“Um duelo de esgrima é mais delicado e complexo que o xadrez!”
O combate era muito diferente. O xadrez acontecia em um espaço limitado de oito casas na vertical e na horizontal, enquanto os duelos de esgrima ocorriam em ambientes muito mais amplos e variados. Mesmo na arena de gladiadores, que era limitada, o combate era muito mais livre que o xadrez. E isso não era tudo. Havia uma infinidade de fintas que podiam ser usadas. Comparado ao xadrez, com suas sete peças, a forma das espadas era incontável, criando estilos de esgrima praticamente infinitos.
— Um mestre de xadrez ficaria furioso se ouvisse você dizer isso — disse Lulu.
John estremeceu quando sua patrocinadora, Lulu, fez tal comentário, mas manteve sua crença. Airen, outro espadachim, também concordava com esse pensamento. Ele lutava para acompanhar a sequência incessante de movimentos cheios de fintas de John, que fluíam como um rio sem fim em sua direção.
Mas a esgrima de John seguia regras. Alguns padrões e situações similares aconteciam nos duelos, e John os categorizava, usando fintas amplas que poderiam funcionar em cada estilo. Em seguida, explicava logicamente por que aquela finta funcionava. Assim, Airen aprendeu que havia equilíbrio e sistema até nas fintas. Mas digerir todas as fintas derivadas dessas lições era difícil até mesmo para ele.
Foi então que Airen parou de se concentrar no que acontecia na superfície e começou a focar no estilo de esgrima de John Drew.
O que é uma finta? É o termo usado para descrever comportamentos ardilosos feitos para enganar alguém. Um exemplo seria jogar ‘pedra, papel e tesoura’, fingindo usar tesoura e, no final, mostrando papel. O oponente usaria pedra para vencer a tesoura e perderia para o papel. Um resultado frustrante para quem foi enganado.
“Mas também é arriscado.”
A maneira mais eficiente de escolher papel seria simplesmente usá-lo desde o início. Fingir usar tesoura era ineficiente, pois apresentava um risco maior se o oponente não caísse na armadilha. Por isso, quem usava fintas precisava esconder sua intenção de forma discreta e elegante, além de se esforçar para tornar o ‘papel disfarçado de tesoura’ mais convincente, fazendo o adversário perder o foco. Mas Airen parou de tentar aprender isso diretamente e começou a observar primeiro.
“Isso é melhor”, pensou.
Felizmente, os sentidos de Airen estavam extremamente aguçados no momento. Ele conseguia captar detalhes sutis, como a leve inclinação dos pés, os movimentos dos ombros, o olhar e as mudanças de expressão. Depois, começou a comparar tudo isso com a esgrima convencional que já conhecia. Assim, percebeu quais partes dos movimentos de John eram artificiais e quando havia fintas iminentes. Ele conseguiu aprender muito mais rápido do que através de palavras.
Mas isso não resolvia tudo. Airen podia perceber quando o oponente tentava usar fintas, mas prever exatamente quais eram era outra história. Isso era uma questão de falta de experiência. No entanto, identificar quando o oponente estava tentando enganá-lo e se manter atento, sem ficar ingenuamente alheio, permitiu que ele reagisse melhor. Ele não caía mais em armadilhas simples e esperava pacientemente até que o oponente revelasse seu movimento para então reagir.
Com essa dedicação fiel aos fundamentos, a esgrima de Airen se tornou muito mais estável. E ele agradecia genuinamente a John, que havia possibilitado tal crescimento.
— Muito obrigado! Aprendi tanto com você hoje.
— Oh, Airen! Você aprendeu algo? O Instrutor de Esgrima se saiu bem? — perguntou Lulu.
— Sim. Ele tem sido de grande ajuda. Obrigado novamente!
— Entendo! Então, como sua melhor amiga e grande professora, não posso ficar parada!
Lulu voou até John e, com elegância, bateu palmas, fazendo três moedas de ouro aparecerem no ar. John as pegou rapidamente, surpreso, e percebeu que não eram moedas comuns. No centro de cada uma havia belíssimas gemas incrustadas.
“O quê?! Isso é uma moeda antiga de um reino caído há mais de 700 anos!”
Era um objeto historicamente raro e de imenso valor. Lulu, aparentemente alheia a seu significado, deu tapinhas satisfeitos nos ombros de John.
— Continue com o bom trabalho!
“O que foi que eu fiz…?!” pensou John, perplexo.
Ele havia se esforçado como instrutor de esgrima, e o cliente claramente mostrava progresso. Mas o verdadeiro avanço parecia ter ocorrido onde ele não havia focado. Airen parecia ter melhorado sua esgrima básica, algo que John não havia priorizado. Ser elogiado por isso o deixou desconfortável.
“Por que ele está aprendendo algo que o professor nem sabe? O que foi isso?!”
Ele queria gritar, mas não podia. Como mencionado antes, recusar uma quantia tão generosa era impossível.
“E… é constrangedor perguntar o que ele aprendeu comigo.”
Sim, John podia ter se aposentado dos combates, mas ainda era um espadachim. E, embora nunca tivesse dito a ninguém, pensava em abrir uma academia de esgrima. Não era renomado como espadachim, mas tinha ambição como instrutor. Nesse sentido, sentir-se desafiado ao ver Airen melhorar em algo que ele não havia ensinado o motivou.
