Quando Judith soube pela primeira vez que Airen desafiaria Illia, ficou profundamente abalada por não ter tido coragem de fazer o mesmo. Prometeu treinar mais duro que qualquer outra pessoa para nunca mais sentir humilhação e derrota… Mas desistiu no momento em que viu a Aura da Espada de Illia. Ela transferiu esse peso para o futuro, convencida de que jamais venceria. Postergar foi exatamente o oposto do que Airen havia feito.
Esse fato feriu o orgulho de Judith, levando-a a ultrapassar seus próprios limites. Ela treinou, treinou e treinou. Superou o nível de treino rigoroso que recebera sob Zett Frost. Chegou a esquecer de comer ou dormir devido à dor, mas o que mais a atormentava era aceitar a derrota naquela época. Sem a força de vontade para seguir em frente, ela não era nada. Não conseguia ficar ao lado de Illia, nem de Airen, nem de Brett.
“Treine mais pesado que todos. Supere o que os talentosos fariam. Seja tola e siga em frente como se fosse a espadachim mais burra do mundo!”
E, nesses dias dolorosos, Judith dedicou-se ao limite, e um mês se passou. Finalmente, ela alcançou um resultado significativo. Ainda estava longe de Illia, mas era suficiente para chocar Airen, então foi até a mansão de John Drew. Ela veio para mostrar a ele… que ela também podia, que ele não era o único talentoso.
Mas Airen havia dado mais um passo à frente.
“Droga!” Judith rangeu os dentes ao desembainhar sua espada. Então olhou para Airen, que também estava com sua espada em posição. Ele parecia sólido, como de costume. Não, isso não era verdade. Ele parecia mais calmo, com espaço para respirar. Não sabia o que havia mudado, mas a sensação intimidadora que ele transmitia era muito mais pesada e densa do que antes.
Judith soltou uma respiração quente e começou a caminhar cuidadosamente. Ela desenhou um círculo ao redor de Airen. Sua técnica de movimentação imprevisível era, às vezes, leve, outras vezes, pesada… como se fosse fogo soprando ao vento. Os olhos de John se arregalaram.
— Isso é absurdo…!
Ele estava atônito. Ouviu dizer que a garota ainda não tinha vinte anos, mas possuía um movimento tão estranho e completo, nunca visto antes. Ele mal conseguia acompanhá-la com os olhos. Era evidente que aquela técnica fora criada por ela mesma. John sentiu arrepios ao pensar no talento e esforço que tornaram isso possível. Mas havia outro homem tão extraordinário quanto ela: Airen Farreira.
“Por que não consigo encontrar uma abertura?” Judith pensou.
A esgrima de Airen era pesada e sólida. Sempre era frustrante enfrentá-lo quando ele assumia sua postura defensiva, como lutar contra ferro sólido preso ao chão. Mas existiam formas de lidar com isso. Judith podia encontrar o momento certo ao perturbar a visão dele, como estava fazendo agora, e enganá-lo com movimentos que confundiam os sentidos. Assim como uma brisa balançava uma rocha, Judith estava confiante de que poderia abalar a ‘árvore gigante’ que era Airen. Mas… ele não dava essa oportunidade hoje.
“Droga!”
Não importava o quão imprevisíveis fossem seus movimentos ou quantas ideias novas ela tivesse incorporado ao voltar de Partizan, seu oponente não cedia. Em vez disso, ela se sentia desencorajada. Era como se o olhar calmo dele controlasse não apenas ela, mas todo o ambiente ao redor. Com esse pensamento, ela rangeu os dentes novamente. Parou de circular e se preparou para avançar.
“Se ele não me dá espaço, vou derrubá-lo até ele quebrar!”
Sim. Seu estilo de esgrima nunca foi paciente. Apesar de ter mudado após absorver diversos ensinamentos, originalmente ela sempre atacava de frente. Era tudo ou nada. Judith se determinou e começou a concentrar sua aura nos pés. Esse poder imenso lhe deu força suficiente para saltar até seu oponente em um único movimento.
Foi então que Airen, que estava firmemente de pé, levantou o pé direito, sugerindo que iria chutar algo.
