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Reformation of the Deadbeat Noble – Capítulo 84

A Fortaleza Alhaad (2)

As palavras do capitão da escolta chocaram Trent. Uma plaqueta prateada? Isso era impossível. Ele duvidava do que tinha ouvido e olhou novamente para o capitão da escolta, esperando que ele dissesse algo como: “Ah, me enganei. Vamos fazer o teste.” Assim, o loiro revelaria suas habilidades medíocres, e…

Mas a imaginação de Trent parou por aí. Airen assentiu e se virou, e o capitão da escolta não o chamou de volta. Então, Trent correu apressado até o capitão.

— S-senhor!

— Hmm? O que foi?

— E-essas pessoas! Por que não os fez passar pelo teste?

— Ah, claro. Um orc oráculo é símbolo de sorte, então é bom tê-lo conosco. Não gosto muito da gata preta, mas sendo a mascote do orc, isso não deve ser problema.

— E o loiro?

— Você não ouviu o que eu disse? Achei que estivesse perto o bastante para escutar… Bem, ele é um mercenário prata. Não é incrível? Nessa idade?

— Sim, ouvi isso… Mas o senhor tem certeza de que viu corretamente…

Trent interrompeu-se ao perceber que o capitão da escolta não parecia apreciar a conversa. O capitão lançou-lhe um olhar severo, fazendo Trent abaixar a cabeça com uma expressão apologética. Logo, o capitão falou com um tom baixo e ameaçador.

— Está dizendo que sou um idiota incapaz de reconhecer uma plaqueta de mercenário?

— Não, eu só…

— Já vi centenas de plaquetas falsas. Sou um especialista em identificá-las — bradou o capitão. — Além disso, ele recebeu a plaqueta em Alcantra.

— O quê?

— Se fosse fazer uma plaqueta falsa, não colocaria o selo da guilda de Alcantra. Terminamos aqui? Próximo!

O capitão desviou o olhar, indicando que não havia mais o que discutir. Trent tampouco tinha intenção de continuar, então recuou com uma expressão vazia, refletindo sobre o que havia ouvido.

“Ele recebeu o nível prata da guilda de Alcantra?”

A Grande Cidade de Alcantra. Trent conhecia bem o lugar. Era onde ficava a Academia de Esgrima Krono, que ele tanto admirava pelos seus guerreiros.

Com uma academia tão proeminente, a guilda de mercenários da cidade era mais rigorosa que outras regiões ao atribuir classificações, então os que alcançavam níveis altos por lá chamavam muita atenção. Isso tornava inviável falsificar uma plaqueta daquele lugar.

Trent, que tinha uma plaqueta bronze de Alcantra, sabia disso. A plaqueta também possuía um complicado encantamento mágico que dificultava sua falsificação.

“Ele… é mesmo um mercenário prata? Nessa idade?”

Era difícil de acreditar. Não, Trent não conseguia acreditar. Aquele moleque despreocupado, com um nível de mercenário superior ao dele?

— O que está fazendo, Trent?

— Não fique aí parado. Vamos.

— Sim…

Mas não havia nada que ele pudesse fazer além de lançar olhares rancorosos para Airen, que parecia ter crescido numa bolha.


O grupo de escolta terminou de reunir as pessoas para atravessar as Montanhas Alhaad. Comerciantes, o capitão da escolta e os mercenários partiram com expressões confiantes. Precisavam cruzar uma área perigosa, onde um infame líder de bandidos habitava, mas ninguém parecia nervoso.

Com duas exceções: Trent, que detestava Airen, e o próprio Airen, que parecia preocupado por um motivo desconhecido.

Lulu observava Airen e se virou para Khubaru.

— Khubaru. Está na hora.

— Hora de quê?

— O conjunto de cavaleira.

— Ah, sim. Onde coloquei… Aqui está!

Khubaru remexeu em sua mochila e tirou algumas peças de metal, semelhantes a uma armadura de cavaleiro, mas em tamanho reduzido. Ele então jogou as partes no ar, com habilidade suficiente para mantê-las próximas.

Num instante, Lulu saltou entre as peças e esticou braços e pernas. As peças se encaixaram, transformando a gata preta em uma cavaleira completamente armada. Lulu caiu no chão, ajoelhada, cravou a espada no solo e falou de forma cavalheiresca para Airen.

— Sir Airen Farreira! Diga-me o que aflige seu coração! Eu, como sua espada, lutarei e destruirei qualquer um que o incomode!

— Ooh…!

— O que é isso?

— Que incrível!

— Tão fofo!

