Frederick nasceu na região noroeste do continente e era o mais novo recruta da companhia de mercadores. Diferente de outras pessoas, ele tinha um grande interesse por rumores de outras partes. Apesar de ser apenas um humilde trabalhador no interior, sonhava em ser dono de uma grande companhia mercantil que controlasse todo o continente sob seu nome. Para se tornar um grande mercador, era necessário ser bem informado, especialmente sobre pessoas. Embora outros frequentemente dissessem que ele deveria parar de sonhar acordado e focar em seu trabalho, ele não conseguia abandonar sua obsessão por coletar informações. Por isso…
— SIM!
Ele logo percebeu que os quatro nomes que ouviu pertenciam a alguns dos maiores espadachins do continente.
— O-o que foi? Qual o problema?
Seu supervisor, Kenjall, franziu a testa para ele, irritado com o barulho. Kenjall sempre achava que seus subordinados cometiam erros por ficarem sonhando acordados. Normalmente, isso assustaria Frederick, mas, desta vez, ele manteve a expressão chocada e abaixou a voz para sussurrar algo muito importante.
— Kenjall — chamou Frederick.
— O quê…? Que nojo. Fique longe de mim.
— É importante. Você sabe quem são essas pessoas?
— Não. E por que eu deveria saber?
— Eles são espadachins muito famosos.
— O quê?
— Você nunca ouviu falar da Geração de Ouro da Academia de Esgrima Krono ganhando fama na Terra da Provação?
— Acho que ouvi algo sobre isso… Por quê? Não me diga que são eles.
— São eles! Têm os mesmos nomes! E até a mestre espadachim Illia Lindsay está aqui!
Frederick ainda não sabia que Airen também havia se tornado um mestre espadachim, mas o que sabia já era suficiente para deixá-lo empolgado, explicando tudo sobre Airen Farreira e Illia Lindsay. No entanto, ele não conseguiu continuar porque Kenjall deu um peteleco em sua testa.
— Ai! Por quê…?
— Pare com essa bobagem e volte ao trabalho.
— Bobagem? Você ouviu o que eu disse? Eles têm os mesmos nomes!
— E daí? Eles têm os mesmos nomes, e o que mais? Eu me torno o Capitão Cavaleiro Branco do Reino Sagrado se mudar meu nome para Julius? É isso?
— Mas eles até parecem ter a mesma idade…
— Então me diga. Por que pessoas tão incríveis viriam para um lugar remoto como este e caminhariam com nosso grupo de mercadores? Hein? Não deveriam estar lutando em arenas de gladiadores, ganhando fortunas com o dinheiro das apostas?
— Bem…
Frederick não soube o que responder. Kenjall suspirou ao ver a hesitação de seu subordinado.
— Pense um pouco, tá? Não percebe que eles só deram nomes falsos? Eles parecem nobres, mas… Argh, deixa pra lá.
Kenjall clicou a língua e seguiu em frente, enquanto Frederick fazia um bico, contrariado.
“Não precisa ser tão agressivo para me corrigir.”
Mas e se ele estiver certo? O jovem trabalhador decidiu que não aceitaria isso tão facilmente. Kenjall fazia sentido, mas Frederick não queria concordar com ele, pois estava cansado de ser repreendido. Então, voltou seu olhar para aquelas pessoas, que tinham uma aura extraordinária, difícil de encontrar por aquelas regiões. Além disso, um grupo com um oráculo orc e uma gata falante com certeza guardava segredos.
“Vou desvendar os segredos deles!”
Os olhos de Frederick brilharam de determinação enquanto ele iniciava sua investigação.
Isso é estranho…
Três dias se passaram desde que o grupo de Airen se juntou à companhia de mercadores. Durante esse tempo, Frederick pairava ao redor deles, oferecendo-se para realizar pequenas tarefas na esperança de ouvir suas conversas. Ele achava que poderia descobrir quem eram essas pessoas por meio do que falavam.
“Se são grandes espadachins, devem falar sobre coisas incríveis. Brett Lloyd e Illia Lindsay são nobres importantes, então podem tratar de questões diplomáticas ou problemas atuais do continente.”
Mas isso não aconteceu. Frederick refletiu sobre o que ouvira nos últimos três dias.
