Quem eram os dez espadachins mais fortes do continente? Essa pergunta carregava um duplo significado: não apenas quem eram os melhores espadachins, mas também quem seria o indivíduo mais formidável do continente.
Essa distinção fazia sentido, já que os poderes dos feiticeiros tornavam difícil analisar sua força, e os magos, apesar de poderosos, precisavam de longos preparativos para conjurar sua magia, o que os afastava da ideia de serem os mais fortes.
Depois que Karakhum, o grande chefe da tribo Durcali, espalhou seu nome pelo continente, as duas questões passaram a ter respostas diferentes.
O orc havia atingido o nível de mestre com seu machado e possuía incríveis habilidades elementais que o respaldavam. Ele era um guerreiro e elementalista, mas não um espadachim. Ainda assim, sua força era suficiente para colocá-lo entre os dez homens mais fortes do continente.
Os mercadores não conseguiram dizer nada sobre a aparição de uma figura tão poderosa. E não eram os únicos. Os bandidos, que antes pareciam relaxados mesmo com a morte de dois de seus companheiros, ficaram aterrorizados ao olhar para Karakhum. Foi quando o líder dos orcs gritou e avançou.
— Wuaargh!
Seu corpo havia dobrado de tamanho devido ao feitiço de sangue, e seus passos faziam o chão tremer. Ele arrancou o braço que pendia inerte de seu corpo e empunhou a espada gigante que carregava nas costas. A lâmina era ainda maior do que seu imenso corpo. Mas Karakhum não demonstrou surpresa. Apenas ergueu seu machado no ar.
Uma aura quase negra irradiou do machado, enquanto o líder dos orcs avançava e balançava sua espada gigantesca em um golpe horizontal. Foi um ataque poderoso, concentrando toda a sua força. Mas não conseguiu alcançar Karakhum.
O líder dos orcs foi esmagado contra o chão como um soldado atingido por um projétil de catapulta. O impacto criou uma enorme cratera ao redor do local. Seu corpo, assim como a espada larga, foi esmagado de tal forma que parecia ter sido atingido por um porrete, não por um machado. Os bandidos, ao verem seu líder transformado em uma figura grotesca no chão, começaram a correr em todas as direções, gritando em orc.
Karakhum recolheu seu machado e limpou a lâmina, jogando fora os restos de carne. Mas seus olhos não estavam fixos nos bandidos. Ele olhava para outro orc: o oráculo, Khubaru, que também o encarava. Enquanto Khubaru observava o pai que não via há 17 anos, o filho de meia-idade o cumprimentou em orc.
— Faz muito tempo, pai.
— Vá embora… — Karakhum não parecia contente. Seus olhos permaneceram frios ao encarar o machado em sua mão enquanto acrescentava — Esta é minha última misericórdia como pai. Parta. E nunca mais pise nesta terra novamente.
Karakhum dizia isso com seriedade. Desde que seu filho mais velho deixou a tribo 17 anos atrás, deixando apenas uma carta, Karakhum nunca o esqueceu. O pai sofreu, culpou-o, mas também sentiu uma tristeza e saudade ainda maiores. Contudo, a decisão final de Karakhum foi…
“A escolha de Khubaru nos protegeu do pior possível.”
Por isso, Khubaru não podia voltar. Karakhum não podia demonstrar alegria ao reencontrar o filho que tanto amava e sentia falta. Ele precisava manter-se frio e rígido, afastando o filho para garantir que nunca retornasse. Com esse pensamento, Karakhum ficou sombrio e estava prestes a ameaçá-lo novamente.
— Eu não posso fazer isso. — Khubaru falou primeiro. Sua voz tremia, provavelmente devido aos inúmeros sentimentos que o consumiam, mas seus olhos permaneciam firmes. Ele respirou fundo e continuou. — Ainda não tenho certeza se tomei a decisão certa na época. Pensei que fiz bem quando soube que Durcali estava segura, mas depois comecei a questionar se fiz a melhor escolha possível. Nunca consegui tirar isso da cabeça. E então percebi. Eu ainda me arrependo da minha escolha, independentemente de ter sido certa ou não.
— Khubaru…
— Quero ter uma palavra com você e com Tarakhan.
Khubaru interrompeu Karakhum, o que deixou seu pai ainda mais furioso. Mas Khubaru sabia que, sob a raiva, havia sentimentos muito mais complicados. Ele respirou fundo novamente e falou com determinação.
— Não vou fugir por medo ou por achar que o fardo é pesado demais. Pode ser tarde, mas devo tentar. Vou buscar um caminho para que você, minha família e minha tribo não sofram. Não, nós deveríamos buscar isso juntos.
— Pai, é por isso que voltei.
— Você acha que pode prosseguir com esse corpo frágil…? — Karakhum liberou sua energia enquanto falava.
Embora não fosse sua força máxima, era suficiente para pressionar o filho mais velho, que não tinha talento para habilidades de combate. Como esperado, Khubaru parecia incapaz de resistir e começou a recuar. Apesar de seus esforços, a ponto de cuspir sangue, Karakhum não aliviou. Foi quando um humano interveio entre eles.
