A fala de Airen Farreira não foi nem longo, nem curto. Assim que terminou, abaixou a cabeça mais uma vez.
O diretor o observou em silêncio por um longo tempo. Então, esfregou o queixo e olhou para a xícara de chá vazia. Após pensar um pouco, finalmente falou.
— Então, em resumo, você quer conselhos sobre como se reconciliar com outra aprendiz?
— Sim, senhor.
— E essa pessoa é ninguém menos que Illia Lindsay?
— Sim, senhor.
— Hmm…
— Desculpe se foi demais pedir isso. Eu… eu não tinha ninguém a quem perguntar sobre isso, então essa foi a única maneira… Sinto muito mesmo.
— Não, você não precisa se desculpar, meu rapaz. Está tudo bem.
O diretor balançou a cabeça displicentemente. Foi ele quem disse para Airen pedir qualquer coisa, então não havia como considerar uma pergunta boa ou ruim. Mas…
— Só estou um pouco surpreso, isso é tudo.
Um aprendiz preliminar estava tendo a chance de conversar com o diretor da Academia de Esgrima Krono. Era comum um aprendiz pedir algo relacionado à esgrima. Mas Airen pediu algo completamente diferente, surpreendendo até mesmo Ian com sua vasta experiência.
O elemento surpresa não durou muito, pois uma intensa curiosidade logo superou o choque.
— Então, você já conhecia Illia antes? Não estava ciente disso — Ian perguntou com um sorriso.
— Não, senhor.
— Hã? Sério? Então vocês se tornaram amigos aqui na academia? Isso também é surpreendente. Eu a conheço pessoalmente, e certamente não é fácil fazer amizade com ela.
— Não somos amigos. Apenas conversamos algumas vezes durante o treinamento, só isso…
— Hmm. Isso é ainda mais intrigante — disse Ian, fascinado pelo pedido de Airen.
“Então, eles não se conheciam antes da academia, nem eram muito próximos ali. Mesmo assim, discutiram, e agora o garoto queria se reconciliar com ela.” Era difícil entender a situação, então Ian precisou perguntar mais.
— Conte o que aconteceu. Não sei o que dizer sem saber os detalhes.
— O que devo contar, senhor?
— Tudo. Sobre como vocês começaram a conversar, o que aconteceu, como acabaram discutindo e por que deseja fazer as pazes com ela. Vou fazer o meu melhor para lhe dar algum conselho.
— Obrigado. Então…
Airen Farreira fez uma reverência e começou a contar sua história. Ele não era um bom contador de histórias e às vezes se perdia no assunto, então o diretor precisou se esforçar para entender o quadro completo. Mas não foi tão difícil de entender. Mesmo com a narrativa tosca, havia algo que se destacava.
Todos os aprendizes da academia zombaram daquele garoto, enquanto Illia Lindsay não o fez. Todos o olhavam de soslaio, exceto ela. Ian fechou os olhos e assentiu.
“Agora entendo por que ele pediu um conselho tão inesperado.” Agora compreendia algo que antes não sabia. Era o passado misterioso do garoto. Airen havia vivido sozinho, isolado do mundo durante grande parte de sua juventude, então a gentileza de Illia Lindsay se tornara preciosa para ele.
“Mas ainda há uma pergunta…”
O diretor abriu os olhos e olhou para o garoto. O rosto de Airen não mostrava expressão, mas seus olhos eram profundos.
“Vamos resolver o dilema dele primeiro”, pensou Ian, enquanto batia palmas.
— Muito bem. Vamos começar a lidar com a questão então?
A conversa foi boa. O diretor deu conselhos gerais, mas isso já foi o suficiente para Airen. Ele ficou agradecido, pois não tinha experiência em conversar com jovens da sua idade.
— Obrigado, diretor — disse Airen com uma reverência.
— Não há necessidade de agradecer. Foram apenas palavras de um velho.
— Foram realmente úteis, senhor.
— Bem, fico feliz em ter ajudado. Mas não foi muito. Tenho certeza de que meus conselhos sobre armas são melhores do que sobre qualquer outra coisa… Mas já faz muito tempo desde que dei conselhos sobre algo além de esgrima. — Ian fechou os olhos, depois pigarreou e continuou. — Certo. Tenho certeza de que já falamos o suficiente sobre Illia. Por que não passamos para o tópico principal?
— Perdão, senhor? O tópico principal? Do que está falando?
— Ainda não te dei nada.
O conselho não era a recompensa em si? Airen olhou para ele, confuso. O diretor balançou a cabeça.
— Eu já te disse. Sou especializado em esgrima, não em habilidades sociais. Minha consciência não permite que eu te recompense com algumas palavras sobre algo em que não sou bom.
Nesse momento, Ian liberou energia de seu corpo. Era uma aura poderosa, que apenas um mestre de uma determinada profissão poderia controlar.
Mesmo Airen, que ainda era inexperiente, conseguia sentir. Não era uma sensação dolorosa ou agonizante. Pelo contrário, fez com que ele percebesse o poder do pequeno velho à sua frente.
— Serei mais claro. Vou te ensinar o caminho da espada. Pergunte-me qualquer coisa, e prometo que farei o meu melhor para responder suas perguntas. Se tiver algo em mente, sinta-se à vontade para perguntar.
A energia de Ian ficou mais intensa. Era esmagadora, mas também reconfortante ao mesmo tempo. Isso fez com que Airen sentisse que poderia falar sobre o que tinha em mente. Mas ele ainda permaneceu em silêncio.
