Segunda-feira, o início da semana, era um dia significativo em Aisenmarkt. Era o dia em que todas as revistas relacionadas a gladiadores eram lançadas. Como mencionado antes, os habitantes de Aisenmarkt amavam apostar quase tanto quanto amavam assistir às lutas. Embora alguns não tivessem tempo para ir aos coliseus, ler sobre novos gladiadores e conhecê-los era um hobby emocionante por si só.
— Oh, temos aprendizes de Krono desta vez.
E as revistas desta semana traziam artigos empolgantes. Alguns prodígios muito especiais estavam sendo apresentados. Os ex-aprendizes da Academia de Esgrima Krono, que haviam permanecido na academia por quase seis anos, finalmente haviam saído para o mundo.
— Brett Lloyd e Judith… Já ouvi esses nomes antes. Não são os aprendizes mais promissores da Geração Dourada?
— Certo. Ouvi dizer que o diretor Ian os elogiou publicamente… É impressionante, considerando o jeito dele.
— Então temos futuros Mestres Espadachins na cidade.
— Ah, pare com isso. É um exagero… Se bastasse a fama para se tornar um Mestre Espadachim, já teríamos milhares deles por aí.
— Sim, acho que sim. Mas eles ainda vão alcançar posições altas, não acha?
— Provavelmente.
Os cidadãos que limpavam a rua em frente às suas lojas discutiam sobre o desempenho dos aprendizes formais da 27ª Turma no ringue. Conversar sobre quão longe os novos gladiadores poderiam chegar era o passatempo favorito do povo de Aisenmarkt.
O homem de nariz grande foi o primeiro a falar.
— Mas eles são os melhores prodígios das terras centrais. Acho que eles vão chegar ao nível Rainha.
Nível Rainha. Era o título dado a espadachins muito habilidosos, que tinham permissão para pisar no terceiro coliseu, a Terra da Glória. Talvez por terem ouvido tanto sobre a 27ª Turma de Krono, o homem de nariz grande acreditava que os novos gladiadores alcançariam o palco glorioso. Mas os outros dois tinham opiniões diferentes. O homem de bigode até franziu a testa enquanto balançava a cabeça.
— Não, acho que eles não chegam a Rainha.
— Eu concordo. Hoje em dia, é preciso ser pelo menos um especialista para alcançar o nível Rainha.
— Mas quem sabe se os aprendizes da 27ª Turma são especialistas?
— Eles acabaram de sair para o continente. Isso não é possível.
— Mas…
O homem de nariz grande parecia decepcionado com o argumento. Esses dois homens sempre discutiam. Mas o que o homem de bigode explicou a seguir era bastante lógico.
— Sabe a idade média em que os Mestres Espadachins atuais se tornaram especialistas?
— Hã? Não faço ideia.
— Por volta dos vinte anos. Alguns foram mais lentos, outros mais rápidos, mas é por aí. Brett e Judith nem têm vinte anos ainda.
— Oh…
— Entendeu agora? É por isso que eu disse que não é possível.
O homem de nariz grande assentiu com um olhar compreensivo. Compará-los com os atuais Mestres Espadachins fazia sentido. Saber que até os melhores espadachins do continente não se tornaram especialistas na adolescência fazia parecer que, mesmo sendo os melhores da 27ª Turma de Krono, alcançar esse nível seria impossível.
— Mas bem, acho que não é totalmente impossível.
Um homem mais baixo, que estava calado até então, falou, e os outros dois assentiram. Eles já tinham visto isso duas vezes antes: espadachins incrivelmente talentosos que dominaram todos os Mestres Espadachins.
— Se você tiver talentos como Ignet Cresensia, que se tornou uma mestre aos vinte anos, ou nossa campeã atual, Illia Lindsay… Dá até para alcançar o nível Rei.
— Ouvi dizer que Sir Julius Hule se tornou especialista aos quatorze anos. E o diretor Ian, acho que com quinze. Então, se você for tão talentoso assim, talvez seja possível.
— Exatamente.
