Palanke e Lavaat eram reinos bastante proeminentes no continente central. Embora não fossem tão poderosos quanto o Reino Gaveirra, eram formidáveis em comparação a cidades-estado como Calvin.
E cada um deles tinha figuras de destaque.
“Sevion, o mestre espadachim de Palanke, e Perry Martinez de Lavaat”, pensava Amyra.
Sim. Esses dois eram o motivo pelo qual Amyra Shelton estava se esforçando desesperadamente para encontrar bons guerreiros. Sevion Brooks, por exemplo, era um mestre espadachim. Ninguém ousaria ignorá-lo, pois ele havia alcançado a posição que todos os espadachins apenas sonhavam e a mantido por dez anos. Perry Martinez de Lavaat não ficava atrás de forma alguma. Quando se tratava de expedições a masmorras, magos habilidosos podiam superar mestres espadachins.
“Considerando apenas o poder de ataque, Perry é conhecido por rivalizar até com as três famílias do Reino Mágico Runetell…”
Em outras palavras, Perry era um dos poucos que podiam enfrentar um mestre espadachim, apesar de ser mago. Ele não era chamado de maior mago do continente central à toa.
Amyra Shelton suspirou. Felizmente, Calvin agora tinha poder para rivalizar com os outros dois reinos, diferente de antigamente, quando só contava com um pequeno grupo de lutadores. Embora os dois novos mercenários fossem jovens, mal na casa dos vinte anos, eles eram mestres espadachins. Palanke, Lavaat e até mesmo Arvilius ficariam surpresos ao ver as habilidades dos dois.
No entanto, algo ainda incomodava Amyra.
“Illia Lindsay… Ela deve ter se juntado à expedição por causa de Ignet Cresensia, certo?”
Todos conheciam o histórico ruim entre a Casa Lindsay e Ignet Cresensia. Embora ninguém fosse realmente culpado, as coisas terminaram terrivelmente. O fato de Illia Lindsay ser fortemente obcecada por Ignet também era um segredo aberto.
Claro, Illia jurou que não deixaria sua vida pessoal interferir e que estava ali como mercenária, não como membro da Casa Lindsay. Mesmo assim… Amyra não conseguia relaxar.
— Hoho… Não se preocupe com isso. Deixe as trivialidades para este velho e foque na exploração da masmorra. Também cuidarei de quaisquer reclamações de Palanke ou Lavaat.
Felizmente, Gregory Griffin, o Capitão da Primeira Ordem de Cavaleiros, garantiu a Amyra que lidaria com a confusão.
Gregory estava em uma idade em que considerava a aposentadoria, por isso não podia se juntar à expedição pessoalmente. No entanto, era muito mais astuto do que Amyra em questões de política e diplomacia. Se ele dizia para não se preocupar, provavelmente as coisas estariam bem.
Amyra Shelton murmurou baixinho antes de suspirar novamente e pegar um pedaço de pano e uma agulha, dedicando-se com fervor ao ponto cruz.
“Nada é melhor do que isso para organizar a mente”, pensou.
Amyra gostava de bordar desde jovem. A alegria de criar algo ponto a ponto era bem diferente da emoção de brandir uma espada.
Claro, ela mantinha seu hobby em segredo dos subordinados. Não podia deixar que vissem sua carismática e forte Capitã Tenente mexendo com agulhas! Mas não precisava se preocupar, pois havia trancado a porta.
Infelizmente, uma porta trancada não podia impedir uma gata feiticeira que aparecia do nada.
Poof!
— O que você está fazendo, Amyra? — perguntou Lulu.
— Ah, eu sei o que é isso! Bordado em ponto cruz?! É isso, né?!
— Eu também queria fazer isso, mas minhas mãos são assim… — murmurou Lulu, olhando para suas patas.
— Lulu, eu já disse para não entrar assim do nada — disse Amyra, exasperada.
— Hã? Por quê? — perguntou Lulu.
— Eu tenho algo chamado privacidade. Posso ser uma Capitã Tenente carismática e elegante lá fora, mas quero aproveitar hobbies pessoais que não quero mostrar a ninguém enquanto uso roupas confortáveis… sabe? — suplicou Amyra.
— Mas eu sou uma gata, então isso não deveria importar, certo? — respondeu Lulu, inocentemente.
Amyra hesitou. Independentemente de quão convincente ou não fosse Lulu, ela gostava de gatos. Só nunca ousou ter um animal de estimação devido à sua vida ocupada. Estava solteira na casa dos trinta pelo mesmo motivo.
“Mas se uma gata que pode falar e limpar a própria bagunça aparece de vez em quando…”
Talvez seja aceitável…?
