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Reformation of the Deadbeat Noble – Capítulo 171

A Vida Passada (1)
Após o guerreiro orc trazer a mensagem, Airen rapidamente desceu a montanha e foi direto para a colina onde ficava o túmulo de Gurgar. Ele queria correr direto até o destino, mas percebeu que precisava de tempo para acalmar sua mente complicada.

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O que era esse sentimento? Curiosidade? Medo? Saudade? Ele não tinha certeza. Não era algo que pudesse explicar em uma única palavra. Então, ele parou brevemente para recuperar o fôlego e continuou caminhando.

Outros o seguiam, como Lulu, Judith, Brett e Illia. Amigos que entenderiam Airen melhor tinham razões para se interessar pela vida passada dele. Mas Karakhum era diferente. Ele não conhecia Airen, pois só havia conhecido o humano por um curto período. Ele precisava ensinar a Arte dos Cinco a Airen, mas, além disso, tudo o que havia feito com o jovem foi uma breve luta. Então, sem conhecer a vida atual daquele homem, não havia razão para se interessar pelo passado dele. Gorha perguntou a Karakhum por que ele estava seguindo o jovem. O grande guerreiro pensou por um momento e respondeu.

— Você conhece a sensação de um velho ao observar jovens talentosos? — perguntou Karakhum.

— Conheço muito bem.

Gorha assentiu. Era uma dificuldade dos mais velhos encarar mais obstáculos conforme envelhecem e se cansam. Karakhum e Gorha não haviam se aposentado, mas, às vezes, só queriam se deixar encantar pela ousadia dos jovens. Karakhum estava exatamente nesse estado. Então, ele refletiu e continuou.

— Ele cresceu em uma velocidade inacreditável… mas ainda não consigo ver o fim disso. Não consigo tirar os olhos dele. Não quero perder o momento em que a flor desabrocha.

— Você acha… que ele crescerá ainda mais a partir daqui?

— Não sei ainda. Mas já é o suficiente para me entreter — Karakhum riu e acrescentou. — Você não está seguindo eles pelo mesmo motivo?

— É verdade…

Gorha não pôde negar, então assentiu. A conversa deles terminou ali, e os dois velhos orcs e o grupo de Airen subiram silenciosamente a colina. Não foi um percurso curto, mas estavam tão absortos em seus pensamentos que pareceu uma escalada muito breve até o destino. E lá, Gurgar os recebeu com roupas formais de oráculo, diferente da primeira vez que se encontraram.

— Bem-vindos, meus jovens — disse Gurgar.

— Você está bem fazendo isso bêbado? — perguntou Judith.

— Estou bem, estou bem. Fantasmas não ficam bêbados — respondeu Gurgar.

— Por que você bebe se isso não te deixa bêbado?

— Você ainda é uma novata se bebe só para ficar bêbada.

— Então por que você bebe? Porque o gosto é bom?

— Ainda uma novata.

— O quê…

— Não há motivo para beber. Você bebe porque quer.

Judith ficou boquiaberta quando Khubaru saiu da tenda.

— Pare de provocá-los. Venham, entrem, todos vocês.

— Haha, claro. Chefe, e Gorha. Sinto muito, mas apenas Airen e seus amigos têm permissão para entrar — disse Gurgar.

— Eu não sou mais o chefe — disse Karakhum.

— Ai, desculpe. Tenho uma memória ruim. Fiquei tempo demais longe deste mundo.

Gurgar disse brincando e fez uma reverência educada. Karakhum e Gorha assentiram ao pedido do fantasma, enquanto Airen e os outros entravam na tenda.

— Uau…

Eles viram uma visão incrível lá dentro. Não estavam em um espaço pequeno. Entraram em um cenário diferente, como se a porta da tenda os tivesse levado a outro mundo. Era uma cidade gigante. Parecia um pouco antiquada comparada às cidades modernas, mas certamente era uma cidade. Todos ficaram boquiabertos diante daquela visão surreal, onde podiam ver as expressões das pessoas passando pelos portões da cidade.

— Haha, é tão surpreendente? Não foi o bastante ver um fantasma como eu andando por aí? Vão em frente e deitem-se.

