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Reformation of the Deadbeat Noble – Capítulo 138

O Fogo da Vida (2)
Era completamente escuro, e apenas o jovem brilhava sozinho. Khubaru pensou no passado distante, que ele mal podia se lembrar, quando Airen não tinha cor e parecia vazio. Ele não demonstrava a paixão comum da juventude e parecia ter trancado até as menores emoções. Airen parecia aço frio, a ponto de Khubaru ter subestimado sua idade.

“Pensar que um homem assim agora carrega um fogo tão apaixonado em seu coração.”

Como isso aconteceu? Foi por causa da vontade de crescer que ele ganhou na Fortaleza de Alhaad? Ou por causa do espírito competitivo que adquiriu após encontrar Ignet? Ou será que algo aconteceu depois de conhecer Illia?

Khubaru não sabia. Talvez tudo isso tenha se tornado combustível, mas isso não importava. O importante era que Airen não se deixava levar pelo homem em seu sonho, nem era controlado pelo poder daquele homem, permanecendo fiel à sua própria vontade.

Talvez por sentir isso, Airen estava prestes a dizer algo, mas parou e lentamente examinou seu corpo, como se estivesse tentando compreender seu novo eu. Ele então fechou os olhos. Parecia querer olhar para dentro de si, o que deixou Khubaru ansioso.

Eles não estavam sozinhos ali. Grayson demonizado estava com eles. Airen disse que ele ainda não era um demônio completo, mas Khubaru sentia que o homem já era tão perigoso quanto um demônio. E um demônio poderoso, ainda por cima. Felizmente, Grayson, com seus olhos vermelhos como sangue, não fez nenhum movimento. Ele permaneceu sentado no centro, próximo à espada cravada no chão.

— Haaah.

Depois de um tempo, que pareceu ao mesmo tempo curto e longo, Airen soltou um suspiro e abriu os olhos. Era como se dois fogos tivessem sido acesos na sala escura. Mas ele não parou. A luz brilhante que começou em seus olhos espalhou-se calorosamente por seu corpo. Pelo menos, foi assim que Khubaru interpretou o que estava acontecendo.

Grayson também sentiu isso? Seus lábios pesados se abriram.

— Você não parece um ladrão. Não parece ser um canalha.

— Então pergunto novamente. O que o traz aqui? Fale. Se…

Grayson, que falava com uma voz baixa, de repente liberou uma energia agressiva. Era uma aura. Mas não era uma aura pura, e sim uma energia suja, carregada de um fedor impuro. Khubaru tentou manter a calma e falar para tranquilizá-lo, mas parou ao ouvir Grayson acrescentar:

— Se você não conseguir me fazer entender, deixará sua cabeça aqui.

Era uma ameaça aterrorizante. Mas o que tornava tudo ainda mais assustador era o fato de que Grayson falava sério. Khubaru suava frio ao olhar para o homem, que não parecia em nada com os rumores que circulavam sobre ele. Então Airen deu um passo à frente. Grayson levantou-se e o encarou.

Por cinco segundos, os dois se olharam fixamente enquanto puxavam suas espadas. Airen invocou sua espada larga, enquanto Grayson retirou a espada negra cravada no chão. As duas lâminas se apontaram quando Airen falou:

— Quer fazer uma aposta?

— Uma aposta?

— Sim. Ouvi dizer que o povo de Aisenmarkt ama tanto apostas quanto as lutas de gladiadores.

— É verdade — Grayson assentiu. Ele não se lembrava bem, mas já havia gostado de apostas e jogos antes. Então Airen continuou:

— Não estamos em um coliseu, mas vamos lutar. O vencedor terá seu desejo atendido pelo perdedor, qualquer que seja. Essa é a aposta. O que acha?

— Bom. Deixe-me avisá-lo desde já. O que quero é sua vida.

— Entendido. Eu direi o que quero depois que vencer.

A voz de Grayson causava arrepios apenas de ouvi-la, mas Airen não parecia intimidado. Ele avançou com confiança. Grayson recuou, como se tentasse ganhar distância, mas logo avançou com um ataque.

Ele mirou no pescoço. Mas Airen não reagiu muito ao ataque mortal. Ele simplesmente manteve sua postura com sua espada grande e pesada.

