Brett Lloyd, o filho mais velho da Casa de Lloyd, nasceu como um alto nobre do Reino Gaveirra. Ele possuía um potencial incrível, à altura de sua linhagem ilustre. Como esperado, Brett demonstrou talento em muitas áreas desde jovem, especialmente na esgrima, onde nenhum outro garoto de sua idade no reino podia rivalizá-lo.
Para Brett, entrar na Academia de Esgrima Krono, a mais prestigiada instituição que até os jovens mais prodígios do continente tinham dificuldade em ingressar, era apenas um rito de passagem. Assim, chegou aos portões, determinado a conquistar o primeiro lugar.
— Foi então que conheci você — disse Brett.
Foi um choque. Embora tivesse ouvido falar da Casa de Lindsay, não sabia que seriam tão talentosos.
Illia Lindsay possuía resistência, força e habilidades que ele não podia sequer sonhar em igualar.
O que o surpreendeu ainda mais foi que Judith, uma plebeia que nunca havia recebido treinamento formal, o superava.
Claro, sendo Brett quem era, ele superou a si mesmo com o conselho do Diretor após os exames intermediários. Deixando de lado seus preconceitos, o prodígio da Casa de Lloyd fez avanços que o colocaram no centro da academia.
Mais uma vez, recuperou a confiança, determinado a superar Judith e até mesmo Illia Lindsay para alcançar o topo.
— Eu estava completamente enganado — continuou Brett.
Airen Farreira permaneceu perplexo enquanto Brett Lloyd continuava em um tom firme. Por mais denso que fosse, Airen podia imaginar o que Brett sentiu após a avaliação final daquela época.
Inferioridade, vazio, ódio por si mesmo… Sentimentos dez vezes mais intensos do que ele próprio sentia devem ter atormentado Brett. Isso fez Airen se perguntar como Brett superou essa sensação esmagadora.
Seria Judith? Os socos e provocações de Judith teriam trazido Brett de volta à academia? Seria só isso?
— Não foi por causa da Judith. Bem, não posso dizer que ela não teve um papel. Ela estava lá para me ajudar bastante quando voltei para a academia. Mas o que me despertou foi o conselho do meu pai — disse Brett.
No dia em que voltou para casa, sentindo-se derrotado e vazio, procurou seu pai para desabafar.
Embora Brett nunca tivesse falado sobre seus sentimentos após a avaliação final, o chefe da casa, Douglas Lloyd, conseguia ver tudo. Ele ouviu calmamente enquanto o filho revelava tudo, desde alegria até perda e desespero.
Mas Douglas não o incentivou nem o repreendeu. Em vez disso, fez uma pergunta simples.
— Você está aprendendo esgrima para se tornar o maior espadachim ou um bom Senhor?
Brett não respondeu. Ele sabia o que seu pai queria dizer. Não precisava ser o número um na esgrima. Brett poderia se tornar um grande senhor sem se obcecar pela espada, então não precisava se torturar com emoções desnecessárias. Mas Brett não conseguia aceitar isso. Ele não conseguia deixar para lá, pois tinha inveja demais de seus colegas que o superavam. Sentia-se insignificante enquanto caía cada vez mais para trás.
Então seu pai falou novamente.
— Você é o filho querido de Douglas Lloyd, o irmão reverenciado de Jerad Lloyd e amigo de muitas crianças, incluindo as da família Fred. Além disso, será o grande senhor da Casa de Lloyd no futuro. Então, deixe-me perguntar novamente, Brett Lloyd: filho, irmão e amigo. Você valoriza a esgrima acima de tudo que mencionei?
Brett respondeu:
— Não, eu não valorizo…
— Então pense novamente. O que todas essas coisas que você disse valorizar mais do que a esgrima têm em comum? Você é uma criança inteligente, então vai entender — disse Douglas Lloyd antes de sair do quarto do filho, deixando Brett sozinho para refletir sobre suas palavras.
Na verdade, ele nem precisava refletir. A resposta estava ali.
— Sim. A esgrima era importante para mim… mas, em todas as outras áreas que eu valorizava ainda mais, competição não era necessária — disse Brett.
Era verdade. Podiam existir bons filhos, mas não ‘o melhor filho’. Ele podia ser um bom irmão, mas não ‘o melhor irmão’. Afinal, ninguém competia para ser o irmão.
O mesmo valia para amizade ou liderança. Enquanto Brett pudesse se esforçar para ser melhor do que si mesmo no dia anterior, não precisava se comparar a outra pessoa. Se fizesse isso, seria vazio e sem sentido.
Isso também mudou a visão de Brett sobre a esgrima.
“A esgrima era importante, mas havia outras coisas importantes que não exigiam competir com os outros, apenas consigo mesmo.”
“Então, talvez o mesmo valesse para a esgrima. Não seria suficiente trabalhar nos próprios limites em vez de se torturar por estar atrás de outro?”
