Brett Lloyd era o filho mais velho da família Lloyd, uma das altas nobrezas do Reino Gaveirra. Ele possuía habilidade suficiente para ser confiante, embora isso o tornasse arrogante no passado. Era inevitável, já que ninguém da sua idade, em toda a sua propriedade, ou até mesmo no reino, estava à sua altura.
“Eu era um grande peixe em um pequeno lago.”
Então, ele conheceu duas pessoas: Illia Lindsay e Airen Farreira. Eles ensinaram a Brett o que significa ser um ‘verdadeiro gênio’. Ele conseguia aceitar Illia, já que ela era descendente de Dion Lindsay, aquele que matou o Rei Dragão Demônio há 400 anos. Não era segredo que o rei da época impediu Lindsay de alcançar o título de duque.
Mas Airen era diferente. Ele possuía um esforço inexplicável, um talento inato e uma vontade de aço. Com esses atributos, alcançou Brett em uma velocidade impressionante e, eventualmente, o superou, deixando Brett com um profundo sentimento de derrota e desespero.
No entanto, Brett também nutria sentimentos positivos por Airen. Ele era grato por Airen lhe ensinar o quão limitada era sua visão e por mostrar o que lhe faltava, o que o ajudou a se tornar mais forte e a ser um Lloyd melhor.
Por isso, torcia de coração por Airen e esperava que seu amigo completasse a tarefa do diretor e retornasse à Academia de Esgrima de Krono para que pudessem se enfrentar em combate, ambos sorrindo.
Mas então…
“Eu nunca imaginei que o encontraria aqui.”
Brett olhou para Airen com um olhar afiado. Na verdade, estava um pouco irritado com ele naquele momento. Airen nunca havia entrado em contato com a academia, exceto por uma carta enviada da Propriedade Farreira há quatro anos. Brett entendia bem o que era enfrentar dificuldades e, algumas vezes, considerou enviar uma carta, mas acabou desistindo para não sobrecarregar o amigo.
Mas o que era isso? Airen parecia não ter dilema algum e estar aproveitando uma aventura feliz pelo mundo.
“Ou ele sempre teve essa expressão?”
Brett estava confuso, já fazia tanto tempo desde que o vira pela última vez. Mas era evidente que Airen parecia estar muito melhor do que Brett imaginava, o que o deixava irritado. Assim, havia um leve traço de raiva enquanto observava seu amigo, que não o contatava havia anos, aparentando estar completamente despreocupado.
— Airen, o que você… — Brett chamou o nome do amigo novamente e estava prestes a se aproximar.
— Pare.
Uma gata preta apareceu do nada, seguido por um enorme orc oráculo. Os dois ficaram ao lado de Airen, estreitando os olhos e comentando sobre Brett.
— Um jovem forte — disse o orc.
— Sim. Muito forte — concordou a gata.
— Seus cinco elementos estão bem equilibrados. Acho que é raro alguém com essa característica ser mau… O que você acha, Lulu?
— Ele não parece ser mau, mas é forte, então não devemos ter cuidado? — respondeu Lulu.
— Airen…? — Brett chamou pela terceira vez, parecendo querer uma explicação sobre aquelas figuras e o que estavam falando.
— Espere, Brett. Um momento — disse Airen, pensando brevemente antes de se dirigir a Lulu e Khubaru. — Não se preocupem, pessoal. Ele é meu… amigo da academia. O nome dele é Brett Lloyd.
— Oh, o jovem sobre quem você falou algumas vezes — comentou Khubaru.
— Ele é confiável então? — perguntou Lulu.
— Sim. E… Brett. Estes são meus mestres. Conheça Khubaru, um oráculo e elementalista. E esta é a feiticeira Lulu.
— Haha… Estou lisonjeado por ser chamado de mestre. Prazer em conhecê-lo. Sou Khubaru.
— Sou Lulu. Eu ensino feitiçaria ao Airen.
— Tivemos uma má experiência com um intruso há um mês. Desculpe pela grosseria. Ficamos desconfiados de espadachins fortes… — explicou Khubaru, desculpando-se com Brett.
