Acabamos ficando com um grupo de cinco pessoas para nossa jornada ao Reino do Rei Dragão: eu, Eris, Aisha, Zanoba e Julie. Não planejei a vinda de Julie originalmente, mas ela se agarrou ao quadril de Zanoba e não queria deixá-lo ir. Acho que depois de Shirone ela jurou para si mesma que das próximas vezes iria com ele, não importava a situação. Parando para pensar, ela veio conosco quando montamos uma filial da Loja Zanoba no Reino de Asura também, sem pedir a permissão de ninguém. Ela era doida pelo Zanoba, sério. Eu só queria dizer “Fale para ele como você se sente logo!”, mas não havia nenhum sinal de que seus sentimentos eram recíprocos. Zanoba tinha sua própria história complicada com casamento, então eu não iria criar muitas expectativas.
Ginger, talvez por ter visto aquilo tudo, decidiu não vir e assumiu a gerência da sede da Loja. Ela me disse para tomar conta de Zanoba.
De qualquer forma, enquanto estávamos na cidade, Aisha ia montar um escritório para o Bando Mercenário Ruato e Julie iria estabelecer uma filial da Loja Zanoba. Enquanto isso, Zanoba, Eris e eu nos encontraríamos com Randolph.
Assim, nos dirigimos ao Reino do Rei Dragão. Como de costume, viajamos pelo círculo de teletransporte a uma localização próxima, então andamos o resto do caminho à capital da cidade. Wyvern. Quanto tempo faz? Ao ver a cidade de novo depois de tanto tempo, me deixou uma visão de bagunça. Os prédios tinham todos alturas diferentes e as pessoas eram igualmente díspares. A cidade surgiu sem nenhum tipo de plano, então o resultado era uma paisagem na qual uma pousada para aventureiros se localizava exatamente ao lado de uma mansão de um nobre. Em frente ao salão de treinamento Estilo Deus da Espada havia um outro do Estilo Deus do Norte, e um do Estilo Deus da Água logo atrás desse.
A cidade era uma bagunça cacofônica, mas estava cheia de vida.
Apesar de seu histórico, não havia divisões de classe aqui. Era uma nação construída com base na meritocracia e no imperialismo. Não era um lugar ruim, na minha opinião. Mas como todos os países, certamente tinha um lado sombrio.
Quando cheguei, tomei um dia para me recuperar na pousada, e então fui direto ao palácio real.
Não esqueci de, no dia anterior, marcar um horário com Randolph e Benedikte juntos. Minha impressão foi a de que Benedikte não passava uma imagem de nobreza enquanto estávamos no Reino do Rei Dragão, mas realeza era realeza. Se eu a afrontasse, isso poderia ser levado como um insulto por toda a família real. Quero dizer, ainda que nenhum deles levasse isso para o lado pessoal, tinha que zelar pela minha reputação. Países são como a Yakuza. Eles estão sempre procurando por uma desculpa para começar uma briga.
Com isso em mente, providenciei uma carruagem com um cavalo branco, arranjei umas roupas apropriadas para a ocasião, então fui em direção ao palácio do Reino do Rei Dragão. Não era tão vasto como o de Asura, nem tão refinado como o de Millis. A palavra que vinha à mente era “bizarro”. Depois de numerosas extensões, agora se expandia para cima e para baixo. Era bruto e desordenado, como se alguém tivesse improvisado pedaço por pedaço conforme cada um fosse se tornando necessário.
Algo sobre essa cidade era intimidador de uma forma que eu não sabia descrever. Essa sensação provavelmente me faria pensar duas vezes caso estivesse pensando em atacá-la. Eu não estava planejando fazer isso dessa vez, então sua aura opressora não teve nenhum efeito sobre mim.
Meu horário marcado nos colocou dentro do palácio sem dificuldades. Fomos levados aos aposentos de Benedikte.
— As pessoas estão nos encarando. — Eris pontuou enquanto seguíamos nosso guia servo do palácio. Acho que nos destacávamos. Todos os cavaleiros e nobres em suas elegâncias se viraram para nos observar, embasbacados.
