Assim que amanheceu, Arran se levantou, já sentindo o entusiasmo de seus planos para o dia. Se tudo corresse bem, em poucas horas ele teria Cristais de Essência de sobra para durar meses, talvez até anos.
Mas ele não cedeu ao impulso de correr para a cidade. Em vez disso, passou várias horas verificando seus pertences mais uma vez, colocando tudo o que estava disposto a vender na sacola vazia de Panurge – é a única que ele tinha disponível que era grande o suficiente para guardar tudo.
Ele verificou a quantidade de itens várias vezes, certificando-se que não havia nada que ele pudesse precisar ou querer no futuro. Ele também reservou uma parte do ouro e das joias, sabendo que seria tolice se desfazer de tudo.
No entanto, quando ele terminou, a bolsa de produtos que ele pretendia trocar havia uma quantidade impressionante de tesouros. Com isso, pensou ele, deveria ser capaz de obter todos os Cristais de Essência que precisaria em um futuro próximo.
Satisfeito por ter resolvido tudo da melhor maneira possível, ele saiu da fortaleza, pedindo aos guardas instruções sobre a localização das casas de comércio.
A principal área de comércio ficava bem perto do castelo, e Arran rapidamente se dirigiu para lá, mas sem deixar de examinar a cidade e suas muitas lojas, armazéns e mercados.
O que ele pôde perceber é que Gold Haven deve ser o principal centro comercial de centenas, se não milhares, de quilômetros ao redor, sendo que as pessoas em suas ruas pareciam ter vindo de uma grande variedade de regiões. As mercadorias que vendiam eram tão variadas quanto as pessoas e, mais de uma vez, Arran se viu parado em frente a uma loja, imaginando quais eram os itens à venda.
É claro que haviam mercadorias mais familiares – armas, armaduras, livros, roupas e uma grande variedade de alimentos, tanto familiares quanto desconhecidos para ele. Enquanto algumas das mercadorias despertavam seu interesse e muitas das comidas lhe abriam o apetite, ele se manteve concentrado em sua tarefa do dia: adquirir Cristais de Essência.
Mas, por mais tentado que estivesse a ir direto para o Salão Dourado, ele sabia que isso seria uma má ideia. Pode ser que o distintivo dourado possa protegê-lo de ser enganado pelos homens de Lorde Sevaril, mas não confiaria nisso até ter certeza. Com isso em mente, ele primeiro verificaria os preços oferecidos por outros comerciantes e só então se dirigiria ao Salão Dourado.
Ao chegar no principal distrito comercial, era óbvio que esse era o maior centro de comércio da cidade. Inúmeras lojas grandes alinhadas nas ruas largas, todas elas mais esplêndidas do que as outras, além de ter um movimento constante de pessoas entrando e saindo das lojas, muitas delas vestindo trajes de estudiosos, magos ou comerciantes ricos.
Depois de ignorar o luxo e se concentrar na tarefa que tinha em mãos, Arran inspecionou mais de uma dúzia de lojas e casas de comércio no distrito comercial e logo compreendeu os níveis gerais de preços. Mesmo sem saber o valor da maioria de seus tesouros, o ouro que ele carregava parecia conseguir comprar pelo menos algumas dezenas de Cristais de Essência.
Após ter certeza de que conhecia os preços regulares dos Cristais de Essência o suficiente para não ser enganado, ele se dirigiu ao Salão Dourado.
Assim que o viu, ele percebeu que devia ser a casa de comércio mais importante da cidade. O Salão Dourado era completamente maior do que os outros que ele tinha visto e, enquanto os demais eram decorados, o Salão Dourado era totalmente diferente, pois tinha uma fachada de mármore branco coberta por desenhos que pareciam ser filigranas de ouro de verdade.
Assim que entrou, Arran notou que o interior do edifício é ainda mais magnífico do que o exterior. Mas ele não se deixou deslumbrar pelos arredores – o motivo pelo qual ele estava aqui não era para se deixar levar pela grandeza da casa comercial.
Dando uma rápida olhada ao redor, ele se dirigiu a um dos vendedores onde não havia nenhum cliente ocupado.
“Gostaria de comprar alguns Cristais de Essência”, disse ele ao chamar a atenção do homem.
A frase “Cristais de Essência” mostrou ter algum poder mágico dentro do prédio, já que um sorriso obsequioso surgiu imediatamente no rosto do homem.
“Então o senhor certamente veio ao lugar certo”, disse o homem com uma voz açucarada. ” Temos os melhores preços da cidade. Agora, se o senhor…”.
“Lorde Sevaril me enviou”, interrompeu Arran, segurando o distintivo dourado.