Gurgar então os conduziu até o lugar onde havia uma cadeira estranha ou móvel parecido com uma cama, que estava totalmente reclinado para trás. À extrema direita havia uma pequena cesta, onde Lulu percebeu que era o seu lugar, então voou até lá e se acomodou rolando para dentro. Então Airen, Illia, Judith, Brett e Khubaru se deitaram nas cadeiras, um por um. Quando todos se deitaram, Gurgar dirigiu-se a eles com uma voz séria.

— Em breve, vocês iniciarão a jornada para conhecer o homem que habitava a mente de Airen por muito tempo. Como vocês sabem, ele foi a vida passada de Airen e treinou esgrima durante muitos anos por um motivo desconhecido, mesmo até a morte.

— Eu já sei o motivo disso e poderia explicá-lo a vocês. Mas a razão pela qual preparei esse ritual tão trabalhoso é que achei que a vida desse homem poderia ser benéfica para todos vocês. E, claro, porque todos vocês são amigos preciosos de Airen. Airen.

— Sim, senhor.

— Você se sente incomodado em compartilhar sua vida passada com as pessoas aqui? — perguntou Gurgar a Airen.

— Não, de forma alguma.

— Então pergunto ao restante de vocês. É igualmente desconfortável olhar para as profundezas de outra pessoa enquanto ela olha para as suas. Vocês estão confiantes de que manterão uma amizade profunda com Airen, não importa qual tenha sido sua vida passada?

— Sim, senhor — disse Brett.

— Estou confiante — disse Judith.

— Claro! — disse Lulu.

— Sim, mestre — disse Khubaru.

— Estou — disse Illia.

O silêncio caiu, e Gurgar assentiu com um sorriso antes de falar com eles.

— Muito bem! Parece que estamos todos prontos. Vamos começar.

— O que estamos fazendo agora? A gente só deita aqui e…

Gurgar estalou os dedos no meio da pergunta de Judith.

— Anngh…

Judith não conseguiu terminar e desabou como se estivesse morta. Ela não foi a única. Brett, Khubaru, Lulu, Illia e Airen adormeceram como se estivessem mortos. Era um sono profundo, porém nada doce. E…

Eles haviam se tornado o homem no sonho.


— Hmm…

Minha cabeça dói. Franzi o cenho pela dor, que parecia como se alguém tivesse fincado um cinzel nela. Um dos cavaleiros se aproximou de mim para perguntar sobre meu gemido.

— Meu senhor, o senhor está se sentindo mal?

— Estou bem…

Eu não menti sobre isso. Realmente estava bem agora. Minha visão estava clara e minha mente focada, como se a dor de agora há pouco não passasse de uma ilusão. O que foi isso, afinal? Parecia…

— Fico feliz em ouvir isso… Então, lamento dizer que o senhor precisa seguir nossa decisão, meu senhor.

O cavaleiro fez uma reverência apologética ao receber meu olhar. Eu entendo. Ele deve estar desconfortável naquela posição. Então acenei e desviei o olhar dele, observando as pessoas enchendo a sala com minha visão ampliada. Aqueles eram meus servos mais leais, meus cavaleiros de confiança e meus trabalhadores habilidosos. Eles tinham sido parte importante da minha vida como amigos preciosos, mesmo que não fossem minha família. E agora, todos clamavam pela minha destituição.

Eu não lhes contei meus pensamentos enquanto esperava esse resultado, mas entendi o motivo. Ver a culpa nos olhos deles foi um alívio, mas não fui tolo de pensar que eles mudariam sua decisão por conta daquela culpa. Ponderei se deveria gritar, chorar, implorar ou encontrar outra maneira…

— Eu irei embora.

No final, tive que obedecer e acenar.

— Hah…

Ninguém me seguiu enquanto deixei o salão com um suspiro profundo. Pensei que seria melhor assim e ri, pensando que deveria me sentir aliviado por ninguém ter me apunhalado pelas costas. A raiva, atrasada, começou a bater em meu peito. Senti algo crescer dentro de mim, o que empurrei para baixo, mas uma parte acabou saindo e escapando pela minha boca. Saí silenciosamente da propriedade do senhor. As ruas estavam praticamente vazias, mas algumas pessoas me reconheceram. Não, eu não podia mais chamá-las de ‘meu povo’, já que eu não era mais senhor daquela propriedade. De qualquer forma, os cidadãos começaram a se reunir ao meu redor para me ridicularizar.