— Aja como se você devesse estar aqui — rebati. Dessa vez eu estava aqui como um amigo de Randolph. Não tinha motivo para me sentir envergonhado.
Certo, eu tinha um. Orsted era culpado por ter matado o rei deles. Mas não acho que isso fosse de conhecimento público…
Se formos descobertos, vou chamar Ariel para nos ajudar, pensei, logo que chegamos aos aposentos de Benedikte.
— Ótimo. Eris, Zanoba, vocês estão prontos? — Eu disse.
— Sim.
— Claro.
— Se por acaso descobrirmos que o Deus da Morte é nosso inimigo, vocês dois seguram as pontas com ele enquanto preparo o círculo mágico para a Versão Um. Então eu termino as coisas aqui. Certo?
— Entendido! — confirmou Eris.
— Certo, embora eu realmente espere que não seja preciso tanto…
Eris e eu éramos uma dupla formidável em batalha. Podia contar com ela para me proteger caso o Deus da Morte acabasse por ser nosso inimigo.
Zanoba era um tanque confiável contanto que nosso oponente não tivesse nenhum mágico em seu arsenal. Estava um pouco preocupado com Aisha e Julie, as quais deixei pra trás… mas não conseguia mantê-las seguras em qualquer lugar o tempo todo. Tudo que podia fazer era rezar para que elas conseguissem passar por metade de um dia sem nenhum incidente.
Chega de papo. Hora de irmos.
Para um quarto em um palácio real, o local era escasso. Era o absoluto menor espaço com o absoluto menor número de damas de companhia que conseguiam ter.
— Bem-vindo, Lorde Rudeus. Faz muito tempo que não te via. — Lá estava ele, o melhor guarda-costas do mundo: Deus da Morte Randolph Marianne. Ele parecia macabro de pé, parado entre mim e sua patroa, Benedikte, e o bebê nos braços dela. Benedikte não falava, mas quando olhava para mim, sua boca se apertava e agarrava seu bebê mais forte. Ela parecia estar a um passo de começar a chorar.
Antes de mais nada, decidi cumprimentá-la antes de Randolph. Isso parecia ser uma boa maneira.
— Rainha Benedikte. Espero que esteja bem — disse.
Ela não me agraciou com uma resposta, mas acho que não podia culpá-la por isso. Ela já deve ter ouvido a história do que aconteceu naquele dia. Pax já devia ter contado sobre mim e Zanoba antes disso, e eu duvidava muito que ele tinha qualquer elogio a fazer quanto a nós.
Então Zanoba deu um passo à frente.
— Faz muito tempo — declarou. — Rainha Benedikte, eu sou Zanoba, a seu dispor. — Ele se inclinou em direção a eles, sem considerar seu espaço pessoal, como sempre. Benedikte recuou enquanto Randolph dava um passo à frente, mas Zanoba permaneceu na mesma posição. — Fico feliz em ver que sua Alteza, o príncipe, está saudável também.
Um longo silêncio pairou pela sala. Randolph encarava Zanoba com consternação. Eu queria que ele tivesse olhado para mim também. Ali estava eu, agarrando o ombro de Zanoba para tentar trazê-lo para trás. É claro que não consegui movê-lo.
— Ah. Peço desculpas. Deveria ter dito “princesa”? — Zanoba perguntou.
Benedikte balançou sua cabeça, devagar. Herdeiro homem, confirmado.
— Posso perguntar seu nome?
— Pax. — Ela respondeu após uma pesada pausa.
— Ele foi batizado em homenagem a seu pai. — Randolph adicionou. — Pax Segundo. — Deram a ele o nome do pai. Me perguntava se ele seria chamado de Pax Jr. ou Paxzinho ou algo do tipo.
Bem, não é lindo? Eu devia batizar meu próximo filho de Rudeus Junior ou algo do tipo. Não, esquece isso. Eu o condenaria a ser um pervertido.
— Entendo. Um bom nome. Que ele cresça forte e robusto como seu pai. — Zanoba estava alegre, mas titubeou ao notar o terror no rosto de Benedikte. — Ah… Parece que eu te assustei, Sua Majestade. Peço perdão. Sempre tive esse efeito nas pessoas. Por favor, esteja ciente de que não lhe desejo mal nenhum. — Ele recuou, mas o clima do quarto continuou esquisito.