— Entendo… Está tudo bem — Brett assentiu. Parecia menos irritado depois do pedido de desculpas de Khubaru, mas também porque as palavras de Airen aqueceram seu coração.
“Amigo… Então ele não se esqueceu de mim.”
A palavra quase fez Brett sorrir, mas ele se conteve e refletiu profundamente. Havia muito o que dizer, mas nada saía de sua boca. Ele suspirou e balançou a cabeça.
— Tenho muitas perguntas, mas não sei por onde começar — disse Brett.
— Eu também tenho muito o que contar — respondeu Airen.
— Você sabia? Eu voltei para a academia. Agora sou um aprendiz formal da Academia de Esgrima Krono.
— Sim, ouvi isso do diretor e de Lance Patterson…
— Diretor? Lance? Você esteve na academia?
— Sim. Precisei conversar com o diretor sobre minha antiga tarefa…
Airen estava prestes a explicar sua história quando uma voz alta ecoou, abafando suas palavras. Era Judith. Airen e Brett olharam na direção do som, depois se entreolharam.
— Vamos lidar com isso primeiro — disse Brett.
— Isso… acontece com frequência? — perguntou Airen.
— Não muito ultimamente, mas não é estranho que tenha acontecido — respondeu Brett. Então se virou para uma mesa próxima e perguntou a um homem que observava Judith discutindo com outros. — Hmph… Ei, posso perguntar algo?
— Está falando comigo? — perguntou o homem.
— Sim. Quero saber o que está acontecendo naquela briga. Pago uma moeda de prata pelo que você viu.
— Oh, ótimo. Claro.
Brett não podia se meter sem entender quem estava errado. Mesmo que Judith tivesse começado, ela certamente alegaria inocência. Era mais preciso ouvir de alguém alheio à situação do que depender dos envolvidos. Mas o problema era que o homem falava demais.
— Tenho certeza de que posso ser de grande ajuda, pois observei aquela mulher ruiva o tempo todo! Seus olhos altivos e o cabelo ruivo elegante eram tão encantadores que chamaram minha atenção, sabe? Opa! Você é companheiro dela? Me desculpe, senhor. Quero dizer, não estava olhando para ela desse jeito, mas… Oh, está tudo bem? Muito obrigado, muito obrigado! Então, onde eu estava? Ah! Aquela senhorita estava sentada tranquilamente à mesa depois de pedir comida. Espere, ela também pediu uma cerveja? Enfim…
— Podemos… ir direto para a luta?
— Ah, desculpe. Meus amigos dizem que eu sempre falo demais…
O homem foi direto ao ponto só depois que Brett teve que interrompê-lo. Para sua surpresa, Judith não fez nada errado dessa vez. Três homens, incluindo um que parecia ser um jovem nobre, insistiram em sentar-se à mesa com Judith, que estava tranquilamente bebendo cerveja enquanto esperava pela comida. Ela recusou, o que resultou em uma briga, e então mostrou a eles a placa de mercenária prata. Foi aí que o problema real começou, quando os homens a acusaram de exibir uma placa falsa.
— Que malvados — disse Lulu, emburrada.
— Que rude — Khubaru concordou.
Lulu e Khubaru pareciam incomodados. Era um incidente comum, mas isso tornava a história mais interessante. No entanto, Airen teve uma impressão diferente sobre a história. Ele se virou para Brett com um olhar surpreso.
— Ela… está sendo paciente nessa situação? — perguntou Airen.
— Hmm? — Brett se virou para Airen.
— Ela não está derrubando eles e apenas discutindo com eles. A Judith que eu conheço nunca faria isso…
— Ah, sobre isso. Eu a domestiquei. Pode me chamar de Domador de Judith profissional — Brett proclamou orgulhosamente. Airen ficou perplexo e deu de ombros. — Qual o problema com essa cara?
— Não é nada. — Airen balançou a cabeça e pensou que Brett também havia mudado um pouco. Ele ainda tinha aquele distinto ar de nobre, mas parecia mais relaxado. “Ou eu deveria dizer que ele ficou um pouco despreocupado…”
Enquanto isso, Brett assentiu e então entrou na luta. Airen o seguiu, pois, independentemente da situação, ele não queria adiar a reunião com Judith.
