Após o treino com Saphi, Atesh voltou para o quarto que lhe haviam designado para descansar um pouco.
Era a primeira vez que estava longe de sua família, e ele estava curioso para saber como seria essa experiência.
Deitado na cama, não conseguiu evitar pensar em sua mãe e irmã.
Yin sempre o levava para passear pela cidade. Nenhum momento era desperdiçado. Ele sentia falta de sua animada irmã mais velha. Enquanto sua mãe, apesar de séria, também era bastante relaxada em certos momentos. Ele entendia que ela lidava com seus próprios traumas e estava sempre ocupada, então não a culpava por estar ausente. Mas, quando estava com ele, ela lhe trazia muita alegria. O cuidado em seus olhos proporcionava mais calor do que qualquer chama.
Pensando neles, ele sorriu e se sentou.
“O que devo fazer agora?”, ele se perguntou.
“Talvez eu escreva o que a mana chama de diário. Vou contar a elas sobre o que vivi aqui.” Olhando ao redor do quarto, não encontrou nenhum pedaço de papel nem algo para escrever. Seu inventário estava cheio de coisas que Yin precisava, então, naturalmente, faltavam materiais de escrita.
Franzindo o cenho, ele saiu do quarto para pedir ajuda e notou uma empregada esperando do lado de fora.
“Sou a empregada designada para ajudá-lo em qualquer coisa que precisar. Claro, isso inclui me usar também.” Ela fez uma reverência, observando-o com atenção.
Inclinando a cabeça por um momento, os olhos de Atesh se iluminaram.
Vendo isso, a empregada não pôde deixar de se sentir animada.
“Então você pode me ajudar a conseguir papel e uma caneta! Ahh, eu estava pensando em quem pedir, mas como você está aqui, pode me ajudar com isso.” Atesh sorriu feliz, enquanto a mulher pausava por um momento.
“Perdão?”
“Hã? Eu preciso de uma caneta e papel. Sei que todo mundo usa celulares e tablets, mas eu emprestei o meu para a mana, então não estou com ele agora. Ela queria jogar alguns jogos depois que a Lisa confiscou o telefone dela, então emprestei o meu. Se não for incômodo, pode pegar papel e uma caneta para mim, por favor?” explicou Atesh, enquanto a mulher se sentia um pouco ofendida.
Ela certamente se considerava uma beleza. Mantinha sua figura impecável e cuidava da pele, mas aquele homem à sua frente só estava preocupado com papel e caneta!?
“Alô? Achei que você fosse uma empregada para me ajudar. Essa tarefa é muito difícil?” Atesh franziu o cenho ao vê-la parada em silêncio.
“Não, claro que não. Por favor, me perdoe.” A mulher se curvou antes de sair, sentindo-se tanto ofendida quanto desapontada.
“Mulher estranha. O que ela quis dizer com me usar? Não dá para escrever com ela, não é?”, murmurou Atesh, confuso. A menos que ela fosse um robô, ele duvidava que pudesse usá-la como uma caneta. Embora, se estivessem falando de sangue, talvez funcionasse.
“Talvez ela seja suicida. Bem, cada um com seus problemas.” Atesh deu de ombros antes de entrar novamente em seu quarto.
Enquanto isso, Yin observava a empregada com pensamentos perigosos e o dedo no gatilho. Mas, como a mulher ainda não havia feito nada, podia viver mais um dia.
“Eu me pergunto como o Attie está agora”, Shiro murmurou, apoiando a cabeça na mesa.
“Tenho certeza de que ele está bem. Além disso, não é a Yin que está cuidando dele?”, Nan Tian riu, e Shiro assentiu.
“Verdade. Mas é a primeira vez que meu querido filho está longe de nós por tanto tempo. Espero que estejam alimentando-o bem”, Shiro disse, fazendo bico. Não estava com disposição para trabalhar, pois só conseguia pensar se estavam tratando Atesh como ele merecia. Naturalmente, isso significava tratá-lo como um rei.
“Quer que eu cuide dessa pilha de documentos também?”, Nan Tian perguntou ao ver Shiro desanimada.
Os olhos de Shiro brilharam.
“Claro.” Passando o trabalho inacabado para ele, ela sentou-se para aproveitar seu suco.
Nan Tian apenas riu e começou a cuidar do trabalho no lugar dela.
A maioria era apenas documentação das tarefas que Misu havia completado. Era necessário registrar tudo para manter um histórico das coisas que aconteciam naquela cidade. Caso algo sério ocorresse, poderiam consultar os documentos e encontrar pistas.
“Para ser honesta, eu te daria um título na corte, mas tenho certeza de que seria algo como ‘Secretário Divino da Corte’”, Shiro riu, enquanto Nan Tian apenas deu de ombros.