Isso surpreendeu Judith. Ela se lembrou do duelo contra Zett, quando ele inesperadamente pisou no chão e usou as pedras levantadas como ataque. Desde então, ela não o enfrentou novamente, mas aquele ataque permaneceu gravado em sua mente. Então, ela parou o avanço e girou para o lado. Mas nenhuma pedra veio em sua direção. Em vez disso, Airen avançava em alta velocidade.
— Ugh…
“Ele me enganou!” Ela ficou irritada. Foi uma finta simples, mas, por causa dele, perdeu a chance de atacar, ficando desequilibrada. Tentar se defender contra a pesada espada de seu oponente naquela condição foi um grande erro. E o problema era que Airen acabara de começar seu ataque.
Ele não era tão rápido quanto os múltiplos ataques rápidos dela, mas o peso de cada golpe superava qualquer expectativa. Ela bloqueou cinco vezes, mas parecia que suas mãos iam se despedaçar a cada impacto. Ela precisava recuperar a postura, mas os ataques eram tão pesados que ela não conseguia se endireitar.
Depois de defender dezessete golpes, finalmente conseguiu voltar à postura inicial. Saltou para trás para ganhar distância, ofegante, enquanto encarava o oponente. Seus olhos emanavam um calor vulcânico. Mas Airen parecia inabalável. Ele tinha a mesma expressão calma ao fingir novamente que iria chutar o chão.
Não, mas desta vez era real. Judith gritou, furiosa, ao ver as pedras voando em sua direção.
— Seu cabeça de ovo!
Ela cortou as pedras com a espada e avançou contra ele. Sua raiva fervente fazia o sangue circular rapidamente, aumentando sua força muscular de forma impressionante. Preparou um golpe poderoso, capaz de despedaçar rochas e rasgar ferro, mas não alcançou Airen.
Ele desviou delicadamente do ataque, que era controlado pela emoção. Ainda assim, não conseguiu fazer isso perfeitamente, pois a força de Judith era maior do que imaginava. Mas isso não importava. Ele só precisava se mover mais rápido que sua oponente, que estava completamente desequilibrada. Então, trouxe sua espada rapidamente até o pescoço de Judith e falou calmamente:
— Faz tempo desde que ganhei.
— Vamos de novo?
— Não… depois — disse Judith, afastando a espada de Airen com a mão.
Sua voz estava mais baixa que o normal. Seu rosto ficou sem expressão, como se estivesse sentindo algo diferente de quando chegou. Ela o encarou por alguns segundos e se virou.
— Voltarei outra vez — disse.
— Certo…
Airen não conseguiu impedir sua amiga de sair da sala de treinamento. Diferente de antes, agora ele entendia como ela se sentia. Sentiu uma emoção muito mais profunda do que quando ela contou sobre seu passado na frente de Zett. O olhar dela era tão intenso que parecia ter deixado uma marca nele. Ficou em silêncio por um tempo antes de finalmente falar.
— Vou treinar sozinho até a próxima luta — disse.
— Certo… E eu verei o que posso fazer para ajudá-lo a treinar mais — respondeu John, saindo da sala.
Haveria um momento melhor para discutir o custo do reparo do piso danificado.
Após sair da mansão de John Drew, Judith vagou sem rumo pelas ruas de Aisenmarkt.
Alguns moradores a reconheceram e cochicharam, mas ela não se importou. Estava de péssimo humor para reagir. Parecia que eles também perceberam e não a incomodaram. Felizmente.
“Perdi de novo…”
Judith tinha um dos maiores potenciais das terras centrais, não, de todo o continente. Sabia que seu talento era como uma joia radiante admirada por inúmeros espadachins. Mas de que adiantava isso se perdeu de novo? Assim como no exame final, quando eram apenas crianças… Airen Farreira e Illia Lindsay a superaram mais uma vez.
“Não, isso é pior.”
Judith riu. Era verdade. Naquela época, mesmo com a derrota, ela não sentiu sua vontade quebrar. Mesmo quando seus amigos loiro e prateada conquistaram os dois primeiros lugares do ranking e deixaram a academia, ela só murmurou alguns xingamentos, mas nunca sorriu com amargura como agora.
— Talvez… eu devesse descansar por hoje.