— Seu desgraçado, vou te mostrar agora mesmo se estou mentindo ou não. Aí você pode se gabar de ter sido espancado por uma mercenária prata, entendeu? — Judith vociferou.
— Uau, você tem uma boca grande, hein? Está se segurando, minha garota? Nada mal. Gosto de uma mulher feroz como você — disse o jovem.
— Sim. Ela é bem o seu tipo, pequeno chefe.
— Ah, droga. Você até fala como um idiota… — disse Judith, antes de ser interrompida por uma voz.
— Judith — disse Brett.
— Oh, Brett! Por que demorou tanto? Está com prisão de ventre? — gritou Judith na direção de Brett, deixando-o atônito. Ela não deu atenção e continuou. — De qualquer forma, você cuida deles. Você é bom nisso, certo? Não consigo resolver isso conversando com eles. Ou devo apenas espancá-los e passar uma noite na cela… Hein…? Hein?!
Judith, xingando e elogiando Brett ao mesmo tempo, arregalou os olhos ao olhar atrás dele.
“Airen Farreira!” Ela gritou em sua mente e deu um passo longo em direção a ele. Um dos três homens que estavam lutando com ela a impediu.
— Não terminamos aqui. Para onde você acha que vai… Argh!
Judith imediatamente agarrou o braço dele e o jogou no chão. O chamado ‘pequeno chefe’, Korah Murrey, ficou chocado ao ver isso acontecer.
“O quê?! Ela jogou meu guarda no chão como se fosse um boneco de pano…”
O guarda não era confiável por sua boca grande, mas ainda assim, ela o derrubou com muita facilidade. E então, Korah notou quem estava diante dele. Era o homem de aparência intimidadora com cabelos azuis, Brett Lloyd.
— Você foi quem mexeu com minha amiga? — ele perguntou.
— N-Não.
Korah Murrey engoliu em seco. Era estranho. O jovem parecia comum e não tinha nada de especial em sua aparência, mas havia algo misterioso e intimidador nele. Não era por ser um espadachim, mas por uma atitude que apenas alguém de nascimento nobre poderia ter.
“Mas não há como uma pessoa assim estar aqui!” Korah mordeu os lábios. Ele era o precioso filho caçula do dono da Companhia Mercante Murrey, o homem mais poderoso da cidade. Isso lhe deu coragem para falar novamente.
— Eu só… aquela mulher disse algo que eu não consigo acreditar…
— O quê? — perguntou Brett.
— …q-que ela é uma mercenária prata…
Era estranho. Ele era Korah Murrey, o filho do proprietário da Companhia Mercante Murrey, a quem até o senhor feudal da região tratava com respeito. Mesmo lembrando disso… ele achava difícil encarar os olhos do jovem. Ele mal conseguiu pronunciar as palavras.
— Entendi. Então você estava curioso. Vou te mostrar — disse Brett.
— Com licença? — Korah franziu a testa enquanto instintivamente adotava um tom educado. O homem ia sacar sua espada? Ou estava o ameaçando? Felizmente, não era nada disso.
Brett continuou.
— Você é o filho de Murrey, então deve ter um lugar para um duelo, certo?
— Sim, mas quem você vai enfrentar em um duelo…
— Seria a ruiva que duelaria para esclarecer suas dúvidas, e a outra pessoa seria… — Brett apontou o dedo para Airen. “O loiro. Ele lutaria contra ela.”
— Brett…? — perguntou Airen.
— Hã? O que está acontecendo? — Judith também perguntou.
— Eu acabei de preparar um duelo entre você e Airen — disse Brett para os dois.
— Oh! Legal! Isso é ótimo!
Judith sorriu como se nunca tivesse estado irritada. Brett riu enquanto Lulu, Khubaru e o grupo de Korah apenas os observavam atônitos.
Airen também parecia semelhante a Korah, mas, no final, sorriu como Brett e Judith. “Eles são iguais ao Lance.” Airen acenou enquanto os observava, parecendo verdadeiros espadachins.
— Estou dentro — ele disse.
Ele também começou a entender um pouco dessa mentalidade.