Airen avisou Illia que sua história seria longa antes de começar. Ele queria começar do momento em que teve o primeiro sonho com o homem misterioso, em vez de simplesmente contar o que aconteceu nos últimos cinco anos e meio.
Illia Lindsay. Ele queria encontrá-la com tanta intensidade quanto queria ver Brett ou Judith. Queria que ela ouvisse tudo sobre ele. Queria contar quem era o verdadeiro Airen Farreira, não apenas explicar por que não conseguiu cumprir sua promessa.
— Eu já fui chamado de Nobre Preguiçoso, mas decidi empunhar uma espada porque…
Airen começou sua longa história. Não era longa porque ele fosse ruim em contar histórias. Embora pudesse ter melhores habilidades verbais, ele já não era do tipo que se repetia ou se enrolava na narrativa. O motivo da história se estender era o foco profundo de Illia em cada palavra.
— Como assim…? — Seus olhos se arregalaram ao ouvir sobre o sonho.
— Que homens desprezíveis! Como puderam fazer algo assim?! — Ela ficou genuinamente furiosa ao ouvir sobre o Lorde Gairon.
— Que sorte. Não é certo dizer isso depois de tudo o que você passou… mas foi realmente uma sorte — suspirou de alívio quando soube que Airen havia resolvido os problemas.
Illia demonstrava empatia por cada detalhe da vida de Airen. Observando-a, Airen sentiu que precisava explicar cada aspecto de sua história. E, enquanto fazia isso, percebeu que nunca esteve em posição de ajudá-la. Era sempre ela quem o ajudava.
“Eu não tinha por que me preocupar com ela.”
Airen se animou. Estava aliviado ao perceber que suas preocupações eram desnecessárias. A Illia à sua frente era a mesma que ele se lembrava, com o mesmo sorriso radiante que tinha após o exame final. Então ele continuou contando sua história com entusiasmo, e ela permaneceu atenta até o final. Foi somente depois de terminar que ele notou algo estranho em Illia.
— Airen, sobre as outras duas famílias que apoiaram Gairon… — perguntou ela de repente.
— Barão Lester e Russell?
— Sim. Teria sido melhor se você as tivesse destruído completamente.
— Hã?
— As pessoas que falam mal dos outros não mudam esse hábito. Você precisa fazê-las entender que… não podem ousar fazer isso novamente.
— Bem… acho que agora elas nem ousariam enfrentar você. Posso ver isso. Você se tornou forte, Airen.
— Bem… não é nada comparado a você. Ouvi dizer que você se tornou uma Mestre Espadachim. E vi sua luta hoje — respondeu Airen, hesitante, com um sorriso.
Ele ficou um pouco surpreso com o tom agressivo dela, mas pensou que era apenas raiva pela intensidade com que ouviu sua história. Além disso…
— Viu mesmo? Que pena! Eu queria contar isso para você pessoalmente!
— Não acho que haveria como vir aqui sem ouvir histórias sobre você. Todo mundo fala de você…
— Ah, a propósito, Airen. Até onde você sabe sobre minha história?
— Hã?
— Você acabou de sair do Mundo da Feitiçaria após cinco anos, certo? Então deve saber pouco sobre mim. Quer ouvir? Tenho muitas coisas para te contar.
Illia parecia ansiosa para compartilhar sua história. Vendo isso, Airen colocou de lado suas preocupações. Sua amiga, que prestara tanta atenção em sua história, agora olhava para ele com a mesma intensidade, ansiosa para contar a própria. Parecia mais direta em suas emoções do que antes, então ele assentiu com um sorriso.
— Sim. Estou curioso. Ouvi algumas coisas, mas acho melhor ouvir da própria pessoa.
— Claro. Finja que nunca ouviu nada, mesmo que eu diga algo que já saiba. Entendido?
— Sim.
Airen assentiu. Illia então sorriu e começou a contar o que aconteceu após a academia. Falou de si mesma aos quatorze, quinze, dezesseis, dezessete e, finalmente, dezoito anos. Sua história era ainda mais longa que a de Airen, terminando na parte em que se tornou a mais jovem Mestre Espadachim. Ele gravou cada detalhe em sua mente… Mas um silêncio desconfortável caiu.
— Airen…? — Illia o chamou com um olhar confuso.
Era compreensível. A expressão de Airen começou a mudar no meio da história, tornando-se sombria. Não era mais a expressão neutra habitual. Seus olhos mostravam preocupação, empatia e sentimentos complicados.
Então ele disse a ela:
— Illia.
— Hã?
— Quando você se tornou a campeã da Terra da Provação?
— Foi em 17 de outubro… dois meses atrás. Por quê?
— Então você ficará aqui até abril. Certo?
— Do que você está falando? — A voz de Illia se tornou um pouco hostil.
Não era pelo fato de Airen mudar de assunto, mas porque ela quase sabia o que estava em sua mente. Foi quando ambas as mãos dele, pousadas na mesa, seguraram as dela. Illia se sobressaltou, mas não afastou as mãos. Em vez disso, focou no que seu amigo diria.
— Você deveria parar agora — disse Airen com um olhar sério. — Nada vai mudar, mesmo que você siga os passos de Ignet.
Um silêncio ainda mais desconfortável se instalou. A expressão de Illia tornou-se ainda mais severa. Por que Airen estava falando sobre Ignet de repente? Para quê? Não. Como? Perguntas surgiram em sua mente. Ela até engasgou, surpresa, mas voltou ao olhar frio habitual e perguntou:
— O que quer dizer?
