“Acredito que você deve ter encontrado a maioria dos ingredientes de que precisa?” perguntou Arran, sem deixar de absorver a Essência Purificada enquanto falava.
“Encontrei”, respondeu Snow Cloud. “Só faltam os cinco ingredientes finais. Para encontrar três deles, precisaremos de sorte, mas os outros dois, eu sei onde procurar.”
“Então, para onde estamos indo?” perguntou Arran. Como ele entendia pouquíssimo de alquimia e herbalismo, não adiantava perguntar quais eram os ingredientes restantes. Mesmo que a Snow Cloud lhe dissesse, os nomes não significam absolutamente nada para ele.
“Os restos do Império Eidaran”, respondeu Snow Cloud. “A cerca de dois meses de viagem a noroeste daqui.”
“O Império Eidaran?” Arran nunca ouviu esse nome antes, e o fato de haver outros impérios ainda era estranho para ele. Em sua opinião, só havia um Império verdadeiro.
“Até algumas décadas atrás, foi um dos maiores e mais prósperos poderes a oeste da região fronteiriça”, disse Snow Cloud. “Então, um dia, ele entrou em colapso em uma guerra civil. Agora tudo o que restou foi o caos e a destruição.”
“O que aconteceu com ela?” perguntou Arran.
“Eu não sei”, disse Snow Cloud. “E isso não importa. O que importa mesmo é que as terras que antes eram suas estão agora repletas de conflitos, com grupos diferentes guerreando para controlar o pouco que restou. E, para nós, isso significa que a região será perigosa.”
“E as pessoas que estão atrás de você?” Arran perguntou, relembrando o que Lorde Sevaril havia dito a eles quando chegaram a Gold Haven.
“São poucas as pessoas da Sociedade que se aventuram tão longe da fronteira”, respondeu Snow Cloud. “Pelo menos devemos estar a salvo deles.”
“Então, quando partiremos?
“Assim que você terminar com o cristal.
Arran voltou sua atenção para absorver a Essência Purificada restante, terminando pouco tempo depois.
“Creio que teremos que nos despedir do Lorde Sevaril?”, ele perguntou depois de terminar. Ele não queria encontrar o homem novamente, mas se esse era o preço para se livrar dele para sempre, ele pagaria com prazer.
Para a surpresa de Arran, Snow Cloud balançou a cabeça.
“Seus mordomos me disseram que ele se isolou em meditação e não pode ser interrompido”, afirmou ela com um encolher de ombros. “Isso não tem importância. Já tenho o que preciso dele, portanto, partiremos agora mesmo.”
Ainda que Arran se sentisse feliz em saber que não teria que ficar cara a cara com Lorde Sevaril novamente – enfrentando os riscos que isso implicava – ele não podia deixar de se perguntar por que o velho se trancou em sua torre. Se era apenas por medo do mestre de Arran, não havia muito com o que se preocupar, mas ele se preocupava que houvesse mais do que isso.
Em um suspiro, ele deixou o pensamento de lado. Qualquer que fosse o motivo do Lorde Sevaril, Arran logo se livraria do homem e de sua cidade.
Eles já estavam atravessando a cidade menos de meia hora depois. Em cada curva, Arran temia que alguém ainda os parasse, se bem que suas preocupações parecessem infundadas, e eles logo chegaram ao portão da cidade.
Os guardas no portão permitiram que eles passassem sem problemas, e Arran se sentiu aliviado quando estavam fora da cidade. Mesmo sabendo que muitos perigos estavam por vir, ele se sentiu mais confiante em enfrentá-los na natureza ao invés dos limites da cidade – ao menos aqui, ele poderia fugir se necessário.
Quando mais deixavam a cidade para trás, mais confortável Arran se sentia e, depois de várias horas, a curiosidade sobre seu destino finalmente superou as preocupações que ainda sentia.
“Então, esse Império Eidaran, o que tem de tão perigoso?”, perguntou ele, imaginando quais ameaças estariam no final da jornada à frente.
“Eu já lhe disse”, respondeu Snow Cloud com clareza. “Ele está repleto de grupos disputando pelo poder, e qualquer um desses grupos pode ser uma ameaça para nós.”
“Mas você é um mago das Chamas Sombrias”, disse Arran. “Você trilha o Caminho Verdadeiro. Os magos do grupo não seriam bem mais fracos do que você?”
Depois de testemunhar os efeitos da Essência Purificada, ele não teve mais dúvidas sobre o poder dos magos das Chamas Sombrias.
Snow Cloud riu. “Apesar de seu nome grandioso, o Caminho Verdadeiro não passa de um entre os muitos meios de obter poder. Sem a Academia que reprime os usuários de magia, todos os magos daqui descobriram todos os tipos de métodos para ficar mais fortes. Não os subestime”.
