— Ufa — suspirou Airen.
A sessão de consulta finalmente havia terminado. Brett Lloyd saiu após acenar de forma inexpressiva. Embora Brett não parecesse ofendido de forma alguma, Airen Farreira não pôde deixar de se sentir desconfortável enquanto tentava dar conselhos.
Brett havia pedido dicas para se reconciliar, mas, na realidade, estava buscando conselhos sobre seu relacionamento.
Seguindo as palavras de Karakhum, Airen já achava difícil o suficiente proteger a si mesmo. Quando se tratava de relacionamentos — tempestades de razão e emoções sutis — ele era um completo novato.
Airen acabou não dizendo muito, repetindo apenas o que o Diretor Ian lhe dissera uma vez. De certa forma, ele deu o conselho de Ian, não o seu.
“Não sei se devo dar a ele o mesmo conselho para uma situação diferente”, pensou Airen preocupado.
— Bem… Brett é muito mais esperto do que eu, então ele deve se sair bem — murmurou mais tarde.
Brett provavelmente seria capaz de interpretar o conselho, embora Airen não tivesse certeza se isso resolveria o problema do amigo.
Afinal, Judith era a pessoa mais difícil que ele conhecia.
“Relacionamentos, hein…?” pensou Airen enquanto caminhava pelo campo de treinamento vazio.
Nada lhe vinha à mente. Como alguém socialmente inepto, que vivera grande parte de sua vida de forma bastante patética e considerava fazer alguns amigos uma de suas maiores conquistas, relacionamentos românticos pareciam contos de terras distantes.
“Será que algum dia serei capaz de amar alguém? Ou alguém será capaz de me amar?” Airen refletiu antes de rir alto.
“É melhor focar na Arte dos Cinco por enquanto”, pensou ao invocar sua espada larga.
Airen reuniu sua vontade para controlar a aura de fogo que aprendera recentemente. Embora fosse desajeitado e menos refinado do que os outros, o fogo em seu coração ardia mais brilhante do que qualquer coisa.
Enquanto Airen estabelecia seu credo através das memórias de sua vida passada e trabalhava na aura de fogo, Judith também refletia sobre si mesma ao recordar as mesmas memórias.
No entanto, ela era menos inocente do que Airen. Sendo honesta, Judith achava que o homem da vida passada de Airen fora realmente tolo. Se estivesse no lugar dele, teria se vingado daqueles que a prejudicaram antes de derrotar o demônio bufão.
“Mas, se o homem deixou alguma impressão nela, foi o esforço”, pensou Judith.
Sim. Os trinta e cinco anos de esforço do homem, impulsionados por uma obsessão assustadora, foram o que mais a impressionaram.
“Eu não deveria estar satisfeita em dormir menos horas e treinar um pouco mais do que os outros.”
Não havia dúvidas de que Judith era diligente. Na verdade, a maioria sequer ousaria se comparar a ela.
Ela empunhava sua espada e treinava seu corpo com tanta intensidade que até seus colegas da Academia de Esgrima Krono, conhecidos por serem trabalhadores, ficavam surpresos. Até mesmo Keira Finn, a diretora que supervisionava o treinamento com olhos atentos, disse a Judith que diminuísse o ritmo.
Mas o que isso importava? Se Judith se permitisse ficar satisfeita com tão pouco… como poderia alcançar rivais desesperadamente fortes como Airen, Illia e Brett?
E quanto a Ignet Cresensia, que era uma gênia ainda maior do que todos eles, ou ao Diretor Ian, Khun e Julius, o Capitão dos Cavaleiros Brancos?
“De jeito nenhum. Eu nunca os alcançaria desse jeito. Mas…”
Se ela pudesse se esforçar tanto, ou até metade, quanto o homem que era a vida passada de Airen… talvez pudesse.
Sim. A paixão daquele homem era fervorosa e poderosa. Ele deixou isso para trás no final e se tornou algo diferente…
“Não me importa. O que quero ser é o que ele foi antes.”
Levantando-se de onde estava após um dia de contemplação, Judith finalmente foi ao campo de treinamento, sem se importar que já fosse tarde.
Ela havia tomado sua decisão e queria treinar arduamente naquele momento. A paixão ardia em seu coração.
“Ainda não é o suficiente. Preciso de algo ainda mais intenso.”
