— Por que você empunha uma espada? Embora fosse uma pergunta frequente, exigia reflexão profunda. Por que alguém começa a treinar esgrima, continua aprendendo e persegue esse caminho? Perguntar isso era tão importante quanto escolher um caminho na vida.
“Você cresce mais rápido se encontrar a direção certa. Mas, se escolher o caminho errado, isso vai limitá-lo, por mais que se esforce.”
O Instrutor Ahmed refletia em silêncio. Ele não estava nem um pouco preocupado com Airen Farreira. O garoto jamais teria mostrado uma esgrima tão incrível se não estivesse no caminho certo. Não, ele sequer teria durado um mês na Academia de Esgrima Krono, para começo de conversa. Esse lugar não era para aqueles que não estavam prontos.
“Mas fico curioso. O que o fez se tornar o aprendiz mais dedicado entre todos esses jovens diligentes que vieram de todo o continente?”
Ahmed olhou para Airen com um olhar intrigado. Mas o garoto não respondia à pergunta. Era compreensível, já que a pergunta com certeza o surpreendera. Talvez ele estivesse tomando cuidado com o que dizer por estar falando na frente do diretor. Após pensar nisso, Ahmed abriu a boca.
— Não pense demais, Airen Farreira. Diferente de outras academias, aqui em Krono valorizamos ética e moral, mas não seguimos uma ordem rígida de cavalaria. Não precisa ter uma paixão pura ou uma causa nobre. Pode desejar honra, dinheiro ou outras coisas deste mundo. Está tudo bem, contanto que não machuque ninguém. Pode falar livremente.
Ahmed falou gentilmente, de maneira bem diferente de seu tom habitual. Mas, ainda assim, Airen não disse nada. Não, parecia que ele não conseguia falar. Ahmed percebeu que algo estava errado e se virou para o diretor.
O rosto enrugado de Ian se moveu em um aceno.
— Entendo — disse o diretor. E então disse algo surpreendente.
— Airen Farreira… você não empunha uma espada por sua própria vontade.
— Isso… está correto, senhor — respondeu Airen.
Ahmed nunca esperaria uma resposta assim, então ficou paralisado em um silêncio atônito, a boca aberta.
“Não é por vontade própria?” Então, ele não estava calado por não ter o que dizer, nem por vergonha de falar na frente do diretor. O que isso poderia significar?
— Diretor? Como isso pode ser… — disse Ahmed, mas parou.
— Ainda não tenho certeza — disse Ian com uma tosse seca, tomando um gole de chá.
Ele era famoso por ter um olhar aguçado sobre o que se passava dentro das pessoas, mas nem ele conseguia compreender completamente aquele jovem.
— Sempre achei algo estranho. Você trabalhava mais e era mais sério sobre a esgrima do que qualquer um. E ainda assim… eu não sentia nenhuma das emoções que alguém assim normalmente teria — disse Ian. Airen ficou em silêncio, e o diretor continuou.
— O aprendiz Brett Lloyd ficou mais animado que todos ao perceber que estava melhorando. E Judith se enfureceu quando ele a superou. Até fiquei assustado com isso. Não só eles, mas todos os outros jovens na nossa academia também se alegraram, choraram, riram e se entristeceram durante o treinamento de esgrima. Mas você… você não sentiu nada.
E com isso, um longo silêncio tomou conta da sala.
O único som era Ahmed engolindo em seco, com um olhar tenso, e o diretor Ian tomando seu chá. E nesse silêncio, Airen Farreira pensou seriamente sobre sua esgrima pela primeira vez em sua vida.
Ele não tinha… nada. A única coisa em sua mente não lhe pertencia; pertencia ao homem e sua espada. Os pensamentos do garoto eram superficiais e vazios, como uma fumaça tênue em comparação à espada de ferro pesada do homem.
— Você seguiu o caminho de alguém, sem sua própria vontade… E ainda assim chegou até este lugar. Não vou perguntar como — disse Ian.
Airen teria dito se quisesse, então não havia necessidade de pressioná-lo. Mas ele certamente precisava de algum conselho.
— Se decidir continuar na esgrima, deve começar a pensar nisso seriamente.
Airen precisava refletir sobre por que empunhava uma espada e entender o significado de sua própria esgrima. Não iria crescer se não descobrisse isso.
— Sem ter uma resposta para minha pergunta, você não tem motivo para permanecer na academia. É mais importante que você saia pelo mundo e se encontre do que treine esgrima aqui — disse Ian.
Ahmed ficou chocado com o que o diretor disse. Embora Ian tivesse dito isso de forma indireta, apenas um tolo não entenderia o que ele quis dizer. Ele acabava de negar a admissão de Airen Farreira, o gênio que poderia ter ficado em primeiro lugar em qualquer turma.