— Claro, não estou dizendo que a competição é inútil — disse Brett, virando-se para Airen.
— Posso dizer isso e ainda querer superar Judith. Realmente invejo Illia por se tornar a mestre espadachim mais jovem, e planejo treinar intensamente para alcançar você, que está ficando mais forte sem limites — continuou.
— Mas não vou me perder nesses pensamentos.
A competição levava à derrota, que levava à inferioridade e ao ódio por si mesmo. Todos sentiam essa dor. Brett sabia bem, como alguém que conheceu verdadeiros prodígios quando jovem.
Mas tudo bem. Ele podia ter vacilado uma vez, mas sabia como se recuperar, pois sabia o que era importante.
— Não existe ranking entre os heróis. Quero dizer, quem fala do herói número um? Já é louvável o suficiente que alguém busque um feito tão nobre — disse Brett.
— Então chega de comparações frívolas e encontre seu próprio caminho. Não importa se você é bom nisso ou não. O que importa é continuar tentando. Entendido? — disse Brett Lloyd antes de dar um sorriso irônico, seus olhos azuis tão profundos e pacíficos quanto um lago.
Airen encarou os olhos do amigo e percebeu o espírito forte por trás deles.
“É verdade. Brett… tem seguido em frente todos os dias com tal determinação desde aquele dia”, pensou.
Para ser justo, Brett não havia dito nada especial. Airen já ouvira Zett Frost dizer coisas semelhantes uma vez: comparar-se obsessivamente aos outros fazia alguém perder a si mesmo. Isso não era o que importava. Mas as palavras de Brett atingiram de forma diferente.
“Não existe ranking entre os heróis. O que importa é continuar tentando.”
Guardando as duas frases em seu coração, Airen agradeceu ao amigo… ou tentou.
Brett estava um passo à frente. Com um sorriso divertido, olhou para o céu.
— Claro… tais palavras não significam nada para alguns — murmurou.
— Alguém que tem um objetivo diferente. Alguém que precisa superar os outros, ao contrário de nós, que estamos satisfeitos em apenas trilhar nossos próprios caminhos…
— Está falando da Judith? — perguntou Airen.
— Quem mais? Você viu como ela não cedeu nem diante do Sr. Zett Frost.
Brett tirou algo do bolso. Era uma garrafa de vinho. Ele a desarrolhou e começou a beber. Apesar do ato bruto, ainda parecia elegante como um nobre, para a surpresa de Airen — não que Brett se importasse.
Após beber metade da garrafa, ele continuou:
— Judith está em um caminho completamente diferente. Ela quer ser… a melhor espadachim do continente. Para ela, nada importa se não conquistar o topo.
— Certo… — assentiu Airen.
Brett estava certo. Judith estava em um caminho diferente, um que só ofereceria dor e desespero até que ela alcançasse seu objetivo. Mesmo as figuras mais heroicas da história nunca alcançaram um sonho tão impossível.
Airen conhecia algumas pessoas que haviam se desviado do caminho e caído. Isso havia acontecido com Charlot e Victor, e quase acontecera com Greyson.
Enquanto John Drew mudou de postura, buscando criar seu próprio estilo de espada e trilhar um caminho melhor, Airen tinha certeza de que havia incontáveis outros que sucumbiram ao desespero.
“É por isso que estou preocupado. Não quero que isso aconteça com Judith…” pensou.
Ele nunca havia discutido isso com ninguém. No entanto, Brett parecia ver a situação de forma diferente.
— Judith ficará bem — disse ele.
— Ela pode ser patética, estúpida, e um amontoado irritante de teimosia… — continuou Brett.
— Hum… — murmurou Airen.
— Mas nunca vi alguém se esforçar de forma tão genuína. A diligência dela brilha, sabe.
Ele estava certo. Embora as habilidades de Judith talvez não estivessem à altura das melhores do continente, ela tinha uma tenacidade que rivalizava com qualquer pessoa.
A única pessoa que Airen conhecia que se esforçava tanto quanto ela era o homem do sonho.
Mas Brett Lloyd começou a levar a conversa para um rumo estranho.
— Vai doer, tanto que pode queimar. Mas sei que ela não desistiria — continuou Brett.
— Acho que… é bastante admirável como ela se fixa na vitória mais do que qualquer outro, avançando mesmo quando é doloroso. É bonito…
Airen franziu levemente a testa. Isso estava ficando esquisito. Brett não estava apenas elogiando e abençoando sua amiga. Até mesmo alguém tão desatento quanto Airen podia perceber que Brett estava cheio de emoção.
Ele encarou seu amigo, que devolveu o olhar.
Os dois jovens ficaram se olhando, apesar do constrangimento, até que Brett finalmente admitiu.
— Eu amo a Judith — confessou.
Airen Farreira deu um passo para trás, chocado.
Brett Lloyd deu um sorriso irônico e perguntou — Pode me dar algum conselho sobre como fazer as pazes depois de uma briga?