Arran se preparava para fazer outra pergunta quando notou que, a poucos passos à frente, havia um pequeno grupo de pessoas na estrada. Pelo que parece, eram cerca de seis pessoas e aparentavam utilizar vestes de magos.
Notando o mesmo, Snow Cloud falou em voz baixa: “Acho que temos problemas adiante. Estejam prontos”.
Arran concordou com a cabeça, e então enviou sua Visão Sombria. Um pouco depois, ele disse suavemente: “Existem outros deles se escondendo no mato próximo à estrada. À esquerda”.
Snow Cloud consentiu em silêncio, sem questionar como Arran conseguiu descobrir a ameaça oculta. Pelo contrário, uma expressão rígida apareceu em seu rosto, no qual Arran sabia bem que, assim como ele, ela se preparava para a batalha.
Ao se aproximarem do grupo à frente, eles diminuíram o ritmo, mas não se viraram para correr. Era inútil fazer isso – se um ataque viesse, enfrentá-lo de frente seria sua melhor chance de sobrevivência.
Por volta de cem passos, os olhos de Arran arregalaram ao reconhecer um dos homens do grupo – o vendedor do Golden Hall. Parece que o homem também o reconheceu na mesma hora, porque de repente ele esticou o braço e apontou para Arran.
Sem tempo para pensar no assunto, pois logo depois, o homem ao lado do vendedor ergueu a mão e Arran sentiu que ele estava reunindo Essência de Vento para um ataque.
De imediato, Arran criou um Escudo de Força e uma fração de segundo depois ele pôde sentir que o ataque se dirigia a ele. Entretanto, o ataque atingiu o Escudo de Força com um forte estrondo, mas não o atravessou, e Arran revidou imediatamente, enviando uma Lâmina de Vento em direção aos homens.
Tanto o vendedor quanto o homem ao seu lado morreram rapidamente, a Lâmina de Vento de Arran atravessou seus corpos como se fosse uma espada cortando um papel. No mesmo momento, dois rastros de fogo branco emergiram das mãos de Snow Cloud, fazendo com que outros dois inimigos morressem sem que pudessem lançar seus próprios ataques.
Mesmo quando o grupo à frente foi praticamente eliminado em um instante, a Visão das Sombras de Arran o informou que seis flechas estavam vindo em sua direção pelo mato ao lado da estrada.
Ele moveu o Escudo de Força rapidamente para se proteger, porém foi tarde demais – uma das flechas o atingiu no ombro e a outra em seu braço.
Sem se importar com a dor, Arran retirou a flecha do ombro, desembainhou a espada e se lançou contra os oponentes ocultos, com o Escudo da Força à sua frente. Snow Cloud teria que lidar com o que restava do grupo na estrada.
Os poucos segundos que Arran levou para alcançar seus inimigos, várias flechas foram lançadas em sua direção, mas elas atingiram inofensivamente seu Escudo de Força.
Assim que Arran se aproximou do arbusto, pôde ver vários homens dentro do arbusto, sacando suas espadas e se preparando para o ataque de Arran. Agora ele podia ver que eram Refinadores de Corpo, ainda que fossem bem mais fracos que o próprio Arran.
Ele não parou ou hesitou em seu ataque, imediatamente atravessando sua espada no peito do homem mais próximo e, ao mesmo tempo, golpeando seu Escudo de Força em outro.
Pode ser a excitação da batalha repentina, ou então um efeito imprevisto dos Cristais de Essência, mas Arran sentiu uma força e uma sede de sangue inéditas nele, e sua espada rasgou os oponentes com tanta facilidade que ele os massacrou.
Em questão de segundos, todos os seus oponentes foram mortos, com seus corpos dilacerados pelos ataques furiosos de Arran. Mesmo que eles fossem refinadores de corpo, seus corpos reforçados pela Essência não ofereciam proteção contra a fúria de Arran.
Quando o último oponente foi derrotado, Arran se virou e foi surpreendido pela Snow Cloud sentada na estrada, segurando sua perna. Como não havia mais inimigos na estrada, Arran entendeu que ela havia sido ferida na briga.
Rapidamente, ele voltou até ela e, quando a alcançou, notou uma flecha saindo de sua perna – parece que ele não era o único que havia sido atingido.
“Você está ferida”, disse ele com preocupação, se ajoelhando ao lado dela para examinar o ferimento.
Ao invés de gemer de dor, ao contrário do que ele esperava, ela o olhou com calma, mas com um olhar questionador.
“Quantos cristais de essência você usou?”