Demônios já foram humanos, mas ao aceitarem o poder vil dos diabos, suas mentes foram corrompidas e seus corpos transformados, dando-lhes uma nova existência que mal pode ser chamada de humana.
Mas esse demônio era diferente. Se não fosse pelos olhos vermelhos brilhantes, ela pareceria uma pessoa comum. Isso indicava que ela possuía um ego poderoso, não se perdendo completamente mesmo enquanto o diabo se apoderava de algo que ela prezava. Hill Burnett nunca tinha visto algo assim em suas cinco caçadas a demônios.
“Não acho que perderemos, mas…”
Ele rapidamente examinou a caverna ao redor. Os soldados esqueléticos próximos a demônio não pareciam ser uma ameaça, limitando-se a tocar instrumentos. Se era assim, havia a possibilidade da demônio estar escondendo algo inesperado, mas pelo menos parecia estar sozinha. O artefato não reagiu a nada, e Airen também não mencionou nada.
“Vamos vencer!”
Era evidente que Hill e Airen eram suficientes para lidar com esse demônio. E isso o deixava confuso.
“Então por que ela não fugiu?”
Ela certamente sabia que o equilíbrio de poder estava contra ela. Nenhum demônio poderia enfrentar sozinho toda a expedição, não importava o quão forte fosse, a menos que um verdadeiro ‘diabo’ estivesse presente. Além disso, não parecia que a demônio estivesse protegendo algo importante ali. Como já visto, o lugar estava vazio, exceto pelos soldados esqueléticos e pelo piano.
Hill estava imerso nesses pensamentos quando a demônio sorriu e perguntou.
— Gostariam de ouvir mais?
— Cale-se, demônio vil! — gritou o Barão Russell com uma voz digna, respondendo às palavras indiferentes da demônio. Ele não teria tido tal ousadia se os cavaleiros não estivessem ao seu redor.
A demônio, no entanto, não se importou. Ela sorriu de forma sedutora e respondeu ao barão.
— Mas… minha apresentação é tão boa, não acha?
— Maldita…
— O que vocês ouviram foi apenas um aperitivo. Vou servir o prato principal. Será doce e satisfatório… Confortará seus corpos cansados…
— O quê…
— Será tão bom… como um sonho.
— Ent-Então, só uma música… — disse o Barão Russell, acenando com a cabeça em um estado de transe. Ele deu um passo à frente, e ninguém ao seu redor tentou impedi-lo.
— Acorde! — gritou Hill.
— Hã?!
Hill Burnett libertou o barão de seu estado sonhador. O barão recuou assustado ao perceber o que tinha feito. A demônio falou decepcionada.
— Que pena. Eu estava sendo sincera…
— Não precisamos esperar! Vamos acabar com isso antes que o demônio tente outro truque sujo! Cavaleiros do Crepúsculo, em formação de combate!
Hill tomou a decisão. Estava preocupado com o que a demônio poderia estar escondendo, mas concluiu que era melhor atacar antes que ela tivesse tempo para se preparar.
Os cavaleiros avançaram ao comando, enquanto os soldados das seis famílias protegiam magos, sacerdotes e nobres. Essa era a formação básica planejada para a expedição.
Mas os cavaleiros não puderam avançar, pois a demônio revelou seu poder de uma vez.
— O quê?!
Uma mão surgiu das sombras abaixo, arrastando um dos soldados para a escuridão. Logo, o Visconde Gairon gritou em choque quando o soldado surgiu ao lado da sombra da demônio.
— Sir Stewart!
— Jack!
— Oh, esse é seu nome? Que bom te ver, Jack — disse a demônio com um sorriso.
O longo cabelo negro da criatura começou a se mover sozinho e se enrolou ao redor do pescoço de Jack. Ele foi erguido no ar, lutando para respirar enquanto o cabelo o sufocava.
O ar ficou tenso entre os soldados, e a demônio falou com eles.
— Ah, não se preocupem tanto. Estou limitada no quanto posso fazer com este poder.
— Você…! — gritou o visconde com raiva.
— E eu não vou matar Jack. Sou uma pacifista, sabiam?
— Que absurdo você…
— Vamos fazer um acordo.
O cabelo que segurava Jack ergueu-o ainda mais alto.
— Troquem esta bela e talentosa eu…
Ela disse, apontando para si mesma.
— Por este cavaleiro incrível e charmoso. Podemos fazer uma troca.
— O que acham? Não é um bom acordo? Vocês me deixam ir, e eu libero ele quando estiver em segurança — disse a demônio ao visconde.
— Não minta! — respondeu o visconde.
— Mentir? Em nome do meu mestre, Lorde Lastro, eu juro que assegurarei a segurança dele se garantirem a minha.
— Nngh…
— Visconde Gairon! — chamou Hill.
Ele não precisou explicar, pois todos sabiam que estava dizendo para o visconde não cair nas palavras da demônio.
— Nunca negocie com um demônio sob qualquer circunstância — era a orientação do Reino Sagrado.
“Mesmo sem essa orientação, precisamos matá-la! Esse demônio causará ainda mais destruição se escapar daqui vivo…” pensou Hill.
E, nesse caso, a vida de Jack teria que ser sacrificada. Hill estava decidido a atacar, mesmo que Gairon se opusesse, mas sabia que isso causaria confusão na expedição. Era melhor que o visconde tomasse a decisão certa.
Hill ficou tenso. Será que o visconde leu seus pensamentos? Ele franziu a testa, pensou profundamente e falou hesitante.
— Nós, os Gairon… não negociaremos com um demônio vil!
Alguns cavaleiros suspiraram de alívio. Olharam para o visconde com admiração e um toque de tristeza. Como ele poderia decidir sacrificar o primeiro cavaleiro de sua família pelo bem do continente? Era a decisão certa, mas certamente não era fácil.
