentar alguma coisa…

— Eu sei, eu… — Eris de repente puxou sua espada da bainha. Uma fração de segundo depois, Ghislaine também tirou a dela.

— Quantos?! — perguntei.

Por ter viajado com Ruijerd antes, sabia que isso significava que havia monstros por perto. Sylphie e os outros também estavam atentos. Meu Olho da Previsão ainda não havia percebido nada.

— Na próxima curva… para a esquerda… na parte de trás — disse Eris, surpreendendo-me com o quão bem ela conseguia identificar essa presença estranha.

— Não sei dizer exatamente quantos são, mas tem vários — acrescentou Ghislaine.

É a cara dela ser vaga sobre os números. Ela tinha esquecido nossas aulas? Mesmo depois de todo o esforço que investi nelas?

Certo, agora não é o momento para isso.

— Vou dar uma olhada — eu disse, dando um passo à frente. Movendo-me o mais silenciosamente possível, fui em direção à interseção em forma de H e espiei com cuidado para a curva.

Havia mesmo um monte de monstros, principalmente slimes e formigas. Os slimes estavam se unindo e se separando sem parar, o que tornava impossível saber quantos eram.

Ainda bem. Ghislaine não esqueceu como fazer contas.

Ainda assim, o que essas coisas estavam fazendo?

— Eles estão cavando as paredes… e fazendo prateleiras?

Pelo que pude ver, as formigas estavam esculpindo na rocha, enquanto os slimes coletavam os escombros resultantes e os consumiam. Eles então os quebravam dentro de seus corpos antes de transformá-los e cuspi-los para fazer novas prateleiras ao longo da parede. Basicamente, a Biblioteca Labirinto era um embaraço de corredores que eles criavam.

— Não parece haver perigo — anunciei, chamando todos.

Eles se aproximaram nervosamente, espiando ao redor da curva como eu tinha feito momentos antes. Assim que viram o que estava acontecendo, soltaram um suspiro de alívio.

— Então eles só estão construindo mais prateleiras — comentou Ariel.

— Orsted me disse que os monstros aqui são basicamente como familiares. Suponho que isso signifique que são um pouco diferentes das outras criaturas que vimos antes — eu disse.

Com isso fora do caminho, aceleramos nosso passo em frente.

Devemos ter caminhado por mais cinco horas depois disso. Cada vez que chegávamos a um canto que levava mais para dentro, nos virávamos, mas muitos levavam a becos sem saída, e algumas das interseções só tinham corredores que levavam para fora. Isso impossibilitava chegar ao centro. No entanto, estávamos gradualmente começando a encontrar livros cada vez mais novos, então eu sabia que estávamos nos aproximando.

Decidimos fazer uma pequena pausa. Sylphie e Luke não estavam muito mal, mas Ariel estava bastante exausta. A maior parte do nosso grupo estava em excelente forma física, mas Ariel não estava acostumada a caminhar tanto. Ela era de fato uma princesa, no sentido mais literal possível. Enquanto isso, a (antiga) nobre em nosso grupo estava quase chorando de tanto tédio.

— Este lugar realmente não é nada além de livros. Achei que um labirinto seria um pouco mais interessante do que isso — murmurou Eris.

Se ao menos ela aprendesse com o exemplo de Ghislaine.

Ghislaine parecia satisfeita apenas com o exercício que tivemos ao caminhar até aqui.

— Eris, um labirinto não é um lugar divertido — eu disse.

— Você não acha? Mas é uma parte essencial da aventura. Eu sempre quis visitar um, mas isso é chato.

— Nem me fale…

Eu não tinha boas lembranças de estar em um labirinto. Afinal, Paul tinha morrido em um. Eu nunca mais queria passar por algo tão traumático, nunca mesmo. A menos que houvesse uma razão muito convincente, eu estava contente em não ver outro labirinto em minha vida. Eris deveria saber pelo que passei, mas eu realmente não podia culpá-la por seus interesses.

— Salões repletos de monstros, tesouro intocado esperando para ser descoberto e, no final de tudo, um enorme monstro guardião! — clamou Eris, animada.

— Eris — interrompeu Sylphie —, deixa isso de lado. Rudy perdeu o pai em um labirinto, você sabe.

— Hã? — Por um momento, Eris ficou surpresa. — Oh… — Seu rosto empalideceu rapidamente, os lábios franzindo e formando uma careta. Ela apertou as sobrancelhas e manteve os olhos voltados ao chão enquanto murmurava:  — Desculpa…

— Está tudo bem. Não precisa pedir desculpas — eu disse. — Sei que você ansiava por visitar um labirinto desde que era jovem.

— Você não se importa?

— Eu só quero que tenha em mente que há labirintos verdadeiramente perigosos por aí também. Daqueles que podem te tirar um ente querido em um piscar de olhos.

— É, eu entendi. — Eris balançou a cabeça.

Anos atrás, ela nunca teria se desculpado tão seriamente assim.

Quando viramos em uma interseção, nos encontramos em uma área aberta. Era um buraco ridiculamente largo e em forma de cone. Tinha vários níveis, com escadas ensanduichadas entre trechos de prateleiras. Isso me lembrou dos assentos apertados no coliseu de Roma.

Em seu centro havia um slime enorme. Seu corpo tremia, dezenas de braços se estendendo do meio como tentáculos, cada um segurando uma caneta e rabiscando algo a uma velocidade relâmpago. Apenas um de seus apêndices era diferente: apontava diretamente para cima. Tinha um olho enorme na ponta, que encarava o teto.

No segundo em que vi esta criatura, um pensamento passou pela minha mente: Oh, merda.

Este era, sem dúvida, o mestre do labirinto, e nós tínhamos inadvertidamente pisado dentro do seu alcance de ataque. Eu não era o único que sentia perigo; aqueles atrás de mim estavam igualmente sem palavras. Eris e Ghislaine estavam boquiabertas, mesmo enquanto sacavam suas armas.

— O que diabos é aquela coisa?! — Luke deixou escapar.

Valeu, Luke, você acabou de dizer o que o resto de nós estava pensando.

— Só pode ser o governante deste lugar — eu disse. — Orsted me disse que era um Rei Demônio, mas eu não estava imaginando isso…

— Este é bem diferente de Lorde Badigadi — disse Sylphie.

Exato. Eu havia antecipado algo mais parecido com Badigadi, mas isso era muito mais… gosmento do que o que eu tinha em mente. Então, claro, havia várias subespécies de demônios, por isso não era muito estranho terem um Rei Demônio slime.

Mas um slime que lê livros? Beleza, beleza. Não é legal julgar. Tenho certeza que até os slimes gostam de ler.

— Se este é realmente um Rei Demônio, então não devemos cumprimentá-lo? — perguntou Ariel.

— Eu me pergunto se ele pode falar… — murmurei.

Havia muitos tipos de demônios. Alguns não tinham cordas vocais e, portanto, não conseguiam falar. Parecia que esse poderia se enquadrar nessa categoria. Se minhas experiências passadas com Reis Demônios fossem valer de alguma coisa, eles não ouviam as pessoas. Admito, Badigadi e Atofe foram os únicos que conheci, mas nenhum deles ouvia os outros. Não poderíamos julgar esse slime apenas pela aparência, mas provavelmente seria mais seguro manter isso para nós mesmos.

— Como não parece que nos notou, vamos tentar manter as coisas assim e agir em silêncio.

Afinal, o silêncio era uma das regras de ouro de uma biblioteca.

Retomamos nossa busca, tendo o cuidado de ficar em silêncio. Parecia haver slimes menores na área se movendo também. Pareciam estar nos ignorando por ora, mas não tinha como saber o que aconteceria se o slime chefe nos visse. Nenhum dos familiares parecia muito poderoso, mas era impossível ter certeza, então era melhor ficarmos atentos. Se todos atacassem juntos, poderíamos ficar em apuros.

— Ah! — Sylphie ofegou de repente.

— O que foi? — Por mais curioso que eu fosse, não conseguia desviar o olhar do enorme slime no centro da sala.

— Está aqui, Rudy. Nesta área.

O que está aqui?

Olhei para trás. Sylphie estendeu a mão para uma prateleira ao longo da parede externa, arrancando um livro do meio que se chamava Rei Gaunis: Ascensão e Reinado. Era um entre vários.

