Passou um mês desde a minha matrícula. A vida escolar de Rudeus Atoleiro era monótona. Primeiro acordava pela manhã, depois, como de costume da rotina diária, começava o treinamento. De acordo com um mangá que li na minha vida anterior, existia um homem que fazia flexões e agachamentos cem vezes, corria dez quilômetros todos os dias e sacrificou seu cabelo para obter força suficiente para se tornar o mais forte do mundo. Eu não queria perder o meu cabelo, então tive que trabalhar um pouco mais duro do que ele. Praticando especificamente com a minha espada de madeira. Esse treinamento só tinha efeito porque continuei o fazendo diariamente.
Pelo visto, havia outros na universidade que também eram apaixonados por exercícios, já que vi uma garota indo correr de novo pela manhã. Não vi seu rosto porque seu chapéu estava puxado por cima dos olhos, mas ela parecia em forma, embora um pouco magra.
Depois de voltar para o meu quarto, fiz um pouco de treinamento mágico. Eu estava fazendo uma nova estatueta pela primeira vez em muito tempo. Zanoba continuou me perseguindo para lhe ensinar minhas habilidades, então isso meio que servia como uma revisão para mim. Eu não tinha feito muito progresso com ela, ainda mais com Zanoba continuamente me interrompendo para me chamar para o café da manhã. A ordem para se servir no refeitório do dormitório era determinada pelo ano letivo e posição social, mas eram tolerantes com os prazos. Afinal, pela manhã estavam todos ocupados.
Após a refeição, me separava de Zanoba e ia para a biblioteca. Minha pesquisa sobre teletransporte tinha ficado interessante. Quando o sino do meio-dia tocava, Zanoba e eu almoçávamos juntos. Ele me fazia perguntas sobre coisas que não entendia nas aulas, e eu respondia da melhor maneira possível. Ele estava tendo apenas aulas de magia da terra, mas ainda estava, à sua maneira, trabalhando duro.
Comíamos nossas refeições do lado de fora. Elinalise às vezes aparecia, mas Zanoba aparentemente não parecia um “homem bom” aos seus olhos, então ela se retirava bem rápido. Perguntei como ela estava lidando com sua situação, já que não tinha permissão para levar homens para o dormitório feminino, então me disse que ia à cidade durante as noites para matar a sede. Um vigor impressionante.
Por outro lado, o refeitório tinha uma grande variedade de comidas que atendia ao meu paladar. Tinha coisas como nanahoshiyaki (o pseudo-karaage), além de algo que tinha gosto parecido com curry, chamado sopa de kerry. Não era incrível, mas eu gostava por o gosto ser parecido com algo da minha vida anterior. Eles definitivamente mantinham um menu que as várias raças no local poderiam desfrutar.
À tarde, eu tinha aulas sobre os fundamentos da magia de cura, magia divina e magia de barreira. A magia divina era especialmente eficaz contra criaturas do tipo fantasma ou bestas com forma gasosa. Do ponto de vista teórico, achei que era provavelmente semelhante ao Atrapalhar Magia, usando a mana em sua forma mais bruta para atingir o oponente. Dado isso, apenas bater em algo com mana pura não causaria nenhum dano, então deveria haver algo mais. Eu talvez pudesse entender esse tipo de coisa se tivesse sido um exorcista na minha vida anterior. Assim sendo, estava aprendendo apenas a teoria por trás das coisas e memorizando todos os encantamentos.
Aprendi que seria necessário mudar o tipo de magia em uso para combater alguns oponentes. Se alguém quisesse se tornar um mago habilidoso em magia divina, ser capaz de analisar o oponente seria importante. Mas esse requisito também não se aplicava além da magia divina? Por falar nisso, espadachins de primeira linha aparentemente podiam cortar os fantasmas. Não havia necessidade de análises. Eu tinha visto uma série de bestas do tipo fantasma enquanto operava como aventureiro, mas nunca um espadachim capaz de cortá-las.
A magia de barreira era, como o nome indicava, magia em que se cria uma parede protetora. Elas eram construídas usando basicamente círculos mágicos, mas no nível iniciante também poderiam ser criadas por meio de encantamentos. Escudo Mágico tinha o poder de isolar chamas ou frio e reduzir o efeito dessas coisas. Os tijolos resistentes à magia da universidade, bem como a lareira da pousada, provavelmente foram desenvolvidos com essa magia como princípio.
