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Reformation of the Deadbeat Noble – Capítulo 143

Eu Vou Voltar

— Judith — disse Airen.

— Sim, sou eu, Judith — respondeu Judith com uma voz confiante.

Sua voz parecia exagerada, em um tom mais elevado do que o normal. Airen percebeu o motivo imediatamente, já que sentiu o cheiro no mesmo instante com seus sentidos aguçados.

— Você bebeu?

— Bebi. Só um pouquinho.

Judith semicerrava os olhos enquanto fazia um pequeno espaço entre os dedos para mostrar a quantidade. Parecia querer dizer que tinha bebido quase nada, mas Airen discordava. Ele riu e se aproximou, ampliando o espaço entre os dedos dela.

— Acho que você bebeu pelo menos isso — disse ele.

— Não, não. Eu não bebi tanto assim. Estou bem, olha. Consigo me mexer perfeitamente.

Judith franziu a testa e andou para frente em linha reta. Mas não parou por aí. Como Airen ainda parecia duvidar, ela começou a dar uma cambalhota para trás.

— Viu? Estou bem.

— Certo…

Airen assentiu, relutante. Ele achava que só o fato de ela fazer aquilo já era prova suficiente de que não estava sóbria, mas não precisava se preocupar. Apenas a observou fazer acrobacias, depois sentou-se no chão quando percebeu que ela não pretendia parar. Então ela parou imediatamente, caminhou até ele e se sentou ao seu lado.

— O quê? — perguntou Judith.

— Nada.

— Tá bom.

Airen decidiu parar de tentar entender Judith. Ela sempre foi imprevisível, mas isso piorava quando estava bêbada.

“Devo descansar enquanto ela está aqui, pensou ele enquanto se sentava no chão.”

Após a luta contra Ricardo Pinto, ele passou a maior parte do tempo, exceto para comer e dormir, focado em criar uma Aura da Espada. Mas sua espada de feitiçaria simplesmente continuava absorvendo sua aura, como se não se importasse com a frustração de Airen. Ele até pensou em trocar de arma e chegou a fazê-lo uma vez, mas falhou. Seria porque ele não estava acostumado à nova arma? O resultado foi pior do que quando empunhava a espada de feitiçaria. À medida que o processo se repetia, ele começou a ficar nervoso.

“Eu consegui uma espada que pode suportar a Aura da Espada e tenho o olho para enxergar meu oponente. Minha esgrima melhorou, e minha aura aumentou muito. Eu sei que tenho uma chance agora. Mas isso é suficiente? Illia ainda não mostrou todo o seu potencial. Ela nem usou sua Espada do Céu nas lutas. Será que eu realmente conseguirei vencê-la? Realmente? Tenho tanta certeza assim?”

Uma corrente constante de pensamentos o atormentava. Era estranho. Ele conseguia se concentrar facilmente no treinamento quando a diferença entre eles era tão grande, mas não conseguia mais se concentrar desde duas semanas atrás.

Talvez estivesse sobrecarregado. Ele percebeu a importância dessa luta à medida que o momento se aproximava, e seu medo de uma possível derrota crescia. Um forte desejo às vezes trazia uma determinação incrível, mas também gerava uma quantidade igual de ansiedade. A vontade de vencer e o medo de perder pesavam um contra o outro, e Airen se esforçava para colocar o peso de volta na primeira quando Judith, que estava olhando para o teto, falou com ele.

— Não fique tão nervoso — disse ela.

— Como… você sabe?

— Idiota. Você acha que eu não saberia? Dá pra ver na sua cara.

— Dá? — perguntou Airen, chocado.

Como sempre, ele não demonstrava muita expressão no rosto. Ele tinha o hábito de esconder suas emoções desde pequeno, então ninguém, exceto Lulu, parecia saber como ele se sentia.

“Como ela sabe? Estou mesmo com uma aparência tão ruim assim? Estou tão nervoso agora?”

A pedra que Judith jogou criou ondulações em sua mente. Airen se esforçou para pensar em como responder, mas não conseguiu dizer nada. Judith riu, provavelmente achando graça da reação dele, e falou de novo.

