O líder do grupo de mercadores, que observava a situação, ficou com uma expressão sombria. Aquilo parecia ser uma situação ruim. Ele já havia feito inúmeras expedições comerciais e encontrado muitos bandidos e ladrões ao longo do caminho, então sabia. Esses bandidos sorridentes ao redor deles não eram ladrões comuns. Normalmente, ladrões ameaçariam ou usariam violência em busca de ‘tesouros’, mas aqueles orcs pareciam desejar violência mais do que riquezas. Seus olhos brilhavam de forma assustadora sob a luz mágica.
— Matem todos.
A preocupação do líder atingiu o auge quando o chefe dos orcs deu a ordem. Atacar imediatamente, sem qualquer tentativa de negociação?! O líder dos orcs ainda usou a língua comum em vez do orc, claramente para causar pânico e caos no grupo de mercadores. Mas o líder não podia permitir que isso acontecesse. Ele deu um passo à frente e gritou.
— Todos, parem!
Sua voz alta, que não combinava com seu corpo frágil, ecoou e preencheu as planícies. Os orcs pararam no meio do caminho, congelados pela presença do mercador, construída com décadas de experiência viajando pelo continente norte. Mas não ficariam assim por muito tempo, então o líder rapidamente voltou a falar.
— Somos da Companhia Mercantil Marx, trabalhando em nome de nosso senhor, o Conde Nubess! Se vocês não conseguirem matar mesmo que um de nós e permitirem que escapemos, nossa companhia mercantil e o conde usarão todo arsenal e força disponíveis para garantir uma vingança sangrenta contra vocês!
Isso era verdade. O Conde Nubess não era um homem violento, mas um homem de honra que não ignoraria a morte de todo um grupo de expedição mercantil. Além disso, ele possuía uma força militar considerável. O líder esperava que os orcs temessem o nome Nubess e fitou-os com olhos resolutos. Ele precisava evitar o confronto a todo custo. Mesmo com Illia Lindsay e os outros, o combate causaria muitas baixas.
Logo, o chefe dos orcs falou em orc. A maioria dos mercadores não entendeu, pois só conheciam a língua comum, mas o líder dos mercadores, experiente, compreendeu imediatamente.
— Matem esse desgraçado.
Ele ficou pálido e quase caiu para trás quando um dos orcs da linha de frente sorriu de forma maliciosa e lançou um machado de mão. O líder gritou em silêncio enquanto via o machado voar em sua direção. Os mercenários à distância arregalaram os olhos em choque. Foi quando a mulher de cabelos prateados surgiu e desembainhou sua espada.
Illia facilmente desviou o machado. Alguns dos orcs ficaram surpresos com a facilidade com que ela fez isso, enquanto os mercadores suspiraram aliviados. O líder, mesmo assustado, conseguiu manter a calma e agradeceu.
— Obrigado.
— Afaste-se — disse Illia.
— Claro. Farei isso.
O líder obedeceu, ciente de que aquele não era mais o seu lugar. Suas pernas quase cederam, mas os mercenários o ajudaram a se afastar para um local seguro.
O silêncio tomou conta. Mercadores e bandidos permaneciam calados, mas a atmosfera era carregada de tensão. O chefe dos bandidos, em especial, parecia aterrorizante. Ele olhou para Illia com curiosidade e interesse, depois desviou o olhar para Airen, Brett e Judith. Illia sentiu-se um pouco nervosa, pois o líder dos orcs reconheceu com facilidade quem eram os mais fortes ali. Então, ele estalou os dedos.
— Venha — ordenou o líder.
O orc que havia lançado o machado respondeu em orc e se posicionou à frente de seu líder. Ele parecia tão educado que era difícil imaginar que havia arremessado o machado com um sorriso cínico. Mas o líder orc golpeou-o na cabeça com o punho.
A cabeça explodiu, espalhando carne em todas as direções. Todos no grupo de mercadores ficaram paralisados de choque enquanto o líder dos orcs caía na gargalhada. Logo, seus homens também começaram a rir. O cheiro de sangue tomou conta das planícies enquanto os orcs riam. Finalmente, o líder falou na língua comum.
— Vocês têm alguma habilidade. Vou lhes dar uma chance.
— É um duelo. Se vencerem meu lutador, partiremos silenciosamente.
O chefe orc não mencionou o que aconteceria se perdessem, pois não era necessário. Ele estalou os dedos, e um dos orcs desmontou de seu cavalo e avançou. Ele tinha um corpo grande, robusto como uma rocha, e segurava um porrete com espinhos. Apesar disso, parecia relaxado. Illia percebeu imediatamente.
“Eles não são apenas ladrões de estrada.”
Ela notou de imediato que o orc à sua frente era, no mínimo, um especialista. Considerando que os guerreiros orcs tinham músculos mais fortes que os humanos, ela concluiu que aquele orc era tão forte quanto alguns dos gladiadores mais habilidosos que enfrentou na Terra da Provação. Mas ela não pensava que perderia. Mesmo estando perdida em seus próprios conflitos internos, Illia ainda era uma mestre espadachim. Jamais acreditaria que seria derrotada por um simples subordinado. Na verdade, o que mais a preocupava era…
— Saia da frente — disse uma voz.
Imersa nesses pensamentos, Illia viu Judith avançar e dirigir-se ao líder dos orcs.
— Eu luto contra esse idiota.
— Algum problema com isso?
— Hah. Tanto faz — respondeu o líder dos orcs, casualmente, ao ouvir as palavras de Judith.
