Um cavaleiro errante vagava pelo continente cerca de vinte anos atrás, quando Airen nasceu. Ele se oferecia para ajudar espadachins promissores e duelava com todos para orientá-los e ensiná-los. Foi nessa época que o homem, Zett Frost, ganhou o título de ‘O 101º Espadachim’.
— Habilidades incríveis… Eu não posso garantir vitória sem a Aura da Espada.
Um certo mestre espadachim lhe disse isso, o que foi o maior elogio possível. Zett tinha apenas 35 anos na época, mais jovem que a maioria, exceto pelos gênios da geração, como Ian e Julius Hule. Depois desse incidente, acreditava-se que ninguém, além de mestres, poderia vencê-lo, o que lhe deu o apelido de ‘O especialista mais forte’, que atraiu atenção.
— Não ouvi falar dele por um tempo, então não achei que ele estivesse em Partizan — disse Khubaru.
— Então, onde, em Partizan, ele está? Ele aceita desafios? Não significa nada se ele não aceitar desafios. Você descobriu isso também, certo? Você é bom nesse tipo de coisa! Reunir informações! Então, o que é?! Vamos lá e…
— Calma, dá um tempo, tá bom? Eu vou te contar tudo — Khubaru interrompeu Judith para descansar por um momento e continuou. — Ouvi dizer que ele dará uma aula de duelos às nove da manhã, daqui a dois dias. Parece que ele costuma fazer isso quando está por aí.
— Ótimo. Vocês estão prontos? — Judith perguntou aos outros dois.
— Claro — respondeu Brett imediatamente.
Airen também assentiu. O duelo com Hayram foi útil, mas eles queriam enfrentar um oponente mais forte. Os três espadachins especularam sobre as habilidades de Zett e ouviram mais informações de Khubaru antes de retornarem aos seus quartos.
— Hmm.
— O que foi? — perguntou Lulu a Airen, que estava sentado na cadeira, pensativo.
Airen balançou a cabeça e disse que não era nada, ao que a gata preta inclinou a cabeça e voltou ao seu treinamento de feitiçaria.
Airen fez algo semelhante. Ele fechou os olhos, eliminando o som dos bêbados no salão do primeiro andar e a respiração de Lulu. Logo, trouxe à mente uma imagem de Zett Frost, o 101º espadachim.
“Esse não é um título honroso.”
Ser o 101º homem mais forte era um feito impressionante, considerando que a maioria dos espadachins do mundo eram especialistas. Isso significava que o homem era o melhor entre os especialistas.
Mas Airen, que entendia a mentalidade competitiva, focava em outro ponto além das habilidades do homem. Era nos 20 anos de tempo. Ele pensou sobre o agonizante longo período em que o homem não conseguiu dar o último passo para se tornar um mestre.
“Ele deve ter carregado fardos, pressões e autoaversão. Talvez ele ainda carregue.” Airen não sabia disso antes, mas agora sabia. Sentiu isso há apenas duas semanas, vendo Brett e Judith à sua frente, o que o deixou deprimido por um tempo.
“Eu me recuperei rapidamente, mas…”
Ele só conseguiu porque seu crescimento era visivelmente rápido, então não tinha certeza do que aconteceria se estivesse no mesmo lugar que Zett. Pensar nisso o fez lembrar de Khun. Então ele também pensou no homem de seu sonho.
O homem que não apenas se tornou mestre aos 70 anos, mas se tornou o melhor do continente aos 90, e o misterioso homem que balançava sua espada todos os dias por décadas, eram todos incrivelmente além da imaginação de Airen. Ele precisava quebrar a vontade de um homem assim para moldá-la ao seu jeito ou precisava se tornar alguém assim para absorver essa força.
“Quero vê-lo em breve…”
Zett Frost, o 101º espadachim. Deixando a esgrima de lado, Airen queria entender o que se passava na mente daquele homem. Perdido nesses pensamentos, ele se sentou em sua cadeira e olhou para fora da janela.
Dois dias depois, os três espadachins foram até a mansão de Zett Frost. Eles sabiam o caminho, pois Judith, empolgada desde que Khubaru lhes contou, já havia descoberto a localização. A mansão era tão grande quanto outras academias de esgrima. O problema estava em outra coisa.
— Há… muita gente — disse Brett.
— Todo mundo aqui realmente pode fazer a aula de duelos? — disse Judith.
