A Academia de Esgrima Krono.
Como a academia de esgrima mais prestigiada do continente, ela aceitava e treinava apenas jovens com talento excepcional, independentemente de sua nacionalidade, gênero ou classe social. Apenas ser aceito como aprendiz já garantia um tratamento digno da realeza. Era considerada superior à Academia Real, e por isso todos os jovens interessados em esgrima queriam estudar lá.
Mas… era desafiador. Tanto ser aceito quanto permanecer lá.
Apenas aqueles com talento excepcional conseguiam se formar na Academia de Esgrima Krono. Os que eram deixados para trás na competição tinham que voltar para casa com desespero e autopiedade.
Esse era o dilema do Barão Farreira. Só podia ser.
“Será que Airen tem o que é preciso para enfrentar uma competição tão feroz?”
As palavras de Bran Sommerville encheram o barão de alegria. Ontem mesmo, ele ficou acordado até tarde, imaginando seu filho crescendo como um cavaleiro talentoso. Mas, como o barão sabia o quão traiçoeiro era esse caminho, ele não forçou isso ao filho. Estava preocupado de que o garoto pudesse fracassar, o que o faria voltar para o quarto de onde finalmente tinha saído. Em vez disso, o barão calmamente perguntou a opinião de Airen.
A resposta veio dois dias depois.
— Eu gostaria de tentar — disse Airen.
Ele parecia incomumente determinado, então o barão apenas deu um tapinha no ombro dele. Foi o momento em que o pássaro que nunca havia tentado voar finalmente saiu da gaiola.
Click, clack. O som de cavalos conduzindo uma carruagem ecoou.
Era o final de abril, sem vestígios do frio restante. O Nobre Preguiçoso, Airen Farreira, deixava a propriedade pela primeira vez na vida. Ele estava a caminho da Academia de Esgrima Krono.
Claro, apenas chegar lá não era o fim. Embora levasse consigo a carta de recomendação do cavaleiro errante, Bran Sommerville, isso apenas lhe dava o direito de ser testado como aprendiz.
Para ser formalmente aceito na academia, ele precisaria passar por um treinamento de um ano e completar dois exames com bons resultados.
Airen fechou os olhos suavemente.
“Será que eu tenho o que é preciso para isso?”
Ele não confiava em seu próprio potencial. Ficou preso na cama por muito tempo e achava que esperar um bom resultado era ambicioso demais. Mas havia dois motivos pelos quais Airen decidiu ir para a academia.
Primeiro, ele queria aproveitar essa chance para transformar sua vida.
Não há como saber… quanto tempo essa condição vai durar.
Ele não era mais preguiçoso, pois agora era mais dedicado que qualquer outra pessoa. Mas isso só acontecia devido a um sonho misterioso. Isso significava que, se o sonho acabasse, havia uma chance de ele voltar a ser o antigo Airen preguiçoso.
“Eu não quero… ficar deitado em desespero de novo! É por mim e pela minha amada família.”
Mesmo que o que Airen fizesse fosse por acidente, sua família ainda torcia por ele por mais de dez anos. Ele queria se tornar um filho e irmão do qual todos tivessem orgulho. Foi por isso que precisava se desafiar enquanto ainda tinha vontade de seguir em frente. Ele precisava se empurrar para um ambiente onde não pudesse parar.
— Ufa. — Airen soltou um suspiro.
Novo ambiente e novas pessoas. Tudo aquilo era um fardo para um garoto que se isolou em seu quarto por tanto tempo. Ele se forçava a ter coragem, mas não conseguia parar de pensar em virar a carruagem e voltar para casa.
Mas o segundo motivo foi o que realmente o impediu de fazer isso.
O forte desejo de replicar a esgrima do homem do sonho sobrepujou tudo. Airen vinha brandindo uma espada obsessivamente no último mês. Graças a isso, ele estava muito mais forte e com uma postura mais estável.
Mas não era o suficiente. Havia um limite para o quanto ele poderia treinar sozinho. Ele queria se tornar mais parecido com o homem. Queria que sua própria esgrima estivesse no mesmo nível da esgrima dele, fosse ela excepcional ou não.