Eu estava tão distraído com o slime gigante que não havia notado, mas aparentemente essa era a área que abrigava livros escritos após a Guerra de Laplace. Parecia que tínhamos passado por cima da seção cobrindo o meio e o fim desse conflito, mas, novamente, as pessoas naquela época provavelmente estavam tão ocupadas lutando que não tinham tempo para escrever livros. Mas uma vez que a vitória era deles e a vida das pessoas começou a voltar ao normal, aqueles que podiam contar os detalhes do caso começaram a escrever tudo, e os livros nessa área provavelmente pertenciam a esses autores.

— Nesse caso, vamos voltar para o último beco sem saída e acampar lá — propus.

Eris assentiu:

— Sim, não posso dizer que quero dormir com aquela coisa à vista.

— Concordo. Me dá arrepios só de olhar para aquilo — disse Ghislaine.

— Sério? — Ariel inclinou a cabeça. — Eu acho que parece bastante inteligente.

Eris cruzou os braços.

— Espadas não funcionam muito bem em slimes como esse, não é?

— Um slime morre se tiver o seu núcleo destruído — disse Ghislaine. — Mas esse é tão grande que a espada nem chegará ao núcleo.

O comentário de Ariel foi bizarro, mas eu estava mais preocupado com quão preparadas Eris e Ghislaine estavam para entrar em batalha. Felizmente, todos pareciam concordar que deveríamos sair dali. Eu não queria ficar perto de algo que não sabíamos nada e cujos movimentos não podíamos prever.

Ainda assim, depois de uma longa jornada, finalmente chegamos ao nosso destino, e isso foi motivo de celebração, pelo menos.


Uma semana inteira se passou depois de montarmos acampamento. Nosso grupo passou o tempo todo se movendo entre nossa base e a seção de livros sobre o Rei Gaunis. Passamos todos os dias folheando-os. No início, nós os pegamos sorrateiramente e recuamos para algum lugar onde o slime gigante não pudesse nos ver, antes de folhearmos as páginas e tomarmos notas. Então, devolvíamos os livros com todo o cuidado ao seu devido lugar.

Depois de três dias disso, percebemos que nada parecia chamar a atenção do proprietário, então começamos a fazer nossa pesquisa diretamente nas prateleiras. Isso significava que Eris e Ghislaine não tinham nada para fazer, então as duas treinavam com suas espadas ou iam caminhar pela área. Eu ainda não tinha certeza de que este lugar era totalmente seguro, então queria que tivessem cuidado, mas não podia esperar que ficassem quietas o tempo todo. No quinto dia, desisti de me preocupar com isso. Não houve nenhum problema em suas atividades.

Enquanto isso, não nos faltava materiais sobre o Rei Gaunis. O que não foi surpreendente, já que ele se tornou o monarca do país que venceu a guerra.

Gaunis não era apenas um rei na época que se seguiu à Guerra de Laplace, ele também já foi um dos muitos príncipes. A literatura era um pouco irregular sobre os números, especialmente aquelas destinadas a crianças. Algumas histórias diziam que ele tinha dezenas de irmãos, outras diziam que ele era o mais novo de três. A única coisa que todos concordavam era que ele tinha dois irmãos mais velhos. Isso se alinhava com o que Ariel parecia saber. O mais velho era um guerreiro impressionante e destemido, enquanto o segundo mais velho era um estrategista engenhoso. Gaunis, sendo o terceiro filho, era dotado de inteligência e força.

Foram esses três príncipes que decidiram tomar uma posição contra o exército invasor de Laplace. No entanto, as tropas de Laplace eram poderosas. Nem a força bruta do mais velho nem as táticas brutas do segundo mais velho poderiam superar o exército inimigo, e assim os dois morreram.

A guerra culminou em uma batalha decisiva na frente sul do Continente Central, que finalmente resultou na morte do Rei de Asura, o pai de Gaunis. Assim, Gaunis assumiu o trono apesar de sua juventude. Ele era um homem talentoso, mas sua força não era igual à de seu irmão mais velho, nem suas táticas eram iguais às do segundo mais velho. Alguém como ele poderia vencer o exército de Laplace, quando seus irmãos e o rei anterior já haviam caído diante dele?

Sim, podia. Assim era como a literatura dizia, uma vez que era descrito que ele tinha inúmeros amigos: o Deus Dragão Urupen, o Deus do Norte Kalman e o Rei Dragão Blindado Perugius, para citar alguns dos numerosos heróis que ele chamava de companheiros. Gaunis foi até eles e se prostrou, implorando para que o ajudassem a encontrar uma maneira de derrubar Laplace. Sete heróis responderam ao seu chamado e partiram em uma jornada para derrotar o inimigo jurado de Gaunis.

Os detalhes combinavam com o que eu havia lido há muito tempo em Lendas do Rei Dragão Blindado. Esses livros também diziam mais sobre as aventuras de Perugius e seus companheiros do que sobre o Rei Gaunis.

Depois que os heróis partiram em sua missão, Rei Gaunis consolidou o poder no Reino Asura e cavalgou para encontrar o exército de Laplace. Foi um confronto defensivo após o outro, uma batalha de desgaste. No entanto, o Rei Gaunis conseguiu conter o avanço do inimigo, impedindo Asura de cair até Perugius e os outros retornarem. Ele realmente era o homem por trás das cenas.

Quanto ao tipo de pessoa que o Rei Gaunis era… a literatura tendia a não ser confiável. A maioria dos volumes o descrevia como um governante exemplar, inigualável em sua excelência e transbordante de talento. Eles nunca ilustraram exatamente como ele possuía essas qualidades, mas ainda assim o enchiam de elogios.

Ariel parecia satisfeita com esses relatos, pois combinavam exatamente com o que ela ouvira, mas quanto mais eu procurava, mais eu encontrava informações estranhas misturadas com o resto. De acordo com outras fontes, Gaunis era um alcoólatra sem talento que se esgueirava para a cidade para brincar enquanto seus irmãos mais velhos talentosos participavam do esforço de guerra. Aparentemente, ele bebia e brigava quase todo dia.

No início, pensei que alguém que odiava o rei havia escrito isso para manchá-lo, mas esses relatos deram exemplos específicos de seu comportamento e as datas exatas em que esses eventos ocorreram, ao contrário das fontes que o elogiaram. Isso os tornava muito mais críveis aos meus olhos.

Mesmo assim, eu ainda me vi pensando: “Não, não, isso não pode ser verdade” enquanto lia. Tudo isso mudou no dia de hoje, quando finalmente encontrei a fonte mais confiável de todas.

Datado por volta dos últimos anos da Guerra de Laplace, era um diário escrito pelo próprio Rei Gaunis. O início de seu registro antecede sua ascensão ao trono, quando seus dois irmãos mais velhos ainda participavam ativamente da guerra. Estava escrito um relato detalhado dos pensamentos diários de Gaunis Freean Asura e experiências passadas.

Gaunis era a ovelha negra da família. Seus dois irmãos mais velhos eram tão geniais que ninguém esperava nada dele, o que só o irritava. Mesmo que ele reclamasse, ninguém lhe dava atenção. Era por isso que fugia do castelo para ficar pela cidade o tempo todo.

Como havia uma guerra ativa acontecendo, a cidade não era a mais segura, mas isso também a tornava o lugar perfeito para Gaunis desabafar suas frustrações. Ele bebia até ficar bêbado, choramingava sobre como tudo era injusto, então entrava em brigas. Não houve consequências por ele ter puxado briga com fanfarrões na cidade.

Se fosse resumir o tipo de pessoa que Gaunis era com uma palavra, seria simplesmente: lixoso.

Depois de ler seu diário, Ariel ficou tão chocada que passou meio dia acabada, sem fazer nada. Mesmo agora, ela estava sentada, escorada em uma das prateleiras, com as pernas dobradas contra o peito, e sua expressão era obscura enquanto murmurava para si mesma:

— É isso? É esse o tipo de rei que Lorde Perugius está procurando?

Luke e Sylphie estavam tentando ajudá-la a recuperar a compostura, mas até mesmo suas vozes estavam tensas com o choque de descobrir que tipo de pessoa Gaunis realmente era.

Pessoalmente… grande rei ou não, Gaunis era um ser humano, para começo de conversa, então seu comportamento não era tão surpreendente para mim. Na verdade, ficou mais fácil de entender ele.

Embora eu tenha que admitir que o comportamento não é muito real.