Airen franziu a testa com as palavras de Judith. Havia incontáveis espadachins reunidos ali, mais do que no Dia dos Visitantes da Academia de Esgrima Krono. Isso os fez pensar que talvez fosse impossível para apenas uma pessoa lidar com todos. Mas era compreensível por que isso aconteceu.
— Quero dizer, é normal ter tanta gente quando um homem com tanta habilidade anuncia que dará aulas de duelo, mas… — disse Brett.
— Talvez todos na região saibam disso — disse Judith.
— O que faremos? Chegamos quase por último… Não teremos nem chance.
— O quê? De jeito nenhum!
— Hmm? O que está acontecendo? — Uma voz calma perguntou a Judith.
Airen e Brett se viraram para a voz familiar. O Diretor Hayram vinha em sua direção com um sorriso.
— Q-quê? Por que você está aqui?! — Judith perguntou com uma expressão frustrada.
— Por que eu estaria aqui nesta hora e lugar, senão por uma razão? Estou aqui para a aula de duelos.
— Mas… você é o diretor de uma academia. Está tudo bem simplesmente aparecer aqui e ter aula com alguém assim? — ela perguntou.
— Por que seria um problema? Preciso aprender com alguém pior do que eu se houver algo a ensinar. No caso de Zett Frost, ele é muito melhor do que eu. Então, não há motivo para não aprender — disse Hayram casualmente, ao que Judith não conseguiu responder propriamente. Ele continuou — Ah, pensando bem, não contei a vocês sobre Zett outro dia. Desculpe. Aquele idiota é tão preguiçoso que raramente dá aulas de duelo assim… Achei que ele estaria dormindo em casa enquanto vocês estavam em Partizan. Ou apenas bebendo o dia inteiro.
Hayram não hesitou em insultar Zett, mas isso soava bastante amigável. Isso deixou Airen curioso.
— Você conhece Zett Frost pessoalmente? — Airen perguntou.
— Sim. Ele veio aqui há cerca de dez anos, então acho que o conheço há tanto tempo.
— Vocês não são amigos, então? Por que teve que vir agora…
“Você não poderia simplesmente pedir uma aula particular?” Pensou Judith.
Mas Zett Frost não era alguém de quem podiam esperar previsibilidade.
— Ele recusou — disse Hayram.
— Por quê? — perguntou Judith.
— Porque ele é preguiçoso.
— Mas… se é o caso, o que ele está fazendo agora?
— Ele acredita que, às vezes, tem que trabalhar, mesmo sendo preguiçoso. Assim, ele aproveita ainda mais a preguiça depois…
“Ele é quem deveria ser chamado de Nobre Preguiçoso, não o Airen”, pensaram Judith e Brett.
— Não tentem entendê-lo. Ele é um homem único — disse Hayram.
Hayram estalou a língua e balançou a cabeça. Apesar da amizade, ele parecia sinceramente considerar Zett Frost um homem estranho. Mas Hayram também era um homem muito peculiar para os padrões dos três. Mesmo sendo bastante pé no chão, era estranho que um espadachim especialista e diretor de uma academia parecesse tão despreocupado.
“É por isso? Dois esquisitos sendo amigos?”
Judith franziu a testa, pensando na relação deles, quando um homem careca saiu da enorme mansão. O barulho da multidão foi se acalmando, e o homem careca falou.
— Bem-vindos. Sou o mordomo. Vim aqui em nome do Sr. Zett Frost — o mordomo fez uma reverência e começou a falar. — Lamento dizer, mas o Sr. Frost está muito frustrado com o número inesperado de convidados hoje. Ele gostaria de respirar e compartilhar sua esgrima com todos vocês, mas ele é apenas um…
— Hah. Então ele poderia dar aulas de duelo em dois, três e quatro dias. Aquele preguiçoso.
Hayram estalou a língua novamente enquanto falava de Zett. Os três não podiam fazer o mesmo, pois não conheciam o homem pessoalmente como Hayram. Eles compartilhavam olhares incertos enquanto observavam o mordomo careca. Então, o mordomo continuou.
— Sendo assim… Vocês precisarão passar por um teste simples, e aqueles que forem aprovados receberão uma aula. Os demais, lamento, mas precisarão buscar essa oportunidade outra vez — disse o mordomo.
— O quê? Isso é um absurdo!