Era evidente que a Academia de Esgrima Krono proporcionaria o melhor ambiente para alcançar esse objetivo.
“Mas quem é o homem do meu sonho?”
Airen não sabia muito sobre ele. Não sabia o motivo de seus treinos, há quanto tempo ele treinava, ou o que ele havia conquistado ao final de sua vida sofrida.
Foi por isso que subestimava seu próprio potencial. Ele não achava que aquele homem pudesse ser muito habilidoso, já que tudo o que ele tinha era uma espada enferrujada e um quintal.
Mas isso não importava. O homem deu a Airen determinação, força de vontade e a coragem para seguir em frente. E isso era suficiente.
O Nobre Preguiçoso terminou de pensar e abriu os olhos.
— Chegamos, meu senhor — disse o cocheiro.
A carruagem já estava na Academia de Esgrima Krono. Aquele não era o local principal da academia, mas enormes edifícios eram visíveis pela janela da carruagem.
“Será que investiram tudo isso apenas para os aprendizes? Ou foi construído para outro propósito?” Esse pensamento passou pela mente dele, mas logo o descartou como irrelevante. Em seguida, respirou fundo e saiu da carruagem.
— Obrigado. Você pode voltar — disse Airen.
— Vou escoltá-lo até a entrada, meu senhor — respondeu o cocheiro.
— Eu teria trazido minha família, se quisesse. Mas sou apenas um aprendiz a partir de agora, então preciso me acostumar a ficar sozinho. Não se preocupe comigo.
— Entendido, meu senhor. Que o senhor obtenha resultados excepcionais — disse o cocheiro enquanto se curvava educadamente e partia. Ele ficou feliz em ver a mudança no jovem lorde. Isso colocou um sorriso em seus lábios.
Após assistir à carruagem partir, Airen soltou um longo suspiro e foi em direção à entrada da academia, onde um grupo de pessoas esperava. Um deles apresentava um novo aprendiz.
— Este é o Lorde Brett Lloyd, filho do Conde Lloyd, uma família distinta do Reino Gaveirra. Ele foi recomendado pelo renomado cavaleiro, Sir Cole Swadey.
Um homem que parecia ser o porteiro os cumprimentou. — Entendo! É uma honra encontrar pessoalmente alguém da nobre linhagem Lloyd!
— Também conheço bem os feitos heroicos de Sir Cole Swadey! Talvez eu esteja diante de um futuro graduado! — respondeu outro porteiro.
A Casa Lloyd era tão famosa que até mesmo Airen tinha ouvido falar dela. Diziam até que eles tinham controle sobre o Reino Gaveirra, o que provavelmente explicava por que seu tom de voz carregava a distinta arrogância da alta nobreza.
Os porteiros pareciam intimidados ao entregar à família um mapa da academia e escoltar Brett Lloyd. Depois que os servos dos Lloyd partiram, chegou a vez de Airen Farreira.
Ele se curvou e se apresentou.
— Sou Airen Farreira, filho do Barão Farreira. Estou aqui por recomendação do cavaleiro errante, Sir Bran Sommerville. É um prazer conhecê-lo.
Foi uma introdução comum, sem exageros sobre si mesmo ou sobre o nome de sua família. Ele poderia ter tentado impressioná-los, se quisesse. Embora a família Farreira ocupasse o posto mais baixo entre a nobreza, eram bastante ricos por estarem no centro do comércio.
Não era nada de que se gabar, especialmente se comparado aos Lloyd, uma família nobre de alto escalão vinda de um reino poderoso. Ainda assim, considerando que até mesmo plebeus tentavam encontrar maneiras de impressionar os outros, a abordagem de Airen era bem diferente. Mas ele só agia assim porque sentia que nenhuma de suas conquistas era realmente sua.
“Sou apenas um idiota preguiçoso que não fez nada nos últimos dez anos.”
Ele não tinha o direito de se vangloriar. Além disso, como não havia diferença de classe, idade ou gênero na Academia de Esgrima Krono, Airen acreditava que tais informações eram desnecessárias.
Após concluir sua apresentação, Airen aguardou pacientemente, e, assim como com Brett Lloyd, os porteiros começaram a causar um alvoroço.