Apesar disso, Perugius achou adequado apoiar alguém como Gaunis. Então talvez Gaunis sendo um lixo de ser humano pode realmente ser uma dica. Assim, continuei minha busca, e foi então que encontrei um livro profundamente intrigante sobre as Crianças Abençoadas.

Este tomo cobria quais Crianças Abençoadas haviam sido descobertas na época, que poderes possuíam e que tipo de pessoas eram. Nada disso parecia ter a ver com Gaunis. Pelo menos não até que encontrei um artigo que descrevia a “Criança Abençoada Impotente”. Só o título me fez imaginar o oposto de Zanoba, que ostentava força desumana. Impotente sugeria que essa pessoa era frágil e covarde.

Apesar de minhas impressões, o poder descrito foi considerado extremamente perigoso, o suficiente para que o texto enfatizasse que qualquer pessoa que o possuísse deveria ser morta de imediato. Uma Criança Abençoada Impotente poderia desativar os poderes de outras Crianças Abençoadas.

Eu tinha visto esse padrão muitas vezes em light novels de superpoderes. Na maioria dos casos, a pessoa com a capacidade de desativar os poderes dos outros não tinha outras habilidades próprias. Isso muitas vezes os colocava em desvantagem e outros os desprezavam. Mas nessas séries, a maioria dos personagens centrais possuía superpoderes, como noventa por cento deles, então a habilidade de anular suas habilidades mudava o jogo. Naturalmente, a pessoa que possuía esse dom raro era o principal protagonista.

As Crianças Abençoadas eram tão raras neste mundo, no entanto, que talvez tenha existido apenas algumas. Ser capaz de anular suas habilidades não parecia tão forte. Na verdade, parecia extremamente inútil para mim. Seria muito melhor ter um guerreiro ao estilo de Deus da Espada do seu lado do que alguém assim.

Dito isto, outras Crianças Abençoadas tendiam a ser figuras de autoridade em seus respectivos países. Elas poderiam criar milagres com seus poderes que normalmente não poderiam ser realizados por meio da magia comum. Por essa mesma razão, seria uma enorme desvantagem para um país se o poder de sua Criança Abençoada fosse apagado. Outros países veriam uma Criança Abençoada Impotente como um incômodo, enquanto seu próprio país os consideraria como uma responsabilidade inútil que apenas os colocaria sob escrutínio estrangeiro. Assim, era aconselhado matar tal criança imediatamente.

O poder descrito, no entanto, chamou a minha atenção. Crianças Abençoadas Impotentes aparentemente também poderiam dissipar os poderes das Crianças Amaldiçoadas. Elas eram iguais, afinal. A única diferença entre elas era se o poder que tinham era benéfico ou não, então fazia sentido que as habilidades da Impotente também fossem eficazes contra eles.

Eu me perguntava, no entanto, se essa capacidade de apagar os poderes de outras Crianças Abençoadas e Crianças Amaldiçoadas também poderia ser usada para anular outras coisas. Como maldições normais, por exemplo. O título Crianças Amaldiçoadas se prestava à crença de que haviam sido marcadas por uma maldição real, mas as duas coisas não estavam tão relacionadas.

Como este livro não dizia explicitamente que esse era o caso, presumi que as habilidades das Impotentes não poderiam curar maldições, mas talvez eu precisasse ver tudo como um todo. As Crianças Abençoadas possuíam diversas habilidades diferentes. Cada uma delas violava as leis naturais do mundo. Parecia plausível que uma delas pudesse apagar maldições ou voltar no tempo. Em outras palavras, com o poder certo da Criança Abençoada, podemos ser capazes de devolver as memórias de Zenith para ela.

Essa foi apenas uma observação desejável da minha parte, é claro, mas valia a pena perguntar a Orsted quando chegasse em casa.

— Ah, é melhor anotar isso no meu diário, para que eu não esqueça — murmurei.

Fechei o livro que estava lendo e peguei meu diário. Para ser franco, depois de ler o diário do meu eu do futuro, eu tinha minhas dúvidas sobre continuar com essa coisa, mas ele salvou minha pele. Eu não tinha intenção de voltar ao passado, no entanto. Ia fazer o possível para que não fosse preciso. Dito isso, talvez um dia eu queira confiar meu diário a alguém. Tipo, quando minha hora chegar, talvez eu queira passar meu testamento. A pessoa que for ler vai se beneficiar da orientação de todas as informações que incluí.

— Vejamos… descobri que as Crianças Abençoadas podem ter vários poderes diferentes. Há até mesmo aquelas que conseguem manipular as habilidades de outras Crianças Abençoadas ou Amaldiçoadas. Talvez eu possa conseguir algo, mesmo que essa coisa pareça impossível usando esses poderes… Pronto, isso é o suficiente, eu acho.

Levantei a cabeça depois de terminar de rabiscar e tive um vislumbre do enorme slime no meio do buraco, contorcendo-se como sempre fazia. Fiquei assustado quando o encontrei pela primeira vez, mas me acostumei com aquilo na semana passada. Não era menos aterrorizante do que antes, mas não havia se lançado contra nós. Ele passava todo o seu tempo olhando para o teto e copiando livros, o que sugeria que era inteligente pelo menos.

De repente, olhei de volta para o meu diário. — Espere um segundo, “eu poderia ser capaz de alcançar algo, mesmo que essa coisa pareça impossível”? Isso não é um pouco vago demais? Talvez eu devesse escrever um exemplo específico sobre onde usar esses poderes.

Até agora eu nunca tinha pensado muito em escrever nada em detalhes. Talvez estar neste labirinto tenha me encorajado a mudar meus modos? Haha. Bem, era hora de reescrever essa vaga parte. Arranquei a página atual, substituindo-a por outra que usei para reescrever meus pensamentos atuais.

Sabe, sinto que isso seria muito mais fácil se eu tivesse um pouco de corretivo. Mas como eu faria isso? Ou devo só espalhar tinta branca na página?

— Hm? — Olhei para cima, notando que um dos muitos tentáculos do slime gigante tinha acabado de rasgar uma página do livro que estava escrevendo.

Observei em silêncio. Algo sobre isso me fez pensar…

Só para ter certeza, escrevi uma frase aleatória no meu livro. Imediatamente depois, o tentáculo começou a imitar meu movimento. Então comecei a escurecer a página inteira com tinta. O slime fez a mesma coisa.

Está me copiando…?

Não, isso não estava certo. Não estava me copiando; estava copiando o que eu havia escrito.

— Se gosta de livros, então isso significa que deve ser capaz de ler, certo? — murmurei comigo mesmo.

O slime não tinha boca ou ouvidos, então talvez não entendesse palavras faladas, mas tinha aquele olho gigante na ponta de um de seus tentáculos. Isso significava que sabia ler, certo?

— Acho que vale a pena tentar.

Mas devo consultar Ariel e os outros antes de tentar me comunicar com ele? Não, isso não me faria nenhum bem. Ariel já estava nas últimas com a nossa situação atual, prestes a desistir e ir para casa. Vale a pena uma aposta neste momento.

— Vejamos… Bom dia para você, Rei Demônio. É um prazer conhecê-lo. Me chamo Rudeus Greyrat. Você tem uma biblioteca incrível aqui. — recitei as palavras enquanto as escrevia em meu diário.

Um dos tentáculos do slime gigante imediatamente começou a correr pela página, mas então parou de repente. Era algo que ainda não tínhamos visto antes. Não havia apenas copiado o que eu havia escrito; seus outros braços haviam parado de se mover completamente.

Um ar misterioso pousou sobre a cavidade em forma de cone.

— Estou sendo muito apressado? — perguntei a mim mesmo. Por uma fração de segundo, perdi a coragem, mas já era tarde demais para me arrepender agora.

O globo ocular do slime gigante, que estava olhando para o teto o tempo todo, agora se virou para mim. Aquela coisa era gigantesca. Ele claramente podia me ver boquiaberto.

O slime se encolheu por um momento. No segundo seguinte, seus tentáculos dispararam em uma velocidade incrível, quase como agulhas de porco-espinho disparando em todas as direções.

Meu Olho da Previsão me disse: um tentáculo está vindo em minha direção.

