— Vamos começar. Dê o seu melhor.
Quando Airen ouviu John dizer para dar o seu melhor, pensou no que havia feito no passado. Lembrava-se do quanto havia treinado intensamente sua esgrima nos últimos anos. Mesmo excluindo os tempos em que era apenas uma ‘marionete’ na academia, nunca deixara de praticar. Mas, se perguntasse a si mesmo se havia dado o seu máximo todas as vezes…
“Não, isso não é verdade.”
Airen não conseguia afirmar isso com confiança, e era evidente. O esforço não se resumia apenas a ações, mas também à mente. Nas ações, ele se empenhara o máximo que podia, mas mentalmente, nem sempre estava em seu melhor estado.
Sua mentalidade era diferente de antes de começar sua jornada. Mudara depois do Mundo da Feitiçaria, e de novo após o incidente na Fortaleza de Alhaad. Conhecer Ignet despertara sua competitividade, e reencontrar Judith e Brett amplificara esse sentimento. Cada experiência moldara sua mente.
Agora, ele se perguntava: estava pronto para se concentrar totalmente na esgrima?
“Eu posso fazer isso.”
A resposta foi ‘sim’. O fogo começou a arder com uma postura de aço, reforçado por uma vontade inabalável. Um desejo forte tomou conta dele enquanto começava a brandir sua espada.
Seu oponente imaginário era Illia Lindsay. A primeira pessoa a estender a mão para ele. Ela fora sua primeira meta, brilhando intensamente em seus olhos. Mas isso havia mudado. O fogo dela, que aquecia quem quer que a observasse, agora estava consumindo-a.
“Eu preciso detê-la.”
Sim. Airen precisava detê-la. Airen não sabia como devolvê-la ao caminho certo, mas ao menos precisava impedi-la. Conversar não havia funcionado, então seria necessário recorrer à força. Para isso, ele precisava de uma paixão ainda mais profunda dentro de si.
Mesmo com esses pensamentos, seus movimentos de espada continuaram. Eram mais ferozes e pesados do que antes. Ele não lutava contra o vazio. Em sua mente, a imagem de Illia Lindsay estava à sua frente. Ela parecia feroz, assim como sua espada.
Ela era forte. Mesmo sendo uma adversária imaginária, Illia parecia mais poderosa do que qualquer especialista que Airen já enfrentara. E era compreensível: ela era uma Mestre Espadachim, a mais jovem a empunhar uma Aura da Espada, uma das cem melhores espadachins do mundo. Mas Airen não aceitava a derrota. Seus olhos ardiam com uma chama intensa.
— Hah!
Ele atacava, cortava e perfurava.
— Hmph!
Defendia, recuava e investia novamente. Movia-se sem descanso, tanto o corpo quanto a espada. Ele esqueceu de John Drew e Lulu, que estavam ali. Estava sozinho com a Illia imaginária em sua mente. E… depois de muito tempo.
Airen golpeou o chão com a espada e parou. Seus olhos, que estavam fixos na batalha imaginária, encontraram foco novamente. O tempo voltou ao normal. Ele recobrou os sentidos e murmurou:
— Quanto tempo passou…?
— Cerca de uma semana.
A resposta veio imediatamente. Airen virou-se e viu Lulu com sua habitual expressão incompreensível e John com um olhar atordoado.
— Já faz tanto tempo? — perguntou Airen a Lulu.
— É pouco. Considere os cinco anos que você passou no Mundo da Feitiçaria… Ainda sonho com aqueles tempos.
— Desculpe.
— Não precisa se desculpar! De qualquer forma, uma semana é pouco quando você desperta a feitiçaria. Claro que é. — Lulu assentiu enfaticamente, com os braços cruzados, e perguntou: — Então, qual habilidade você despertou?
— Hã?
— Não sabe? Acho que deve ser algo relacionado à esgrima… Instrutor de esgrima! — O que acha?
John ainda olhava para Airen, atordoado. Ele não conseguia compreender como alguém podia brandir uma espada por uma semana inteira e parecer tão bem. Nada fazia sentido. Ele não conseguiu responder à pergunta de Lulu, pois havia algo mais urgente. Deu um tapa no rosto para se recompor.
— Acho que temos um assunto mais urgente agora — disse John.
— Qual é? — perguntou Airen.
— Sua próxima luta está marcada. Uma luta do nível Bispo. Começa às 14:00h de hoje. Sua luta será a primeira de quatro programadas para o dia.
— Que horas são agora…?
— Meio-dia. Considerando que você precisa de uma hora para chegar ao coliseu, não há muito tempo…
John falou com uma expressão pesada. Não conseguia dizer a alguém que acabara de treinar por uma semana inteira que fosse lutar. Mas Airen não se importou. Ele parecia animado.
— Isso é mais do que suficiente — disse Airen.
— Hã?
— Vou me lavar e me preparar. Pode me indicar o banheiro?
— Claro…
John assentiu, ainda confuso. Mas Airen estava realmente bem. Ele já havia enfrentado testes em Krono sem nem sequer se limpar antes.
“Eu realmente despertei uma habilidade? Não sinto diferença…”
Airen seguiu John com uma expressão tranquila.
Depois de se preparar, Airen apareceu na Terra das Oportunidades, o segundo coliseu na Terra da Provação.
A luta de gladiadores de nível Bispo entre Dominique e Airen Farreira atraiu muitas pessoas ao coliseu. Havia mais espectadores do que em lutas regulares de Bispo.
— Ouvi dizer que ele também é da 27ª Turma de Krono.