— Ah! É uma honra conhecer o jovem lorde da família Farreira! — exclamou o primeiro porteiro.
— Que honra conhecê-lo! E, claro, conhecemos o Sir Bran Sommerville. Ele foi quem liderou a batalha contra os demônios durante décadas! Se você foi recomendado por ele, é óbvio que será aceito! — disse o outro porteiro.
— Farei o meu melhor, seja qual for o resultado — respondeu Airen.
— E eu espero o melhor para você. Aqui está o mapa do terreno da academia. A localização do auditório está marcada. Desejamos-lhe boa sorte.
Os porteiros se curvaram, e Airen fez o mesmo. Quando o garoto desapareceu além do portão, os dois porteiros começaram a conversar.
— O que deu naquele velho Bran Sommerville? Ele não costuma escrever recomendações.
— Eu sei. Mas aquele garoto… Não é ele o Nobre Preguiçoso?
— O Nobre Preguiçoso? O que é isso?
— Você não ouviu falar? O famoso preguiçoso dos Farreira?
— Não. Mas acho que entendi o que você quer dizer… vendo o físico dele.
— Com certeza, ele parece fraco demais. O que aquele velho teimoso vê nele? — disse o porteiro barbudo com uma expressão curiosa.
— Bom, acho que logo vamos descobrir — respondeu o porteiro com a sobrancelha marcada por uma cicatriz.
— Certo. E aí vem mais um grupo.
— Acho que quase todos já estão aqui. É bom terem chegado cedo.
Enquanto outro aprendiz chegava, seus olhares penetrantes se tornaram novamente ingênuos. Os dois voltaram ao seu papel modesto de porteiros e deram boas-vindas educadas ao novo aprendiz.
O auditório ficava mais longe do que Airen imaginava. A academia era um lugar enorme, mas ele encontrou o caminho graças ao mapa detalhado. Ele gostou de observar as estruturas misteriosas ao longo do trajeto e logo estava na entrada do auditório.
Sentiu um fardo intenso recaindo sobre ele.
“Calma. Calma.”
Ali haveria inúmeros jovens talentosos. Alguns poderiam ser considerados prodígios desde a infância. Ele não era como eles. Mas por que isso importava?
“Eu não estou aqui para competir com os outros.” Ele estava ali para superar o passado e viver um dia melhor. Estava competindo apenas consigo mesmo. Pensar assim o fez se sentir bem melhor.
“Vou dar o meu melhor para não me arrepender dessa decisão.”
Airen firmou sua mente e abriu a porta para entrar no auditório.
Muitas cabeças se viraram para encará-lo. Ele não conseguiu esconder sua frustração.
“O quê? Por que todos estão me olhando?” Ele pensou. Não estavam apenas o encarando porque era um novato. Estavam certamente curiosos a seu respeito, mesmo sem o conhecer.
Felizmente, ninguém foi falar com ele. Se tivessem, ele não saberia como responder. Ele tinha pouquíssima experiência social além da convivência com sua família, então achou essa situação bastante desconfortável.
Mas isso não significava que centenas de olhares silenciosos fossem confortáveis. Felizmente, isso também não durou muito.
— Hã?
— Aquele homem…
— O quê? Ele não é o porteiro?
Os jovens murmuravam entre si enquanto um homem de meia-idade subia ao palco. Todos o reconheceram. A cicatriz em sua sobrancelha era marcante demais para ser esquecida, e fazia pouco tempo que o tinham visto.
“Então ele não era um porteiro…”
“Era um instrutor?!”
O homem com a sobrancelha marcada parou e falou como se respondesse às perguntas que todos os aprendizes tinham em mente.
— Bem-vindos, aprendizes… isto é, aprendizes preliminares — disse o homem. — Sou seu instrutor, Ahmed. A partir de hoje, serei responsável por ensinar e avaliar todos vocês.
Swoosh! Um momento depois de sua apresentação, uma aura foi liberada do corpo do instrutor Ahmed. Não era apenas uma sensação estranha ou algo parecido. Era uma força real destinada a subjugar seu alvo. A energia se espalhou sobre todos os jovens presentes no auditório.