— O quê? — perguntou Khajal.
— Eu disse que sou Airen Farreira, ex-aluno da Academia de Esgrima Krono — repetiu Airen, com uma voz muito mais alta que antes.
Parecia quase que estava se gabando de sua identidade, algo que não era típico dele. Mas ninguém na companhia mercante pensou assim. Todos estavam focados apenas no que Airen havia dito.
— Um ex-aluno da Academia de Esgrima Krono?
— Ele disse que era da 27ª turma?
— Não estavam os ex-alunos da 27ª turma espalhados por todo o continente?
— Airen Farreira? Nunca ouvi esse nome…
— Ouvi dizer que há mais de vinte ex-alunos naquela turma. Talvez apenas não tenhamos ouvido falar dele.
— Uau… Nunca imaginei que veria um dos da 27ª…
— Então é por isso que ele conseguiu o nível prata tão jovem.
— Espere, se for assim… Talvez possamos passar por isso.
— Hã? Ah! Isso mesmo!
— Sim, ele não ousará tocar num aluno da Krono. Estamos salvos agora!
“As coisas estão indo como eu esperava”, pensou Airen, acenando para as pessoas, agora cheias de esperança.
Ele ainda não havia encontrado uma resposta para seu dilema, mas mesmo assim deu um passo à frente contra Khajal. Não conseguia se decidir sobre a questão de matar ou sobre a organização peculiar chamada Fortaleza de Alhaad. Talvez fosse uma decisão fácil para alguém com mais experiência de vida, mas Airen, naquele momento, não conseguia chegar a uma conclusão.
A fortaleza parecia muito diferente do que ele havia ouvido falar. “E isso me deixa ainda mais confuso.”
Por isso, Airen decidiu mudar seu foco. Não precisava encontrar uma resposta para aquelas questões agora. Podia adiá-las até ganhar mais experiência em sua jornada e decidir quando estivesse pronto. Por ora, ele se concentraria na tarefa mais importante: proteger a companhia mercante.
“Não deixarei que nenhum comerciante ou mercenário entre nós morra.”
Mais ainda, ele não permitiria que se machucassem. Esse era seu objetivo no momento. E para alcançá-lo, o melhor seria evitar o combate completamente, se possível.
— Esta é a plaqueta que prova que sou ex-aluno da Krono.
Airen retirou a plaqueta de treinamento do bolso e a entregou a Khajal. Os comerciantes pareciam ainda mais aliviados ao ver Airen exibir o nome de Krono. Mesmo que Khajal parecesse insano, ele não poderia ignorar isso. Se Khajal se impressionasse com a plaqueta, poderiam negociar e talvez atravessar a montanha sem perder seus bens.
Mas Khajal jogou a plaqueta de volta após um rápido olhar. Não parecia sequer ter se dado ao trabalho de examiná-la direito.
— É falsa — afirmou com um sorriso irônico.
— …Não, não é. Recebi-a do Diretor Ian pessoalmente. Deveria olhar melhor.
— Não me importo. Como vou saber se é real ou não? Além disso… já derrotei uns três idiotas que fingiram ser espadachins da Krono nos últimos cinco anos. E nada aconteceu comigo.
— E talvez você seja um desses idiotas — disse Khajal.
— Hahaha! Isso mesmo, chefe!
— Não podemos confiar nesses palhaços com suas plaquetas falsas! Por que sempre encontramos espadachins da Krono ou de alguma das cinco famílias de esgrima famosas?
— Chefe, vamos matar todos eles de uma vez!
Os bandidos pareciam ficar ainda mais hostis, em vez de temerem o nome da Krono. Khajal olhou para seus homens com satisfação, enquanto os comerciantes voltaram a ficar sombrios. Todos perceberam que a Fortaleza de Alhaad não se importava com quem enfrentavam e só queriam lutar. Era inacreditável, mas era a verdade. Nenhum deles, nem mesmo Khajal, dava importância à autenticidade da plaqueta. Isso era incomum, até para os comerciantes mais experientes.
“Isso é impossível… Isso não é o Khajal que eu conheço. Ele nunca ignoraria uma plaqueta como essa!”
Khajal sempre verificava cuidadosamente para evitar atacar indivíduos poderosos por engano. Além disso, não era o tipo de pessoa que procurava briga, tampouco seus homens.
O que havia acontecido? O que os tornara tão hostis e dispostos a causar o caos? O mercador não tinha ideia, mas Airen, agora na linha de frente contra Khajal, observava algo no pescoço do líder dos bandidos.
“Bem… Parece que não tenho escolha senão passar para o próximo plano.”
Airen respirou fundo. Ele realmente não queria usar esse plano, pois era mais arriscado do que ameaçar Khajal com o nome de Krono. E não estava 100% certo de que funcionaria. Esse plano exigia mais do que simplesmente derrotar Khajal, algo que seria muito mais fácil. Guardou a plaqueta no bolso com uma expressão impassível, e Khajal zombou dele por isso.
— Por quê? Já terminou de exibir isso? Por que não coloca na testa e diz: ‘Sou de Krono, então, por favor, não me bata!’ Tenho certeza de que as pessoas ficariam apavoradas. Menos nós, claro — provocou Khajal.
— Hahahaha! — Os bandidos caíram na risada.
— Senhor Khajal — disse Airen.
— Hã? Ei, garoto! Relaxe, vai! Por favor, não comece a implorar pela sua vida com essa cara séria! — ironizou Khajal.
— Haha! Hahaha!