Na mesma hora, a expressão do homem se alterou novamente, mas dessa vez se transformou em uma expressão de respeito e medo.
“Ah”, disse ele. “Por favor, siga-me, jovem mestre.”
Ele conduziu Arran até o final da loja e, em seguida, a uma das salas dos fundos – uma sala pequena, mas luxuosa, com uma mesa de madeira e várias cadeiras confortáveis. Arran imaginou se tratava de uma sala reservada para os clientes mais importantes da loja.
“Por favor, sente-se”, disse o funcionário, apontando para uma cadeira. Ele esperou que Arran se sentasse e depois se sentou. “O que posso fazer por você?
“Tenho ouro e itens que gostaria de trocar por cristais de essência”, disse Arran.
“Por favor, coloque-os sobre a mesa e eu verei o que podemos lhe oferecer”, respondeu o funcionário.
Arran retirou a bolsa vazia e a colocou sobre a mesa.
“Se o jovem mestre tiver a gentileza de retirar os itens da bolsa, eu serei muito grato”, disse o homem, incapaz de evitar uma leve expressão de irritação em seu rosto. “Eu também não sou um mago”, ele acrescentou como explicação.
“É muita coisa para caber na mesa”, disse Arran. “Ou nesta sala, por falar nisso.”
“Então chamarei um de nossos magos”, respondeu o funcionário, sua expressão de irritação desaparecendo à medida que ele começava a entender a situação. “Por favor, aguarde um momento.”
Ele deixou a sala e voltou alguns minutos depois, mas desta vez acompanhado por um homem de vestes azuis – um mago, Arran sabia.
“Se puder remover sua amarração da Bolsa do Vácuo, posso dar uma olhada no que você tem”, disse o mago a Arran, sorrindo educadamente.
Arran fez o que o homem pediu, removeu a amarração – uma questão simples de retirar a essência que havia colocado na bolsa para amarrá-la – e entregou a bolsa.
O mago aceitou a bolsa em um aceno de cabeça e, em seguida, uma breve expressão de concentração surgiu em seu rosto quando ele mesmo amarrou a bolsa.
O fato de ter outra pessoa amarrando sua bolsa causava certo incômodo a Arran, mas essa era a forma mais rápida de o mago descobrir seu conteúdo. Ao amarrar a bolsa, o mago poderia descobrir imediatamente o que havia dentro dela, sendo que a única alternativa seria o próprio Arran esvaziá-la – o que levaria várias horas e uma quantidade considerável de armazenamento.
“Vejamos o que temos aqui…”, disse o mago, aparentemente mais para si mesmo do que para Arran.
Em seguida, surgiu um olhar de choque total em seu rosto.
“Você!”, disse ele ao lojista. “Traga o Mestre Xu! Agora!”
A agilidade de sua reação fez Arran se perguntar, mas então ele soube que o que ele estava carregando devia ser um tesouro bem mais valioso do que o que os clientes da casa de comércio normalmente traziam.
Esse era seu plano, afinal de contas – obter o máximo de cristais de essência que pudesse com um grande desconto por meio do distintivo do Lorde Sevaril.
“Tem algo errado?”, ele perguntou, fingindo um sorriso.
“De maneira alguma”, disse o mago com uma expressão desagradável no rosto. “É só que… é muita coisa”.
“Lorde Sevaril disse que eu podia trocar o quanto eu quisesse”, respondeu Arran. “Certamente isso não será um problema?”
“Tenho certeza de que não…”, respondeu o mago, mas pelo som de sua voz ele não parecia estar convencido das palavras.
Poucos minutos depois, o vendedor retornou, desta vez acompanhado por um homem gordo e careca com mantos preto e dourado.
O homem acenou educadamente para Arran e depois se voltou para o mago. “Qual é o problema aqui?”
“Mestre Xu… o senhor precisa ver por si mesmo”, disse o mago, entregando a bolsa de Arran para ele.
O Mestre Xu ergueu uma sobrancelha ao ouvir a resposta, mas fez o que o mago disse, com os olhos vazios por um momento conforme ele amarrava e inspecionava a bolsa. Imediatamente, seus olhos se arregalaram, e Arran começou a se preocupar.
“Envie uma mensagem ao Lorde Sevaril imediatamente”, disse o Mestre Xu ao mago. Em seguida, ele se dirigiu para Arran, demonstrando um olhar de choque mal disfarçado.
“Lorde Sevaril o enviou aqui?”, perguntou ele, olhando para Arran com cautela.
“Ele mandou”, respondeu Arran, tentando manter a calma. “Sou um convidado da fortaleza.
Ao observar a expressão de pânico do homem, ele começou a pensar que talvez devesse ter sido um pouco mais modesto em sua busca pelos cristais de essência.