— Obrigado… e Sir Stewart, sinto muito — disse Hill Burnett.
Ele sabia o peso dessa decisão. Hill assentiu e voltou-se para a demônio com um olhar decidido. A atmosfera mudou de imediato, e a demônio parecia frustrada. Com a negociação fracassada, todos acreditaram que não havia como a demônio sobreviver. Os Cavaleiros do Crepúsculo começaram a avançar.
Foi quando a demônio mudou sua expressão. Ela trocou de rosto tão rápido quanto alguém tira uma máscara. Hill sentiu um arrepio percorrer sua espinha quando a demônio revelou mais uma vez seu poder.
— Aaargh!
Foi como um déjà vu. Outra pessoa foi arrastada para as sombras e apareceu ao lado da demônio. O cabelo negro envolveu firmemente o pescoço do novo refém. Desta vez, era Ryan Gairon, o filho mais velho do visconde, que havia sido capturado.
O Visconde Phil Gairon gritou muito mais alto do que antes.
— Ryan! Não!
— Esse é o sacrifício que temos que aceitar! Todos, ataquem…
— Parem! Parem agora! — gritou o visconde com uma voz áspera.
Hill Burnett e todos os Cavaleiros do Crepúsculo pararam imediatamente. Algo na voz do visconde era diferente. Não era como antes, quando Jack foi capturado. Havia uma sensação sombria, como se avançar pudesse provocar algo terrível.
E essa sensação era verdadeira. Phil Gairon franziu o rosto enquanto ordenava aos seus soldados.
— Todos, parem os Cavaleiros do Crepúsculo.
— Visconde Gairon! — Hill Burnett gritou, furioso.
— Barão Russell. Barão Lester. Tenho certeza de que vocês ficarão ao meu lado, não é?
— Parem… os cavaleiros — disse o Barão Russell.
— Parem eles — repetiu o Barão Lester.
Russell e Lester hesitaram, mas não tinham escolha. O visconde conhecia as fraquezas deles, obrigando-os a obedecer.
O rumo da situação mudou novamente. Hill gritou, frustrado.
— Visconde Gairon! Não vou deixar isso passar!
— Podemos conversar sobre isso outro dia! Ainda não será tarde demais! — gritou o visconde, apressado.
— Do que está falando?!
— Cala a boca! Siga o que ela diz! Você! A negociação ainda está de pé?
Phil Gairon falou de maneira desconexa, como se tivesse enlouquecido. A demônio sorriu, satisfeito, e assentiu.
— Claro. O que eu disse antes? Juro pelo nome do meu mestre, Lorde Lastro, que cumprirei minha promessa.
— Ótimo. Vamos bloquear os Cavaleiros do Crepúsculo…
— Cavaleiros do Crepúsculo! Não deixem ninguém nos impedir de caçar o demônio, não importa seu posto ou identidade! — Hill Burnett gritou para seus cavaleiros.
— Hill Burnett!!! — o visconde gritou, desesperado.
Todos os soldados da expedição ficaram confusos ao assistir à cena. Barão Lester e Barão Russell estavam com medo de enfrentar os Cavaleiros do Crepúsculo, mas não podiam desobedecer ao visconde, e os soldados ficaram desorientados, sem saber como agir.
Os próprios Cavaleiros do Crepúsculo estavam em um dilema. Enfrentar várias famílias nobres era um peso enorme, mesmo considerando a importância de caçar a demônio. As outras três famílias, além de Gairon, Russell e Lester, também estavam confusas.
A demônio virou-se para Jack, o primeiro refém, e sussurrou.
— O que acha, Jack? Parece que eles te tratam muito diferente deste jovem… Me diga como se sente.
— Nrg… nngh…
— Ah, me desculpe! Você não pode me responder porque estou te estrangulando. Mas tudo bem. Eu sei como você se sente.
Desespero, raiva, tristeza e todos os tipos de emoções negativas inundavam Jack. A demônio riu ao observá-lo, então voltou sua atenção para o caos entre os soldados.
Ela não havia fugido porque queria assistir àquela cena. Lambeu os lábios, tão vermelhos quanto seus olhos, enquanto olhava os rostos de cada um. Aquilo lhe dava uma sensação de êxtase que quase a fazia perder a sanidade.
Ela não acreditava que morreria. Não importava se alguns soldados tentassem atacá-la. A menos que investissem com força total, ela estava confiante de que conseguiria sobreviver ao caos.
“Então, vamos aproveitar o momento. Vou gravar essas caras estúpidas na minha memória como uma boa lembrança.”
E foi com esses pensamentos que seus olhos se depararam com uma pessoa peculiar.
— Hmm?
Um jovem loiro, com uma expressão inabalável e olhos fechados, permanecia parado. Ele parecia estranho. Estava na posição de quem segurava uma espada, mas sua mão estava vazia.
“Espere… acho que ele está assim desde o começo.”
A demônio refletiu e percebeu que estava certa. Aquele homem estranho estava parado assim desde que ela terminou sua música e os cumprimentou. Ele permanecia imóvel, como se estivesse enraizado no chão, olhos fechados e em uma postura peculiar.
Era como se estivesse esperando. Não, ele estava reunindo poder.
A demônio usou seu poder novamente, mas dessa vez não era para capturar outro refém. Ela tentava escapar. Não ignorou os sinais de perigo.
“Ele… nunca…”
Aquele homem nunca pensou em deixá-la partir. Ela finalmente percebeu isso e tentou fugir, mas foi nesse momento que Airen Farreira abriu os olhos.
E, naquele instante, uma espada gigantesca apareceu do nada e desceu.
Ela não conseguiu desviar ou bloquear o golpe. Nem teve tempo de reagir enquanto o ataque cortava seu corpo ao meio.