Eu me abaixei, presumindo que aquilo fosse me empalar. Para minha surpresa, o tentáculo parou bem na minha frente. Estava segurando um único pedaço de papel. Não, não era isso, não estava segurando nada, seu corpo era como um adesivo, então o papel estava apenas preso a ele. De qualquer forma, segurava o papel diretamente na minha frente, uma mensagem rabiscada nele dizia:

Eu sou o Rei Demônio Beethove Tovetha, da Tribo Nen. Bem-vindo ao meu castelo, Futuro Autor.

Oh… Ooooh! Comunicação estabelecida com sucesso! Eu erguia os punhos mentalmente. Espera, não. Espera um pouco. É sério? Acabei tendo a ideia de conversar com essa coisa por acaso. Nunca imaginei que daria tudo certo. Uh, e agora…

Rapidamente escrevi minha resposta.

Minhas mais profundas desculpas por não ter prestado meus devidos respeitos antes. É uma honra conhecê-lo, Vossa Majestade. Viemos aqui na esperança de pesquisar um certo assunto. Estaria disposto a permitir a nossa estadia aqui enquanto isso?

Sua resposta foi sucinta e simples.

Sim.

Ufa! Enfim pude dar um suspiro de alívio depois de estar no limite o tempo todo. Limpei o suor frio da minha testa.

Beleza, pensei. Posso mesmo fazer isso. Embora talvez seja melhor alertar Eris na próxima vez antes de tentar algo. Isso foi um pouco precipitado demais.

Ainda assim, que nome interessante. Isso me lembrou de um certo compositor que passou a vida fazendo música. Orsted havia me dito que esse Rei Demônio não era um cara tão ruim, e com base em nossa breve interação, parecia que ele estava certo.

Mas, e agora? Pensei sobre o que eu diria depois de iniciar uma conversa com ele. Talvez eu possa perguntar sobre algumas informações relativas a Gaunis. Se era mesmo o mestre deste labirinto, devia saber sobre ele.

Na verdade, estamos procurando um certo livro, escrevi.

Encontre você mesmo, respondeu o slime instantaneamente.

Oof, pensei. Que frieza.

Então, novamente, éramos completos estranhos que apareceram do nada. Eu não poderia culpar o slime por recusar o que deve ter considerado uma demanda estranha. Pelo menos não estava nos mandando embora.

Mas, continuou o slime, você conseguiu me divertir.

Pelo que parecia, ele não estava simplesmente me ignorando, como pensei de começo. Perturbado, peguei meu diário novamente e respondi:

Eu disse algo tão engraçado?

O slime respondeu:

Você veio aqui carregando um livro do futuro. Isso foi realmente chocante. E agora está escrevendo uma continuação de seu conteúdo enquanto falamos. Se não chama isso de interessante ou divertido, então o que é? Como recompensa por me divertir, vou conceder-lhe um desejo.

Livro do futuro? Ah, deve estar se referindo àquele diário que meu eu do futuro trouxe para esta linha temporal. Eu não o trouxe para o labirinto. E se o que o slime estava dizendo era verdade, provavelmente já havia copiado o conteúdo daquele diário. Do ponto de vista do slime, meu diário atual era uma continuação do anterior. Isso era irônico. Um diário do passado sendo a continuação de um do futuro. Dava para ver como ele achava uma série de livros tão única algo tão interessante.

Tudo isso à parte, parecia que os Reis Demônios adoravam recompensar as boas ações concedendo desejos às pessoas. Isso fazia parte da cultura deles ou algo assim?

Então perguntei:

Um desejo? Vai me dar o que eu quiser?

A única coisa que eu, Beethove Tovetha, sou capaz de fazer por você é procurar qualquer livro que desejar, respondeu ele.

Bem, dado o tipo de criatura com quem eu estava lidando, eu não poderia esperar que me desse vastas riquezas, imortalidade, ou qualquer coisa assim. Agora que eu sabia os parâmetros desta concessão de desejos, porém, que livro devo pedir-lhe para encontrar? Separar um único volume seria difícil. Eu teria que saber o título para poder pedir algo específico. Nós já havíamos pesquisado a maior parte da literatura pertencente a Gaunis, mas ainda não tínhamos encontrado a chave que precisávamos…

Espere. Talvez eu devesse desistir de procurar algo relacionado a Gaunis e pedir-lhe para procurar por qualquer livro que possa elucidar uma maneira de curar Zenith de sua condição. Dado o vasto conhecimento contido nesta biblioteca e como este lugar é enorme, pode haver alguma informação sobre uma maneira de tratá-la. Por outro lado, é igualmente possível que não haja.

Não, eu não poderia perguntar sobre isso. Eu não tinha vindo a esta Biblioteca Labirinto para procurar uma maneira de curar Zenith. Minha prioridade era Ariel. Eu vim aqui para ajudá-la. Zenith ainda pesava em minha mente, mas sua condição está estável agora. Não podia me deixar distrair. Se Orsted começasse a pensar que eu não era confiável e decidisse me abandonar, o Deus-Homem poderia aproveitar a oportunidade para massacrar toda a minha família. Precisava evitar isso a todo custo. Zenith era importante, mas não poderia ser minha primeira prioridade no momento. Precisei deixá-la de lado.

— Oh, é mesmo. — De repente me lembrei do pedaço de papel que tinha enfiado no bolso. Era o que Orsted havia passado para mim bem quando eu estava saindo. Tinha uma capa de livro desenhada nele. Orsted provavelmente antecipou que não conseguiríamos encontrar o que buscávamos, motivo pelo qual me entregou isso. Talvez quisesse que eu mostrasse ao Rei Demônio. Ele mencionou que podia ver o futuro ou algo assim.

Nesse caso, escrevi:

Eu gostaria que você encontrasse um livro com uma capa que se parece com esta.

Muito bem, respondeu o slime.

Entreguei-lhe o pedaço de papel e, uma fração de segundo depois, ele tirou um volume de uma das prateleiras do local. Pelo que parecia, o volume estava por perto o tempo todo.

O slime agarrou o livro, colocou-o dentro de seu corpo e o transferiu para o tentáculo que balançava na minha frente. Peguei-o, esperando que estivesse pingando gosma nojenta, mas, para minha surpresa, estava perfeitamente seco.

Acho que eu não deveria estar surpreso. Esse slime é um amante de livros, então é claro que saberia como lidar com eles de maneira apropriada.

Olhei para o tomo. Tinha uma capa de couro vermelha adornada com árvores frutíferas, e era particularmente grossa. Eu folheei, dando-lhe um olhar superficial. As páginas estavam cobertas de escritas, exprimidas de margem a margem.

Seu desejo foi concedido, escreveu Beethove. Não tenha pressa e aproveite a leitura.

Ele então retraiu seus tentáculos e retomou seu trabalho de cópia mais uma vez.

E se esse livro tivesse a mesma capa que eu estava procurando, mas não fosse o certo? Posso pedir uma troca? Com certeza, a contracapa até tinha os mesmos rabiscos na borda, então as chances de este ser o livro errado eram pequenas.

— Bem, de qualquer forma, acho que é hora de abrir essa coisa. Sentei-me e virei para a primeira página. Mal li algumas linhas antes que engasgasse. — Este livro é… — Eu ainda não tinha certeza se possuía as pistas que precisávamos ou não, mas sabia com certeza que tinha que mostrar isso a Ariel imediatamente.

Quando voltei para o nosso acampamento, Ariel ainda estava sentada abraçando os joelhos contra o peito. Sylphie e Luke não estavam ali, muito menos Eris. Talvez todos tivessem saído para procurar mais materiais para peneirar. No lugar deles, Ghislaine permaneceu ao lado da princesa, não muito diferente de um cão de guarda.

Fui a frente de Ariel. Como ela estava de saia, sua calcinha branca estava à vista, mas tentei desviar o olhar. Eris e Sylphie podem não estar aqui observando, mas isso não significava que eu pudesse dar uma espiada. Isso era território proibido.

— Oh, Lorde Rudeus — murmurou ela.

— Você deve estar exausta, Vossa Alteza.

— Minhas desculpas por deixar você me ver assim. — Ela ajustou sua postura, sentando-se mais graciosamente desta vez.

Adeus, belíssima calcinha branca. Nosso tempo juntos foi curto.

De qualquer forma, isso não importava agora.

— Princesa Ariel, encontrei algo bom — eu disse.

— Algo de bom? E o que seria?

— Acho que é algo que vai te deixar animada.

— Hm… O que poderia ser? Um romance erótico escrito na época em que o Reino Asura foi fundado?

Algo assim realmente a deixaria animada? Me perguntei.