— Seu bastardo insano!

— Você quer que lutemos contra o demônio?! Por que não nos enforca logo?

— O diabo deve ter enganado você! Você já deve ser um demônio!

— Matem-no! Matem esse desgraçado!

— Seus tolos! Parem com essas bobagens! Nosso Senhor não faria isso conosco!

— Cortem essa palhaçada! Até as propriedades vizinhas sabem que ele está tentando nos reunir para invadir o território do diabo, e vocês ainda dizem…

— Isso é impossível! É mentira!

— Não é mentira! Matem-no! Ou o expulsem!

— Ele está tentando nos vender para o diabo para benefício próprio!

Palavras iradas, furiosas e vulgares foram lançadas a cada passo. Eu podia suportá-las. Era manejável e eu poderia apenas fingir que não as ouvia. Estava tudo bem se eles dissessem que vendi minha alma ao diabo ou que estava tentando vendê-los. Tomei a raiva que crescia em mim enquanto caminhava por eles e logo cheguei ao portão da cidade. Mas era só isso.

— Hmph.

Um homem de meia-idade soluçou enquanto fazia uma pergunta com um machado afiado rente ao meu pescoço.

— Diga-nos, meu Senhor! É verdade que você estava tentando reunir todos os homens aptos para a toca do diabo?!

O caçador terminou, e todos os cidadãos se viraram para mim para ouvir o que eu tinha a dizer.

Eu não queria lhes contar a verdade. Já havia sofrido aquela dor três vezes, de meus cavaleiros, servos e trabalhadores. Eu não me importava se eles me entendiam, pois já tinha deixado minha propriedade. Mas não podia permanecer em silêncio, pois isso faria com que o machado do caçador cortasse minha garganta, e eu acabaria sendo alvo da zombaria do diabo antes que pudesse liberar a raiva em meu coração. Isso não era o que eu esperava, então me forcei a respirar, limpei minha visão embaçada e falei para persuadir o povo. Mas sabia que a atitude deles permaneceria a mesma.

— Dois meses atrás, o diabo com a máscara de bufão1 veio até mim.

— Ele fez uma oferta para poupar apenas uma vida entre a minha esposa e meu filho.

Eu senti a atmosfera ficar sombria imediatamente. Claro. Todos conheciam o infame diabo com a máscara de bufão. Eu mesmo pensei que estava sonhando quando enfrentei o grande diabo, mesmo que a força de uma nação inteira não fosse suficiente para derrotá-lo. Mas não era um sonho, e a oferta era real. Então continuei.

— Eu nem conseguia respirar só de encará-lo, mas tive que perguntar. Não, não consegui decidir, para ser mais preciso. Como alguém pode escolher matar sua amada esposa ou filho? Eu discuti sobre por que não podia aceitar a oferta irracional, mas, felizmente, ele não ficou bravo comigo. Ele apenas pegou uma orbe de cristal e a mostrou para mim.

— E… o que era aquilo?

— Era uma horda de criaturas demoníacas vindo em direção à nossa propriedade.

— Então ele me disse que, se eu aceitasse sua oferta e escolhesse um, ele impediria qualquer demônio ou criatura demoníaca de atacar nossa propriedade pelos próximos cinquenta anos. Deixe-me fazer uma pergunta, quem vocês acham que eu deveria escolher entre minha esposa e meu filho?

O ar ficou pesado com minha pergunta, e ninguém ousou falar. O caçador, a turba enfurecida atrás dele e as pessoas ao meu redor ficaram todos em silêncio, ouvindo o que eu diria a seguir. Então eu sorri fracamente para eles. Eu ainda me lembrava claramente do que havia acontecido naquela noite. Não importava o que eu escolhesse, eu estava indo por um caminho infernal, e não consegui decidir enquanto o olhar do diabo se curvava em risos sob sua máscara. Foi quando minha esposa correu até mim e cravou uma espada em seu próprio peito antes que eu pudesse detê-la, e o bufão riu alegremente com a cena.

E isso não foi o fim. Após um breve momento, expliquei o final da história ao povo com minha expressão queimada, semelhante a cinzas.