Foi Grayson quem mudou o ataque. Sua lâmina desceu em direção aos pés, como se já tivesse mirado nessa área desde o início. Airen deu um passo para trás com o pé direito e balançou sua espada horizontalmente.

Com sangue nos olhos, Grayson baixou seu corpo como se estivesse se fundindo ao chão, preparando-se para atacar de baixo para cima, como um dragão subindo aos céus. Ele então desencadeou uma série de ataques imprevisíveis.

A ponta de sua espada se movia como a cabeça de uma cobra. Mas Airen não ficou surpreso. Ele simplesmente balançou sua espada para baixo, como um caçador pressionando a cabeça de uma cobra, forçando Grayson a recuar com um franzir de testa.

Grayson voltou com movimentos de espada ainda mais chamativos. Parecia que ia atacar pela direita, mas movia-se para a esquerda; ameaçava atacar por baixo, mas mudava para cima. Fingia atacar, recuava e atacava novamente em intervalos irregulares. Se fosse há poucos dias, Airen teria caído diante desses golpes, mesmo com o treinamento de John. Mas ele havia mudado agora.

“Eu consigo ver.”

Ele podia diferenciar os ataques reais dos falsos. Todos pareciam reais, mas Airen conseguia ver o movimento da aura, então defendia os golpes com facilidade. Grayson ficou extremamente frustrado ao ver que todos os seus ataques falhavam. E isso não era tudo.

— Ugh…!

Airen, que até então estava focado na defesa como uma rocha, deu um passo à frente e balançou sua espada duas vezes. O ataque vindo de baixo parecia uma montanha, e o golpe de cima era pesado como uma inundação. Enquanto isso, a lâmina parecia tão quente que dava a impressão de que toda a espada estava em chamas, forçando Grayson a usar todas as suas habilidades para se defender.

“Por quê…?!”

Grayson encarava com olhos vermelhos de sangue, rangendo os dentes. Ele não conseguia entender por que havia tantos jovens gênios no mundo. Ignet, Illia, e agora esse homem, todos tinham uma quantidade absurda de aura. Isso era injusto. Ele estava frustrado. Passara décadas superando talentos injustos, mas ainda não era suficiente. Era ele quem tinha que recuar. Esse fato o deixava desesperado, e sua desesperança transformou-se em raiva. Uma raiva ardente que queimou seu coração em cinzas e o tingiu de escuridão.

Nesse momento, ele ouviu novamente a voz que o chamara no dia anterior, com a mesma oferta.

“Absorva tudo.”

A voz parecia surgir das profundezas da escuridão, desejando sua ruína. Grayson sabia que era perigosa, mas era tão sedutora que ele sentia a necessidade de se render a ela. Era como se pudesse prová-la, doce e tentadora, fazendo sua boca salivar e sua mente girar em confusão.

Naquele estado nebuloso, Grayson ponderou. Deveria aceitar ou rejeitar? Enquanto lutava ferozmente com a espada, tomou uma decisão: dar um meio passo em direção à tentação.

Grayson saltou para trás, ganhando distância. Seu oponente havia falhado no ataque, e ele poderia ter tentado contra-atacar, mas não o fez. O ciúme, a inveja e o ódio por si mesmo o fizeram desconfiar de sua própria capacidade. Ele fechou os olhos e abaixou o queixo. Era difícil dizer se ele havia realmente assentido, pois o gesto foi sutil, mas o dono generoso daquela voz sombria sorriu e lhe concedeu o poder. Logo, uma aura imensa e incomparável à de antes explodiu de seu corpo.

O rosto de Khubaru escureceu imediatamente. Embora ele não entendesse de esgrima, sabia que algo havia mudado drasticamente em Grayson. A aura negra que emanava de seus ombros parecia um fogo infernal. O sangue em seus olhos se tornava ainda mais espesso. Não havia como prever o que poderia acontecer se mais tempo passasse. Khubaru ficou ansioso quando…

— Não se preocupe — disse Airen.