Os três não pareciam tão sérios na conversa, no entanto. Era compreensível. Por mais incríveis que fossem os aprendizes da 27ª Turma de Krono, ainda eram apenas prodígios. Compará-los aos maiores talentos de toda a história do continente parecia exagerado. E por isso as pessoas não levavam muito a sério o terceiro aprendiz, Airen Farreira. Seu objetivo parecia irreal.
“Talvez ele consiga algo no nível Bispo. Mas os lutadores no nível Torre não são fáceis. Acho que ele exagerou para chamar atenção… Mas foi demais.”
“Eu gosto do caráter confiante dele. Talvez eu vá assistir a uma luta dele algum dia. A Arena Semanal parece ter uma opinião muito alta dele, mas não confio tanto nessa revista.”
“Talvez vejamos isso daqui a um mês… Se ele ainda estiver por aí, eu vou dar uma olhada. Antes disso, vou assistir à Judith. Não posso deixar de torcer por plebeus.”
Os três comerciantes pensaram nos três prodígios de Krono, mas não por muito tempo, pois tinham outro assunto para discutir.
— Chega disso. E as lutas do nível Rei desta semana?
— Temos um novo lutador, Kroshu, o especialista da lâmina de um gume, contra o quarto colocado, Grayson Regis.
— Ah, quero assistir à luta do Kroshu… Mas droga, não tenho dinheiro para o ingresso.
— Você quer ver o Kroshu? Ele não é do leste?
— Não importa de onde ele é. Você devia ter visto ele. É…
Havia prodígios e gênios em todas as gerações que eram exaltados pelo povo. Mas nem todos cumpriam as expectativas, já que apenas aqueles que suportavam as dificuldades e sofrimentos podiam ser considerados verdadeiros espadachins. O povo de Aisenmarkt sabia disso muito bem, por isso não prestava tanta atenção em jovens espadachins quanto nos veteranos.
Era o terceiro dia desde que o grupo de Airen chegou ali. O mundo ainda não estava pronto para aceitar o terceiro gênio.
Enquanto isso…
Illia Lindsay, que estava diante do sacerdote, falava distraidamente sobre o que tinha em mente. Ela sempre dizia o que pensava, mas hoje estava mais falante. Era porque Airen, um amigo precioso, veio vê-la após tanto tempo.
“Eu me perdi na forma como os outros me veem? Apenas persegui alguém, e isso não tem sentido, então devo desistir? Todo o esforço e todas as conquistas foram inúteis?”
Nos últimos seis anos, Illia nunca duvidou de seu caminho. Ela enfrentou dificuldades. As zombarias e os olhares de desprezo a atormentaram. Mas conseguiu superar porque acreditava que aqueles eram seres horríveis esperando para humilhar sua família, seu irmão e ela mesma.
“Eu não posso perder para aqueles que só desejam meu fracasso. Tenho que fazer isso, não importa o quanto doa. Preciso superar. Preciso me dedicar ainda mais. Tenho que usar essa raiva como combustível para alcançar alturas maiores!”
Mas desta vez, ela não conseguia. Quem trouxe essa turbulência à sua mente foi Airen, seu amigo precioso.
— Estou envergonhado de dizer isso, mas você é minha amiga mais preciosa. Nos vemos na próxima vez.
Ela se lembrava do que Airen havia dito antes de partir. Lembrava-se de sua expressão, do ambiente, de tudo naquele momento. E por isso sabia que seu amigo queria o melhor para ela. E se… aquela pessoa disse que seu caminho estava errado…
“Talvez eu seja o problema.”
Illia não hesitou em expor seus pensamentos. Seu habitual olhar frio havia desaparecido. Ela até tinha lágrimas nos olhos enquanto olhava para a túnica branca do sacerdote. Não conseguia erguer a cabeça para encará-lo, então apenas a abaixou e esperou que ele resolvesse seu dilema, como sempre fazia. Depois de um tempo, uma voz calma e pacífica, que a tranquilizava, falou.