— Perdão — disse ela. — Fico a pensar, o que você tem aí?

Agora que ela estava mentalmente encurralada, estava balbuciando tudo quanto era tipo de coisas estranhas, o que era divertido. Talvez não fosse uma má ideia deixá-la nesse estado por mais um tempo. Mas, novamente, não tínhamos muito tempo antes de termos que ir para Asura. Não tínhamos tempo a perder brincando assim.

— Isso — eu disse, entregando a ela o livro que eu estava segurando.

Os olhos de Ariel se arregalaram ao ver a capa.

— Essas coisas penduradas nas árvores… É o emblema do morcego.

Então eram morcegos e não frutas? Quase me pegou nessa.

— De qualquer forma, por favor, vá em frente e leia. Eu prometo que será mais emocionante para você do que um romance erótico — eu disse.

Ela franziu a testa com ceticismo enquanto olhava para a capa. Finalmente, abriu para a primeira página.

— Ah — Ela ofegou em realização enquanto passava pelas primeiras linhas.

Havia descoberto a mesma coisa que eu momentos antes; este era o diário de Derrick Redbat.


Um diário é onde se registra os acontecimentos mundanos de sua vida cotidiana. Ele permite resumir brevemente os acontecimentos recentes, mantendo as coisas simples e diretas, enquanto expressa as emoções que está sentindo no momento. Na verdade, um diário não é meramente uma série de eventos; é um registro dos sentimentos do escritor. O autor escreve sobre o que o irritava, o que o levava às lágrimas, o que o fazia rir, o que lhe trazia prazer, o que lhe trazia dor, que preconceitos detinham. Eles escrevem sobre quando se sentem solitários, felizes, lascivos e todas as outras emoções intermediárias. A maneira como essas coisas são registradas é ao mesmo tempo detalhada e vaga.

No diário de Derrick, ele nunca mencionou seu próprio nome, mas escrevia diariamente sobre Ariel e Luke. Era um diário comum e casual: um que poderia ser encontrado em qualquer lugar do mundo. E foi por essa mesma razão que seus verdadeiros pensamentos estavam contidos ali.

Havia um orgulho intenso em suas palavras, além do que eu esperaria. Eu não conseguia esconder meu choque com o quanto ele realmente acreditava em Ariel em seu âmago, mais do que qualquer outra pessoa que eu já conheci antes. E eu sabia muito bem quanto carisma ela possuía.

Ariel começou a vasculhar o livro. Ela devorou cada palavra, silenciosa e metodicamente. Decidi esperar por perto até que ela terminasse.

Enquanto a observava virar as páginas, Sylphie, Luke e Eris voltaram. Estavam com os braços carregados de livros. Haviam localizado uma verdadeira montanha de material a respeito de Gaunis em outra estante. Quando Sylphie e Eris me notaram olhando para Ariel, suas expressões ficaram azedas, até o ponto de notaram o quão absorvida Ariel estava no livro.

Sylphie silenciosamente se sentou ao meu lado, não mais fazendo beicinho sobre minha atenção estar focada em outro lugar.

— Rudy, o que está havendo? — perguntou ela.

— Encontrei um livro interessante, então estou pedindo para a Princesa Ariel lê-lo — eu disse.

— Oh? Que livro é esse?

— Diário de Derrick Redbat.

O queixo de Luke despencou. Ele olhou para Ariel.

— Pensando bem, ele escrevia naquela coisa praticamente todos os dias.

— Você deve considerar lê-lo depois também — sugeri.

— Pois é, acho que sim. Embora eu tenha certeza de que ele não tinha coisas muito boas a dizer sobre mim.

Dei de ombros. Isso era algo que ele teria que ler para descobrir por si mesmo.

— De qualquer forma — disse Sylphie —, é incrível que você tenha encontrado algo tão específico assim.

— Sim, bem, eu meio que tenho alguma relação com diários — eu disse, optando por não compartilhar que o encontrei utilizando informações de Orsted. Era verdade, de qualquer forma: eu realmente tinha uma conexão com diários. Havia o que eu tinha escrito, o que Gaunis havia escrito, e agora o que Derrick Redbat escreveu.

Depois de um tempo, Ariel finalmente terminou de ler. Ela fechou o livro com um estalo. Sua expressão era desprovida de qualquer emoção real e difícil de ler, mas estava obviamente sentindo algo, dadas suas bochechas coradas e olhos enevoados.

— Princesa Ariel? — Luke imediatamente foi até ela, ajoelhando-se ao seu lado.

— Oh Luke… Você deveria ler isso também.

— Como desejar.

Ariel entregou o livro a ele antes de se virar para mim. A hesitação em seus olhos havia desaparecido completamente. Ela deve ter descoberto algo enquanto lia aquele livro. Algo que eu, como alguém de fora, não teria sido capaz de pegar. Qualquer que fosse sua epifania, provavelmente era algo que Derrick teria dito diretamente a ela se ainda estivesse vivo.

— Bem, princesa, você ficou satisfeita com isso? — perguntei.

— Sim. Você fez um excelente trabalho ao encontrá-lo. — A expressão em seu rosto dizia tudo antes mesmo das palavras saírem de seus lábios. — Agora eu sei a resposta à pergunta de Lorde Perugius.

Havia tanta força em seus olhos que eu só pude acenar silenciosamente.

Depois disso, começamos nossos preparativos para voltar para casa. Sylphie e eu começamos a devolver os livros que tínhamos emprestado, enquanto Eris, Ghislaine e Luke limpavam nosso acampamento. Não havia um local específico onde colocamos os livros lidos, então nós mesmos tivemos que realizar a difícil tarefa de colocá-los de volta exatamente onde os encontramos.

Andamos de um lado para o outro, tentando colocá-los no lugar certo, mas aparentemente falhamos algumas vezes. Eu só sabia porque um slime viria e pegaria o livro de onde o havíamos guardado, correndo para devolvê-lo ao seu devido lugar.

Parte de mim achava que deveríamos confiar a tarefa de organizar todos esses livros aos lacaios do Rei Demônio, mas deixar para trás um monte de livros sem colocá-los de volta onde os encontramos era obviamente maus modos. Esta biblioteca tinha um sistema de organização terrível, mas continha uma riqueza de informações. Poderia chegar um dia em que precisássemos usar este lugar novamente, então era do nosso melhor interesse cuidar de nossas maneiras. Se eu conseguisse agradar o Rei Demônio Beethove, ele poderia ficar disposto a encontrar um livro para mim de novo.

Com isso em mente, conseguimos devolver todos os livros antes de enfim voltar ao acampamento. Todos os outros já haviam terminado de fazer as malas naquele momento e ficaram girando os polegares enquanto esperavam por nós.

Eris estava entediada, sentada com as duas pernas esticadas na frente dela. Ghislaine cruzava as suas sob ela enquanto meditava. Ariel estava sentada graciosamente ao lado de Luke enquanto esperava que nós terminássemos.

Luke ainda estava embalando o diário de Derrick em seus braços, lágrimas brotando em seus olhos.

— Eu não posso… acreditar nisso. — Suas sobrancelhas estavam franzidas, as mãos tremendo enquanto virava as páginas e absorvia as palavras. — Eu fui… tão idiota…

— Luke — disse Ariel em repreensão. — Isso vale para nós dois.

— Vossa Alteza…

Ariel sorriu para ele, e as lágrimas finalmente caíram, escorrendo por suas bochechas. Seu rosto se contraiu enquanto ela o observava.

Tendo lido um pouco do diário, eu já sabia o que Derrick achava de Luke. Nada disso era bom, pelo menos era o que parecia. Ele até escreveu sobre como Luke era um pirralho podre, ensinando Ariel nada além de mau comportamento. No entanto, ficou claro pela maneira como escreveu o quão profundo era seu afeto por Ariel.

Derrick podia sentir que, apesar da juventude de Luke, o garoto tinha um talento especial para lidar com as pessoas. Se Luke começasse a usar esse talento natural em homens e mulheres, poderia subir nas hierarquia e ter seus próprios seguidores algum dia. Simplificando, Derrick esperava grandes coisas dele no futuro. Mesmo enquanto reclamava da preocupação ridícula de Luke com as mulheres, ele também via potencial por trás desse verniz.

