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Reformation of the Deadbeat Noble – Capítulo 41

Feiticeira (2)

— Sim. Espero que goste — disse Airen Farreira.

Kiril já estava desembrulhando o presente antes mesmo que ele terminasse de falar. Ela abriu a pequena caixa e tirou o item de dentro. Era um belo colar com safira azul, mas isso não importava. O importante e surpreendente era que seu irmão, que estivera preso em seu quarto por tanto tempo, havia pensado nela. A garota de doze anos olhou brevemente para o colar e falou.

— …b-gada.

— O quê?

— …Obrigada. Não me faça repetir — retrucou Kiril.

— Ah, desculpa…

Ela falou em um tom mais baixo que o normal, mantendo o tom ríspido habitual. Ao ver a cena, o barão e a baronesa sorriram amplamente. Kiril dizendo obrigada já era algo, mas a mudança positiva de Airen tocou-os profundamente.

O Nobre Preguiçoso sentiu-se aliviado ao vê-los tão felizes.

“Preciso agradecer ao Marcus por isso.”

Seu servo garantiu que seu mestre trouxesse alguns presentes para a família nesse reencontro. Se não fosse pelo conselho dele, Airen teria voltado de mãos vazias.

“Preciso estar mais atento a eles para compensar o tempo que perdi.”

Airen não sentia que havia mudado, mas todos ao seu redor sabiam que o primogênito dos Farreira havia se transformado bastante. Isso trouxe um brilho especial ao ambiente familiar. Ele estava prestes a tirar um presente para seus pais quando uma voz o interrompeu.

— Ah, entendo. Achei que seu cheiro era familiar. Então, você é o irmão dela?

— Hieeek! — Kiril gritou ao ouvir a voz repentina.

— Ah, desculpe! Não estava tentando assustar você. Só pensei que seria melhor tentar convencer seu irmão em vez de você, e estava falando sozinho — disse a voz estranha, que na verdade era a gata Lulu, desculpando-se enquanto esfregava as duas patas dianteiras.

— Ninguém fala sozinho em frases tão longas! E o que quer dizer com convencer meu irmão? — disse Kiril, descendo do colo da mãe e pegando a Feiticeira Lulu.

O barão e a baronesa ficaram surpresos, mas a gata preta deixou que ela o segurasse. Lulu falou, com as costas esticadas por estar sendo segurada no ar.

— Só pensei que seria mais fácil lidar com ele. Além do mais… — disse Lulu.

— Além do mais? — Kiril perguntou.

— Você gosta muito do seu irmão, então pensei que o ouviria se eu o convencesse. Esse é o meu plano, pelo menos.

— …

— Opa. Talvez eu não devesse ter dito isso. Esqueça o que falei, está bem?

— Eu nunca vou me tornar sua aprendiz se continuar invadindo meu espaço pessoal! — gritou Kiril Farreira, seu rosto avermelhado de raiva.

Lulu recuou, então escapou rapidamente das mãos dela e se desculpou.

— Desculpa! Não farei isso de novo! Não me odeie!

Em seguida, ela saltou no ar e desapareceu, como se nunca estivesse ali.

Harun Farreira suspirou ao observar tudo aquilo. — Não tenho ideia de como lidar com isso.

Era uma situação complicada. Seria ideal se a Feiticeira Lulu se tornasse a professora de Kiril. Mas ainda era incerto se a gata era confiável e se Kiril a aceitaria. Eles precisavam de mais tempo.

Mas o problema se tornaria mais sério se o relacionamento deles se deteriorasse. O que aconteceria se a poderosa feiticeira, que podia facilmente se infiltrar no castelo, se tornasse um inimigo? Harun Farreira não gostava nada dessa ideia. Mesmo que Kiril não aprendesse com a gata feiticeira, precisavam manter boas relações.

“Mas como…”

— Querido?

Amelia Farreira chamou o barão em um tom calmo. Ele se virou para a esposa. Viu sua expressão serena, que trazia paz a todos que a observavam.

— Vamos pensar nesse problema depois e focar em Airen agora. Ainda nem ouvimos sobre a academia — disse a baronesa.

— Certo. Podemos falar sobre a feiticeira depois. Airen, conte-nos sobre Krono. Como foi? Aprendeu bastante? — perguntou o barão a Airen.