“Movimentos básicos? Fundamentos? Tudo bem. Mas vou mostrar que existe um truque para superar isso! Vou ensinar a melhor finta que já criei!”
John tomou sua decisão e olhou para seu aluno com um olhar determinado, o que fez Airen estremecer.
“O que há de errado com ele?” pensou Airen.
O homem tinha um olhar feroz, com uma paixão que não havia demonstrado antes.
— Se estiver tudo bem para você, quero abandonar tudo o que faço a partir de hoje e me concentrar apenas em você… O que acha? Está de acordo? — perguntou John.
— Claro. Muito obrigado!
Airen agradeceu, mas não tinha ideia do que havia motivado a súbita mudança de atitude de John. Mas quem se importava? Ele abriu um sorriso radiante, exibindo os dentes brancos, e falou novamente.
— Estou ansioso por isso.
— Certo… — respondeu John, depois de uma pausa, enquanto pensava.
“Ele é mais bonito quando sorri.” Argh.
Mais dez dias se passaram.
Nesse período, John abandonou seu golfe e suas compras extravagantes para se dedicar exclusivamente a Airen Farreira. Ele sempre acreditou em dar o melhor para um cliente que pagava bem, mas dessa vez estava ensinando como se estivesse formando um aprendiz. Talvez isso tenha dado resultado, pois as fintas de Airen haviam melhorado significativamente em relação a dez dias atrás.
— Ufa, isso é mais parecido com o que eu esperava.
John observava seu aluno com um olhar satisfeito. Airen não havia adotado a abordagem cheia de fintas de seu professor; estava mais focado nos fundamentos. Mas, mesmo sem assumir grandes riscos, agora incorporava fintas sutis aqui e ali de forma discreta. E isso foi suficiente para tornar sua esgrima muito mais intimidadora.
Uma pessoa focada apenas nos fundamentos era bem diferente de alguém que dominava os fundamentos, mas tinha alguns truques na manga. Apenas algumas fintas bastavam para deixar o adversário em alerta diante de várias possibilidades, o que tornava a esgrima de Airen muito mais difícil de enfrentar. Mas nem tudo era satisfatório, mesmo com instruções tão excelentes.
— É difícil encontrar um parceiro para duelos — disse John.
Não havia como encontrar alguém com quem Airen pudesse lutar em seu máximo potencial. Todas as lições exigiam ataques moderados entre Airen e John. Se ambos dessem o melhor de si, mesmo com uma esgrima imprevisível e criativa, John não seria páreo para Airen.
Não tem jeito. As fintas realmente fazem toda a diferença.
As fintas de Airen precisavam de mais prática. Mesmo que ele tivesse aprendido a lógica e o fluxo por trás delas e os praticasse sozinho, usá-los em uma luta real era algo completamente diferente. Para adquirir a sensação de um combate verdadeiro, ele precisava de um parceiro de duelo com habilidades semelhantes às suas. E, claro…
“Um espadachim que pudesse enfrentar um monstro como ele teria que ser, no mínimo, do Nível Rei na Terra da Provação.”
E alguém tão habilidoso jamais duelaria com Airen. John podia garantir as habilidades do jovem, mas a multidão ainda não as reconhecia. Durante as três semanas de treinamento, Airen venceu mais duas vezes, mas nenhuma das lutas durou tempo suficiente para que ele demonstrasse suas verdadeiras habilidades, o que fazia as pessoas continuarem a subestimá-lo.
Nesse sentido, nenhum gladiador sacrificaria seu apertado cronograma para aparecer ali e duelá-lo. Além disso, evitariam Airen caso soubessem de suas verdadeiras capacidades, pois isso poderia prejudicar suas próprias carreiras como gladiadores. Essa situação deixava John ainda mais preocupado, aprofundando suas rugas enquanto pensava no dilema.
— Mestre, temos uma visita.
— Uma visita? Quem…
— Bem, na verdade, não é sua visita, mas da parte do Sr. Airen Farreira. O nome dela é Judith… O que devemos fazer?
Era o nome de uma das três prodígios que haviam vindo para a Terra da Provação. O semblante de John iluminou-se ao ouvir o nome, mas logo escureceu. Mesmo sendo uma das aprendizes formais de Krono, ele acreditava que ela jamais venceria o monstro que era Airen.
“Ouvi dizer que ela nem tem vinte anos ainda… não há como ela ter chance contra esse louco monstruoso.”
Mas ele não podia recusar a visita dela. Assim, ordenou que o servo a trouxesse. E logo…
Depois de observar a espadachim de cabelos vermelhos com seus próprios olhos, John entendeu o quão absurda era a turma do 27º Ano da Academia de Esgrima Krono.
— Que diabos? — Judith exclamou, chocada.
Mas John não era o único surpreso. Judith, que acabava de retornar de um infernal período de treinamento de um mês, falou enquanto olhava para Airen.
— O que diabos você andou fazendo… O que te fez mudar tanto assim?
Ela não falava em seu tom habitual. Sua voz e expressão carregavam raiva, vazio, inveja e emoções complicadas. John sentiu o olhar feroz dela e se afastou. Não era um lugar onde ele deveria se intrometer.
E Airen não recuou. Ele estava silenciosamente relembrando sua esgrima desde que soubera que ela estava vindo, então perguntou a ela, com um tom baixo.
— Devemos duelar?
— Claro… seu idiota.
E com um palavrão, Judith puxou sua espada.