Judith sabia que aquilo ainda não tinha acabado. Ela podia ter superado a amargura que caracterizava seus dias nos becos, mas continuava sendo Judith. Mesmo desanimada por um dia, bastava se levantar no dia seguinte sem carregar o peso disso. Sim, era isso que ela tinha que fazer. Mas, naquele momento, não estava com ânimo para treinar. Com passos pesados, caminhou na direção da estalagem. Foi então que um homem de cabelos azuis apareceu à sua frente e a parou.
— O quê…?
Judith perguntou com uma expressão severa. Não parecia que ele estava ali por acaso. Brett claramente havia ido procurá-la. E aquele ‘garoto azul’ não parecia ter intenção de esconder isso, pois falou imediatamente.
— Khubaru conseguiu um bom uísque. Um Laphrow de vinte e cinco anos. Não dá para conseguir em lugar nenhum, por mais que pague. Um bebedor iniciante provavelmente faria careta, mas é tão especial que vai te conquistar no primeiro gole.
— Sai fora… Não vou beber.
— Você que saia fora, se não quiser.
— O quê?
— Estou planejando ficar de muito bom humor hoje, e, quando fico assim, ofereço uma bebida para quem estiver por perto. Não me importo se você não quiser. Se eu te ver, você pega um copo e esvazia. Não aceito sua recusa.
— Que droga é es…
Ela estava prestes a mandar ele parar com as besteiras, mas ele se aproximou mais. Judith franziu o cenho e deu um passo para trás. Então ele também franziu o cenho e falou.
— Lute comigo se tiver um problema com isso.
— O quê?
— Você quer descansar sem que eu te obrigue a beber, mas eu estou planejando fazer todo mundo na estalagem beber.
— Temos um conflito de interesses, então não há escolha. Duelamos, e o perdedor faz o que o vencedor quiser.
— Você está louco? Por que não sai e pega… Ugh, esquece.
Judith, que havia gritado furiosa, balançou a cabeça. Então o fogo reacendeu em seus olhos, com a vontade de derrotar o cara à sua frente.
— Venha, então. Vamos resolver isso agora — disse Judith.
— Certo.
Judith cuspiu no chão e seguiu em frente, com Brett a acompanhando. Caminharam até o terreno vazio que ela havia alugado, onde duelaram até o sol nascer novamente.
Quatro dias após a visita de Judith à mansão de John Drew, Airen teve outra luta de gladiadores. Era uma luta de ascensão que poderia elevá-lo ao grau Rainha, e seu oponente era um cavaleiro errante, Lucas Gibson, amplamente conhecido por possuir habilidades de nível Rainha.
— Uma luta entre especialistas… Que azar para os dois.
— Quem você acha que vence? — Airen Farreira?
— Provavelmente? Acho que as chances são de 70%.
— Hmph. Nunca imaginei que esse jovem seria tão forte…
Diferente do passado, muitas pessoas esperavam que Airen vencesse, já que suas vitórias esmagadoras contra os três últimos oponentes haviam causado uma enorme impressão. Mas, contrariando as expectativas, ninguém acreditava que ele cumpriria sua promessa. Mesmo com diferença de habilidade, Lucas Gibson era um especialista. Seria necessário, no mínimo, um gladiador de grau Rei intermediário para derrotar um adversário desse nível com um único golpe.
— Isso é ridículo. É insano apostar nisso.
— Como alguém pode apostar em algo assim? Meu Deus, não acredito que alguém realmente apostou.
Era certo que essa luta terminaria com Airen sendo visto como um mentiroso. Ainda assim, as pessoas se reuniram para assistir ao confronto. Já não se importavam se ele cumpriria sua palavra; estavam apenas curiosas para ver o quão forte era o prodígio oculto de Krono, pois enfrentar um espadachim especialista poderia revelar isso.
Então, sentaram-se nas arquibancadas, tomando cervejas enquanto esperavam ansiosamente.
Logo, a luta começou. E terminou antes que pudessem sequer piscar.
— Isso é…
Um único golpe. Mais uma vez, Airen derrotou seu oponente com um único ataque, e os espectadores perceberam que haviam cometido um enorme erro de julgamento.