As pessoas da companhia mercante aplaudiram a façanha de Lulu. Alguns bateram palmas, outros, que não sabiam que ela era uma feiticeira, ficaram boquiabertos.

Airen, no entanto, permaneceu calmo. Não era a primeira vez que Lulu fazia algo assim.

— Onde aprendeu a falar desse jeito? — perguntou Airen.

— No livro que li ontem! — respondeu Lulu.

— Muito legal.

— Hehe. Mas não consigo ficar assim por muito tempo. É desconfortável.

Clunk, clunk.

Lulu mal conseguia andar direito com todas aquelas peças de metal, provando que dizia a verdade.

Airen riu, pegou Lulu no colo e começou a remover as peças. Khubaru, enquanto recebia as partes de metal de Airen, perguntou:

— Eu sei que a Lulu acabou de perguntar, mas faço a mesma pergunta.

— Sobre o quê? — perguntou Airen.

— Sobre você. Geralmente você parece indiferente, mas hoje está ainda mais apático. Algo está te incomodando? Posso parecer velho falando assim, mas talvez eu possa compartilhar um pouco de sabedoria.

— Hmm…

Airen suspirou. Claramente algo o preocupava, e Khubaru e Lulu esperaram pacientemente. Mas o que Airen disse logo em seguida foi muito mais sério do que esperavam.

— Tenho muitas coisas na cabeça, mas o que mais me preocupa é… se eu consigo matar uma pessoa.

— Hã?

— Nunca matei ninguém.

Era assustador ouvir isso de um jovem com aparência tão inocente e ingênua. Mas Airen era espadachim e mercenário, então era natural pensar sobre isso. Esse pensamento estava ainda mais presente por estar escoltando comerciantes contra bandidos.

Khubaru ficou sério, assim como Lulu, que abandonou sua atitude brincalhona. Airen continuou.

— Claro, mercenários experientes achariam tolice hesitar em relação a criminosos que machucam e roubam comerciantes inocentes… Mas esses criminosos ainda são pessoas vivas.

Proteger os comerciantes era o certo a se fazer, afastando os ladrões. Mas ele não sabia se estava pronto para matar alguém no processo. E tinha ainda mais dúvidas.

— É melhor matar rapidamente o líder dos inimigos e forçá-los a se render? Ou apenas ameaçá-los e afugentá-los? Mas e se isso permitir que sobrevivam e roubem outra pessoa? Então não posso dizer que fiz a escolha certa…

Airen continuava a expor seus pensamentos.

Khubaru sorriu ao ouvir o dilema do jovem de vinte e um anos, ao mesmo tempo puro e ingênuo. Ele gostava disso em Airen. Talvez fosse frustrante para alguns, mas ter pensamentos tão profundos sobre a situação era melhor do que usar a força sem hesitação.

Depois de ouvir, Khubaru assentiu e deu uma resposta. Mas sua resposta não era nada do que Airen esperava.

— Não precisa pensar tanto nisso.

— Por quê?

— Porque você não vai precisar lutar desta vez. Ninguém vai precisar lutar neste trajeto.

— Mas ouvi dizer que há um terrível líder de bandidos chamado Khajal esperando no meio das montanhas…

— Sim, e é por causa do Khajal. Ele quer paz.

— Vigiar os mercadores que passam e cumprimentar os bandidos. Eles vão pedir uma taxa de passagem e se despedir. É isso que os bandidos daqui fazem na Fortaleza de Alhaad.

O que Khubaru disse mudou completamente a perspectiva de Airen sobre bandidos. A Fortaleza de Alhaad, liderada por Khajal, existia há cinco anos nas Montanhas Alhaad. Durante esse tempo, raramente lutavam e garantiam passagem segura para aqueles que pagavam a taxa. Os mercadores contratavam escoltas apenas como um alerta aos bandidos, não para enfrentá-los.

— Esses bandidos são comerciantes por si mesmos. Tenho certeza de que os mercadores não os consideram tão ruins. Sim, são irritantes, mas os comerciantes veem isso como pagar impostos às cidades.

— Mas… eles não são autoridades ou coisa parecida. Estão roubando os comerciantes sem motivo. Por que os países ou os lordes não os caçam?

— Claro que não farão isso. Os bandidos pagam uma bela quantia aos nobres das redondezas — disse Khubaru. Airen parecia frustrado ao ouvir aquilo, mas o orc apenas riu. — Haha, parece que você fica mais chocado a cada coisa que descobre.

— Sim, de fato. Nunca pensei que o mundo fosse tão corrupto…

— É. Mas isso não é algo tão ruim, na verdade. Isso acaba sendo lucrativo para todos.