Se havia um escudo que podia proteger contra magia, não devia ter também um para proteger de ataques físicos? Quando perguntei sobre isso aos professores, me disseram que a crença Millis possuía os direitos tanto da magia divina quanto da magia de barreira, então a universidade só poderia ensinar os níveis básicos de ambas. Pelo visto, o Escudo Físico era um feitiço de nível Intermediário, e não algo que eu poderia aprender. Os professores poderiam até usar a magia e ensinarem a fazê-la, mas isso seria ilegal. Se violassem a lei e fossem pegos, a crença Millis iria caçá-los e levá-los a julgamento.
Na verdade, no passado a universidade costumava não ter permissão sequer para ensinar o básico dessas escolas de magia. Foi apenas há cerca de dois anos, depois de concordar com certas condições, que receberam permissão. Dadas essas circunstâncias, disseram-me que a classe iria se concentrar em como quebrar barreiras.
Havia dois tipos de barreiras, aquelas à prova de magia e aquelas à prova de objetos físicos. Uma vez que uma pessoa fosse de nível Santo ou acima, poderia criar barreiras que combinavam os dois aspectos. Havia também vários outros usos, como uma barreira para se proteger e uma barreira para trancar algo dentro.
Minha antiga professora Roxy também me ensinou sobre barreiras, mas na época, fiquei satisfeito apenas com o conhecimento de que existiam, e meio que me desliguei do resto do que ela disse. Portanto, seria bom revisar e pedir para que alguém me explicasse as coisas de novo.
Voltei para a biblioteca assim que a aula acabou. Lá, passei meu tempo pesquisando o teletransporte até ficar escuro do lado de fora. Eu, tecnicamente, procurei em toda a literatura, mas como resultado da magia de teletransporte ser rotulada como uma arte proibida, não havia nada detalhado. O livro sobre o qual Mestre Fitz havia me falado, Uma Consideração Exploratória sobre Teletransportação em Labirintos, poderia ser a informação escrita mais extensa dentre as disponíveis.
Depois disso, voltei para casa, para o dormitório, jantei e, depois de trabalhar um pouco na estatueta, fui para a cama. Meu estilo de vida tinha entrado em um ritmo e eu estava começando a me sentir relaxado, mas o apetite do meu homenzinho, ou melhor, a falta dele, permanecia igual. A aula de magia de cura nunca tocou em nenhum assunto relacionado à IS1, é claro, e também não havia livros sobre como curar tal condição na biblioteca.
Não havia nenhum sinal de que eu iria me recuperar.
Então, um dia, algo aconteceu.
Já era noite e eu estava na biblioteca pesquisando teletransporte quando o Mestre Fitz se aproximou com seu cabelo branco e óculos escuros. Ele usava uma capa um tanto elegante sobre o uniforme atribuído à escola, botas de aspecto resistente e luvas brancas e justas. Eu já tinha me encontrado com ele em várias ocasiões, mas parecia que estava usando sempre as mesmas coisas.
— Rudeus, se importa se eu me sentar ao seu lado?
— Sentar ao meu lado? Isso faz parecer que somos estranhos. Aqui, por favor, sente-se. Esquentei para você.
— Ahaha, sinto muito pelo incômodo. — Mestre Fitz mostrou um enorme sorriso e se sentou. Ele parecia ser perito em se adequar a situações sociais. Assim que troquei de lugar e continuei a minha leitura, ele espiou para ver o que eu tinha em minhas mãos. — Está fazendo algum progresso?
Já fazia uma semana desde que tocamos no assunto. Eu estava diariamente vasculhando os livros sobre teletransporte.
— Agora eu sei que aparentemente aconteceram outros incidentes no passado que se assemelham ao da Região de Fittoa — falei. Afinal, Fitz havia me dado uma vantagem em minha pesquisa, então decidi compartilhar o que descobri, essa era uma forma de mostrar minha gratidão. E, de qualquer forma, não era algo que valesse à pena esconder. — Não foi em uma escala tão grande quanto o Deslocamento de Fittoa, mas houve casos de pessoas que desapareceram abruptamente em um dia e, de repente, retornaram no outro.