Uh-oh.
— Hm… — comecei — Oh, já sei. Permita-me introduzir minha esposa.
Eris deu um passo à frente.
— Eu sou, er, Eris Greyrat… Sua Majestade. — Ela gaguejou. Nada daquelas aulas de etiqueta tinha ficado. Escolhi o esquadrão errado para essa missão. Devia ter trazido Aisha. Ela sabia como ser elegante e amigável. Mas então eu estaria em maus lençóis caso Randolph resolvesse partir para o ataque.
Benedikte não respondeu a Eris. Ela continuou olhando para Randolph, com uma expressão nervosa. Então, ele respondeu.
— Me lembro de sua esposa ser uma demônio, Lorde Rudeus… — Ele disse sem envolver a Rainha na conversa, afinal, ela sendo tão calada como era, seria mais rude se a deixasse responder e ficasse quieto.
— Eu tenho três esposas — expliquei. — Roxy é uma delas.
— Oh? Isso não deve soar bem à Igreja Millis.
— Um dos meus amigos é um padre e sempre que tem a oportunidade, me dá sermões sobre o assunto. — Eu o encarei da forma adequada. — É bom ver você, Randolph. — Ele estava exatamente como eu o lembrava, com seu rosto esquelético e seu sorriso inquietante, de forma que pareceria vulnerável a um observador que não tivesse conhecimento de quem se tratava. Na verdade, ele era tudo menos vulnerável. Era possível perceber por conta dos lábios tensos de Eris.
— Você está bem? — Eu perguntei.
— Eu estou, bastante. Sempre estou. Não posso dizer o mesmo quanto a você, Lorde Rudeus.
— Um amigo meu se tornou meu inimigo.
— Eu conheço bem o sentimento. Quando era jovem, fui forçado a matar um amigo. Foi uma experiência bastante traumática. — Randolph explicou. Sua atenção continuava a se alternar entre mim e Eris enquanto falava. Fez que sim com a cabeça, simultaneamente se deslocava e ajustava sua posição de maneira quase imperceptível para se colocar entre ela e Benedikte.
— Eris — chamei — Você pode dar só alguns passinhos para trás?
— O quê? Por quê?
— Randolph parece desconfortável — expliquei. Eris já o tinha bem no alcance de sua espada. Além disso, ela estava ajustando sua posição para que eu não ficasse encurralado entre os dois. Os dois estavam se movimentando como dois guerreiros, analisando um ao outro, escalando para posições cada vez mais perigosas. Se eu deixasse isso continuar, podia muito bem ter uma luta em minhas mãos.
— Ele pode ser nosso inimigo — protestou Eris.
— Se ele fosse, não permitiria que você entrasse aqui com uma espada em mãos.
Ele certamente não teria permitido que Benedikte estivesse no quarto também. Randolph não lutaria contra uma Rei da Espada e um mago com as pessoas que ele deveria proteger logo atrás dele. Ele nos pegaria de surpresa quando estivesse sozinho ou com um grupo de aliados. Eu desconsiderei Randolph como um inimigo a partir do momento que vi Benedikte. Era possível que Benedikte fosse secretamente uma guerreira, eu acho, mas queria acreditar que Randolph conseguiria fazer um trabalho muito melhor que montar uma armadilha como essa. Ele podia estar jogando um jogo muito longo e estar mantendo seu disfarce por ora, mas se eu começasse a pensar assim, não haveria fim para essa história. Esse encontro aqui e agora não era uma armadilha. Por agora, eu ia confiar nele.
— … Está bem — disse Eris, por fim. Ela se esgueirou de volta para a entrada. Sua mão mantinha um aperto forte em sua espada.
— Minhas desculpas, Lorde Rudeus — declarou Randolph.
— De jeito nenhum, sou eu quem devia me desculpar — respondi. — Temo que nosso cronograma esteja muito atribulado, entretanto…
— Por conta daquele seu amigo? Se importa em explicar?
— Adoraria. É por isso que estou aqui, afinal de contas.