— Você não pode esconder isso de mim.
— Eu não estou escondendo nada…
— Eu…
Airen liberou uma forte energia de seu corpo. Suas palavras também carregavam peso. Illia, que estava inclinada para a frente, recuou e o encarou. Eles ficaram assim por um tempo, até que Airen abriu a boca novamente.
— Nunca esqueci nossos dias na Academia de Esgrima Krono — começou ele, com uma voz calma. — Agora eu consigo entender melhor o quão valioso aquele tempo foi. Quão valiosas eram as pessoas que conheci lá. E, entre essas pessoas, estão Judith, Brett e… você, Illia. Você é extremamente especial, o suficiente para que eu me lembre de cada palavra que trocamos após o exame final.
Airen terminou com um sorriso amargo. Estava certo. Era verdade. Ele realmente se lembrava de cada palavra que trocaram naquela época. Lembrava-se do dilema dela e de seu plano após a academia. Lembrava-se claramente de sua obsessão sem sentido em tentar superar cada conquista de Ignet.
Mas ele nunca se preocupou com ela depois de deixar a academia. O sorriso que ela lhe mostrou por último, o sorriso que fez… depois de se libertar do olhar dos outros e decidir encontrar seu próprio caminho, deixou uma impressão tão forte em sua mente quanto a de Ignet.
Mas… ouvindo Illia agora, percebeu que ela havia sucumbido novamente ao olhar dos outros e à presença de Ignet nos últimos cinco anos.
— É inútil — concluiu Airen.
Mesmo que ela se tornasse cavaleira mais jovem que Ignet, conquistasse a Terra da Provação mais rápido ou se tornasse uma Mestre Espadachim um ano e meio antes, isso não faria sua vida brilhar. Mesmo que Ignet tivesse sido campeã na Terra da Provação por cinco meses, isso não significava que Illia precisava superar esse tempo. Ninguém além da Illia de treze anos disse isso a ele. Mas a Illia de dezoito anos havia se esquecido completamente de seu passado.
— Não é inútil… — murmurou ela.
A mais jovem Mestre Espadachim quebrou o longo silêncio. Então, uma energia quente emergiu de todas as partes de seu corpo. Era a aura prateada, o símbolo da família Lindsay. Nenhum especialista poderia fazer algo assim; era uma habilidade especial dos mestres.
— Como você disse. Não estou livre do olhar dos outros nem deixei de me importar com o que dizem. Mas, pelo bem daqueles desgraçados, eu tentei dizer a eles para não insultarem meu irmão… minha família. E este é o resultado.
Illia sacou uma adaga de sua cintura, e a luz prateada envolveu a lâmina. Não era perfeita como a de Ian ou Ignet, mas era, sem dúvida, uma Aura da Espada.
— Eu não estou errada. Meu passado está errado. Esta Aura da Espada prova… que estou fazendo a coisa certa — declarou Illia com uma expressão sombria. — Você tem mais alguma coisa a dizer?
Airen não respondeu imediatamente. Ele a encarou com um olhar profundo e significativo, não com os olhos de feitiçaria que enxergavam a mente das pessoas, mas como um amigo. Illia estava tomada por raiva, obsessão, medo, dor, tristeza e todos os tipos de pensamentos negativos. Ficava claro que esses sentimentos estavam lhe cobrando um preço.
Sim. Era muito menos intenso do que os casos do líder dos bandidos na Fortaleza de Alhaad ou de Charlot e Victor, mas Illia estava trilhando um caminho que levava à sua ruína.
“Eu tenho que pará-la!” pensou Airen. A vontade daquele homem misterioso reagiu à fraca energia demoníaca e tentou controlar sua mente, mas não conseguiu. Diferentemente de antes, o coração apaixonado de Airen suprimiu completamente aquela vontade. Sem perceber, ele pensou em palavras para tentar persuadi-la, mas logo desistiu. Não conseguia encontrar as palavras certas e percebeu que nenhuma palavra iria detê-la. Foi então que se lembrou de algo.
Uma memória antiga veio à sua mente. Era novamente da Academia de Esgrima Krono. Lembrava-se de como Judith mudara a opinião de Brett naquele momento, algo que ninguém mais poderia ter feito. Ela havia realizado uma única ação que teve mais impacto do que cem palavras. Com isso em mente, Airen falou.
— Então, você pretende manter o título de campeã até abril, certo?
— Sim.
— Não vai mudar de ideia, não importa o que eu diga, certo?
— Sim…
— Então só me resta uma escolha.
— O quê?
— Vou tirar você do trono de campeã.
Illia olhou para Airen, entorpecida. Parecia confusa, o que era compreensível. “Quem vai derrubar quem?”
Airen então detalhou seu plano.
— Vou agora mesmo me registrar como gladiador na Terra da Provação. Depois, participarei das lutas, aperfeiçoarei minhas habilidades, subirei nas classificações… — Ele continuou enquanto Illia apenas o ouvia, ainda confusa. — E, ao fazer isso, alcançarei seu nível em 120 dias… até a luta de defesa do título em abril. Vou parar você lá. E então você vai acordar…
— E ouvir seriamente o que eu tenho a dizer — concluiu Airen com um olhar mais confiante do que nunca.
E Illia não pôde deixar de sentir-se frustrada com ele.