O Coliseu chamado Terra do Início era um dos três grandes coliseus da Terra da Provação e, de longe, o mais popular entre eles. Mas poucos dos que lutavam ali eram realmente habilidosos, por um motivo óbvio: ao contrário dos outros dois coliseus, que aceitavam apenas gladiadores comprovadamente capazes, a Terra do Início era o palco para aqueles que ainda precisavam provar seu valor.
De adolescentes fugitivos que idolatravam espadachins a idosos que desejavam terminar suas vidas de maneira gloriosa, este palco não tinha restrições sobre quem podia competir. Mesmo assim, a Terra do Início era incrivelmente popular entre os espectadores. Alguns até preferiam este coliseu aos outros dois. Havia um charme na incerteza. A atmosfera única permitia que espadachins veteranos enfrentassem completos iniciantes, enquanto o público aguardava ansioso pela aparição de um prodígio desconhecido ou se divertia com um toque de aposta, tornando as lutas muito mais emocionantes do que aquelas nos coliseus onde os resultados eram mais previsíveis.
— Isso aí, moleques! Vamos com tudo!
— Ah, você não é um moleque? Então suba de classe e pare de enrolar aqui!
— Olhem! Não é aquele velho na terceira tentativa?
— Hahaha, vovô! Não se machuque! Espero que pelo menos consiga subir para a classe Peão!
Um velho espadachim que ouviu os comentários virou-se para as arquibancadas e ergueu sua espada. Ele tinha o olhar calmo de um veterano, mas um corpo claramente debilitado. E essa era uma das atrações da Terra do Início — pelo menos para os espectadores.
Andre, um jornalista da Valhalla Semanal, escaneava cada canto do coliseu com um olhar sério, já que estava ali como profissional. Mas ele não era o único profissional presente. Muitos jornalistas estavam ansiosos, empunhando câmeras mágicas, atentos aos gladiadores. Todos pareciam esperar por alguém. Em pouco tempo, todos os jornalistas prenderam a respiração em espanto ao avistarem quem tanto aguardavam.
“Brett Lloyd!”
O filho mais velho da poderosa família Lloyd, do Reino de Gaveirra, e conhecido como o melhor da renomada 27ª Turma da Academia de Esgrima Krono. Com apenas 20 anos, ninguém poderia tratá-lo como um prodígio comum.
— Essa turma? Não são ruins. Mas têm muito a melhorar. Posso pensar em alguns bons… mas até eles precisam de muito treino.
Essas palavras foram ditas por Ian, o Diretor de Krono, em uma ocasião. Embora não soassem como um elogio, todos no continente sabiam o quão exigente Ian era com seus aprendizes. E Brett Lloyd era um dos poucos que Ian considerava ‘bons’. Apesar de não ser do lado ocidental do continente, Brett já atraía a atenção pública quando aparecia em artigos.
“Ainda bem que não demorei para vir, achando que teria mais tempo com o período de espera.”
“Será que ele é tratado de forma diferente por ser de alta nobreza? Talvez tenha conexões na Terra da Provação para conseguir fazer o teste tão rapidamente…”
Fazer o teste um dia após chegar a Aisenmarkt era quase como trapacear, mas nenhum jornalista se importava. O interesse deles estava em assistir o melhor de Krono demonstrar suas habilidades excepcionais. Enquanto estavam imersos nesses pensamentos, outra iniciante chamou atenção. Era Judith, a espadachim prodígio de origem humilde, conhecida por ser tão habilidosa quanto Brett. A expectativa dos jornalistas aumentou ao verem seu cabelo ruivo preso contrastando com o azul de Brett. Andre também aguardava ansiosamente o início do teste. Até que avistou uma figura irritante ao longe.
— Heintz. Eu sabia que ele viria…
Heintz, o jornalista sênior do Arena Semanal, um dos maiores jornais, estava no coliseu, o que fez Andre franzir o cenho. Considerando a carreira do elfo, seria estranho se ele não aparecesse. Heintz era mais habilidoso que a maioria dos jornalistas ali.
— Bem… Terei que competir com ele pela qualidade do artigo… — murmurou Andre.
— Hã? Perdão, senhor? — perguntou o estagiário ao lado dele.
— Nada. Ah, droga! Ambos estão começando o teste ao mesmo tempo! Vá atrás de Judith.
Andre mandou seu estagiário, um tanto lento, seguir Judith e concentrou-se em Brett. A Terra do Início estava tão movimentada que realizava múltiplos testes simultaneamente. Andre ficou desapontado por não poder ver ambos os prodígios, mas suspirou e focou em Brett. E ficou ainda mais frustrado ao ver quem seria o adversário de Brett: o velho espadachim que já falhara muitas vezes.
— Acabou! Brett Lloyd vence!
— Ah, que droga! Tinha um bom pressentimento dessa vez!
“Pro inferno com você! Sua mediocridade nem deixou eu ver as habilidades do prodígio por um minuto!”
Andre queria gritar, mas sabia que não podia. Essa era a natureza da Terra do Início. O teste exigia três lutas, então ele esperava algo mais interessante ao final, embora as chances fossem baixas.
“Tomara que surja algum lutador habilidoso escondido para enfrentá-lo… mas isso não vai acontecer.”
Andre clicou a língua, desapontado, até ouvir um som metálico mais forte que os outros e uma explosão de aplausos. Naturalmente, ele se virou para ver o alvoroço e avistou um jovem bonito e de aparência gentil. Parecia que o jovem havia vencido a luta com apenas um golpe, já que seu oponente tinha um olhar derrotado. Mas isso era comum na Terra do Início, onde espadachins de todos os níveis se enfrentavam.