— Sim. Nunca ouvi o nome dele, mas só a 27ª Turma já é suficiente.
— Mas ele pareceu arrogante demais. Nem dá para garantir que ele chegue ao nível Rainha, mas disse que venceria todos com um golpe…
— Talvez ele só tenha enfrentado oponentes fracos na região central e não saiba.
— Vai ser divertido, de qualquer jeito. Independentemente do resultado, já vale o papo com uma bebida.
— Sim, é isso. Fiquei chateado por não conseguir ingresso para ver Judith, mas isso deve ser interessante também.
— Ei, garoto! Lute direito!
— Dominique! Não perca para um novato que ainda é só um prodígio! Mostre a ele o que é um espadachim do oeste!
As torcidas ficavam cada vez mais barulhentas enquanto o relógio se aproximava das 14:00h. Alguns até gritavam palavrões, já bêbados. Mas havia alguém mais irritado do que qualquer outro.
Dominique, um mercenário da região oeste e adversário de Airen naquele dia, estava furioso.
“O quê? Ele vai vencer todos com um golpe até chegar ao nível Rainha?”
Dominique deu um sorriso irônico ao lembrar da entrevista do jovem loiro na revista. Era absurdo. Embora as palavras de Airen não especificassem Dominique como alvo, ele se sentiu humilhado.
Reconhecia que o garoto não era qualquer um. Como aprendiz formal de Krono, a melhor academia de esgrima da região central, era óbvio que ele seria habilidoso. Dominique até admitia a possibilidade de perder.
“Mas com um golpe? Isso não vai acontecer!”
Dominique estava determinado a lutar com tudo. Ele mostraria suas habilidades como um gladiador de alto nível Bispo. Estava perdido nesses pensamentos quando todas as preparações terminaram, e o juiz chamou:
— Gladiadores! Avancem!
Dominique bateu no peito coberto por sua armadura de gladiador, depois tocou o elmo antes de subir ao palco. Era um ritual habitual para ele.
Mas o oponente de Dominique, Airen, parecia incrivelmente calmo. O jovem apenas o observava, imóvel. Ele não parecia um garoto. Apenas estar ali, parado, emanava uma sensação estranha e ameaçadora.
“Então você tem alguma habilidade, não é…?”
Dominique murmurou e segurou sua espada. “Vou começar na defesa. Observar o estilo dele primeiro e, então, atacá-lo. Ele vai avançar direto para cumprir o que disse, então, se eu estiver preparado…”
— Vocês dois estão prontos? — perguntou o juiz, confirmando se ambos entendiam as regras e estavam preparados para a luta. Dominique gritou que estava pronto, enquanto Airen apenas assentiu.
O juiz também assentiu, saiu do palco para não interferir na luta e levantou a mão. Dominique focou seus sentidos na mão do juiz. Assim que ela caísse e ele gritasse ‘Comecem!’, o jovem certamente investiria contra ele. Isso já estava decidido. Era como uma questão de resposta aberta. Dominique tinha a vantagem…
— Comecem!
Dominique ainda estava nesses pensamentos quando Airen saltou e passou por ele em um disparo. Chocado, Dominique virou-se imediatamente. Seu rosto ficou vermelho de raiva ao pensar que seu oponente o havia ignorado e apenas corrido para o outro lado. Mas isso não era verdade.
— Hã…?
A espada de Dominique caiu ao chão, embora ele não a tivesse soltado.
Airen cortou a lâmina, mas não a espada inteira, fazendo-a cair ao solo. Dominique ficou devastado ao perceber isso, e o juiz, atordoado, anunciou o resultado:
— A-a luta acabou! Airen Farreira vence!
— Ah… Waaah!
A multidão reagiu ferozmente. Todos os que o zombaram ou o elogiaram gritaram em comemoração. No fim, o que os espectadores queriam era uma luta impressionante com um gladiador forte. Não havia motivo para zombar de Airen por ter cumprido esse desejo.
O apresentador subiu ao palco enquanto Dominique saía sozinho. Estava lá para entrevistar o vencedor, mas sabia que nem todos os lutadores gostavam disso.
“Ele não vai fazer isso”, pensou o apresentador.
Era óbvio. Alguém que odeia entrevistas não faria uma promessa tão provocativa. O apresentador aproximou seu microfone mágico da boca de Airen e perguntou:
— Parabéns pela vitória. Você venceu com um golpe, como prometeu. Como se sente sobre isso?
— Não tenho muito o que dizer sobre isso… — respondeu Airen.
— Hã?
Foi surpreendente. Um jovem que fez uma promessa tão ambiciosa soar tão modesto? Mas não era bem isso.
— Apenas fiz o que disse que faria. Não é nada especial. Acho que não terei muito o que dizer até me tornar nível Rainha — explicou Airen calmamente, virando-se para o apresentador. — Desculpe, mas tenho negócios a resolver.
Airen encerrou a entrevista brevemente e desceu do palco. Inúmeros jornalistas se reuniram ao seu redor com mais perguntas, mas Airen não respondeu. Ele sabia que teria que lidar com a imprensa se quisesse enfrentar a campeã, mas…
“Quero treinar esgrima por enquanto.”
Durante a luta contra Dominique, ele percebeu algo sobre a habilidade de feitiçaria que havia adquirido. Agora que tinha uma ideia vaga, não podia perder tempo com entrevistas. Enquanto voltava para a mansão de John, seu corpo cortava as ruas rapidamente.
No dia seguinte, as pessoas de Aisenmarkt começaram a falar mais seriamente sobre o terceiro aprendiz de Krono.