Contei a ele o que aconteceu no País Sagrado de Millis: como o demônio Geese se tornou meu inimigo; como ele não tinha nenhuma habilidade de luta, mas conseguia se safar de qualquer coisa com sua lábia; como com sua língua de prata e as artimanhas do Deus-Homem eles estavam conseguindo reunir poderosos combatentes. Contei a ele como, a fim de parar Geese, eu tinha espalhado por todo o mundo cartazes de procurado com seu rosto e planejava tornar guerreiros-chave poderosos em meus aliados.
— Essa é uma forma muito honesta de lutar — observou Randolph.
— Não consegui pensar em nada melhor.
— Não, não, eu disse isso como um elogio. Até um oponente sábio vai esgotar suas boas ideias se você destrói cada truque que ele te lança em pedacinhos, sem nem se dar ao trabalho de pensar sobre.
Randolph soltou uma risada barulhenta. Ele estava falando isso porque já teve essa experiência? Demônios imortais pareciam ser bons nesse tipo de coisa.
— De qualquer forma, foi assim que aconteceu — concluí — Espero poder contar com sua ajuda.
— Seria um prazer — começou Randolph — ,mas não há nenhum bom motivo para que eu te ajude. Não quero me encrencar com o Deus-Homem, tampouco.
— E se eu te dissesse que o Deus-Homem era o arqui-inimigo do Rei Pax?
— Oh? — disse Randolph, parecendo interessado. — Como assim? Conte-me mais.
Contei a ele como o incidente em Shirone havia sido planejado pelo Deus-Homem, quem eram seus discípulos e o que eles fizeram. Randolph ouviu até eu terminar, então riu. Suas bochechas saltavam de forma perturbadora; sua risada era um áspero coaxar.
— Bem, então, essa é uma outra história. Anseio pela chance de vingar Lorde Pax.
Ele sorriu. Seu rosto era tão assustador. Era o tipo de rosto que você esperava ver por trás de uma grande traição, mas isso só serve pra mostrar: não se pode julgar um livro por sua capa.
Ele concordou sem muito drama. As coisas pareciam promissoras… até que Randolph continuou.
— Infelizmente — retomou — ,tenho andado bastante ocupado.
Espera aí. Isso significa que as coisas não estão indo bem.
— Posso perguntar com o quê?
Ele riu:
— Ah, agora o jogo virou.
Sua confiança me deixou preocupado. Atribuí isso às brincadeiras típicas de Randolph.
— Não diga isso até que você tenha alguma vantagem na situação — retruquei.
— Mas eu tenho. Você está aqui porque precisa da minha ajuda, certo?
Caramba, isso parecia ser uma bela vantagem, ok. Eu não tinha escolha além de ouvir as suas demandas. Certo. Que tipo de pedido ridículo ele ia me fazer? Poderia essa ser uma outra parte dos planos de Geese?
— Não se preocupe, não é nada tão árduo. — Ele saiu de sua posição defendendo Benedikte para uma que a deixa exposta. A Rainha continuou sentada lá com o bebê, tendo algo como medo estampado em seus olhos. De quê, eu não sabia dizer.
— Como estou certo de que todos vocês sabem, este país tem estado em uma constante situação de angústia.
O Reino do Rei Dragão tornou-se bastante instável depois que Orsted matou seu rei em Shirone. Ainda assim, o rei anterior previu isso e nomeou seu sucessor. O novo monarca foi coroado logo, e o Reino de Rei Dragão gradualmente retornou à estabilidade, pelo menos era o que parecia. Quem matou o antigo rei era um mistério. Um forasteiro? Alguém de dentro do palácio? A razão do crime também não era clara. Não importava o quão tranquila fosse a face que apresentavam ao mundo, o palácio estava irreconciliavelmente dividido, com todos amedrontados até mesmo de suas próprias sombras. O país era governado sob uma mortalha de medo.
— Não estamos diretamente envolvidos nessa aflição. Entretanto, alguns vêem o bebê da rainha como uma inconveniência.
Aha. Ele estava preocupado com o filho de Pax. Benedikte era a filha do antigo rei. Ela foi tratada como se não existisse; foi entregue a Pax, antigo príncipe do Reino de Shirone, para que então o Reino do Rei Dragão pudesse se livrar dela.