Aquela única palavra trouxe alívio a Khubaru. Surpreso, ele olhou para Airen. O jovem emanava um calor misterioso, como uma fogueira que acolhe um viajante frio e exausto. A aura de Airen brilhava intensamente, iluminando o ambiente mergulhado na energia demoníaca.

— Brett me disse algo uma vez.

Airen continuou com tanta calma que parecia estar em um piquenique. Grayson, à beira de se tornar um demônio, reunia uma aura sinistra, mas Airen não parecia se importar.

Khubaru finalmente entendeu. Para o orc, que agora sorria, Airen falou com uma voz firme e confiável.

— Se me derem tempo para atacar… ninguém me vencerá, a menos que seja um mestre espadachim.

Nesse momento, a grande espada de Airen brilhou com uma energia ainda maior que a de Grayson. Mas ele não a lançou. Seu objetivo não era cortar Grayson ao meio e matá-lo, mas vencer. Com olhos firmes, ele encarou o oponente, vendo a expressão chocada de Grayson e a espada negra avançando em sua direção.

Mas não havia problema. Airen balançou sua espada e cortou a lâmina negra de Grayson ao meio com um som claro de metal se chocando. Khubaru ouviu um grito aterrorizante. Engoliu seco e perguntou:

— Esse som… foi Grayson?

— Não — respondeu Airen, acrescentando com uma expressão incerta: — Mas acho que algo muito sério aconteceu.


“Onde estou…”

Grayson, que havia desmaiado ao ver sua espada se despedaçar, abriu os olhos. Suas memórias vagas retornaram. Ele se lembrou de como havia mudado. Olhando para o teto escuro, fechou os olhos novamente.

“Cometi um erro grave.”

O poder que ele havia tomado emprestado do demônio já não existia mais. Provavelmente, isso foi graças ao jovem de Krono. Embora inexplicável, ele sentia que seus fardos haviam sido aliviados quando a aura aquecida do rapaz tocou nele. Isso era uma sorte. Mas isso não apagava o que ele havia feito. Ele cerrou os dentes e pensou consigo mesmo.

“O que eu estava disposto a pagar em troca do poder do demônio… era o meu orgulho.”

Sim. Ele não tinha talento para aumentar sua aura, então havia dedicado esforços à sua esgrima. Esse era seu orgulho, algo que ele construiu para enfrentar aqueles com uma aura imensa. Era um tesouro que ele deveria preservar em sua vida, e tentou descartá-lo.

“Eu perdi a vontade de viver…”

Grayson derramou lágrimas. Não eram lágrimas vermelhas de energia demoníaca, mas lágrimas claras. Enquanto caíam ao chão, ele sentiu a presença de alguém ao seu lado.

Era Airen. Ele não conseguiu nem pensar em limpar suas lágrimas e sentou-se. Os dois ficaram frente a frente, quase como no início de sua luta. Logo, Grayson falou.

— O que você quer?

Sua voz soava oca, como se tivesse sido consumida por dentro. Não era apenas sua voz. Sua expressão era a de alguém que havia perdido a vontade de viver. Seu interior estava em ruínas, algo que Khubaru, como elementalista, podia perceber. Grayson estava perdendo seu ‘fogo’, o mais importante dos cinco elementos que sustentam a vida.

“Se o fogo se apagar, o ciclo que flui para a terra, o metal, a água e a madeira para, e ele morrerá. É triste… mas Grayson está acabado.”

O orc elementalista ficou sombrio. Ele parecia já ter desistido.

— Hmm.

Airen, contudo, estava diferente. Ele se aproximou de Grayson e se sentou à sua frente. Então, com olhos cheios de fogo, olhou diretamente para ele.

“O que é isso?”

O espadachim vazio ficou desconfortável. Tentou se afastar, pois a energia de Airen era intensa demais. Mas não conseguiu quando o jovem estendeu a mão e segurou as mãos de Grayson.

— Meu desejo…

— É que você continue competindo nas lutas de gladiadores, assim como tem feito de forma magnífica.

No momento em que Airen terminou suas palavras, Khubaru viu a energia que começava a fluir do jovem para o corpo de Grayson. Era uma energia aquecida, que afastava o frio e iluminava a escuridão. Os olhos do orc elementalista se arregalaram ao ver o fogo que trazia vida.

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