— Seu amigo lhe deu uma pergunta retórica, então eu também lhe darei uma.
— Uma pergunta retórica…? — Illia perguntou.
— Sim, é uma história curta. Gostaria de ouvi-la?
Illia assentiu com um olhar confuso. O sacerdote sempre lhe dava conselhos diretos e sábios que a tranquilizavam, então achou estranho ele propor uma pergunta retórica, mas imaginou que devia haver uma razão.
Logo, o sacerdote começou a contar uma velha história.
— Um homem musculoso estava observando a bandeira tremular quando um velho sacerdote se aproximou dele com uma pergunta. Por que você acha que essa bandeira tremula? O homem respondeu: Deve ser o vento.
— Então o sacerdote respondeu: Não. O que tremula é sua mente, não a bandeira.
— O que você acha que o homem fez depois disso?
— Eu… não sei — respondeu Illia, em tom baixo.
Na verdade, ela tinha uma ideia, já que havia ouvido essa história antes. A mensagem era que o importante não era o ambiente, mas sim a mente de cada um. Colocando isso em sua perspectiva… parecia que o sacerdote estava lhe dizendo para focar sem se deixar abalar. Talvez até estivesse dizendo que Airen tinha razão. Ela estava perdida nesses pensamentos quando o sacerdote continuou com uma voz gentil.
— O homem ficou com raiva e deu um soco no rosto do velho sacerdote.
— Então disse ao sacerdote: Não sei o que está tremulando, minha mente ou a bandeira, mas seu dente com certeza está tremulando — contou o sacerdote.
— Você está brincando comigo agora? — perguntou Illia, desconfortável.
— Não, de forma alguma. Estou lhe dizendo para não dar ouvidos a palavras que só causam dor de cabeça e não ajudam em nada. Irmã, por favor, olhe para mim.
Illia ergueu a cabeça e viu os olhos claros do sacerdote. Eram olhos profundos como um lago, que tranquilizavam a mente.
— O sacerdote nessa história deve ter pensado que não é possível parar o vento, então a bandeira precisa tremular. Mas isso é uma desculpa para os fracos.
— Não acha? Você, minha irmã, enfrentou esses ventos. Tornou-se uma cavaleira dos Cavaleiros do Luar para fazer os nobres vizinhos tremerem diante de você, e calou a boca do povo ignorante ao se tornar campeã da Terra da Prova. E agora, como a mais jovem mestra da espada, como se sente?
— Aqueles que me consideravam… inferior a Ignet começaram a calar a boca.
— Sim. Isso é o mais importante.
O sacerdote levantou-se e deu um leve tapa nas costas de Illia. Ela aceitou com serenidade. O sacerdote continuou.
— Avance. Trabalhe mais até que todos os ventos desapareçam do mundo. Até que todos os idiotas do continente fechem suas bocas.
— Obrigada, senhor… Foi de grande ajuda.
Logo, os olhos de Illia se encheram de determinação quando ela se levantou com uma expressão resoluta. Ela estava cheia de paixão, diferente de sua aparência incerta e frágil de antes. O sacerdote sorriu e fez uma reverência, e Illia também se curvou para expressar sua gratidão.
Sua mente voltou ao começo, similar ao momento em que havia perdido seu irmão. A raiva reacendida começou a queimá-la novamente. A espadachim de cabelos prateados, que começava a brilhar intensamente, pelo menos por agora, deixou a sala.
O sacerdote observou em silêncio e assentiu. Depois, abriu a janela para olhar lá fora, como se nada tivesse acontecido. O vento frio do inverno soprou, mas ele apenas ficou ali por um longo tempo.
No dia seguinte, Airen levantou-se cedo, como de costume, e pensou sobre o sonho. Já fazia muito tempo desde a última vez que ele havia mudado.
“Não… hoje não foi a primeira vez.”
Era verdade. Ele tinha certeza disso agora, mas hoje não foi a primeira vez que o sonho mudou. Depois do dia em que encontrou Illia e prometeu a si mesmo detê-la, o homem no sonho começou a envelhecer.