— Isso mesmo! Fiquei em Partizan por três semanas só para vê-lo!
As pessoas explodiram em raiva. Mas isso era esperado. Eles esperavam uma aula individual com o espadachim mais forte, então imaginar que talvez nem sequer o encontrassem os deixou furiosos. Mas o mordomo careca não era um homem fácil. Ele apontou para alguns espadachins que reclamavam em voz alta.
— Vocês, senhores — disse o mordomo.
— O quê!
— Vocês não poderão fazer o teste se continuarem reclamando — ele praticamente ameaçou os espadachins, depois se virou para os outros. — O mesmo vale para todos vocês. Meu mestre e eu não recebemos nenhum pagamento de vocês. Esta é uma aula voluntária, então não comecem a choramingar por algo gratuito que vocês nem merecem.
— Além disso, não é tão injusto fazer um teste. Perder tempo com pessoas que deveriam estar treinando nas academias de suas vizinhanças seria um desperdício. Todos vocês entenderam agora? Se entenderam, apenas acenem com a cabeça em silêncio.
Centenas de espadachins acenaram com a cabeça em silêncio. Airen observou a cena e pensou, “Acho que ele também é pelo menos um especialista.” O homem tinha uma postura que nenhum mordomo comum teria.
De qualquer forma, a situação se acalmou rapidamente com a ameaça do mordomo careca. Os espadachins recuaram e seguiram o mordomo para dentro da mansão, e logo se encontraram diante de um enorme artefato mágico. Airen murmurou ao vê-lo.
— O analisador mágico! — disse Airen.
— Oh, você sabe o que é? — perguntou Hayram.
— Sim. Parece maior do que o que eu usei… mas é parecido.
— Isso é um analisador mágico? — perguntou Brett.
— O quê? O que é um analisador mágico? Sou a única que não sabe?
Judith franziu a testa ao perceber que Airen e Brett pareciam saber o que era. Sentiu-se um pouco constrangida por ser a única que não sabia. “Espero que aquele desgraçado não diga nada”, pensou Judith. Felizmente, ele não disse. Em vez disso, Hayram explicou gentilmente com um sorriso.
— É um objeto mágico que converte o dano de um golpe em um número. Vê aquela placa retangular brilhante no topo? Você verá o número lá.
— Ah, então só preciso atingir aquele alvo redondo, coberto de couro, com minha espada? — perguntou Judith.
— Exatamente.
— Isso é simples — Brett assentiu.
O analisador mágico era a ferramenta perfeita para dar um resultado racional que convenceria tantas pessoas. Foi então que o mordomo careca falou.
— Vocês passarão se alcançarem mais de 5000 pontos.
Poucas pessoas entenderam o que isso significava, já que o analisador não era tão comum, e elas não tinham experiência com ele. Isso as deixou nervosas.
Mas Airen, Judith e Brett eram diferentes.
— Quer fazer uma aposta? — perguntou Judith.
— Uma aposta? — respondeu Brett.
— Sim. Um peteleco na testa para quem marcar menos pontos.
— Um peteleco… Certo.
— Uau, achei que você fosse recusar, com esse ar tão digno — disse Hayram.
— Esta é uma chance de atingi-la legalmente, então eu não recusaria — disse Brett.
— Idiota. Espere só com a testa exposta. Vou fazer você ter uma concussão — disse Judith.
— Tsc, essas crianças. Vieram aqui para brincar?
— Pois é. Eles não entendem o quão alto 5000 pontos são.
Alguns espadachins franziram a testa para os três jovens conversando casualmente. Aqueles que tinham experiência com o analisador mágico pareciam ainda mais incomodados. Eles sabiam o quanto era difícil superar 5000 pontos, então ficaram desconfortáveis com comportamentos tão bobos.
Mas, é claro, Airen e seus amigos não ligaram, nem mesmo o Diretor Hayram. Ele conhecia a capacidade dos três, então a questão não era se eles conseguiriam ultrapassar 5000.
— Airen — chamou Hayram.
— Sim, diretor.
— Você se lembra do número que marcou da última vez que fez a análise?
— Hmm… Sim, lembro.
Foi por causa do breve silêncio de Airen? Alguns dos espadachins próximos se viraram em sua direção. Um deles era justamente quem estava explicando animadamente o quão difícil era superar 5000 pontos.
Logo, Airen falou sobre os números.
— Acho que foi cerca de 11000.