— Sim… desculpe, Airen. A gata feiticeira é importante, mas eu tinha esquecido do mais importante — disse Kiril.

— Não, está tudo bem, pai. E Kiril… por onde devo começar?

Airen sorriu após balançar a cabeça em resposta às palavras do pai. Achava difícil sorrir, tão acostumado que estava a ser inexpressivo, mas agora conseguia fazer isso com mais naturalidade. Depois disso, a família Farreira teve um momento agradável. Foi o dia em que o Nobre Preguiçoso falou mais do que em qualquer outro momento de sua vida.


Era tarde da noite após um dia agitado. Airen estava em seu quarto, perdido em pensamentos enquanto olhava pela janela. Pensava sobre a Academia de Esgrima Krono, o conselho do diretor, sua esgrima, sua família, sua irmã, a gata feiticeira Lulu e a família Gairon.

O mundo fora de seu quarto era complexo e desafiador. Nada parecido com antes, quando podia simplesmente fechar os olhos e os ouvidos e fugir. Mas, mesmo considerando isso, ele preferia assim agora. Lembrava-se da conversa com sua família e de seus sorrisos.

“Eles gostaram tanto, mesmo sendo apenas um presente…”

Ele estava mais feliz com a reação da família do que com sua aceitação condicional na academia. Airen sentia-se feliz e ao mesmo tempo arrependido. Sentia-se mal ao ver seus pais e sua irmã tão animados com algo comum que qualquer filho mediano faria por sua família, e lamentava o tempo que desperdiçara até agora.

“Não vou mais fazer isso.”

Airen fechou o punho. Não precisava fazer algo grandioso por sua família, pois ainda não estava preparado para isso, e seus pais também não desejavam isso. Só precisava parar de fugir. Mesmo que fosse difícil e pesado, ele só precisava continuar firme e se manter orgulhoso. Isso já seria o suficiente para colocar um sorriso no rosto de sua irmã, em vez da expressão irritada de costume.

“E eu… não posso adiar minha busca pela esgrima.”

O rosto de Airen ficou sério. Ian, o diretor da Academia de Esgrima Krono, havia lhe dado uma tarefa muito desafiadora. Ele nunca tinha considerado algo tão vago e filosófico. Só de pensar nisso, uma dor de cabeça o atingia, o que o fazia querer desistir.

Mas ele não podia fazer isso. Se ele apenas se acomodasse porque era difícil, não alcançaria nada. Aprendeu isso ao levantar-se da cama para treinar depois que o sonho surgiu.

Airen soltou uma risada. Estava tentando encontrar sua esgrima para se libertar do sonho, e, no entanto, era o sonho que ainda o ajudava no processo. A ironia parecia uma descrição apropriada.

— Bem… está tudo bem.

Airen Farreira balançou a cabeça. Pensar demais se transformava em preocupação, que se transformava em ansiedade. A ansiedade então se tornava depressão, letargia e autocrítica. Pelo menos para ele, era o que acontecia. Ele aprendeu isso durante os últimos dez anos. Então, começou a limpar seus pensamentos inúteis, e o trabalho do dia seguinte ficou claro para ele.

Airen chamou do quarto.

— Alguém aí?

— Posso entrar, meu senhor? — respondeu uma voz.

— Sim, entre.

Uma criada entrou no quarto, e Airen falou com ela.

— Vou sair para o campo de treinamento às cinco da manhã. Estou avisando com antecedência, então, por favor, prepare tudo.

— Perdoe-me, meu senhor? Amanhã? Mas o senhor acabou de chegar em casa hoje — disse a criada, com um olhar surpreso.

Airen não entendia o motivo de sua surpresa, mas assentiu. — Sim. Há algum problema? — perguntou ele.

— Mas… às cinco, quer dizer… à tarde, meu senhor?

— Eu não teria avisado agora se fosse à tarde. Estou falando da manhã.

— Manhã…

A criada ficou novamente chocada enquanto Airen aguardava em silêncio. Depois de um momento, ela hesitou e finalmente falou o que estava em sua mente.

— Você ficará bem, meu senhor? — perguntou a criada.

— Bem em relação a quê?