Quero dizer, essa não era uma configuração tão má dos fatos. Um uso foi encontrado para uma princesa desimportante. Isso era tudo.
Mas depois que ela se casou com o Príncipe Pax, ele foi morto em uma guerra civil, e por que ela tinha parido seu filho, tudo parecia diferente. Os assassinos de Pax estavam trabalhando na reconstrução do Reino de Shirone. Eles estavam cheios de trabalho em suas mãos e não podiam fazer nada contra ela no momento, mas seu ódio contra Pax queimava mais ardente que nunca. E por que não deveria? O finado príncipe tinha matado toda sua amada família real.
— Pessoalmente, acho que eles serão aniquilados pelo império Nortenho muito antes de terminarem a reconstrução, mas muitos ainda têm se preocupado…
Linhagens sanguíneas reais são tão complicadas. Em um país como Shirone, apenas um descendente legítimo do monarca anterior poderia ascender ao trono. Logo, os atuais governantes de Shirone não ficariam felizes que o filho de Pax tivesse sobrevivido. Se o Reino de Shirone se estabilizasse, eles provavelmente apareceriam dentro de alguns anos requerendo o filho de Benedikte. Apenas um pequeno infanticídio como sinal de amizade entre o Reino de Shirone e o Reino do Deus Dragão.
Mas Paxzinho ainda era o neto do velho rei do Reino do Rei Dragão. Se um estado vassalo aparecesse e dissesse “Entregue-o” e recebesse como resposta “Claro, aqui está”, isso não refletiria bem em sua reputação. Em contrapartida, caso não o entregassem, isso azedaria as relações com Shirone.
Então, ao que parecia, planos estavam em ação para eliminar o motivo da discórdia antes que chegassem a esse ponto. Matar Paxzinho antes que Shirone viesse pedir isso.
“O quê? Você quer a criança?” Eles diriam. “Puxa, não queria te dizer isso, mas ele morreu em um trágico acidente. Que tragédia imprevisível! Ah, bem. Tenho certeza de que você entende, certo?”
Dessa forma, o Reino do Rei Dragão e o Reino de Shirone poderiam ambos sair com suas reputações intactas.
O único que sairia mal da situação seria Randolph.
— Eles o querem tanto assim a ponto de lutar contra o Deus da Morte Randolph? — refutei em tom de dúvida.
— Muitos consideram evitar a guerra entre nossas nações uma prioridade maior do que evitar minha espada. Acredito que diversos outros medos estejam em jogo, além disso… Mas de qualquer forma, entendo muito pouco de política, e ultimamente tenho passado todo meu tempo guardando a Rainha Benedikte. Não posso opinar muito além disso.
Faz sentido.
Neste momento, o coração da política no Reino do Rei Dragão estava em um estado de instabilidade. Era impossível que outros países não estivessem buscando uma forma de explorar isso. Ainda que eles não pudessem abertamente atacar o Reino, poderiam, por exemplo, perturbar seus estados vassalos. Isso parecia mais do que provável.
Se Shirone, seu baluarte ao norte, virasse as costas para eles, bem… Aposto que muitas pessoas estavam se preocupando por conta disso.
Pessoalmente, se fosse eu que estivesse com Randolph na minha frente, estaria mais preocupado em fazer dele meu inimigo.
— Não faz sentido enviar assassinos e gente dessa laia enquanto eu estiver aqui, é claro, mas muitos não conseguem entender isso…
— Assassinos?
— Claro. Eles não entendem que terão que passar por mim até chegarem aqui. Alguns se empalidecem, outros choram enquanto imploram por suas vidas, e outros ainda dão meia volta e vão embora. Já vieram alguns.
— Assustador…
Orsted me contou que o Deus da Morte Randolph Marianne, dos Sete Grandes Poderes, era amplamente conhecido no submundo dos assassinos – algo que se poderia presumir apenas pelo seu nome. Diziam que se você precisasse fazer dele seu inimigo, era melhor eliminar seu contratante e fugir sem olhar para trás.