Foi por isso que Amyra passou muito tempo com Lulu recentemente. Por algum motivo, o gata feiticeira parecia gostar dela.
— Amyra, posso ficar aqui, certo? Gosto de você porque me lembra um amigo que gosto. Quero ficar com você — disse Lulu.
— Eu me pareço muito com essa pessoa…? — perguntou Amyra.
— Acho que não muito… Um pouco, talvez? Vocês são parecidas quando ficam bravas.
— Essa pessoa também é espadachim? Quantos anos ela tem?
— Você acertou. Ela é espadachim. E é mais jovem que você, Amyra. Tem vinte anos, eu acho? Ou talvez não… Enfim, ela é muito forte!
— Uau… — admirou Amyra, cruzando os braços enquanto via Lulu se gabando como se falasse de si mesma.
Ela definitivamente se interessou por essa jovem talentosa reconhecida pela misteriosa gata feiticeira. — Você acha que poderia apresentá-la para mim? — perguntou.
— Hã? Por quê? — perguntou Lulu.
— Bem, eu poderia ensinar a ela uma ou duas coisas sobre espadas. Além disso, estou curiosa, já que você diz que ela é parecida comigo. Gostaria de conhecê-la.
— Ok. Vou apresentá-la para você depois!
— Sério?
— Sim. Mas ela provavelmente é mais forte que você.
— Por quê?
— Nada — disse Amyra, que olhava para baixo.
Lulu balançava o rabo, observando Amyra se concentrar novamente no bordado.
Já fazia dez dias desde que Airen Farreira e sua companhia se juntaram à Equipe de Exploração da Masmorra de Calvin e seguiram para Lavaat com Amyra Shelton e os outros.
Não havia nada digno de nota. Airen e seus amigos foram instruídos a relaxar, pois poderiam se apresentar adequadamente mais tarde.
Claro, eles não planejavam desperdiçar tempo. Illia, Lulu e até Airen estavam se preparando à sua maneira para encontrar Ignet Cresensia.
Airen sentou-se sob uma árvore no canto do campo de treinamento e começou a meditar.
— Fheew… — respirou lentamente, sentado de pernas cruzadas.
Embora parecesse pronto para absorver energia elemental do mundo, ele não estava usando a Arte dos Cinco. Em vez disso, tentava examinar o próprio coração antes de encontrar Ignet.
Pensou em muitas coisas ao longo do caminho, desde a região noroeste até a central. Por que estava tentando ver Ignet? Por causa do que ela ofereceu? Por causa da rivalidade? Nenhuma estaria errada. Na época, Ignet havia chocado e enfurecido Airen. Ele não suportava Ignet, que expôs suas falhas e preguiça. Ao mesmo tempo, invejava-a. Talvez fosse por isso que não queria perder.
No entanto, se alguém perguntasse se isso alimentava sua chama, ele diria que não. O que o tornava quem era agora não era rivalidade, mas bondade. Era a mesma coisa que fez o homem de seus sonhos libertar-se da raiva da juventude e empunhar sua própria espada.
“Vamos pensar no que percebi no momento final de minha vida passada… No que tive que abandonar com arrependimento no fim de tudo… Preciso entender isso e carregar sua vontade à minha maneira. Seguirei o conselho de Karakhum e os ensinamentos de Tarakhan para seguir minha paixão.”
Cshhhh!
A paixão ardia no coração de Airen. O fogo parecia envolver e transformar a vontade férrea que o homem de sua vida passada havia deixado.
Airen segurou a paixão recém-descoberta. Ele não era mais o jovem que não podia dizer nada com confiança diante da palestra de Ignet, pois ainda deixava a vontade daquele homem governá-lo. Agora, Airen estava por conta própria.
Percebeu que não buscava Ignet para derrotá-la, mas para superar seu antigo eu.
“De certo modo, Ignet também é minha professora”, pensou Airen, assentindo lentamente.
Airen se sentiu muito melhor agora que sua mente estava decidida. Sua respiração, antes instável, acalmou-se. Ele abriu os olhos lentamente e viu um homem na casa dos cinquenta, sentado na mesma posição que ele.
— Por quanto tempo planeja observar? — perguntou Airen.
— Você sabia que eu estava aqui? — respondeu o homem.
— Tentei esconder minha presença, sabia disso.
— Desde quando você percebeu?
A voz do homem de meia-idade era plana e sem emoção, assim como sua expressão. No entanto, Airen sabia que ele estava genuinamente surpreso. Ainda assim, o homem parecia não querer interromper a meditação do jovem.
“Como devo dizer isso?” pensou Airen, temendo que o outro ficasse ainda mais interessado se dissesse a verdade.