Em outras palavras, foram levadas. Uma única pessoa desaparecia e reaparecia em outro lugar ou reaparecia no mesmo lugar. Este fenômeno era bastante comum… bem, não exatamente, mas parecia acontecer às vezes.
— Será que isso é a mesma coisa que o teletransporte da Região de Fittoa?
— Difícil de dizer… hm? — Quando por acaso olhei o que estava nas mãos do Mestre Fitz, percebi que ele segurava um livro sobre teletransporte. — Você está tentando me ajudar?
Quando perguntei ele balançou a cabeça.
— Não. Também estou investigando o Incidente de Deslocamento.
— Então é isso. Por que está tendo esse tanto de trabalho? A Princesa Ariel te ordenou a isso?
— Não exatamente… — Ele colocou a mão no queixo como se estivesse considerando sua resposta e os cantos de seus lábios se ergueram enquanto ria. Sua risada foi de autodepreciação. — Para dizer a verdade, um dos meus conhecidos desapareceu durante o incidente.
— Ah, uh, não sei nem o que dizer… — Lembrei da lista dos falecidos no Campo de Refugiados; das centenas de nomes que constavam nela. Passaram-se cinco anos desde o desastre. A chance de sobrevivência para os desaparecidos era basicamente zero. Eu tinha certeza de que o conhecido do Mestre Fitz e qualquer outra pessoa que ainda estivesse desaparecida provavelmente já estava morta. Eu fui um dos sortudos, já que minha família inteira ainda estava viva.
— Ah, na verdade, recentemente descobri que ele ainda está vivo — disse Fitz.
— Hã? Ah, sério?
— Sim. Eu estava pesquisando sobre teletransporte enquanto pensava que, se pudesse descobrir o padrão por trás de onde as pessoas foram teletransportadas, isso tornaria a busca mais fácil. É por isso que estava pesquisando.
Um padrão para onde as pessoas eram teletransportadas, hein? Interessante, eu nunca havia chegado a considerar isso.
— Incrível como sempre, Mestre Fitz. Essa é uma ideia perspicaz.
— Não, na verdade não é nada de especial. Além disso, de qualquer forma, não fui capaz de procurá-lo — respondeu ele, deixando sua cabeça cair.
Com base no que eu ouvi, a Segunda Princesa perdeu seu posto aproximadamente um ano após o Incidente de Deslocamento. É claro que deviam existir sinais de que ela estava seguindo pelo mesmo caminho há mais tempo, e como seu guarda-costas, Mestre Fitz deve ter ficado muito ocupado durante todo o tempo.
— Isso não é culpa sua.
As pessoas tinham seus próprios deveres a cumprir. Ele não poderia simplesmente a abandonar para sair em sua própria busca. Na verdade, até usou sua posição para acessar a biblioteca da universidade e conduzir pesquisas sobre o incidente. O fato de saber que seu conhecido havia sido encontrado também indicava que estivera coletando informações. Ele tinha sua própria vida para viver e trabalho para fazer, mas mesmo assim fez o que pôde. Na minha opinião isso era o suficiente.
— Em vez de ficarmos pensando no passado, vamos pensar no que fazer daqui em diante. Assim sendo, seria possível você me contar o que já descobriu, Mestre Fitz?
— Sim, claro. Posso juntar as minhas descobertas e trazer tudo amanhã. Mas não espere muita coisa. Não sou muito bom com pesquisas, então não posso descobrir as coisas tão rápido quanto você.
Ele não parecia muito confiante. Fitz mencionou que estava no quarto ano, certo? Ele estava frequentando as aulas, atuando como guarda-costas e, pelo que eu tinha ouvido no outro dia, também realizando tarefas rotineiras para a Princesa Ariel. E também mencionou que estava envolvido com o Conselho Estudantil. Mesmo com tudo isso acontecendo, ainda realizou sua pesquisa, recusando-se a fugir do assunto com a desculpa de que estava “muito ocupado”. Aos meus olhos isso o tornava incrível.
— Eu só tenho mais tempo para gastar com isso do que você — assegurei a ele. Afinal, estava gastando todo o meu tempo até o meio-dia para investigar o assunto. Na verdade, tinha visto o epicentro do desastre e, com meu conhecimento de minha vida anterior, tinha alguma habilidade para prever coisas.