— Mas o oponente parecia ter um físico robusto… Que estranho — murmurou Andre antes de se virar novamente. Ele estava ocupado demais para se focar naquele jovem. Brett e Judith eram prioridades, mas outros espadachins também estavam em sua mente.
“Preciso ver Karis e Garret, e quero olhar Tristan se puder…” Pensava Andre quando seu estagiário voltou ofegante da luta de Judith.
— Como foi? — perguntou Andre.
— Judith venceu com um único golpe. O oponente não era bom, então não deu para ver muito, senhor.
— Sim, eu já esperava isso… Ah, tanto faz. Oh! A luta de Tristan está começando! Vamos!
— Sim, senhor!
Andre e o estagiário correram apressados para acompanhar os testes dos novos gladiadores. Não podiam descansar, mesmo após as lutas terminarem, pois precisavam preparar os rascunhos para publicar os artigos o mais rápido possível. Pelo menos, era bom que Brett e Judith não estivessem mais fazendo os testes ao mesmo tempo.
— Acabou! Brett Lloyd vence!
— Ugh… Habilidades excelentes, senhor.
— Obrigado. Você também foi bom — disse Brett.
Brett concluiu suas três lutas. Saiu do palco com postura impecável, acenando para os aplausos da plateia, e entrou no prédio conforme a orientação dos funcionários. Os testes haviam terminado, mas os resultados só seriam divulgados após todas as lutas, então os lutadores precisavam esperar. O estagiário, observando a saída elegante de Brett, comentou.
— Ele realmente age como um nobre de alta classe.
— Sim, suponho que sim — respondeu Andre.
— Acho que não teremos muitas chances de entrevistá-lo.
— Também vejo isso.
Brett nem sequer olhou para os jornalistas enquanto reagia aos aplausos do público. Parecia ter tido uma má experiência com jornalistas no passado. Andre resmungou:
— Esse é o problema com esses jornalistas idiotas. Por que não podem ser educados e bem-comportados? Basta abordá-los gentilmente e perguntar com calma. Irritá-los e incomodá-los os torna frios com jornalistas assim.
— Eu… acho que o senhor está certo, senhor.
— Hã? O que está acontecendo ali? — perguntou Andre, intrigado.
— Oh, a Judith vai começar a luta!
O estagiário gritou apressadamente enquanto Andre franzia a testa. Instintivamente, Andre virou-se para assistir Judith. Diferente do terceiro adversário de Brett, Judith parecia estar enfrentando um espadachim mais habilidoso.
— Certo! Acho que podemos conseguir algo… Hã?
O problema era que, ao mesmo tempo, um dos espadachins em sua mente também estava começando uma luta. Era o mercenário veterano, Karis. Antes de Brett e Judith ganharem os holofotes, Karis era um dos gladiadores mais aguardados. Andre não teve escolha e franziu ainda mais a testa.
— Você vai assistir à luta de Karis — ordenou Andre.
— Sim, senhor.
O estagiário assentiu rapidamente e correu. Andre, então, focou ansiosamente na luta de Judith. Quanto tempo seu adversário resistiria? Ele esperava que a luta durasse um pouco mais ou que Judith demonstrasse mais de suas habilidades. Enquanto aguardava, Andre teve um pensamento súbito.
“Por que não consigo encontrar aquele maldito do Heintz em lugar nenhum?”
Era estranho. O foco do dia deveria ser Brett e Judith. A menos que algum cavaleiro de uma família nobre famosa ou um espadachim de uma prestigiosa academia de esgrima aparecesse, era natural que toda a atenção estivesse nos dois. Na verdade, todos os jornalistas que Andre conhecia estavam seguindo a mesma linha de pensamento: observar Brett e Judith. Mas então…
“Por que Heintz não está aqui?”
Andre franziu a testa. Ele entenderia se o elfo não tivesse ido ao coliseu naquele dia. Mas ele tinha visto Heintz antes do início dos testes, então era muito estranho o elfo não se interessar pelas lutas de Brett ou Judith.
“Ou será que ele está escondido nas arquibancadas ou nos galhos de alguma árvore assistindo?”
Andre considerou essa possibilidade. Diferente dele, que não era muito atlético, o elfo era ágil, atraente e extremamente competente. Pensar nisso o irritou. Ele estava tentando se acalmar quando viu o estagiário voltando com uma expressão apática. Andre gritou irritado.
— Por que está voltando, seu idiota? Eu disse para assistir à luta de Karis!
— Hã? E-eu…
— Hã? Acorda, droga, e vai assistir à luta dele!
Andre ameaçou, brandindo o punho. Careca e corpulento, ele era uma figura temida pelos estagiários. O jovem cedeu, mas não voltou. Em vez disso, falou com a voz trêmula.
— A-a luta… já acabou, senhor.
— O quê?
— A luta acabou. Karis perdeu. Instantaneamente.
— Hm. Entendi. Então Karis venceu… Não, o quê? Ele perdeu?
“Do que você está falando?” Andre ia perguntar quando ouviu o som de espadas se chocando. Ele e o estagiário se viraram para Judith e viram a espadachim de cabelos vermelhos saindo do palco após uma vitória rápida. Andre ficou furioso por ter perdido a luta importante, mas precisou se conter para fazer outra pergunta.
— Então você disse que ele perdeu? Karis?
— S-sim, senhor. Ele perdeu tão rápido que nem consegui ver direito. Acabou enquanto eu estava correndo até lá.
— Contra quem ele estava lutando?
— É aquele ali…
O estagiário apontou para alguém, e Andre virou a cabeça. Então ele viu o jovem loiro e gentil que tinha notado brevemente antes.
E também viu Heintz, o jornalista elfo, escrevendo avidamente algo nas proximidades.