Se Derrick ainda estivesse vivo, Ariel e Luke poderiam não estar tão apaixonados por assumir o trono quanto eram agora. Mas se ele pudesse vê-los agora, provavelmente ficaria mais do que feliz em ajudá-los, embora se ele realmente estivesse aqui, Sylphie não teria lugar entre eles. Derrick observou os dois de perto e tinha grandes expectativas sobre o que poderiam realizar.

Olhei para Sylphie, que estava ao meu lado. Seu rosto estava em uma expressão conflituosa enquanto observava seus dois amigos. Talvez este não fosse um desenvolvimento tão feliz no que dizia respeito a ela. Ela se considerava um dos membros fundadores de seu grupo, mas este diário dissipou essa noção.

Considerei puxá-la para perto e acariciar sua cabeça, dizendo que ela ainda me tinha, então não havia necessidade de se preocupar, mas tive a sensação de que não era o que ela precisava agora.

Enquanto eu estava preocupado com meus pensamentos, Sylphie murmurou:

— Tudo bem, aqui vamos nós. — Reunindo sua coragem, ela foi em direção aos seus amigos e se ajoelhou. — Ei, pessoal…

— Sylphie…

Ariel e Luke tinham expressões estranhas enquanto olhavam para ela. Eles não tinham feito nada de errado, mas eu podia entender o motivo de se sentirem culpados. Sempre a trataram como se ela estivesse com eles desde o início.

O que será que ela planeja dizer? Meu estômago estava cheio de ansiedade.

A voz de Sylphie tremeu quando ela disse:

— Hm, esse tal de Derrick… Quando voltarmos para casa, posso pedir que me conte mais sobre ele? Como parece que ele tinha grandes expectativas em vocês dois, eu gostaria de saber sobre ele também.

— Claro — disse Luke, acenando com a cabeça. — Na verdade, quero que você saiba mais sobre ele. Ele foi a primeira pessoa a reconhecer o verdadeiro potencial da Princesa Ariel.

Ariel ficou em silêncio, mas a maneira como sorriu deixou claro que concordava com tudo o que ele havia dito.

Sylphie sorriu, satisfeita com a resposta.

Bati com a mão na boca sem nem perceber o que estava fazendo. Vê-los encheu meu coração com tanta emoção. Lembrei-me de Sylphie em sua juventude, quando morávamos em Buena Village. Ela estava sempre sozinha, intimidada pelas outras crianças. Eu era o único amigo que ela tinha, e quando ela pensou que eu poderia ir embora, seus olhos se encheram de lágrimas.

Mas olhe para isso agora, eu pensei. Aquela garotinha solitária agora tem amigos incríveis.

Eu não tinha feito nada para ajudá-la. Ariel e Luke eram amigos que Sylphie tinha feito sozinha.

Admito que foi um pouco triste perceber que ela não pertencia mais apenas a mim, mas isso era uma coisa boa. Eu tinha certeza. Não teria pensado assim no passado, mas era assim que as coisas deveriam ser. Nem eu, nem ninguém, deveria estar cuidando dela como um protetor. Ela precisava ser igual, tanto em nosso relacionamento quanto em sua amizade com Ariel e Luke. Ela conseguiu cultivar esses relacionamentos por conta própria. Também estava tentando o seu melhor para ficar em pé de igualdade comigo.

Isso significa que eu preciso igualar seus esforços.

Quando se tratava de amizades e igualdade, as primeiras pessoas que me vieram à mente foram Cliff e Zanoba.

— E-Ei, Rudeus…

Olhei para o meu lado. Eris estava parada lá, batendo o cotovelo contra o meu.

O que ela poderia querer? Talvez estivesse com ciúmes por eu ter colado meus olhos em Sylphie o tempo todo. Não se preocupe. Não vou te deixar de fora. Estamos casados agora, então me certificarei de banhá-la tanto… hm?

Eris estava olhando para trás de nós, para o corredor.

O que poderia estar olhando?

— Uhh?! — Engoli em seco, quando finalmente percebi o que havia chamado sua atenção.

O corredor estava repleto com uma quantidade gigantesca de slimes e formigas. Ambos eram vermelhos reluzentes; no caso do primeiro, era seu núcleo emitindo luz, enquanto no caso do segundo, eram seus olhos. De qualquer forma, estava claro que estavam chateados.

— Os Livr…

— Você… o… man…

O enxame falava em gemidos, embora fosse difícil saber como estavam produzindo aquele barulho. De qualquer forma, estavam lentamente se aproximando.

Por quê? Por que estão com raiva?

Tínhamos devolvido os livros aos seus devidos lugares. Eu não sabia onde o diário de Derrick pertencia, então planejava devolver isso ao Rei Demônio e prestar meus respeitos antes de partirmos. Era o único livro que ainda tínhamos.

— Você… o… man…

— Chou…

Você… o… manchou…? O que manchamos? Um livro?

— Oh! — Virei a cabeça para encarar Luke.

Ele estava olhando para o exército de monstros com a boca aberta. Só percebeu depois de um momento, quando olhou para o livro que segurava. Suas lágrimas haviam encharcado a página, fazendo a tinta escorrer tanto que algumas das palavras eram indistinguíveis.

— S-Sinto muito mesmo! — Luke se desculpou apressadamente, pegando um lenço do bolso para secar o livro.

— Não, Luke, você não pode fazer isso! — gritou Sylphie, tentando detê-lo, mas seu aviso chegou tarde demais. Sua tentativa só fez com que a tinta borrasse ainda mais, e graças a suas lágrimas enfraquecendo a integridade do papel, rasgou sob a força de sua mão.

— Graaaah!

Atrás das formigas, um Caracol-Cthulhu veio atacando a uma velocidade avassaladora. As formigas abriram a mandíbula e os slimes se encolheram. Eles estavam tão furiosos que perderam os sentidos.

Eris saltou reflexivamente na nossa frente.

— S-Sinto muito, nós realmente não queríamos fazer isso! — gritei por trás dela, mas meu apelo foi ignorado.

Os slimes nos atacaram, e Eris e Ghislaine avançaram para derrubá-los. Em um único golpe, conseguiram cortar seis núcleos dos slimes ao meio, deixando poças pegajosas no chão.

Eris olhou para nós e gritou:

— Rudeus!

Eu queria agradecer ao Rei Demônio por se esforçar para nos acomodar, e queria me desculpar por profanar um de seus livros. Eu esperava, ao mesmo tempo, que estivessem dispostos a ouvir o nosso lado da história. Infelizmente, essas criaturas enlouqueceram em fúria. Eles não dariam ouvidos à razão mesmo que tentássemos conversar.

— Vamos correr! — Eu me virei para pegar nossa bagagem.

Sylphie e os outros se moveram rapidamente, seguindo minha liderança. Luke foi o único que ficou para trás, ainda estupefato por suas ações terem acionado tudo isso. Felizmente, ele estava acostumado a recuar depressa. Ele pegou o que restava e sacou a espada para proteger Ariel, caso algo passasse por nossas defesas.

— Sylphie! — gritei.

— Pode deixar! Vou assumir a liderança! Sigam-me!

Tudo o que eu tinha feito era chamar seu nome, mas isso foi o suficiente para ela interpretar minhas instruções.

Então isso é o que chamam de estar sincronizados. Talvez tenha sido apenas uma coincidência, mas ainda assim me fez feliz.

— Ghislaine, você dá cobertura para Sylphie. Luke, fique com a princesa e mantenha-a segura. Eris e eu forneceremos cobertura.

— Fornecer cobertura? Fornecer cobertura de onde?! — rugiu Eris.

— Na retaguarda.

Eu virei meu cajado em direção aos slimes invasores.

Desculpe, Lorde Beethove, mas Luke não tinha más intenções.

Beleza, admito, ele provavelmente era um dos apóstolos do Deus-Homem, então era possível que estivesse operando sob as ordens dele… Não, isso é loucura. Eu não acho que foi isso. Bem, de qualquer forma, desculpe, Rei Demônio!

— Nova Congelante!

Gelo se formou na ponta do meu cajado, provocando uma rajada fria que ondulou para o exterior. Os monstros atingidos por ele instantaneamente começaram a congelar, mas seus movimentos não pararam por completo. Meu feitiço só os atrasou. Aparentemente, eles resistiram ao efeito total, mas atrasar seu avanço era bom o suficiente.

— Yaaah!