— Uh, um… ei, Rudeus. Queria falar sobre uma coisa com você. — Fitz de repente começou a coçar a parte de trás da orelha enquanto olhava para o próprio colo e murmurava.
Inclinei a cabeça.
— Sim, pois não? — Eu também devia a ele por ter me ajudado no outro dia. Seja lá o que fosse, queria que ele se sentisse à vontade para falar comigo.
— Gostaria que você me deixasse ajudar em sua pesquisa sobre o Incidente de Deslocamento.
Me senti incrivelmente honrado com sua oferta.
— Não, na verdade eu que deveria te ajudar. Sou eu quem começou a pesquisar depois. Não tenho nem muitas informações sobre o assunto.
— Mas não tenho muito tempo para me dedicar a isso. Mesmo que façamos uma parceria, a maior parte do trabalho ficará para você. Isso te… incomoda? Ter alguém como eu, que só aparece de vez em quando, se intrometendo na sua pesquisa.
Se alguém que mal usa o tempo para ajudar e aparecesse só para criticar o meu progresso eu ficaria incomodado, mas ele não parecia o tipo de pessoa que faria isso. Além disso, provavelmente seria melhor ter alguém pensando de uma perspectiva diferente do que trabalhar em tudo sozinho, certo? Eu não era tão inteligente, e Fitz era considerado um gênio, então poderia encontrar algo nos dados que juntei.
— Isso realmente não me incomoda. Fico ansioso para trabalharmos juntos.
— Sim, eu também.
Apertamos as mãos e ele me mostrou um sorriso cheio de dentes. O olhar em seu rosto, combinado com a suavidade de sua mão, fez meu coração disparar.
Eu estava mesmo me sentindo assim por causa de um cara…? Não, isso era um absurdo. Minhas emoções só estavam um pouco desordenadas.
Depois daquilo, reuni o que pesquisei durante o dia e fui para casa. Quando saímos da biblioteca, já estava ficando escuro do lado de fora. Mestre Fitz e eu conversamos um pouco enquanto caminhávamos em direção aos dormitórios. Ele se mantinha ocupado diariamente entre ser o guarda-costas e fazer as tarefas para a Princesa, mas uma vez a cada dez dias tinha algum tempo livre durante a noite.
— Aliás, te vi na hora do almoço. Você estava incrível.
Almoço? Inclinei minha cabeça diante da palavra. O que eu estava fazendo?
— Fiquei chocado ao ver Zanoba Shirone seguindo você como um cachorrinho.
— Hah… — Por almoço ele quis falar de quando estávamos comendo no nosso terraço instantâneo, banhados pela atenção de todos os outros estudantes.
— Você pode não saber disso, mas quando ele se matriculou, era um encrenqueiro violento que saía por aí brigando com todo mundo.
Ri amargamente ao ouvir a parte do “encrenqueiro”. Eu já devia ter adivinhado isso. Parecia que, no final das contas, ele não estava sendo intimidado. O que fazia sentido: alguém que podia arrancar a cabeça de uma pessoa com as próprias mãos não seria intimidado com tanta facilidade.
— Embora ele tenha eventualmente se acalmado, depois que a Linia e a Pursena, duas estudantes mal-comportadas, o surraram.
Então, pelo visto, aquelas duas eram as líderes dos delinquentes. Elas desafiaram o novo aluno, Zanoba, que estava o tempo todo se impondo e conseguiram derrotá-lo com bastante velocidade, duas contra um. Considerando o quão forte ele era, eu não chamaria isso de injusto. Depois disso, elas começaram a tratá-lo como seu subordinado. Entretanto, eu ainda não tinha testemunhado isso.
— Linia e Pursena podem tentar algo contra você, então tome cuidado — avisou Fitz.
— Acho que posso não ter problemas com isso. — Eu já tinha agido com deferência para com elas. No momento, duvido que estivessem planejando alguma coisa pelas minhas costas. Eu não tinha certeza de onde as delinquentes se reuniam, mas quase nunca as via no refeitório.
— Um, bem, eu não acho que iriam gostar muito de você se encontrando comigo.