— Muitos dizem que o rei das bebidas fermentadas é o vinho. Concordo até certo ponto. Há um ditado que diz que um deus deu as uvas à humanidade, mas foi o diabo quem ensinou a fazer vinho. Mas ainda acredito que é a cerveja que traz felicidade ao povo comum. Quero dizer, ela é mais influente para o público geral… — disse Brett.
— Não é melhor beber o que se tem vontade? E, já que mencionou, ouvi dizer que há uma bebida fermentada feita com arroz no leste do continente. Existem dois tipos diferentes, e dizem que tem um gosto… — respondeu Khubaru.
Brett e o orc oráculo não paravam de falar sobre bebidas.
— O que foi, Illia? Está com a cabeça cheia de pensamentos de novo? — perguntou Lulu.
— Ah, sim. Um pouco…
— Eu já te disse! O melhor é esvaziar a mente quando isso acontece. Também dá pra fazer isso enquanto caminha.
— Sério?
— Sim. Tente assim: Dum…
— Dum…
Illia Lindsay e o gato falante pareciam constantemente alheios, olhando para o nada.
— Ei, ei! — chamou Judith.
— O quê…? — respondeu Airen, virando-se para ela.
— Me diga algo. Estou entediada. Alguma coisa engraçada.
— Sabe qual o melhor remédio para calvicie? Chá-péu.
— Hã? Entendeu? É porque tem chás que a gente toma pra ficar melhor, e ai eu dis…
— Foi o Khubaru que te ensinou isso?
— É…
— Só fique quieto. Prefiro ouvir sobre bebidas.
— Desculpa.
Airen continuava contando piadas bobas para Judith.
Era difícil acreditar que eles eram espadachins de elite, considerando o nível baixo dessas conversas. Mas, durante as refeições, o conteúdo mudava, o que confundia Frederick.
— Você sabe, se você consegue materializar seus passos, dá para mudar de direção no ar? — perguntou Brett.
— Em teoria, é possível. Se conseguir torná-los firmes o suficiente para parecer que vão explodir, deve funcionar… — respondeu Illia.
— Hmm. Acho que posso usar isso em uma emergência… ou talvez como uma armadilha, saltando propositalmente no ar — comentou Brett.
— Ei, Khubaru. Os guerreiros orcs usam elementalismo nas lutas? — perguntou Airen.
— Usam. Alguns aplicam diretamente nas batalhas, outros utilizam o ciclo dos cinco elementos em sua manipulação de aura. Nós chamamos isso de ‘A Arte dos Cinco’.
— Então aquele homem… A Arte dos Cinco? A pessoa que você mencionou usa isso também? — perguntou Airen.
— Sim, e também elementalismo. Ele usa ambos. Por quê, está interessado?
— Sim. Quero ver o fluxo de aura com meus próprios olhos.
— Ei, conte pra gente depois de ver — pediu Judith.
“Eles parecem espadachins incríveis quando falam assim…”
Frederick não entendia muito de esgrima, mas sabia distinguir o real do falso, tendo convivido com muitos mercenários. Ele tinha certeza de que essas pessoas não eram comuns. Mas…
“O problema é que eles são muito diferentes quando não falam sobre essas coisas relacionadas à esgrima…”
— Hmm.
Frederick observava atentamente os quatro espadachins com um olhar analítico, quase como um detetive. Kenjall, seu supervisor, não podia permitir que ele continuasse assim, então deu um tapa na cabeça do subordinado.
— Ai! Por que fez isso?! — gritou Frederick.
— Pare de perder tempo e vá se preparar para comer.
— Eu ia fazer isso! Não precisava recorrer à violência.
— Eu não teria feito isso se você tivesse se mexido antes! Agora vá, antes que ganhe mais disso!
Kenjall rapidamente seguiu para suas tarefas. Frederick ficou irritado, mas também era verdade que ele não estava trabalhando, então começou a preparar a refeição de má vontade. Algum tempo depois, os mercadores e mercenários sorriam, satisfeitos, após terminar de comer.
— Ufa, foi uma boa refeição.
— Foi boa, considerando que estamos no meio do nada.
— O tempo está agradável também. Ir para o norte no verão foi uma boa ideia.
— Seria perfeito se não encontrarmos bandidos.
— Ei, não deveríamos estar prontos para derrotá-los se encontrarmos?
— Melhor que nada aconteça. De qualquer forma, que tal um duelo para exercitar?