“Não é algo ruim?” Airen não conseguia entender. Como poderia não ser, quando um governo trabalhava com bandidos para roubar comerciantes? Mas a explicação de Khubaru o chocou ainda mais.

— Primeiro, os lordes das redondezas têm menos trabalho por causa dos bandidos. É difícil definir a jurisdição nesta região, já que fica bem na fronteira, então nenhum governo próximo pode patrulhar as estradas da montanha. É como se os bandidos fizessem isso por eles. Além disso, Khajal traz paz à área. Ele suborna os lordes próximos para que fiquem longe da montanha, impedindo disputas territoriais, e elimina ladrões e saqueadores menores, tornando as estradas mais seguras. Na verdade, ouvi dizer que o caminho pela montanha era mais perigoso antes de Khajal aparecer. Os nobres locais não podiam arcar com expedições para caçar ladrões, então os comerciantes arriscavam a vida ao cruzar a montanha naquela época.

— É… muito complicado.

— Com certeza. O mundo nunca é só sobre certo ou errado, justiça ou injustiça. Sempre há dois lados em qualquer problema.

Airen assentiu em silêncio. As palavras do orc o deixaram abalado. Ele não sabia nada disso quando era jovem, vivendo protegido em sua zona de conforto. Não precisava pensar em outras coisas além de seu treinamento em esgrima enquanto levava uma vida simples.

Mas o mundo era completamente diferente. Muito mais complexo do que imaginava, com diversas ideias e intenções por trás de cada situação. Não conseguia definir o que era certo ou errado, o que o tornava mais cauteloso em suas ações.

“É muita coisa para pensar. Isso me dá dor de cabeça.”

Mesmo assim, Airen não parou de refletir. Não queria. Então, disse a Khubaru:

— Acho… que deveria pensar mais sobre isso.

— Sobre o quê? A Fortaleza de Alhaad?

— Isso e sobre o que falei primeiro.

— Primeiro? Ah… Está falando sobre matar?

— Sim. Talvez não precise decidir agora, mas mais cedo ou mais tarde terei que fazer isso. É frustrante ter tantas questões complicadas na mente quando nem consegui resolver algo mais simples. Mas ainda assim… Talvez seja melhor pensar nisso agora, para que eu faça a escolha certa quando chegar o momento.

Khubaru olhou para Airen em silêncio.

— Isso é sábio da sua parte. Espero que encontre uma resposta — disse Khubaru.

— Estou aqui por você também! É uma questão difícil, mas vai dar certo! — disse Lulu de forma inocente, sem demonstrar preocupação. Mas isso era bom, porque Airen sabia que Lulu o apoiava sinceramente.

Airen sorriu e continuou refletindo enquanto os dois o deixavam pensar em silêncio. Mas as pessoas ao redor tinham opiniões diferentes.

“Ele nunca matou alguém?”

“Ele não sabe nada sobre a Fortaleza de Alhaad? Por que temos um garoto tão inexperiente conosco?”

“Ouvi dizer que ele é nível prata… Mas não consigo acreditar nisso, pelo que diz e por sua aparência tão jovem…”

Alguns até duvidavam das habilidades de Airen. Mesmo que o capitão da escolta tivesse um bom olho, era difícil acreditar que um jovem tão inexperiente fosse um mercenário de nível prata. Isso reacendeu as suspeitas esquecidas de Trent.

“Ele vem de alguma família famosa de espadachins?”

“É muito ingênuo. Talvez tenha vivido numa bolha a vida inteira.”

“Mas como alguém pode ser tão inocente?”

“Por que ele está tendo um dilema tão inútil?”

Embora alguns não questionassem as capacidades de Airen, considerando que não era raro nobres ingênuos terem habilidades excelentes, ainda o menosprezavam. Questionar o sistema que mantinha a região segura há cinco anos? Era, no mínimo, inútil.

— Chegamos.

O tempo passou rapidamente enquanto todos tinham pensamentos diferentes. Logo, estavam diante da Fortaleza de Alhaad, com Khajal e seus bandidos aguardando nos portões.

Mas algo parecia estranho naquele dia. Diferente do habitual, Khajal não sorria. Os bandidos atrás dele também tinham expressões severas.

Logo, Khajal falou sobre uma condição que nenhum deles podia aceitar, revelando o motivo de estarem diferentes naquele dia.

— Deixem metade de seus pertences e vão embora. Pouparei suas vidas.

— Q-quê? Isso é um absurdo… — gaguejou o representante da companhia mercante, chocado.

Airen despertou de seus pensamentos e falou em voz baixa.

— Consigo sentir… energia demoníaca vindo dele.

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