— Eu… ouvi dizer que levou mais de duas semanas para o senhor chegar aqui vindo da Academia de Esgrima Krono. O senhor ainda não descansou o suficiente… e se for ao campo de treinamento logo cedo… fico preocupada que possa adoecer…

A criada era jovem, mas trabalhava no castelo há três anos e conhecia muito bem como Airen costumava ser. Mesmo que ele parecesse ter mudado, ela lembrava-se de seu jovem mestre como ‘o Nobre Preguiçoso’.

“Mesmo sem isso… o que ele está tentando fazer já seria demais para qualquer pessoa saudável.”

Como criada, ela não podia pensar de outra forma, mas Airen via as coisas de modo diferente. Ele havia dormido, em média, cinco horas por noite durante o último ano, investindo o tempo restante em treinamento.

Para ele, as duas semanas de viagem até casa foram um descanso. E se não fosse pela tarefa que recebera do diretor, teria treinado até durante o trajeto de volta.

Airen sorriu levemente.

— Está tudo bem. Prepare como eu pedi — disse Airen.

— Sim, meu senhor.

— E prepare alguma comida. Não tem problema comer bastante de manhã.

— Entendido, meu senhor. Mas o salão de treinamento estará cheio amanhã com o treino formal dos soldados. Isso será um problema?

— Não me importo. Não vou ocupar muito espaço.

— Sim, meu senhor. Com licença então.

A criada fez uma reverência educada e recuou para sair do quarto. Murmurou para si mesma ao fechar a porta.

— Ele está envergonhado por não ter entrado na academia?

“Seria estranho se ele tivesse entrado, na verdade.”

Guardou esse pensamento para si mesma e caminhou suavemente em direção à cozinha. Os únicos que sabiam da aceitação condicional de Airen na academia eram sua família e Marcus, então essa era uma reação normal.

— Ele quer algo para comer amanhã cedo?

— Vai mesmo para o salão de treinamento tão cedo?

— Por que está se esforçando tanto?

Todas as criadas na cozinha pensaram o mesmo. Algumas, mais maldosas, achavam que era tarde demais para ele fazer algum esforço, enquanto as mais bondosas achavam bom vê-lo mais energético do que antes.

Infelizmente, ninguém imaginava o quanto Airen Farreira havia crescido na academia. Então a manhã chegou.

— Finalmente, hora do treino.

Eram exatamente 5 da manhã. O Nobre Preguiçoso se preparou e seguiu para o salão de treinamento da família.

Ele não apressou o treino. Fazia tempo que não empunhava uma espada, então alongou cuidadosamente cada parte do corpo. Esticou e relaxou todos os músculos e se animou para o exercício.

Mas isso não era tudo. Todo esse alongamento inicial era para evitar qualquer lesão.

Havia um tempo desde que Airen havia movimentado seu corpo, então sentia o desejo de usá-lo ao máximo. Ele observou o interior do salão de treinamento.

Os equipamentos ali estavam em péssimas condições comparados aos da Academia de Esgrima Krono, mas tudo bem, pois ele tinha muitos exercícios que podia fazer sem eles.

— Não tem ninguém aqui ainda, então devo aproveitar o espaço amplo agora — murmurou em voz baixa, então começou a correr pelo salão.

No entanto, ele não desacelerou e começou a aumentar a velocidade.


— Droga. Por que temos que treinar tão cedo de manhã?

— Eu sei. Esse treino intenso? Que besteira! Seria mais eficiente tomar um bom café da manhã e começar lá pelas nove da manhã…

— Não temos escolha. Ouvi os superiores dizendo que estamos fazendo isso para impressionar outras famílias. Então temos que parecer que estamos treinando pesado.

— O quê? Isso é tão inútil…

Soldados começaram a se reunir no salão de treinamento para o treino formal das 6 da manhã. Estavam reclamando da situação, pois ninguém ali queria acordar tão cedo para se movimentar.

— Hã?

Acontece que havia alguém que queria. O rapaz estava inexpressivo, mas com uma expressão levemente revigorada enquanto corria pelo salão de treinamento.

— Jovem mestre?

— Ele voltou?

— Certo, voltou ontem da academia. Mas…

— Por que está correndo a toda velocidade tão cedo de manhã?

— Ele pode acabar doente com isso!

Os soldados comentavam sobre Airen Farreira. Muitos deles pareciam muito preocupados.

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