— O diabo me contou. O suicídio da minha esposa não foi escolha minha… Então eu tenho que tomar a decisão novamente.

— Então, naquela noite, perdi tanto minha esposa quanto meu filho enquanto ele… garantiu a segurança da propriedade pelos próximos cinquenta anos.

Depois disso, fechei meus olhos. Sim. Pelo preço horrível que paguei, minha propriedade havia se tornado o refúgio mais seguro do continente. Acreditava que pensar que o sacrifício de minha família trouxe cinquenta anos de paz e nos salvou do destino da destruição pelas criaturas demoníacas… me faria superar a tristeza.

Se ao menos… eu soubesse que foi o diabo quem enviou a horda de criaturas demoníacas em nossa direção e planejou o início e o fim desse inferno para sua diversão.

— Hah… hah…!

Meu coração estava pesado. Tentei respirar mais rápido para aliviar meus sentimentos, mas a dor ainda permanecia, a tristeza se transformando em raiva e depois em vingança. Meus servos leais compartilhavam minha dor e raiva no começo, mas não puderam permanecer comigo até o fim. Eles temiam que eu resistisse ao diabo para vingar minha família. No final, eles viraram as costas para mim e me desprezaram. Eu tinha certeza de que meu povo, não, os cidadãos, fariam o mesmo. Ao contrário de mim, que havia perdido tudo, eles ainda tinham algo que não queriam perder. Então, com o diabo em meus ombros, empurrei o machado do caçador para longe.

— Eu não pedirei que me ajudem. Vocês devem estar com medo. Vocês não têm nada a perder, e o futuro de vocês os aguarda. Não há necessidade de vocês arriscarem tudo. Mas…

— Só não me impeçam.

E foi isso. Deixei a propriedade depois daquilo, e eles não me seguiram.

Foi uma despedida silenciosa e triste, mas tive que me sentir aliviado por ninguém ter vindo atrás de mim. Contudo, alguém veio me encontrar. Um bufão saltou das sombras e falou comigo.

Ora! Aquilo foi bem triste. Como eles são ingratos, não acha?

Eles sabem o quanto você foi bom para eles! Você os alimentou durante a seca, trabalhou noites a fio para resolver cada um de seus problemas… E agora eles o traem como se você fosse um trapo! Pessoas terríveis, não são?

Quer saber, vou fazer uma nova oferta para você. Por que não faz um contrato comigo? O que me diz? Hmm? Você não quer matá-los? Não quer fazê-los sofrer? Eles entenderão sua tristeza assim que perderem suas esposas e filhos. Hmm?

Ah, e eu só disse que impediria os demônios e criaturas demoníacas de atacar a propriedade. Se você se tornar um demônio após fazer um contrato comigo, poderá massacrá-los como quiser! Você pode fazer o que quiser com eles! O que me diz? Não é uma boa ideia? Não é? Não é…

Enquanto caminhava pela estrada interminável em direção ao horizonte, fechei meus olhos silenciosamente. Lembrei-me dos trabalhadores me recebendo de manhã com sorrisos, dos meus servos leais, dos cavaleiros de confiança iniciando seu treinamento e do meu povo me cumprimentando com olhares brilhantes. Eu odiava cada um daqueles rostos e os desprezava. Mas não pude evitar de me tornar ainda mais rancoroso com a voz do diabo sussurrando em meus ouvidos.

Não? Que pena. Eu vivo no fim da cordilheira sul, então venha me encontrar se quiser. Vejo você na próxima vez.

A voz do diabo desapareceu. Não sabia se ele realmente havia me deixado. Talvez ele ainda estivesse ao meu redor com um sorriso sarcástico. Não, eu tinha certeza de que ele ainda estava lá. Então abri meus olhos novamente, me virei em direção à direção onde senti que ele estava e fiz uma promessa a mim mesmo de que o visitaria.

Se não como um senhor, então como um espadachim. Eu iria sozinho, se precisasse. Ficaria mais forte e o encontraria no fim da cordilheira sul. Então me apressei a caminhar antes que o fogo em meu coração se apagasse.

E… três anos se passaram depois disso.


Nota:

[1] Bobo da corte, similar a palhaços.

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