— Será suficiente se eu mostrar a diferença de nossa força? — perguntou Airen.
— Hã?
— Se eu provar que sou forte o suficiente para derrotar cada um de vocês, vocês recuam?
— Ha… haha…
Três segundos. Um silêncio longo, considerando o quanto eles não paravam de falar até agora. Depois que Khajal soltou uma risada oca, os bandidos caíram em gargalhadas que pareciam ter segurado antes.
— Hahahaha!
— Haha… Ahaha!
— O que esse idiota acabou de dizer?
— Que pode nos derrotar?
— Chefe! Vamos deixá-lo vivo! Esse bastardo é muito engraçado!
Os bandidos ficaram até vermelhos de tanto rir. Mesmo os comerciantes e mercenários não podiam apoiar Airen nisso. O que ele disse parecia impossível.
A tensão na Fortaleza de Alhaad virou um show de comédia. Mas todos ali sabiam que este era o último momento de risos. Quando terminasse, começariam o massacre e o roubo, e o melhor cenário seria entregar metade dos bens e fugir.
Então aconteceu. Em meio às zombarias, o jovem loiro empunhou sua espada.
Todos os bandidos pararam de rir, assim como os comerciantes. Todos ficaram em silêncio ao ver a grande espada surgir do nada. Mas o que aconteceu em seguida os chocou ainda mais. Uma energia poderosa começou a tempestear ao redor do corpo do jovem enquanto ele fechava os olhos e se concentrava.
— Hã… hic-hup… O que…
O jovem não parecia assustador, nem demonstrava raiva. O que os aterrorizava era a aura, uma energia que vinha do treinamento da alma, agora liberada em uma tempestade de pura violência. Não tinha forma física como a aura de espadas de mestres espadachins, mas a intensidade daquela força fazia todos tremerem.
A sensação transformou o choque em medo. As palavras de Airen, de que poderia derrotar todos os da fortaleza, tornaram-se uma realidade.
“Não! Preciso detê-lo antes que ele faça qualquer outra coisa!”
Apenas Khajal teve coragem de reagir à energia de Airen. Apesar de aterrorizado, ele sabia que, se não parasse o jovem agora, não teria chance. Então, ele pegou sua arma e deu um passo à frente. Nesse momento, uma energia demoníaca foi liberada de seu corpo, conferindo-lhe uma força nova.
Airen também sentiu isso e abriu os olhos. Quando os olhares dos dois se cruzaram, Khajal recuou um passo.
“Aquele desgraçado… Seus olhos… Não consigo chegar mais perto”, pensou Khajal.
Airen suspirou ao ver Khajal parando em seu lugar. Sabia que podia lidar com ele, mas estava preocupado com reações imprevisíveis caso a energia demoníaca o influenciasse.
“Preciso mantê-lo vivo. Se os homens dele começarem uma luta, alguém pode se machucar.”
Como já mencionado, Airen ainda não tinha respostas para suas questões complicadas. Era inexperiente demais para decidir por si mesmo. Por isso, o que podia fazer agora era proteger a companhia mercante. Precisava evitar o combate a todo custo, razão pela qual mostrou toda sua força.
Swoosh!
A determinação de Airen começou a se espalhar por todo o seu corpo. A hostilidade alimentada pela energia demoníaca em Khajal desapareceu, e a intensidade de Airen contra ele também se dissipou, assim que sua força atingiu o limite. Não podia se concentrar o suficiente para executar um golpe delicado como havia feito com Ian, mas pensou que talvez isso fosse melhor.
“Talvez seja mais eficaz do que um ataque preciso… Um golpe bruto e descontrolado pode ser uma ameaça maior!”
Com isso em mente, Airen golpeou o chão com sua espada. Parecia mais um bastão pesado do que uma espada. E naquele momento, um som explosivo reverberou por toda a Fortaleza de Alhaad.
Baaaam!
— Ah… hic… ah…
Todos ficaram com os ouvidos zumbindo e incapazes de enxergar claramente devido à nuvem de poeira levantada pelo golpe. Mas todos sentiram a grandiosidade do que aquele jovem, que se declarava ex-aluno da 27ª Turma da Academia de Esgrima Krono, havia feito. Era um ataque impossível de ignorar.
No momento do impacto, o ataque parecia cerca de cinco vezes mais poderoso do que o golpe de Khajal com seu martelo de guerra. Não, talvez fosse mais de dez vezes maior. Todos olharam para o dano no solo, visível por entre a poeira, e ficaram chocados.
Quando a brisa soprou e dissipou a nuvem, todos testemunharam a obra-prima criada pelo monstro chamado Airen Farreira, enquanto ele caminhava em direção ao líder dos bandidos. Khajal, apavorado, começou a recuar, suplicando.
— E-eu sinto muito, senhor! Pode passar… Quero dizer, eu me rendo! Apenas diga o que precisa! Nós daremos se pudermos… Não, conseguiremos o que quiser se disser! Só não nos mate…!
Ele recuava como um cão medroso, completamente diferente do homem que era instantes atrás. Era exatamente o que Airen desejava e havia conseguido. Mas ele não parou e continuou caminhando até Khajal. Não tinha intenção de tirar sua vida. Em vez disso, rapidamente estendeu a mão e arrancou um colar do pescoço de Khajal.
— Hieek!
Khajal empalideceu, achando que Airen estava tentando quebrar seu pescoço. Mas Airen estava interessado apenas no colar que ele usava. Ao examiná-lo mais de perto, ficou confiante de que aquela era a fonte da energia demoníaca.