— E qual seria o motivo para isso? — perguntei.
— Bem, quando ainda éramos do primeiro ano, elas tentaram interferir com a Princesa Ariel. Então tomei a frente e derrotei as duas.
— Duas contra um?
— Sim. É por isso que elas… Bem, podem ter algum ressentimento.
Então era isso. Ainda assim, baseado no que ele estava dizendo, Mestre Fitz era bastante forte. Ele derrotou Linia e Pursena, que haviam derrotado Zanoba. Ei, espera aí. Isso significava que eu era o mais forte desde que derrotei o Mestre Fitz, certo?
Nah, sem chances. Só foi azar. Eu poderia usar Atrapalhar Magia, então me dava bem contra oponentes que poderiam usar magia não verbal. O fato de meu oponente ser pego de surpresa também funcionou a meu favor. Se ele soubesse que eu usaria o Atrapalhar Magia quando lutamos, não havia garantia de que eu teria vencido.
— Mas tenho certeza de que você vai ficar bem — disse Fitz.
— Bem, quem sabe quanto a isso.
— Não há ninguém aqui que pode me derrotar no um contra um. Nunca perdi uma luta, não até aquele dia — falou ele, me elogiando.
Eu deveria elogiá-lo por sua atitude. Aí estava alguém que nunca havia perdido, finalmente sentindo o gosto da derrota pelas minhas mãos. No entanto, ele nem mesmo guardou rancor. Não estava frustrado por ter perdido?
— Aquela magia… Atrapalhar Magia, era isso? Aquilo foi incrível. Alguma hora me ensine como usá-la.
— Sim, é claro. — Ficaria feliz em fazer isso. Mesmo que ensinar o Atrapalhar Magia resultasse em eu não conseguindo voltar a derrotá-lo, o pensamento de recusar isso nem passou pela minha mente.
— Ah, bem, de qualquer forma, era isso que eu queria conversar com você, então tome cuidado. Existem muitas pessoas excêntricas entre os alunos especiais. Tem o Cliff, que é mal-humorado e, pelo visto, até o um outro chegou a causar alguns problemas após se matricular. Também há uma ex-aventureira entre os primeiranistas. Uma elfa estranha, pelo que me falaram. Dizem que ela está atacando os garotos.
— Ahh, essa última é uma conhecida minha, então não precisa se preocupar.
— Ah, então tá bom. — Não tenho certeza sobre os dois primeiros, mas quanto à última, era definitivamente um tipo de ataque diferente do que o Mestre Fitz estava pensando. — Em qualquer caso, terei cuidado na forma como me comporto e vou me certificar de não começar uma briga com ninguém.
Chegamos a uma bifurcação na estrada. O caminho em frente levava ao dormitório feminino. Ainda estava claro, mas eu não voltaria a andar por aquela estrada.
— Ah, tenho alguns negócios com a Princesa Ariel, então vou me separar de você aqui.
— Tudo bem, obrigado por hoje. Fico ansioso pela nossa próxima conversa.
— Amanhã não tenho tempo livre, mas vou dar uma passada pela biblioteca — disse Fitz, antes de caminhar em direção ao dormitório feminino. Ele tinha entrada livre naquele palácio cheio de mulheres. A única razão pela qual não senti inveja foi, provavelmente, por ainda conseguir me lembrar daquele terror musculoso de outrora.
Ou talvez, apenas talvez, pudesse usar minha conexão com o Mestre Fitz para me infiltrar naquele palácio, e essa seria a chave para alcançar meu objetivo final nesta escola. No momento, ainda não conseguia ver o significado por trás do conselho do Deus Homem.
E foi assim que eu e o Mestre Fitz começamos a trabalhar juntos para avançar com a nossa investigação. Achei que tínhamos ficado mais próximos. Em parte porque ele era mais amigável do que eu imaginava, mas, de qualquer forma, estávamos construindo uma amizade positiva. Embora ele ainda estivesse cheio de mistérios.
— A propósito, Mestre Fitz, por que você usa esses óculos de sol?
— Óculos de sol… ah, está falando destes?
Ele nunca os tirava. Nem uma vez, nunca. Não importa a ocasião.
— Mm, eu tenho uma razão para isso, mas não posso te dizer. Foi mal.
