Mas as coisas tomaram um rumo drástico depois disso. Ele foi levado a fazer uma aposta e acabou convidando a mulher e seu grupo para sua casa de férias. O duelo começou, e o homem e a mulher lutaram. Então, ele viu algo inacreditável.
“Quem diabos são eles…?”
Eles pareciam ainda mais fortes do que Brian Burnes, o cavaleiro que ele havia trazido como testemunha. Não era preciso ser especialista em esgrima para entender o quão poderosos eram, já que qualquer um que visse os danos deixados por aqueles monstros pensaria assim. “Mas… O quê?” Ele ia destruir mais?
“O que ele está tentando nos mostrar?!”
Korah não conseguia entender, ou melhor, não queria entender. Ele balançou a cabeça e gritou:
— P-parem! Parem agora! Já vi o suficiente de suas habilidades, então, por favor, vão embora!
— Do que você está falando…? — disse Brett.
— Estou dizendo que aceito que ela é forte! Não é isso, Sir Burnes?
Korah perguntou apressadamente a Brian. O cavaleiro parecia perplexo, mas rapidamente entendeu a intenção e assentiu.
— Sim. Vocês dois são mais do que qualificados para o nível prata… ou até ouro, para ser honesto.
— Ó-Ótimo! Nossa testemunha concordou! Vocês provaram suas habilidades, e está feito! Então… por favor, vão embora agora! Não vou reclamar sobre os danos no campo de treinamento, então, por favor…
— Não, isso não vai acontecer — Brett interrompeu Korah. Sua voz soava firme como de costume, mas havia uma intensidade em suas palavras. Ele se aproximou de Korah e continuou.
— Eu não disse que os vencedores teriam direito a um desejo? — perguntou Brett.
— Isso é…
— Não se preocupe. Não vamos pedir muito. Foi uma aposta simples. Apenas nos empreste esta casa de férias por um mês, incluindo o campo de treinamento — disse Brett.
— Ei! Fui eu que fiz todo o trabalho! Não decida isso sozinho! — gritou Judith à distância.
— Essa é a melhor maneira de vermos a esgrima de Airen agora — respondeu Brett, com ainda mais intensidade. Seus olhos pareciam arder. Até Judith recuou um pouco quando os olhares se cruzaram.
— C-certo. Tá bom, faremos isso então — ela concordou rapidamente.
— Ótimo. Airen! Está tudo resolvido, então mostre pra gente! — gritou Brett.
“Esse desgraçado!” Korah ficou ainda mais frustrado. Pensava que o jovem de cabelos azuis era o mais sensato do grupo, mas estava enganado. Ele era o pior. Havia em Brett um brilho nos olhos que apenas um verdadeiro louco poderia ter, o que causou arrepios em Korah.
Brett olhou fixamente para Airen, e Judith se aproximou, pronta para assistir. Todos os outros, incluindo Brian Burnes, os trabalhadores da companhia mercantil, Khubaru e Lulu, observavam com expectativa.
“Isso é um pouco embaraçoso”, pensou Airen, mas não iria evitar. Estava curioso para ver como a esgrima daquele homem havia mudado. Respirou fundo, olhou para Brett e Judith, e fechou os olhos para se concentrar. E então algo incrível aconteceu.
Ele percebeu no momento em que reuniu seu poder, que ele havia mudado.
Diferente de antes, agora era mais fácil usar a habilidade. Todas as vezes, no exame final, quando a utilizou contra Ryan Gairon e a mostrou a demônio, ao diretor Ian e ao líder dos bandidos, precisou de muito tempo de concentração para ativá-la.
“Mas agora…” sentia que podia fazer isso em metade do tempo. Abriu os olhos após se preparar em poucos segundos.
“Também consigo controlar o poder com muito mais facilidade!”
Isso também era surpreendente. No momento, Airen estava em um estado em que emprestava o poder do homem dos sonhos, algo que era impossível manter por muito tempo. Antes, ele apenas o liberava, sem conseguir armazená-lo.
Mas isso havia mudado. Ele agora podia conter o poder dentro de si. Era difícil, mas o simples fato de conseguir pensar em outras coisas enquanto o fazia mostrava que havia crescido.
“Então eu evoluí”, pensou Airen, com um sorriso tênue. Ainda sentia raiva ao pensar em Ignet, mas reconhecia que conhecê-la havia trazido apenas resultados positivos.
“Chega de pensar agora.”
Airen soltou um suspiro e ergueu sua espada larga. Não hesitou. Sua concentração voltou imediatamente. Ele sentia o poder misterioso da aura preenchendo seus músculos e células. E, com essa sensação agradável, desferiu o golpe.
E, após isso, o campo de treinamento ganhou um enorme abismo no meio. O som não foi tão alto, já que o ataque de Airen foi tão suave quanto cortar um pedaço de carne macia. Talvez essa fosse a razão do silêncio. A largura do dano não era tão grande quanto antes. Mas…
Brett e Judith pareciam ainda mais perplexos. O golpe mostrou controle perfeito do poder. Airen direcionou toda a força para o alvo sem desperdiçar nada, o que os chocou. Os outros começaram a fazer alvoroço.
— Oh, meu Deus!
— Ele cortou o chão de pedra… ao meio!
— Olha o tamanho disso… Pelos céus…
— Ha… hahaha.
As pessoas murmuravam sobre o milagre criado com uma espada, enquanto Korah permanecia imóvel, rindo de forma vazia. Lulu e Khubaru pareciam calmos, mas eram os únicos. Sua serenidade os fazia parecer estranhos.
No meio do caos, Brett sacou sua espada e se aproximou de Airen.
— Não aguento mais. Vamos duelar — disse Brett.
— Não íamos conversar depois disso…?