O espadachim humano liberou sua própria energia, anulando as forças de Karakhum. Ele estava coberto de sangue, provavelmente de perseguir os bandidos, com uma expressão pálida que indicava um choque mental. Mas seus olhos brilhavam intensamente.
— Esta é uma questão da nossa tribo e família. Um forasteiro não deve se intrometer — disse Karakhum na língua comum.
— É um assunto do meu professor e amigo. Eu não sou um forasteiro — respondeu o humano.
Karakhum voltou-se para o filho. Seus olhos exigiam uma explicação, ao que Khubaru respondeu com um sorriso discreto.
— Não tenho muito a dizer, exceto isto — disse Khubaru. — Posso ser um covarde, mas decidi contar com a mão de meu amigo para ganhar mais coragem.
— Hah… hah…!
Airen matou. E continuou matando. Ele havia tirado seis vidas com suas próprias mãos. A ideia o enojou, e ele abaixou a cabeça, vomitando o que ainda não havia sido digerido. Então, lembrou-se das palavras de Brett.
— Airen! Vamos persegui-los! Temos que matar todos!
— O quê?!
— Eles encontrarão mais vítimas se os deixarmos ir só porque não queremos carregar o peso disso!
— É nosso dever, como aprendizes de Krono, manchar as mãos com sangue para proteger os inocentes e assumir esse fardo! Pare de pensar e se mova!
Brett estava certo. Mas isso não tornava as ações mais fáceis. Airen fechou os olhos no campo cheio de gritos e choques de armas.
Ele não hesitou, mas sentiu o peso. O peso das vidas que havia tirado parecia esmagá-lo. Mesmo que fossem fracos, eles ainda estavam vivos.
— Hah, hah.
Airen respirava rapidamente, mas tudo bem. Ele vinha se preparando para esse momento havia muito tempo, então se recompôs mais rápido do que imaginava. Sentindo os batimentos cardíacos desacelerarem, prometeu a si mesmo tornar-se mais forte e mais resistente, alguém capaz de avançar mesmo carregando esse fardo pesado. Esse pensamento trouxe alívio, e ele abriu os olhos, olhando para frente.
Os soldados orcs estavam ali, eliminando os bandidos restantes. Parecia que eram os guerreiros de Karakhum. Airen também viu mercenários, Brett, Judith e Illia entre eles. Foi uma vitória completa, mas ainda não havia acabado. Percebendo que não precisavam dele ali, Airen retornou ao local de onde viera e viu Khubaru e Karakhum em um confronto.
Eles não estavam apenas parados. Karakhum emanava uma energia tão aterrorizante que até mesmo um mestre espadachim sentiria arrepios. Airen rapidamente interveio, dirigindo-se ao grande guerreiro dos orcs.
— É um assunto do meu professor e amigo. Eu não sou um forasteiro — disse ele.
— Posso ser um covarde, mas decidi contar com a mão de meu amigo para ganhar mais coragem — repetiu Khubaru.
— Seu filho tomou uma grande coragem ao vir aqui. Por que não tem uma palavra com ele antes de rejeitá-lo? — Airen perguntou.
Karakhum, depois de ouvir o humano, o filho e o humano novamente, focou seus olhos na espada de Airen. Era algo extraordinário. Ele não conseguia imaginar como alguém poderia ter forjado uma espada com tamanha força contida. Parecia até mais impressionante que o machado que ele criara usando o poder de cinco elementos.
“Consigo sentir elementos muito fortes de metal e fogo dentro dela”, pensou Karakhum.
Era óbvio, já que armas geralmente eram criadas com fogo e metal, mas aquela espada era única. E a arma não era a única coisa incrível. Nenhum espadachim medíocre conseguiria empunhá-la; isso o mataria. Isso significava que o espadachim também possuía habilidades excepcionais. A energia dentro do humano surpreendeu Karakhum. Ele provavelmente era um mestre.
“Então, meu filho fez alguns bons amigos”, refletiu Karakhum.
Seus lábios se curvaram levemente, mas isso não significava que o humano fosse páreo para ele. O nível de mestre era incrível, mas Karakhum era o mais forte entre os mestres monstruosos. Além disso, o humano parecia inexperiente. Sua aparência pálida era evidência disso, um traço comum de quem matara pela primeira vez.
Karakhum liberou uma aura poderosa. Airen deu um passo para trás. Uma força inimaginável o pressionava. Era o poder de um governante que reinava sobre tudo. E, mantendo essa força, Karakhum perguntou.
— Está pronto para carregar o fardo do seu amigo junto com ele?
— Está pronto para enfrentar o grande guerreiro dos orcs?
A aura de Karakhum não apenas pressionava Airen, mas fazia o chão ao redor deles tremer, como se centenas de bois estivessem passando. Ela se espalhou até alcançar Airen. Seu corpo, muito menor em comparação a Karakhum, tremia, mas sua mente não vacilava.
— Não é uma questão de eu conseguir ou não carregar esse peso — respondeu Airen ao grande guerreiro. — É uma questão de se eu devo ou não. E eu devo. É pelo Khubaru, meu professor e amigo.
Airen liberou sua Aura da Espada. Assim como quando enfrentou Illia Lindsay, ele se armou com um olhar determinado e uma mente firme. Os olhos de Karakhum brilharam intensamente.