— Você é um idiota.

— Você é mesmo. Ficou em segundo lugar na academia em apenas um ano, pegou todo o meu conhecimento em esgrima e ficou tão forte que agora pode desafiar um mestre espadachim em apenas quatro meses… Droga, isso não faz sentido nenhum. Ei, idiota, você acha que isso faz sentido? Hein? Diga. Diga alguma coisa.

Judith rosnou e deu um soco no peito de Airen. Seu soco foi um pouco forte demais para ser considerado uma brincadeira, empurrando Airen para trás. Mas ele não disse nada. Não podia se desculpar nem mandá-la parar, então decidiu apenas aceitar os socos. Graças a isso, Judith conseguiu extravasar sua raiva e, então, suavizar sua expressão. Foi uma mudança de emoções surpreendentemente rápida que chocou Airen quando ela acrescentou:

— Mas… eu não consigo te odiar.

— Tenho certeza de que Illia sente o mesmo.

Sim. Airen Farreira, pelo menos aos olhos de Judith, era alguém impossível de odiar. Pelo menos era para ela. Ela cresceu com a escória do mundo nos becos, então tratava os outros como lixo e sempre tinha pensamentos negativos. Mas ele a salvou da água durante o exame intermediário, quando a aceitação deles na academia dependia disso.

Ela não era a única. Lulu e Khubaru lhe contaram que Airen salvou Lulu da solidão após ser rejeitada por superstições e que ele avançou para salvar mercadores com quem ele não tinha nenhuma ligação, e agora estava se esforçando tanto para salvar a mente atormentada de Illia. Airen era uma pessoa que agia genuinamente pelos outros e se importava profundamente com eles.

— Quer dizer… Eu não sei exatamente em que estado Illia está. Não era tão próxima dela… Mas acho que ela está parecida com o que eu era no passado. Deve estar cheia de pensamentos negativos, sem espaço para ouvir ou enxergar os outros. Mas isso também a machuca. Então você provavelmente quer vencê-la na esgrima, para que ela te escute. Mas está tudo bem se você não conseguir vencer. É você. Você trata os outros com o coração. Tenho certeza de que Illia entenderá. Ela vai perceber como você até pulou refeições para chegar até aqui. Ela vai saber se você está tentando intimidá-la ou se se importa com ela. Então…

Judith levantou-se e deu um tapa nas costas de Airen com a mão. Ele olhou para ela com uma expressão atordoada, ao que ela respondeu com uma risada.

— Apenas dê o seu melhor. Assim você não precisará se preocupar com nada.

— Ah, mas tente vencer se puder. Ela é mais idiota do que você.

Judith então limpou a sujeira de sua roupa e saiu. Sentiu o olhar dele a seguindo, mas não olhou para trás, pois isso a faria parecer mais legal. Então fechou a porta atrás de si e respirou fundo.

— Hmmph! Haaa…

Foi porque respirou a brisa fresca da noite? Ela se sentia renovada. Mas sabia que esse não era o motivo. Ela se lembrou da antiga promessa e murmurou baixinho:

— Eu cumpri minha promessa de te ajudar.

Ela se lembrou de como ficou com inveja de Airen no passado. Disse a ele que, depois de serem aceitos na academia, ela o ajudaria para compensar o tempo em que não pôde ajudá-lo nos dias de treinamento preliminar.

“E eu aqui, pensando em não ensinar a utilização de aura para ele…”

Ela se sentiu envergonhada e se odiou por isso. Achou que nunca estaria à altura dele se não superasse esse sentimento. Mas não mais. Ensinou a ele a forma de utilizar aura segundo Krono, dando os melhores conselhos que podia oferecer. Não sabia o quanto isso o ajudaria, mas tinha certeza de que o ajudaria, pelo menos um pouco.

Então, após aliviar a dúvida em sua mente, ela esticou os braços e pensou que agora poderia encará-lo com orgulho e competir de igual para igual.

— Hahahaha!

— Está maluca? O que está fazendo no meio da noite?