Ghislaine golpeava com a espada no alto, cortando instantaneamente os inimigos que bloqueavam nosso caminho. Ela cortou os slimes e as formigas como se fossem manteiga. Teria usado esse impulso para continuar avançando, mas um Caracol-Cthulhu parou seu avanço. Seus ataques atingiram sua concha com um estrondo. Seus tentáculos em forma de porrete contraíram antes de ir para o contra-ataque. Em termos modernos, era como um tank1 que de repente sacou uma lança e começou a ir para a ofensiva com ela. Sem outras opções, Ghislaine começou a fugir de seu ataque.

— Lança de Gelo! — gritou Sylphie.

O caracol conseguiu se manter seguro se escondendo em sua concha, mas sua barriga estava desprotegida. A lança de Sylphie se projetou pela terra, espetando a criatura.

— Agora, vamos!

— Certo!

Sylphie avançou, rompendo as fileiras do inimigo com Ghislaine logo atrás. Ariel e Luke corriam atrás deles, mas uma formiga que havia evitado minha Nova Congelante saltando pelo teto caiu em direção a eles.

— Hah! — Eris imediatamente se moveu para intervir. Seu golpe foi tão pesado que arrancou a cabeça da criatura de seu corpo antes de deixar uma cratera de impacto no chão.

— Canhão de Pedra! — Sem perder tempo, lancei um feitiço nela. Essas criaturas do tipo inseto às vezes podiam continuar se movendo mesmo sem a cabeça. Eu preferia não dar chance ao azar.

Acabar com o inimigo era uma regra de batalha inabalável, mas considerando o quão graciosamente o Rei Demônio nos permitiu entrar em sua biblioteca, me senti um pouco culpado abatendo seus familiares assim.

— Agora as coisas estão ficando mais interessantes — disse Eris.

— Interessante? Está me dando dor de estômago — resmunguei enquanto corria atrás de Ariel e dos outros.

— Droga, quantas dessas criaturas existem?!

A perseguição da horda era implacável. Apesar de parecerem despretensiosos, essas bestas detinham muito poder. Os slimes em particular eram muito mais rápidos do que pareciam inicialmente — como os Slimes de Metal em Dragon Quest. Se parássemos por um segundo, essas formigas estariam sobre nós, e suas mandíbulas eram poderosas o suficiente para atravessar a rocha mais dura. Mas o pior deles eram os Caracóis-Cthulhu que vinham atacando pela frente. Se Ghislaine e Eris não usassem toda a força de suas lâminas em seu ataque, aquilo simplesmente se defenderia. Mesmo que conseguissem cortar, não era o suficiente para matar a criatura na hora; ela ainda atacaria com seus tentáculos em forma de porrete.

Felizmente, a Biblioteca Labirinto não tinha quartos e era, em vez disso, uma coleção de corredores interconectados. Então, enquanto mantivéssemos uma ofensiva sólida na vanguarda e na retaguarda, não seriam capazes de nos cercar por completo e nos matar. Sylphie e Ghislaine tomaram a dianteira, nos guiando, enquanto Eris e eu cobrimos a retaguarda. Eu continuei liberando Novas Congelante enquanto Ghislaine abria caminho à frente. Sylphie continuou lançando Lanças de Gelo do chão abaixo, espetando cada caracol, e Eris eliminava o que restava. Nós lentamente avançamos enquanto nos certificávamos de que nada se esgueiraria atrás de nós. Tínhamos um número exaustivo de inimigos, mas estávamos pelo menos progredindo.

— Ali, em frente! — A voz aguda de Ghislaine cortou o ar.

Eu me virei. À nossa frente havia um enorme enxame de slimes, todos agrupados. Em um piscar de olhos, eles se transformaram em um único e enorme slime que bloqueou completamente nosso caminho.

— Só pode estar de zoeira com a minha cara!

Sério? Agora temos que enfrentar um Rei Slime?

— Haaaah! Impacto Tornado! — Sylphie lançou sua magia nele, e Ghislaine trouxe sua espada sobre ele, mas o Rei Slime se recuperou dos danos quase instantaneamente e continuou a nos bloquear.

— Rudy, eu não posso lidar com isso! — disse Sylphie.

— Eu assumo a partir daqui! — Corri para frente, tomando o lugar de Sylphie para que ela pudesse recuar para ajudar Eris a cobrir nossa retaguarda. Foi uma transição perfeita. Não precisei dar instruções explícitas a ela; ela se moveu sozinha.

Pensando bem, esta é a primeira vez que nós dois lutamos contra algo juntos, não é? Ela tem mais coragem do que eu pensava.

Honestamente, não era algo vindo de mim. Era ela quem estava pegando minhas pistas silenciosas e reagindo apropriadamente. Na fração de segundo em que passamos um pelo outro, nossos olhos se encontraram. Sua expressão acabou mostrando o pânico que ela estava sentindo, mas naquele momento, seus lábios relaxaram um pouco e suas orelhas se contraíram. Talvez os mesmos pensamentos tivessem passado por sua mente e, com eles, uma pontada de felicidade e vergonha.

Opa, espera aí. Agora não é hora para isso.

Deixando isso de lado, esse slime era gigantesco. Eu me perguntei se o Rei Demônio havia surgido da mesma forma. Não, isso não poderia ser possível. Esta coisa tinha um grande número de núcleos dentro dela. Não era uma entidade única, mas um conglomerado de muitos.

O que significava que a melhor maneira de o quebrar era…

— Ghislaine, vou lançar uma explosão poderosa e fazê-lo em pedaços. Quero que você acabe com o máximo possível de slimes menores que conseguir — eu disse.

— Deixa comigo.

Ela não estava se afastando nem nada, mas dei instruções detalhadas porque não queria que entrasse ao mesmo tempo em que usava minha magia.

— Ufa…

Respirei fundo e comecei a concentrar mana na minha mão direita. Precisava de um feitiço que fizesse um buraco no slime gigante. O Tornado Impacto de Sylphie era um feitiço avançado que fazia o vento girar rapidamente, quase como uma broca. Ele fez um buraco na criatura, mas sem força suficiente para quebrá-la em pedaços. Eu precisava de algo que causasse destruição, não em um único ponto concentrado, mas em uma ampla área. E isso requisitava mais do que Sylphie poderia reunir.

— Estrondo Sônico Melhorado!

O que desencadeei foi uma onda de choque sem forma. Como o nome implicava, era semelhante a Estrondo Sônico, que era um feitiço intermediário, mas adicionava um impacto que excedia em muito o feitiço base em poder.

Uma explosão invisível ecoou pelos corredores, explodindo através do slime com uma velocidade incrível. A força fez com que a criatura se estilhaçasse em pedaços.

— Graaaah! — Como se recusasse a ser superada pelos tremores que ondulavam pelo chão e pelas paredes, Ghislaine soltou um rugido feroz e atacou. Em um piscar de olhos, ela cortou os núcleos de pelo menos uma dúzia de slimes.

— Hein?! — Engoli em seco, percebendo que outro inimigo estava à espreita atrás daquela parede de slime enorme. Não, não um. Havia cinco Caracóis-Cthulhu. Eles pararam seu avanço momentaneamente quando o choque do meu ataque os atingiu, mas com a mesma rapidez, estavam de volta em movimento, avançando em nossa direção. Os caracóis conseguiram passar por Ghislaine e se aproximaram de mim.

— Graaaah! — Ghislaine saltou para trás, batendo a espada em um. Ela deve ter encontrado um ponto fraco em sua concha, porque isso foi o suficiente para fazer com que ele cambaleasse. Ele colidiu com uma das prateleiras próximas e foi enterrado em uma montanha de livros.

— Hmph! — grunhi, lançando Canhões de Pedra em mais dois. Os feitiços dividiram o ar com um som agudo, perfurando as conchas das criaturas, deixando uma bagunça pegajosa no rastro antes de explodir do outro lado.

Infelizmente, esse não foi o fim. As tripas de caracol se espalharam por toda parte, mas mesmo depois de ser mergulhado nas entranhas de seu companheiro, um quarto caracol continuou seguindo em frente. Ghislaine se moveu para bloqueá-lo, ficando entre mim e meu suposto agressor.

Mas ainda sobrou um, certo? Apenas quatro tinham se ido.

Quando pensei nisso, já era tarde demais. Respirei fundo quando meu Olho da Previsão avistou o quinto. Tinha se escondido na sombra do quarto e se esgueirou, despercebido. A visão de seu tentáculo tomou conta dos meus olhos.