— Sim, mas mudei de ideia — disse Brett com um olhar intenso. — Podemos?
— Claro, vamos duelar — respondeu Airen com um aceno. Ele se sentia um pouco cansado por usar sua aura, resistência e mente, mas ainda tinha energia para lutar.
Os olhos ardentes de Brett eram o verdadeiro problema. Parecia que ele não ouviria razão até que Airen apagasse o fogo neles.
— O quê! Vocês vão duelar de novo? Quero participar! — gritou Judith.
— Você já teve sua vez. Agora é minha — disse Brett.
— Por que não fazemos uma luta livre? Vou entrar, tá?
Judith saltou de imediato. Brett franziu o cenho, mas não disse nada. Eles haviam duelado assim há cinco anos e meio, quando ainda eram aprendizes preliminares.
“Faz muito tempo”, pensou Brett, com um leve sorriso nos lábios.
Airen também sorriu, mais abertamente, e Judith exibiu um sorriso animado. Os três compartilharam uma conversa através da esgrima até tarde da noite.
Era o reencontro da turma do 27º ano da Academia de Esgrima Krono.
Airen, Judith e Brett terminaram seus intensos duelos. Depois de se lavarem, entraram na casa de férias de Korah para conversar. O local tinha quartos espaçosos e mobílias caras, apropriadas para um jovem rico.
— Uau… isso aqui é ótimo. Brett, a sua família também tem móveis caros assim? — perguntou Judith.
— Usamos dinheiro quando é necessário, mas não desperdiçamos com coisas assim — respondeu Brett.
— É mesmo? Se eu tivesse muito dinheiro, não hesitaria. Pensando bem, agora tenho muito dinheiro!
— O que você… Ah, o ouro?
— Sim. A gata me deu como presente.
Os olhos de Brett se arregalaram ao ver os três ratos dourados de Judith. Era ouro de verdade, e bastante valioso. Ele pensou que dar um presente tão caro a alguém que a gata acabara de conhecer a tornava uma criatura peculiar. Não, um animal peculiar.
— A propósito, onde estão seus professores? Não seria melhor se eles ficassem aqui e conversassem com a gente? — Brett perguntou a Airen.
— Ah, eles disseram que talvez eu precisasse de um tempo sozinho com vocês, já que fazia muito tempo que não nos víamos…
— Muito atenciosos da parte deles. São boas pessoas… quer dizer, bons gatos e orcs. — Brett fez uma tosse seca ao corrigir sua escolha de palavras e voltou-se para Airen. — Então? Vamos conversar.
— Sim! Fala logo! Conta o que aconteceu! Estou tão curiosa que nem sei por onde começar — exclamou Judith.
— Haha…
— Para de rir e fala! Você está me deixando louca!
— Certo — Airen assentiu.
Ele sabia que, se os papéis fossem invertidos, teria agido exatamente como Judith. Tudo o que havia acontecido com ele era tão extraordinário que ele entendia a curiosidade dela e o que significava estar do outro lado, mesmo sendo ele quem tivesse que explicar.
Ele fechou os olhos por um momento, tentando organizar seus pensamentos antes de começar a longa história. No entanto, não demorou muito e os abriu novamente, pronto para falar, antes que Judith quase desmoronasse de tanta ansiedade.
— Bem… para começar, tenho que voltar ao tempo antes de entrar na Academia de Esgrima Krono… e falar sobre meu sonho…
A história de Airen começou no momento em que começou a sonhar com aquele homem. Mas, ao contrário de quando contou a Lulu e Ian, ele não estava buscando conselhos de seus amigos. Desta vez, queria apenas compartilhar sua história com duas pessoas preciosas, esperando que entendessem mais sobre ele.
Brett e Judith ficaram confusos. Eles esperavam ouvir sobre os eventos dos últimos cinco anos, então ficaram surpresos quando Airen voltou a um período anterior à academia. No entanto, a confusão desapareceu conforme a história se desenrolava.
Airen contou calmamente como o sonho daquele homem o transformou, como a maneira das pessoas o olharem mudou, como ele se perdeu por causa disso e teve que sofrer para se reencontrar, apenas para enfrentar novos desafios que surgiam sempre que sentia que estava progredindo. Brett e Judith ficaram completamente absorvidos na história.
— E… estou aqui agora.
A história terminou. Um breve silêncio caiu enquanto Airen, Brett e Judith refletiam profundamente.
Foi Judith quem rompeu o silêncio. Ela olhou nos olhos de Airen.
— Você fez um ótimo trabalho — disse ela gentilmente, algo raro em sua atitude, deixando os outros dois chocados. Mas ela não se importou e continuou.
— Sabe, no começo eu fiquei bem irritada. Tipo, pensa bem. Eu achava que era a pessoa mais durona e trabalhadora da minha idade, aí vi você na academia. Pensei, quem diabos é esse maluco insano…? Mas agora que entendi que era por causa do homem do sonho, e não só pela sua força de vontade, me sinto meio traída. É, foi essa a sensação. Pelo que você contou, o homem enlouqueceu depois de passar a vida inteira brandindo a espada. Como você poderia vencê-lo? Talvez seja possível no futuro, mas não é algo fácil para um garoto. Enfim.
— Mas então… percebi que você, do jeito que está agora, estava se esforçando pra caramba para vencer aquele lunático. Pensar que você não desistiu e continuou lutando contra um homem que até eu já teria desistido… isso me pegou, sabe?
Judith riu, levantou-se e deu um tapinha no ombro de Airen antes de voltar à sua cadeira.
— Você fez um trabalho incrível enfrentando aquele maluco.
Ela falou com sinceridade, reconhecendo e confortando Airen por suas dificuldades. Suas palavras tocaram profundamente o coração de Airen.