Os olhos do velho se aprofundaram. Era um momento estranhamente tenso. A resposta de Airen que veio depois foi… sem graça.
— Me desculpe, senhor. Eu não sei… o que pedir — disse Airen.
— Hmph.
O velho coçou o queixo enquanto Airen continuava.
— Talvez o senhor já saiba disso, mas eu só comecei a praticar esgrima um mês antes de vir para cá. Mesmo assim, não fui treinado formalmente, apenas balancei a espada como quis.
— É mesmo? — Ian perguntou.
— Sim, senhor. Então… fico envergonhado em dizer isso, mas não sei o que pedir, nem o que quero.
Airen parecia realmente constrangido ao falar a verdade e abaixou a cabeça.
— Desculpe, senhor. Sei que esta é uma oportunidade que dinheiro nenhum pode comprar. Sinto muito por minha resposta ser tão patética.
— Levante a cabeça, meu rapaz.
— Perdão? S-sim, senhor.
Airen ergueu a cabeça e olhou nos olhos do velho. Eram olhos profundos, que lembravam um lago azul insondável. Esquecendo que isso era um gesto desrespeitoso, ele continuou olhando para esses olhos dos quais não conseguia desviar.
E depois de um tempo.
Clap!
— Ah…!
Ian bateu palmas para acordar Airen.
— E-eu… desculpe, senhor — Airen se desculpou.
— Por que se desculpar? Não peça desculpas com tanta frequência. Um bom espadachim deve ter confiança — disse o diretor, enquanto tomava um gole de chá morno. — Claro, não estou dizendo que deva ser desrespeitoso.
Isso o fez parecer um velho comum do campo. A aura esmagadora que havia preenchido a sala agora desaparecera. Airen ainda estava confuso enquanto Ian continuava.
— Muito bem. Vou adiar sua recompensa.
— Perdão?
— Estou dizendo que pode me procurar quando precisar dela mais tarde.
— Oh…
— Ou posso ensiná-lo antes do previsto, se eu considerar necessário. Isso é um problema?
— Não, senhor! Obrigado!
Airen se levantou e fez uma reverência. O diretor deu uma risadinha.
— Muito bem, então. Pode ir agora.
— Entendido. Obrigado, senhor.
Airen fez outra reverência e deixou a sala. Ainda parecia um pouco atordoado. Ian manteve o sorriso enquanto via o garoto sair. Sua expressão mudou assim que a porta se fechou por completo.
“Que garoto verdadeiramente peculiar.” Foi chocante. Embora Ian já tivesse se surpreendido com o garoto antes, agora estava ainda mais surpreso. Ele balançou a cabeça.
“É possível para um garoto que está treinando esgrima recusar minha lição duas vezes?” Não. Isso não era possível. Seu ensino era inestimável. Não era uma afirmação subjetiva.
Havia poucos entre os espadachins do continente que eram chamados de mestre da espada. E, como um homem com a habilidade dos melhores espadachins, sua lição tinha um valor extraordinário. Nem havia necessidade de explicar isso.
Mas o garoto recusou essa chance duas vezes.
Na verdade, ele não recusou de propósito. Na primeira vez, pediu algo que não estava relacionado à esgrima, e na segunda, adiou a lição.
Mas Ian também não entendeu isso. A reação de Airen Farreira era incomum demais em comparação com a de um espadachim em treinamento. Era como se…
“Ele parece alguém que já está sendo ensinado, e não precisa de outra lição.”
— Haha… o que estou pensando. — O diretor riu. Estava indo longe demais com seus pensamentos, então balançou a cabeça e esvaziou sua xícara.
De qualquer forma, o garoto era interessante de se observar. Seu potencial era excepcional, e sua influência sobre os outros aprendizes era fascinante. Ele era cerca de 80% do motivo pelo qual Ian decidiu ficar.
“Pensando bem… havia uma aprendiz tão peculiar quanto ele.”
Ian se levantou, olhou pela janela e pensou em uma aprendiz que ele ensinou oito anos atrás. Ela tinha um talento excepcional, confiança transbordante e uma personalidade imprevisível…
— Bem, mas eles são completamente diferentes — murmurou Ian, olhando pela janela por um longo tempo.
Um dia após as entrevistas, todos os aprendizes preliminares, agora cerca de cem, se reuniram no auditório. Eles olhavam ansiosos para o palco, onde Ahmed estava à frente deles.
— Como vocês sabem, começaremos o treinamento de esgrima a partir de agora.
Todos se animaram e aplaudiram. Com exceção de Airen, eles já tinham treinado esgrima antes de chegar à academia, então os últimos quatro meses de apenas treinamento físico foram muito maçantes e dolorosos para eles.
Eles cerraram os punhos de alegria, e alguns não conseguiam esconder o sorriso no rosto. E, surpreendentemente, até o Instrutor Ahmed, que sempre parecia severo, exibia um sorriso hoje.
— Estão ansiosos? Eu também estou — disse Ahmed. — Como todos sabem, a mesma técnica de espada gera resultados diferentes para cada um. O corte horizontal de um estudioso fraco, de um lenhador saudável e de um cavaleiro real é completamente diferente.
Ahmed percorreu todos os aprendizes com o olhar, um por um, sem deixar de observar ninguém. E, no final, estava Airen Farreira. Após olhar em seus olhos, o rosto do instrutor se abriu em um largo sorriso.
— Vamos nos mover para o Grande Salão de Treinamento. Aproveitem o que conquistaram nos últimos quatro meses.