— Obrigado, senhor — respondeu Airen.
Parecia calmo, nem irritado, nem triste. Ele sabia que o diretor estava genuinamente cuidando dele.
— Nunca esquecerei seu conselho final, senhor. — O Nobre Preguiçoso se levantou e fez uma reverência.
Ele desejava permanecer, se pudesse. Queria ficar com Judith e conversar mais com Brett. Queria permanecer na academia e retribuir a todos por estarem ao seu lado. Mas não podia desobedecer à decisão do diretor. Levantou-se e preparou-se para partir.
— Conselho final? Do que está falando? — perguntou Ian.
Airen parou ao ouvir essas palavras. Não entendia por que o diretor continuava a falar com ele. Mas a intenção de Ian se tornou mais clara conforme ele prosseguiu.
— Eu não fui admitido na academia, então… — Airen interrompeu.
— O que quer dizer? É claro que você foi aceito. Eu te dei um conselho, mas não porque você é péssimo. Você está bem como está, mas achei que resolver essa questão te tornaria um espadachim melhor — disse Ian.
— Mas, senhor, o senhor acabou de dizer que não tenho motivo para ficar aqui no meu estado atual…
— Isso mesmo… por enquanto. Mas você planejava sair daqui para sempre mesmo depois de encontrar um motivo para empunhar uma espada?
Ian sorriu como uma criança e tirou uma placa de metal do bolso. Ela brilhava intensamente com um encantamento mágico.
— Deixe-me usar uma gota do seu sangue — disse Ian, enquanto furava o polegar de Airen com a unha.
— O quê? Ai!
Uma gota fina de sangue surgiu, e Ian cuidadosamente aproximou o polegar de Airen da placa de metal. A luz branca intensa desapareceu no padrão e gravou o nome de Airen Farreira na placa de metal.
【Aprendiz Formal da 27ª Turma da Academia de Esgrima Krono】
【Airen Farreira】
— Vou te dar um ano. Encontre sua espada e volte — Ian disse a Airen. Ele o olhou, sem palavras.
— Isso não é o bastante? Ou precisa de mais tempo?
Honestamente, era difícil dizer se seria o suficiente, mas Airen tinha apenas uma resposta para dar.
— Voltarei em um ano, senhor.
— Ele vai ficar bem? — Ahmed perguntou.
— O que quer dizer? — Ian retrucou.
— O aprendiz Airen Farreira. Quero dizer…
— Está perguntando se ele conseguirá encontrar sua esgrima?
— Sim, senhor.
Ahmed assentiu. Era embaraçoso fazer essa pergunta depois de não ter percebido nada de errado com Airen até o diretor apontar, mas ele ainda estava preocupado. Pensava no garoto que treinava duro todos os dias, sem desespero, pensamento ou entusiasmo. Na época, ele tinha grande respeito por essa diligência, mas agora não conseguia ver da mesma forma.
“Suponho que era óbvio. Ele não tinha motivo para estar animado ou desesperado, já que nunca foi realmente apaixonado por isso.”
Ahmed não entendia como Airen suportava a dor física, mas era claro que não havia sofrimento mental, o que o preocupava. Diferente das outras crianças que treinavam pelos seus sonhos, o garoto estava vazio por dentro. Ele realmente conseguiria encontrar seu caminho? Descobriria seu propósito? Mas as palavras do diretor afastaram esse pensamento.
— Três dos jovens mais talentosos da academia se reuniram ao redor dele — disse Ian. — Esse garoto, com esse tipo de carisma, certamente encontrará seu caminho.
— Eu… O senhor tem razão. Desculpe por não pensar nisso.
— Não, não. Não seja tão duro consigo mesmo… hmph.
Ian não estava tentando repreender Ahmed, então deu uma tosse seca e mudou de assunto.
— Aliás, Airen não era conhecido por ser preguiçoso em sua terra natal?
— Sim, senhor. Na verdade, ele é famoso em toda a parte sul do Reino Heyle.
— Que fascinante. Como ele conseguiu essa fama? Bem… ele realmente me faz ansiar por vê-lo de volta.
“O quarto gênio do continente.” Era o que as crianças diziam. Karl Lindsay, Ignet, Illia Lindsay… E agora, Airen Farreira seria o quarto gênio. O Diretor Ian também concordava. Ele esboçou um sorriso e murmurou para si.
— O Nobre Preguiçoso retorna para casa após um ano como gênio do continente… seria estranho se nada acontecesse.
Passaram-se alguns dias desde a entrevista. Airen Farreira estava sentado em uma pedra fora da academia. A carruagem de sua família ainda não havia chegado, mas ele queria esperar do lado de fora. Estava em estado de letargia nos últimos dias e tentava acalmar sua mente perturbada. Mas, como hoje era seu último dia na academia, precisava se despedir das pessoas antes de partir.