— Boa ideia. Ainda está cedo…
Dois mercenários se levantaram, pegaram suas armas e seguiram para uma área aberta ao lado do acampamento. A companhia de mercadores geralmente viajava até começar a escurecer, conversando após o jantar até a hora de dormir. Mas, como haviam parado cedo, ainda havia luz suficiente.
— Devíamos nos alongar um pouco também? — sugeriu um mercenário.
— Sim. Estou com câimbras faz dez dias, já que não encontramos nada pelo caminho.
— Nem mesmo monstros.
Os dois mercenários não foram os únicos. Logo, todos os mercenários começaram a procurar espaços livres, sacaram suas armas e iniciaram duelos entre si.
Judith comentou, observando-os.
— Será que é seguro todos eles saírem para treinar assim?
— Bem, acho que o chefe deles acha que está tudo bem. Ainda está claro, e tem gente de guarda — respondeu Brett.
— É mesmo? Então…
Ela estava prestes a dizer ‘também devíamos fazer isso’ quando Airen se levantou de repente. Illia fez o mesmo. Os dois trocaram um olhar e, sem dizer nada, chegaram à mesma conclusão.
Judith balançou a cabeça. Eles parecem marido e mulher. Claro, ela não disse isso em voz alta, com medo de que Illia trouxesse à tona o que disse durante a bebedeira novamente. Em vez disso, olhou para Brett.
— Que tal treinarmos quando eles terminarem?
— Claro. Vamos observá-los por enquanto — respondeu Brett, e Judith assentiu.
Os dois eram mestres espadachins. Mesmo que não utilizassem suas Auras da Espada, ainda haveria muito o que aprender observando-os.
Judith assistia com os olhos brilhando de empolgação, enquanto Brett aguardava com calma, sua postura serena como um lago tranquilo.
— Hein?
— Os jovens nobres também estão duelando.
— Vamos assistir.
— Boa ideia. Estou curioso para ver as habilidades deles.
Judith e Brett não foram os únicos. Alguns mercenários e mercadores, intrigados, começaram a se reunir em volta dos dois. Embora ainda não fossem amigos, já que logo se separariam, viajar juntos por três dias havia despertado o interesse.
Mas Airen e Illia não se importaram com os olhares. Ao alcançarem uma distância que parecia excessiva para a maioria das pessoas, prepararam suas armas. Ou, no caso de Airen, ele a invocou. Os mercadores recuaram, impressionados, enquanto Illia avançava.
A maioria das pessoas não percebeu quando Illia desapareceu de onde estava e reapareceu ao lado de Airen. Mesmo os mercenários mais habilidosos ficaram confusos, pois não havia sinais prévios. Normalmente, ao pular, correr ou dar qualquer passo, é necessário fazer movimentos corporais como balançar os braços ou dobrar os joelhos. Esses movimentos permitem que espadachins antecipem as ações dos oponentes. Mas Illia usou sua manipulação de aura para minimizar reflexos musculares, tornando-se praticamente imperceptível. Para os mercenários, ela parecia simplesmente ter se teleportado.
Mas Airen era diferente. Com sua vasta experiência em Aisenmarkt e seus olhos que enxergavam a aura, sua defesa era quase divina. Ele bloqueou o ataque de Illia com precisão e avançou, forçando-a a recuar como um animal fugindo de um incêndio. Mas ela rapidamente investiu novamente, ainda mais veloz. Os olhos de Airen se arregalaram, surpresos por ela não ter se retirado completamente.
O ataque de Illia veio de todos os lados, como uma tempestade de aço. Ela atacava os tornozelos, saltava como um salmão subindo uma cachoeira, mirava à esquerda, depois mudava para a direita. Fez um movimento que parecia ser um corte, mas virou uma estocada.
Airen sentia como se enfrentasse vários espadachins ao mesmo tempo.
— Hah!
Então ele desferiu um corte poderoso, forte o suficiente para derrubar uma montanha, aproveitando o momento em que Illia inspirava. Mas, claro, ela desviou com facilidade. Graças a isso, Airen teve um instante para respirar. Desta vez, a espadachim de cabelos prateados manteve distância, observando o adversário com olhar penetrante.
O ambiente ficou em silêncio. Mais pessoas haviam começado a duelar no início, mas agora apenas Airen e Illia continuavam. Os mercenários assistiam, impressionados com a intensidade das auras dos dois.
“Quem diabos são eles?”