“Não me importaria muito com isso, suponho, já que ainda estou te ajudando.”
“Cof cof, você merece um título melhor do que secretário, então vou guardar essa ideia por enquanto. Quando eu tiver certeza de que você vai receber algo como o título do meu pai, ‘General da Lua Sangrenta’, aí sim te darei um título”, Shiro disse, tossindo, ainda cautelosa com a maneira como a habilidade nomeava os títulos. Na maioria das vezes, os nomes refletiam como ela via as pessoas. Por exemplo, tanto Li Jian quanto seu pai eram vistos por ela como generais de um exército, daí os títulos de generais.
No caso de Nan Tian… ela ainda preferia ser cuidadosa.
Enquanto pensava nisso, recebeu uma notificação em seu dispositivo auricular. Era uma ligação de Atesh, que usava o aparelho que ela havia dado a ele, então naturalmente ela atendeu imediatamente.
“Querido, sentiu minha falta?”, Shiro brincou ao ouvir a risada de Attie.
“Sim, senti, mãe. Está meio entediante aqui sem você ou a mana. Ah, antes que eu esqueça, liguei para avisar que a Rainha do Gelo marcou o horário e o local para a reunião. Ela disse que será amanhã, ao meio-dia, no local onde estou agora.”
“Entendido. Já anotei. Você quer voltar para casa e dormir aqui ou prefere passar a noite aí?”, perguntou Shiro, enquanto Atesh refletia por um momento.
“Seria meio rude se eu nem ao menos passasse a noite. Eles prepararam este quarto para mim, afinal. Mas vou sentir falta de você e de todos os outros.” Attie sorriu, enquanto Shiro segurava uma lágrima invisível.
‘Crescem tão rápido’, pensou ela, emocionada, já que Attie estava preocupado com as pessoas ao seu redor, mesmo tendo acabado de conhecê-las.
“Combinado. Eu e sua mana estaremos aí amanhã de manhã por volta das 10h.”
Depois de conversarem por mais um tempo, Shiro não pôde evitar rir ao descobrir que Attie havia começado um tipo de diário porque estava sem o celular.
Confusa com a situação, Shiro sentiu uma veia pulsar ao perceber que Yin era a responsável por isso.
Estalando os dedos, Shiro criou um novo celular para Attie, enviando-o através de um portal antes de encerrar a chamada.
Sentando-se de volta, Shiro ligou para Yin.
“Oi, mãe, o que foi?”, respondeu Yin, que estava atualmente observando a zona.
“Sobre o celular do Attie…”
Antes que Shiro pudesse terminar a frase, ouviu o som de algo se quebrando e a linha foi cortada.
“Essa passarinha acabou de quebrar o celular do irmão?”, Shiro murmurou com um olhar sombrio.
Suspirando suavemente, ela decidiu perdoar Yin por enquanto, já que estava de bom humor. Seu filho era simplesmente adorável.
“Quer ir escolher algo para vestir enquanto eu termino o resto disso?”, perguntou Nan Tian, e Shiro assentiu.
“Deixo com você, então.” Shiro sorriu e saltou da cadeira, teleportando-se para o quarto.
Olhando para o armário, ela examinou todos os vestidos que Aarim havia enviado. Com a ajuda da magia espacial de Estrella, conseguiram criar um cômodo inteiro dentro do armário, tornando-o muito maior do que parecia.
Examinando os vestidos, Shiro decidiu que deveria usar algo colorido para a reunião.
Com esse pensamento, encontrou um vestido vermelho no canto que chamou sua atenção. Era um vestido de peça única, com bordas que se transformavam em padrões florais e uma saia esvoaçante. Padrões de pétalas vermelho-escuras decoravam a barra da saia, combinando com um par de saltos vermelhos.
“Vou ficar com este.” Shiro sorriu, colocando o vestido em seu inventário.
Ao acordar cedo na manhã seguinte, Shiro criou um portal para a zona e entrou com Nan Tian. Pegando Yin no caminho, ela ergueu uma sobrancelha ao ver a nova forma de Yin.
Dando um peteleco na cabeça da filha, Shiro literalmente fez os seios desaparecerem. Dispensando a ilusão, ela mandou Yin assumir sua forma humana adequada, que era bem mais modesta do que a anterior.
Quando deu 10h, Shiro se aproximou da zona e viu Attie esperando pelos três. Acenando para ele, entraram no castelo principal e viram uma beleza de cabelos prateados e azuis sentada no trono, saudando-os com um sorriso.
“Faz tempo, não é? Irmãzinha”, disse Khionah.
“Eu me lembro de ter dito que não sou sua irmãzinha”, retrucou Shiro, já que havia apenas uma pessoa no mundo que poderia ser sua irmã mais velha.