A garota de cabelos prateados, Illia Lindsay, aproximou-se e lhe entregou algo.
— Venha me visitar quando tiver tempo — disse Illia.
— O que é?
— É a placa da nossa família. Você não será maltratado se a tiver quando me visitar.
Parecia ser mais que apenas evitar maus-tratos. A placa tinha o tamanho de dois dedos, mas era feita de um metal valioso, com uma gravação detalhada de uma águia com uma espada no bico.
Era um item caro demais para receber, mas Airen não pôde recusar sua hospitalidade. E isso não foi tudo.
— Vou te dar um presente se vier — disse Illia.
— Um presente? Que tipo de presente…?
— Uma flor.
— Uma flor?
— Adonis. É a mesma flor do bracelete que você me deu.
— Oh…
Airen ficou surpreso ao ouvi-la dizer que lhe daria uma flor, até que ela mencionou a flor do bracelete que ele havia lhe dado. Ele nunca soube que tipo de flor era, já que apenas pediu para sua irmã fazer um bracelete e entregá-lo.
— Você tinha esse tipo de flor em casa? Não sabia — perguntou Airen.
— Não, eu não as tenho.
— Hã?
— Arranquei todas quando tinha sete anos.
— O quê?
— Mas estou pensando em cultivá-las de novo. Elas florescem em abril ou maio, então seria ótimo se me visitasse nessa época no próximo ano, antes de retornar à academia.
Airen não sabia o que dizer.
— Claro, você pode vir antes, se quiser.
As falas da Illia Lindsay estavam muito confusas hoje. Airen nunca achou que ela fosse alguém fácil de prever, mas nada assim. Sua confusão atrasou sua resposta, então Illia perguntou novamente.
— Vai recusar um pedido da sua amiga?
— Amiga?
— Por quê? Passamos um ano juntos e estamos bem próximos… isso não nos torna amigos?
— Acho que sim.
Illia realmente estava estranha hoje. Estava mais falante que o normal e não hesitava em dizer coisas tão embaraçosas.
“Talvez seja assim que ela realmente é.”
Talvez Illia estivesse mais à vontade porque havia se livrado de um peso. Airen achava que ela parecia melhor assim e a achava mais fácil de conversar.
Mas ele não sabia o quanto as orelhas dela estavam vermelhas, apesar de sua conversa calma. O garoto respondeu sem hesitar.
— Certo. Eu irei.
— Bom.
Os dois então conversaram sobre várias coisas. Illia falava, e Airen escutava. Ela falou sobre sua família e seu pai, perguntou sobre a propriedade dos Farreira e torceu por ele.
Ele tinha certeza de que essa era sua verdadeira personalidade. Sorriu ao ver o lado mais brilhante da garota. Foi então que viram uma carruagem se aproximando, exibindo o brasão da família Lloyd.
Quando chegou ao portão da frente, alguém desceu e enviou uma mensagem para dentro. Brett Lloyd sairia logo. Tanto Airen quanto Illia ficaram abatidos ao pensar nele.
“Brett… ouvi dizer que ele vai desistir e voltar para casa”, Airen pensou.
Brett Lloyd era um garoto talentoso, apaixonado, trabalhador e com uma nobre arrogância distinta, mas essa confiança fez dele um exemplo para muitos. Ele era um verdadeiro nobre. Por isso, foi devastador vê-lo nos últimos dias. Ninguém ousava falar com ele, pois o desespero em seu rosto parecia profundo e sombrio.
“Espero que ele supere isso”, pensou Airen. Ele realmente esperava que Brett se reerguesse. Mas era tudo que podia fazer. Faltava-lhe experiência para saber como ajudar.
O mesmo valia para Illia Lindsay. Ela não era tão próxima de Brett, e saber pelo que ele estava passando tornava tudo ainda mais difícil. Não tinha como confortá-lo.
Enquanto ambos estavam perdidos em pensamento, Brett abriu o portão da academia e saiu. Seus olhos estavam sombrios, sua pele opaca. O jovem gênio apaixonado não existia mais; restava apenas um garoto sem vida, que parecia ter perdido tudo. E nesse estado, caminhou sem olhar para trás, carregando nenhuma mágoa. Moveu-se para subir na carruagem e deixar a academia, voltando para sua família.
Airen e Illia nada podiam fazer em sua tristeza, mas nem todos eram iguais. A garota de cabelos vermelhos irrompeu da academia. Antes que ele pudesse subir na carruagem, ela correu, agarrou o ombro de Brett e lhe deu um soco no rosto. Derrubado no chão, ele olhou para cima, com dor e confusão, para quem o havia socado.
— O q-quê?
Em vez de responder, Judith lhe deu mais um soco.