— Está tudo bem. — Eu queria ver como seu rosto parecia sem eles, mas não tinha intenção de forçá-lo a mostrar o que estava escondendo. — De qualquer forma, em que andar do dormitório você mora? — perguntei. — Nunca vi você no horário das refeições.
— Um, bem, tecnicamente moro no dormitório feminino. Afinal, sou o guarda-costas da Princesa Ariel.
— E… isso não causou nenhum problema?
— Está tudo bem, eu tenho permissão. E também não faria nada que pudesse causar problemas à Princesa Ariel.
Seria possível manter um escravo consigo nos dormitórios, só precisaria de permissão para isso. E não precisava nem ser um escravo. Se fosse um nobre ou parte da realeza, um pouco de compensação financeira ajudaria a seu favor. Afinal, havia alguns nobres no dormitório masculino que mantinham criadas com eles. No entanto, se as criadas ou os criados causassem algum problema, seu mestre seria, é claro, responsabilizado. Mestre Fitz não era um criado e estava sendo tratado como um estudante, mas graças ao carisma da Princesa Ariel e à influência da nobre família Asura, a universidade estava colocando sua confiança nele como um indivíduo. Mesmo aquela garota – Goliade ou Big Van Vader, seja lá como foi chamada – falou com respeito ao se referir à Princesa Ariel ou ao Mestre Fitz, reconhecendo sua autoridade.
Além disso, de acordo com o que Elinalise me contou, Mestre Fitz era aparentemente muito popular entre as garotas. As que gritavam ao redor de Luke eram só novatas. Depois de ganhar alguns níveis de experiência, seus corações estremeceriam quando vislumbrassem o perfil de Fitz. Tendo realmente falado com ele, eu não tive a mesma impressão, mas podia entender os motivos delas.
— A propósito, percebi que você fala comigo muito normalmente — falei.
— Hm…? O que quer dizer com isso?
— Todo mundo diz que você é tão quieto.
— Eu, um… sou realmente muito tímido.
E, ainda assim, tive a impressão de que foi ele quem começou a conversar comigo. Bem, existiam aqueles que estavam na mesma sintonia e aqueles que não estavam, diziam, então talvez fosse isso. De qualquer forma, as pessoas me disseram que era de conhecimento comum nesta escola que o Mestre Fitz era chocantemente quieto. Ele até ganhou o apelido de “Fitz Silencioso” e “Mago Silencioso”. Embora isso provavelmente fosse em parte porque era um mago que usava magia não verbal.
— Na verdade, seu sobrenome não seria Ryback, seria? — perguntei.
— Hã? Ryback? Esse não é o sobrenome do segundo Deus do Norte? Não, de forma alguma. Além disso, não tenho nem sobrenome. Não sou nobre nem nada do tipo.
— Lá vai você de novo, agindo todo humilde. Seja honesto, você na verdade é um cozinheiro de primeira, não é?
— Uh, eu sei cozinhar, mas… o que isso tem a ver com qualquer coisa? — Ele não entendeu a minha piada. E ainda assim riu, embora eu não tivesse certeza do que estava achando engraçado. Isso mesmo, o homem misterioso, Fitz, estava rindo.
Por que ele estava me ajudando também era um mistério. Ainda assim, eu não estava preocupado em desvendar isso. Se Fitz estava sendo tímido com suas intenções – quaisquer que fossem – deveria haver uma razão para isso. Eu não tinha a intenção de ser tão ingrato a ponto de investigar os segredos de alguém que me ajudou.
Entretanto, estaria mentindo se dissesse que não estava curioso. Mesmo assim, mantive o conselho do Deus Homem em mente. Quando o segui, a pessoa que conheci foi o Mestre Fitz. A julgar pela minha experiência com o Deus Homem até o momento, as coisas acabariam da mesma forma, não importa quais ações eu tomasse. Em outras palavras, associando-me ao Mestre Fitz, acabaria descobrindo como curar a minha doença. Não havia necessidade para se apressar.
[1] Impotência sexual.
Uhm, eu acho que o Fitz está relacionado a cura do prota de alguma forma, mas como será que ele vai ajuda-lo 🤔?
Igual a Elise falou como curar
Referência a um lutador norte-americano
Tadala resolve meu rapaz