Nenhuma paixão seria quente o suficiente para Judith. Nenhum fogo poderia arder mais. Judith não se importava se aquele fogo consumisse todo o seu corpo e alma. Sabia que seria capaz de não apenas suportá-lo, mas também converter a dor em uma paixão que a impulsionaria ainda mais.
Sentindo-se como o próprio fogo encarnado, Judith controlou a respiração, concentrou-se e quase desferiu um golpe quando uma voz familiar a chamou.
— Judith.
Mas Judith não se deu ao trabalho de olhar para trás, escolhendo desferir o golpe mesmo assim.
No entanto, apesar de sua determinação, ela não conseguiu realizar o movimento impecável que queria. Seu coração já havia vacilado. Percebendo seu erro, Judith controlou a respiração novamente e empunhou a espada mais uma vez.
Swish!
Mais uma vez, não foi satisfatório. Mas como poderia ser? A voz do visitante havia criado uma ondulação como uma pedra caindo em um lago. Levaria algum tempo para Judith se acalmar. Afinal, era isso que esse visitante representava para ela.
Ela finalmente olhou para trás e viu seu amigo mais próximo, mas, naquele momento, o mais irritante, Brett Lloyd.
Ela estava prestes a bombardear o rosto orgulhoso dele com insultos quando Brett disse — Vamos lutar. Já faz um tempo.
Judith franziu a testa. Embora tivesse se recuperado bastante graças aos curandeiros da tribo Drukali, ainda estava machucada. O local onde Garam a acertou ainda latejava.
No entanto, Judith não recusou. Se fosse calculista, nunca teria superado a Provação do Guerreiro.
Ela cuspiu e assumiu sua posição.
“Bem, prefiro falar com espadas do que com palavras”, pensou enquanto se preparava.
— Você perguntou outro dia se eu estava me segurando, certo? Bem, vou te dizer agora. Eu estava — disse Brett.
— O quê? — retrucou Judith.
— Mas não foi de propósito — continuou Brett.
— O que você está… — começou Judith.
Ela estava prestes a perguntar que tipo de besteira ele estava falando quando Brett fechou a distância entre eles de repente e balançou sua espada com fúria.
Tang!
— Nngh… — gemeu Judith.
Brett avançava agressivamente, seus ataques eram como uma cachoeira rugindo, e não um rio calmo.
O jovem de cabelos azuis pressionou ainda mais.
— Vou te mostrar minhas habilidades com a espada — murmurou.
— Certo. Faça o que puder! — respondeu Judith.
Thud!
Ela avançou para repelir o oponente e continuou marchando. Seus olhos ardiam. Não, não eram apenas seus olhos. Brett sentiu como se o próprio fogo estivesse avançando contra ele. Era como se a espada de Judith estivesse em chamas.
Clash!
Tang!
Uma faísca surgia a cada choque. A aura contida em cada golpe despertava aquele medo primal que qualquer ser vivo conhecia. Cada ataque de Judith era assustador.
Mas não eram apenas seus ataques. Seus passos, olhar, respiração e todas as suas ações queimavam como fogo, ameaçando consumir Brett.
A ansiedade começou a surgir em sua expressão.
“Ótimo”, pensou Judith, confiante.
Se havia algo que aprendeu em seu encontro com Garam, o filho mais velho do Mestre Khalifa, era que o fogo não era apenas poderoso, mas também podia instilar medo. Usando um fogo capaz de infligir muita dor, ela podia assustar constantemente o oponente, que se sentiria encurralado e acabaria sendo derrotado.
Seus movimentos ficariam limitados, e eventualmente eles se encontrariam presos com uma espada apontando para o nariz.
Era violência absoluta… mais do que mero poder!
Compreendendo o que queria alcançar, Judith sorriu de forma selvagem enquanto empunhava a espada repetidamente, como uma criança inocente que acabara de ganhar um novo brinquedo.
Sua espada flamejante queimava como se fosse consumir todo o mundo.
Já haviam se passado cerca de dez minutos de luta quando Judith percebeu que algo estava errado.
“O quê?”
Era estranho. Brett Lloyd estava realmente tendo dificuldades. Ele não estava apenas na defensiva, mas lutando para se manter. Sua expressão tensa e as sobrancelhas encharcadas de suor deixavam isso evidente.
No entanto, Judith também não se sentia confortável. Por algum motivo, seu coração parecia pesado, como se ela estivesse tropeçando em meio a uma névoa espessa vestindo roupas de algodão encharcadas. A umidade parecia grudar em seus ossos, e nem mesmo o fogo podia dissipá-la.