— Cerca de vinte minutos — respondeu Airen, decidindo mentir após um momento de hesitação.
— Você tem bons sentidos. Achei que não perceberia até abrir os olhos — comentou o homem.
“Deveria ter fingido que não sabia?” Airen se perguntou por um momento, antes de decidir que não precisava se preocupar tanto com a situação.
Ele podia adivinhar quem era o homem pelo que Amyra Shelton havia contado e pela maneira como ele respirava. Se seu palpite estivesse certo, aquele homem ocuparia uma posição de grande importância e influência.
Mas, independentemente de tudo isso, aquele homem ainda era um espadachim como ele.
“Ele deve saber que é rude observar e perturbar o treinamento de outro espadachim…” pensou Airen.
Estava prestes a expressar educadamente seus sentimentos quando o homem de meia-idade se levantou. Ele continuava sem expressão, mas seus lábios estavam ligeiramente curvados para cima.
— Desculpe por incomodá-lo. Não consigo evitar me empolgar quando vejo um jovem talentoso — desculpou-se o homem.
— Obrigado… — respondeu Airen.
— Não se importe com este velho e continue no seu caminho. Adeus — disse o homem, levantando-se silenciosamente.
Airen observou as costas dele antes de suspirar e fechar os olhos novamente.
No entanto, sua paz durou pouco, pois sentiu que o outro espadachim voltara, fingindo ter ido embora.
Desta vez, ele não estava sentado à sua frente como antes. Estava observando à distância, talvez acreditando que Airen não perceberia. Airen suspirou novamente.
Isso era suportável. Pelo menos, o homem não estava o encarando a um metro de distância. Embora tivesse considerado voltar para o quarto, decidiu que andar só perturbaria ainda mais sua concentração. Airen permaneceria ali.
Porém, arrependeu-se dessa decisão apenas um minuto depois.
Woooosh!
Outro visitante inesperado apareceu. Ele era bem diferente do espadachim de meia-idade, mas Airen percebeu que também era extremamente habilidoso.
Airen não precisou se perguntar por muito tempo. Logo ouviu os dois homens de meia-idade discutindo.
— Perry, caia fora. Não incomode o pobre rapaz.
— Do que está falando? Só estou observando. Você é quem está falando e perturbando ele!
— Este jovem é sensível o suficiente para notar minha presença, mesmo quando a escondo. Claro que perderá a concentração se alguém como você aparecer praticamente gritando que é um mago.
— Ah, é? Nossa, me sinto mal agora. Não quis incomodá-lo — desculpou-se o homem.
— Estou bem, senhor… — respondeu Airen relutantemente, ainda de olhos fechados.
Claro, ele não havia dado permissão para que continuassem conversando.
Infelizmente, o recém-chegado, Perry Martinez, o mago, não era tão sério quanto Sevion Brooks, o mestre espadachim.
— Ele é certamente notável por manter a calma e continuar meditando depois de ouvir meu nome. Estou começando a gostar dele! — disse Perry.
— Não seja tolo. Para que um mago precisaria de um espadachim? — resmungou Sevion.
— Por que não? Um mago de batalha precisa ser forte em mente e corpo, diferente daqueles que estudam ferramentas mágicas trancados em um quarto. É claro que me interessaria por um jovem saudável que pode se concentrar assim. Está pensando em tomá-lo como aprendiz?
— Ora, parece que toquei em um ponto sensível. Isso não daria certo. Seus ensinamentos são muito abstratos para os jovens de hoje.
— Isso não é da sua conta. É uma questão entre mim e esse jovem. Além disso, ele entenderia, sendo tão talentoso. Talvez se torne um mestre mais rápido do que eu.
— Entre você e ele? Desde quando viraram amigos?
— Com licença, mas preciso ir. Já terminei meu treinamento.
Airen Farreira levantou-se e fez uma reverência respeitosa antes de sair na direção oposta, nem apressado, nem devagar. O mestre espadachim de meia-idade e o grande mago observaram em silêncio.
Mas o silêncio não durou. Perry Martinez, o falante, quebrou-o.
— Viu? Ele foi embora porque você foi tão opressor — reclamou.
— Ele saiu porque você era barulhento demais… — resmungou Sevion.
— Certo, então. Ainda assim, estou curioso sobre quem ele é. Não parece ser de nosso reino…
— Também não é do nosso.
— Então deve ser de Calvin… Acho que vou investigar.
“Preciso meditar no quarto a partir de agora”, disse Airen a si mesmo enquanto ouvia as vozes altas dos dois homens de meia-idade, prometendo usar o campo de treinamento apenas para praticar sua espada.