Os mercadores ficaram nervosos. Sabiam que Judith também era uma espadachim muito habilidosa, mas com certeza não era mais forte que a mestre espadachim Illia Lindsay. Além disso, o lutador orc parecia bastante formidável.
— Haha…
O riso do orc transbordava de fúria. Não se sabia ao certo se ele compreendia a língua comum ou se apenas tinha entendido o que estava acontecendo. Mas era claro que sua raiva instilava medo nos mercadores que estavam mais atrás.
O grupo de mercadores sentiu a boca secar de nervosismo.
— Posso começar? — perguntou Judith.
Judith permaneceu calma, indiferente ao que acontecia ao seu redor. Ela parecia até desinteressada enquanto se virava para o líder dos orcs. Não demonstrava a menor preocupação com o oponente à sua frente. Essa atitude deixou o orc lutador furioso, mas o líder falou antes que ele agisse.
Logo após isso, o enorme porrete de ferro desceu sobre Judith. As pessoas não tiveram nem tempo para gritar ao assistir, tamanha a velocidade do ataque. Apesar de ser uma arma gigantesca, o golpe foi inacreditavelmente rápido. Kenjall, Frederick e até os mercenários veteranos esperavam ver o corpo de Judith horrivelmente dilacerado, com sua metade superior arrancada. Mas, claro, isso não aconteceu. Com uma expressão aborrecida, Judith reagiu.
Como um flash de luz que se apaga e reaparece, ela desapareceu e reapareceu atrás do guerreiro orc. Sua espada cortou limpa e precisamente o pescoço do adversário. Mas não parou por aí. Seus golpes explodiram em uma sequência veloz, cada vez mais rápida, dilacerando o corpo do orc. Mesmo com músculos e ossos que pareciam feitos de pedra, o orc não ofereceu resistência contra sua lâmina.
Logo, Judith recolheu a espada, girando-a para limpar o sangue, e se voltou para os bandidos. Atrás dela, pedaços do orc caíram ao chão enquanto ela falava.
— Sumam daqui.
Tanto os bandidos orcs quanto os mercadores ficaram chocados. Judith superou todas as expectativas com sua demonstração de habilidade. Os mercadores haviam assistido ao duelo dela com Brett, mas não eram habilidosos o suficiente para compreender a verdadeira extensão de suas capacidades. Até aquele momento, a impressão positiva que tinham era baseada em Airen Farreira e Illia Lindsay. Com Judith mostrando habilidades tão incríveis, os mercadores não puderam deixar de se sentir esperançosos.
Mas a luta ainda não havia terminado. O líder dos orcs desmontou de seu cavalo e balançou o punho novamente. Desta vez, o cavalo perdeu a cabeça, e o sangue espirrou por toda parte. O corpo do líder ficou coberto de sangue, mas ele não se importou. Já estava manchado com o sangue seco do homem que havia matado antes, formando padrões distintos em sua pele.
— Um feitiço proibido. Não baixem a guarda — alertou Khubaru.
O feitiço de sangue estava quase se esgotando, pois seus efeitos colaterais eram enormes, mesmo aumentando drasticamente as habilidades físicas do conjurador. Como um contrato com um demônio, o feitiço era maligno e sombrio, mas proporcionava um poder igual. Khubaru explicou rapidamente, e Brett assentiu.
— Não me diga que você vai hesitar nessa situação — disse Brett, preocupado, ao olhar para Airen.
Ele conhecia Airen melhor que ninguém. Airen tinha uma vontade poderosa às vezes, mas hesitava mais do que a maioria quando se tratava de ‘matar’ alguém.
— Está tudo bem…
Felizmente, a voz de Airen soava confiante. Ele já havia invocado sua espada e a segurava com firmeza enquanto pensava em alguém.
“Ignet Cresensia.”
Ela havia matado Charlot e Victor à beira das trevas, sem hesitar e com confiança. Mas ele ainda não podia fazer o mesmo. Sabia que precisaria continuar refletindo sobre suas ações, mesmo depois de tudo aquilo. No entanto, havia uma certeza.
“Agora não é hora de hesitar.”
Airen exalou profundamente, determinado. Khubaru e Brett pareceram aliviados, enquanto Lulu voava até ele e dava tapinhas em sua cabeça.
Enquanto isso, o líder dos orcs tornava-se ainda mais aterrorizante. Do cadáver do orc que perdeu a cabeça, dos pedaços do corpo do lutador e do cavalo decapitado, o sangue fluiu, dirigindo-se ao líder. O sangue escureceu ainda mais as tatuagens que cobriam seu corpo.
Os quatro espadachins, Khubaru e Lulu, avançaram. Todos estavam tensos. Contra um guerreiro que utilizava aura, talvez não ficassem tão nervosos, mas estavam diante de um inimigo com poderes misteriosos e não podiam prever sua força. Então…
Um enorme martelo disparou e atingiu o líder dos orcs. O impacto arremessou o orc à distância, arrastando-o pelo chão e deixando um grande rastro. Uma nuvem de poeira ergueu-se, obscurecendo a visão de todos. Mercadores e orcs ficaram apavorados.
Logo, uma figura emergiu da nuvem de poeira. Quando Airen e seus amigos viram o machado de aço, do cabo à lâmina, que o orc segurava, puderam adivinhar quem ele era.
Aquele orc era um dos dez homens mais fortes do continente, o grande chefe da tribo Durcali, o maior guerreiro e elementalista. E, por fim, ele era…
“O pai de Khubaru.”
O poderoso guerreiro, Karakhum, estava diante de todos, com seus cabelos grisalhos, enquanto o silêncio dominava o ambiente.