Os que estavam realizando a contratação presumidamente não sabiam disso.
Imaginei como deveria ser a sensação de ser um assassino azarado, ficando frente a frente com o Deus da Morte. Ele é um cara assustador, não é? Eu entendo a sensação, foi assim para mim quando desafiei Orsted.
— Não sou contrário a visitantes, mas se as coisas correrem assim, o futuro do príncipe está… bem. — Randolph finalizou, de forma enfática. A situação deles não ia melhorar, não importava quantos assassinos ele tirasse de cena. No final das contas, tudo que eles podiam fazer era esperar pela demanda de Shirone pelo bebê.
Ele podia recusar, mas isso prejudicaria sua reputação. Se entregassem Paxzinho, a criança provavelmente seria executada, independente do acordo feito previamente. Não importava o que acontecesse, a Paxzinho não seria permitido viver em paz.
A não ser que…
— Digamos que eu encontre uma saída para você. Ainda assim, não teria nenhuma chance de te convencer a se juntar à batalha contra Geese?
— Absolutamente não — afirmou Randolph. — Mas você precisa de aliados no Reino do Rei Dragão, não precisa? — Não respondi, mas Randolph continuou mesmo assim. — Seria uma boa garantia me ter como seu aliado. Todo mundo diz isso; sentem que podem confiar em mim. E pode haver outras vantagens para você.
— Imagino que sim — respondi.
Randolph não ia lutar ao meu lado. Isso deixava possibilidades para o resultado contrário: ele podia ser tomado pelo Deus-Homem, ou ainda, pela lábia de Geese, e aparecer do outro lado. Ainda que eu o ajudasse aqui, não podia descartar a possibilidade de ele se virar contra mim.
— Sir Randolph — disse Zanoba, dando um passo à frente. — Não há razão para condições complicadas. Ainda que eu não mais reivindique o sangue real, o príncipe é meu parente e eu servi ao seu pai. Não tenho interesse nos conflitos de poder do Reino do Rei Dragão. Se você se encontrar em apuros, é certo que ajudarei.
Hm, verdade. Não tínhamos por que abandonar Randolph agora simplesmente porque ele poderia se voltar contra nós depois.
— Lady Benedikte — continuou Zanoba, ajoelhando-se perante ela. Apoiado em um joelho, seu rosto estava no mesmo nível do colo de Benedikte. Olho no olho, ele disse:
— Como o irmão mais velho de Pax, também sou seu irmão. Você não permitirá que eu ajude a você e ao príncipe?
Benedikte ficou em silêncio por alguns longos segundos, olhando nos olhos de Zanoba de lado… Então, por fim, com uma hesitação dolorosa, ela estendeu uma mão a Zanoba.
— E-eu ficaria feliz com sua ajuda. — Ela disse.
— Estou a suas ordens. — Ele tomou sua mão e beijou-a. Dizem que se você quer matar um general, antes tente contra seu cavalo… mas Zanoba foi direto ao general e conseguiu realizar um perfeito headshot. Eu não deveria estar surpreso: foi por isso que ele veio. Quando você analisava os prós e contras, não era um mau negócio para nenhum de nós. Como o próprio Randolph disse, teria adquirido um aliado confiável no Reino do Rei Dragão, e não apenas Randolph. Benedikte e Paxzinho, se, por alguma ironia do destino, ele acabasse por subir ao trono quando tivesse idade o suficiente, também seriam recursos. Essa aliança traria frutos em dez, talvez vinte anos mais tarde. Um investimento de longo prazo. A Corporação Orsted sempre olhava para o futuro.
Essa bagunça foi culpa do nosso CEO, principalmente. Como seu seguidor, era minha responsabilidade fazer algo quanto a isso.
— De fato. Ficarei feliz com sua assistência. — Randolph afirmou.
O Deus da Morte devia saber de tudo isso. Ele havia escondido sua mão de forma brilhante.
Seu desgraçado esperto…
De qualquer forma. Foi assim que Zanoba e eu acabamos concordando em limpar a bagunça do Reino do Rei Dragão.
Quem sera q ganha o deus da morte ou a eris?
Obrigado pelo capítulo!