“Ele deve estar usando algum truque”, pensou Judith, cerrando os dentes.
Ela já havia enfrentado algo semelhante antes, quando Brett usou uma aura pegajosa como um pântano para limitar seus movimentos. Ela se lembrava de como reclamou, dizendo que ele usava truques como a raposa astuta que era.
Mas desta vez era diferente. Não havia névoa nem umidade.
A aura de Brett Lloyd, que havia coberto o ambiente, agora se tornava azul como a água.
Crash!
Embora não houvesse como a aura se mover com som real, Judith podia ouvir ondas quebrando ao seu redor.
Ela balançou sua espada flamejante para afastar as ondas de aura que vinham de todos os lados. Foi inútil. Brett havia colocado a aura desde o início, e agora ela desabava de uma só vez. Um único golpe de espada não podia bloquear a tempestade. Era como se diques tivessem se rompido. Judith fez uma careta.
Agora não tinha escolha a não ser avançar contra Brett Lloyd, que a aguardava, preparado.
Cerrando os dentes, Judith deu um passo e investiu… ou tentou.
— Oof…!
As ondas de aura de todos os lados perderam a força, dissipando-se no ar.
No entanto, isso não foi o que chamou a atenção de Judith. Brett Lloyd cambaleou enquanto cuspia sangue.
Jogando sua espada de lado, Judith correu até ele para segurá-lo antes que caísse. Colocando a cabeça dele em seu colo, ela gritou:
— O que está acontecendo?!
— Você viu isso? Minha espada… — sussurrou Brett.
— Não, droga… Quero dizer, o que está acontecendo? Por que está cuspindo sangue?! — acusou Judith, com uma expressão sombria.
Brett sorriu. Judith sempre franzia a testa quando ele se aproximava dela nos últimos tempos, mas aquilo parecia diferente.
“Isso não é ruim”, pensou Brett ao ver a preocupação em seu rosto.
Era verdade que ele havia ultrapassado seus limites para usar aquela habilidade, colocando secretamente sua aura no ar e criando uma onda para encurralar a oponente de uma só vez.
Era um movimento poderoso quando realizado com sucesso. No entanto, ele ainda não era habilidoso o suficiente para executá-lo perfeitamente, razão pela qual havia escondido seus progressos de Judith. Não queria mostrar isso antes de polir o movimento.
“Quer dizer, eu pareceria muito mais incrível se executasse isso perfeitamente…”
Mas o conselho de Airen fez Brett mudar de ideia. Não importava se ele era perfeito ou não. Poderia tentar parecer mais impressionante depois.
Quando perguntou a Airen como resolver um conflito, seu amigo respondeu que ele deveria ‘confessar seus sentimentos autênticos’. Foi por isso que Brett Lloyd forçou a si mesmo a tentar algo que ainda não havia dominado.
Nada expressaria melhor seus verdadeiros sentimentos do que sua espada.
“Airen usou uma carta… mas um espadachim deve usar sua espada. Além disso, escrever uma carta seria constrangedor”, pensou Brett, imaginando Judith olhando para ele como se fosse louco enquanto ele entregava uma carta.
Para ser justo, isso parecia igualmente divertido.
— Seu maluco, por que está rindo? Vamos lá, me diga o que está acontecendo! — insistiu Judith.
— Ugh… Não me sacuda. Estou exausto — gemeu Brett.
— Então explique tudo!
— Certo, certo.
Brett lentamente explicou sua situação a Judith, ocasionalmente tossindo. Judith parecia ainda mais preocupada enquanto ele cuspia mais sangue.
“Eu estava certo em exagerar”, pensou Brett secretamente.
Embora tivesse sofrido uma concussão, não estava gravemente ferido. Ele havia mordido o interior da boca de propósito, pensando que tossir sangue causaria o efeito desejado. Mesmo com o conselho de Airen, ele queria ser um pouco mais esperto. Afinal, ele era Brett Lloyd.
Judith, por outro lado, não fazia ideia. Se tivesse percebido, ela teria espancado Brett em vez de ajudá-lo. Por enquanto, ela estava sendo tão gentil quanto podia. Brett olhou para o rosto simples, mas cativante dela.
Aquele rosto finalmente fez Brett falar o que sentia.
— Judith — chamou.
— O quê? — respondeu ela.
— Eu amo você.
Judith o encarou, perplexa, antes de corar furiosamente.