Judith riu de sua própria versão melhorada quando Brett, que vinha do outro lado, se aproximou com uma provocação. Mas ela não se importava, pois estava de bom humor. Podia lidar com provocações como aquela. Assim, rapidamente caminhou até ele e passou o braço em volta de seus ombros.

— Vamos lá. Vamos tomar mais uma! — gritou Judith.

— Você não vai assistir à luta de amanhã?

— Eu, Judith, não fico de ressaca! Posso beber mais!

— É, tanto faz…

Brett suspirou e também colocou o braço em volta de Judith. Assim, os aprendizes formais de Krono seguiram em direção à hospedaria.


— Ufa.

Era 1h da manhã quando Airen terminou seu treinamento mais cedo do que o habitual e se deitou para dormir. No fim, ele falhou em criar uma Aura da Espada, mas estava visivelmente melhor do que antes. Tudo graças ao conselho de Judith. Ele entendeu o que era mais importante por causa das palavras dela.

“Vencer não é o importante. Preciso focar em mudar a mente de Illia.”

Quatro meses atrás, ele não havia perdido de vista seu objetivo ao conhecer Illia. Ele queria derrotá-la para despertá-la de seus pensamentos equivocados, então a vitória em si nunca foi seu verdadeiro propósito.

“Mas então, meu método acabou me dominando.”

Ser competitivo e tentar vencer era bom, mas havia algo mais essencial. Airen percebeu isso novamente, então sorriu e fechou os olhos.

“Obrigado, Judith.”

Claro, ele não ia apenas dormir. Como ela disse, faria o seu melhor para vencer, embora a derrota não fosse o fim do mundo. Ficaria ao lado de Illia até que ela entendesse seus sentimentos. Permaneceria até que sua perspectiva estreita se ampliasse novamente e ela encontrasse espaço para refletir sobre si mesma.

Ele estava perdido nesses pensamentos quando o cenário mudou. Ele havia adormecido sem perceber. Então, ao ver o homem manejando sua espada como sempre, pensou:

“Ele está completamente velho agora.”

Desde que Airen percebeu que seu sonho estava mudando, o homem nele envelhecia a cada dia. Suas rugas ficavam mais profundas, e seus cabelos haviam se tornado brancos. Mas isso não era tudo o que mudara.

“Seus olhos.”

Airen sentia uma fúria fria tão intensa quanto um fogo preso sob o gelo. No entanto, aquela fúria havia desaparecido, sendo substituída por outra emoção. Mas ele não conseguia entender o que era.

“De qualquer forma, ele parece bem diferente de antes. As mudanças no sonho afetaram meu fogo? Ou foi o fogo que mudou o sonho porque ficou mais forte?”

Ele não fazia ideia. Não conseguia entender absolutamente nada sobre aquele sonho misterioso, como sempre. Foi então que o homem velho se virou subitamente em sua direção.

Airen se assustou e abriu a boca, mas logo ficou ainda mais surpreso. Ele não estava apenas consciente; tinha um corpo. Olhou para si mesmo e, em seguida, para o velho. O homem ainda tinha olhos desconhecidos e uma expressão impenetrável, mas deu um passo lento e pesado em direção a Airen.

Quando começou a abrir a boca para falar, Airen despertou de seu sonho.

A sensação persistiu por mais tempo do que o normal, e por um motivo óbvio: o homem estava diferente naquela noite. Não apenas estava envelhecendo, mas também tentara conversar diretamente com ele.

“O que ele estava tentando dizer?”

Airen não fazia ideia. Ele ficou pensando por um bom tempo em sua cama e, então, murmurou.

— Melhor pensar nisso depois.

Sim. O que era importante naquele momento não era o homem do sonho. Airen se levantou e abriu a janela. Sentiu a brisa fresca da manhã e a luz quente do sol. Seu estado sonhador se dissipou, e seus sentidos voltaram.

— Muito bem.

Ele estava em boas condições, e sua mente estava clara. Sorriu, assentiu e seguiu em direção à Terra da Provação.

Illia Lindsay contra Airen Farreira.

A luta que todos aguardavam estava prestes a começar.

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