Tarde demais para contra-atacar. Eu tinha que me esquivar de alguma forma. Em uma decisão de uma fração de segundo, joguei minha parte superior do corpo para trás.

— Eh?

Pegou meu flanco. Eu tinha conseguido evitar o tentáculo, mas o caracol ainda bateu em mim, me mandando para trás.

— Guh!

Bati em uma estante com tanta força que o ar foi arrancado dos meus pulmões.

Merda. Eles conseguiram passar por nós.

O caracol que havia batido em mim agora estava atacando Ariel. A princesa estava tentando revidar o melhor que podia. Ela tinha uma pequena espada, os olhos arregalados quando encontrou a besta de frente. Em pânico, mas determinada, não tremia de medo. Ela deve ter enfrentado ataques surpresa como este várias vezes antes. Mesmo assim, o caracol estava em fúria, brandindo seus tentáculos enquanto se aproximava dela.

Eu não acho que Ariel poderia lidar com isso. Levantei minha mão direita, conjurando um Canhão de Pedra para lançar no caracol.

Tudo bem. Vou fazer isso a tempo, pensei.

Mas, nesse mesmo momento, vi outra coisa à beira da minha visão — slimes. A aparição dos caracóis distraiu Ghislaine, impedindo-a de cortá-los. Aqueles que escaparam de sua lâmina mais cedo passaram pelos caracóis caídos e avançaram em nossa direção. Ghislaine, entretanto, ainda não tinha terminado o quarto caracol. A dúvida me atingiu, mas não foi o suficiente para retardar meu feitiço.

— Canhão de Pedra!

Ele dividiu o ar, batendo em sua marca precisamente como pretendido. Um estrondo agradável e familiar ecoou quando quebrou o corpo do caracol. Naquele instante, os slimes se esquivaram de Ghislaine e correram em direção a Ariel.

Apenas um único homem estava entre eles e a princesa, Luke. Ele provavelmente estava se preparando para enfrentar o caracol antes de eu matá-lo. Seu foco então mudou para os dez slimes invasores. Dois deles foram em minha direção enquanto eu me ajoelhava ao lado de uma das estantes. Três outros refizeram o caminho para flanquear Ghislaine.

Concentrei meu Olho da Previsão nos dois que se aproximavam de mim. Lidei calmamente com eles enquanto mantinha meus olhos em Luke. Seu ataque preventivo contra os cinco que o cercavam conseguiu matar um. No entanto, os outros quatro já estavam se movendo em sincronia. Um se lançou a seus pés, enquanto outro bateu em seu estômago. Luke caiu em um joelho, momento em que o terceiro slime se enrolou em torno de sua espada, enquanto o último deles mirava um ataque contra sua cabeça desprotegida.

— Urgh?!

Luke levou um forte golpe no crânio. Sangue jorrou de sua testa e saiu de seu nariz, mas isso não foi suficiente para detê-lo. Ele puxou uma espada curta de sua bainha na cintura e esfaqueou o slime enrolado em torno de sua arma principal. Com ela livre, ele derrubou dois outros que estavam se lançando em Ariel.

— Eu não vou deixar você encostar um dedo na Princesa Ariel! — berrou ele.

Infelizmente, ainda restava um slime, o que havia desferido um golpe tão feroz em sua cabeça. Luke havia virado as costas para ele para cortar os outros, e agora o slime se lançava sobre ele, mirando na parte de trás de sua cabeça. Apesar de quão macio seu corpo parecia, tinha a força de um disparo de canhão. Se acertar no lugar errado, pode quebrar o crânio dele.

Felizmente, o slime não atingiu seu alvo porque Ariel enfiou sua espada direto em seu núcleo. O slime transformou-se em gosma sem forma e respingou em uma poça no chão.

— Princesa Ariel. — Luke ofegou.

— Luke, em tempos como este, não tenho intenção de permanecer uma simples flor decorativa. — Ela sorriu.

Com isso, o caminho à frente ficou limpo.

Ghislaine lançou um olhar sombrio para mim.

— Em frente! — ordenei, levantando-me do chão. Banhei o grupo com magia de cura enquanto me esforçava para me juntar na parte dianteira da nossa formação. Por mais culpado que eu me sentisse por arruinar uma cena tão comovente, ainda tínhamos uma inundação de inimigos nos atacando por trás. Precisávamos nos apressar.

Depois disso, continuamos eliminando nossos oponentes enquanto corríamos em direção à saída. As bestas tentaram todo tipo de tática para impedir nossa retirada. Slimes formavam paredes, caracóis vinham em massa, formigas se espalhavam pelo teto e tentavam cair sobre nós em grupo. Quando os inimigos inevitavelmente passavam, Luke protegia com ferocidade a princesa como se sua vida dependesse disso. Ariel também fez sua parte com sua própria magia e espada curta, derrubando o que quer que viesse em seu caminho.

Graças a esses esforços diligentes, chegamos ao círculo de teleporte praticamente ilesos. Se Ariel tivesse sido uma mera flor decorativa, ou se Luke tivesse se revelado o apóstolo do Deus-Homem e esfaqueado alguém pelas costas, nossa formação teria, sem dúvida, desmoronado.

Mesmo assim, ainda tinha sido uma falha. Eu esperava voltar aqui se precisássemos pesquisar qualquer outra coisa, mas, infelizmente, isso agora parecia impossível. Matamos um grande número de servos do Rei Demônio e danificamos diversos livros durante nossa retirada.

Quem teria pensado que alguém chorando em um livro iria irritá-los tanto?

O único raio de esperança era que esses familiares se moviam mais como marionetes do que bestas pensantes de verdade. Mas mesmo que fossem máquinas irracionais, ainda as destruímos. Eu teria que ser casca grossa para usar a falta de consciência deles como desculpa para conseguir o perdão do Rei Demônio. Não. Mesmo com uma carta de desculpas, eu tinha certeza de que ele não deixaria nada disso passar.

Pelo menos havia algumas vantagens: se Luke era ou não um dos apóstolos do Deus-Homem, ele provou que ainda protegeria Ariel com sua vida. E Ariel encontrou sua resposta à pergunta de Perugius. Conseguimos o que queríamos. Completamos nosso objetivo. Isso era o suficiente por agora.


[1] Tank geralmente está conectado a personagens em jogos online de equipes que possuem a características de “aguentar” dano.

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geygey
Visitante
geygey
3 meses atrás

cara muito foda que um personagem que apareceu apenas em dois capítulos extras foi ter relevância logo agora

obcecado fanático louco de mushoku tensei
Visitante
obcecado fanático louco de mushoku tensei
4 meses atrás

Po véi, Luke e um fela da-

obcecado fanático louco de mushoku tensei
Visitante
obcecado fanático louco de mushoku tensei
4 meses atrás

Mushoku tensei e perfeito

João tagliarine
Visitante
João tagliarine
4 meses atrás

Esse personagem Luke é simplesmente inútil, personagem lixo pra caralho. E to suspeitando que a Ghislaine é uma serva do deus homem

obcecado fanático louco de mushoku tensei
Visitante
obcecado fanático louco de mushoku tensei
4 meses atrás
Resposta para  João tagliarine

Nem a pau👍

Gaybss
Visitante
Gaybss
3 meses atrás
Resposta para  João tagliarine

Ele só manipula humanos amigo… Como diabos uma Furry Doldia seria serva dele???

Lucas BuenoD
Membro
Lucas Bueno
7 meses atrás

Porra vei, por causa da fúria desenfreada desses bixos, um monte de livros foram severamente danificados tlg, se eles tivessem ido com mais calma o único livro danificado seria o diário do Derick e ainda assim era uma página só tlg

Gabriel Silva
Membro
Gabriel Silva
10 meses atrás

Que infelicidade mano. O Beethoven foi gente boa pra deixar eles usarem a biblioteca.. é uma pena que acabou assim. Talvez se os familiares fossem racionais poderiam ter consertado a página do diário do Derrick.
Realmente uma pena.

Gaybss
Visitante
Gaybss
3 meses atrás
Resposta para  Gabriel Silva

Na verdade o final foi bem “clichê”, a biblioteca é um lugar muito overpower em conhecimento, se não cortassem o acesso a ela agora, rudeus poderia usar ela pra resolver qualquer problema

Diogo Farias
Membro
Diogo Farias
3 meses atrás
Resposta para  Gaybss

Agora que vc falou, isso faz muito sentido

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