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Reformation of the Deadbeat Noble – Capítulo 219

Aquilo que Preciso Cortar (2)

O tempo passou.

Os dias de Airen seguiam o mesmo padrão. Ele fechava os olhos, concentrava-se e visualizava o momento de cortar a água antes de brandir sua espada. Se falhasse, repetia o processo.

Até agora, não havia conseguido nem uma única vez. Mas tudo bem. Desde o início, não esperava que fosse fácil. Além disso, começava a achar que aquele lugar era um excelente campo de treinamento.

“É claro que é. Metade dele é feito da feitiçaria gerada pelos meus próprios desejos”, pensou.

Como queria cortar a água, o lugar estava cheio dela, espirrando sob seus pés e caindo do céu sem parar. Infelizmente, a outra metade desse espaço consistia na malícia de um diabo. Então não era perfeitamente agradável… Ainda assim, Airen podia suportar. Sua determinação de sua vida passada o protegia contra a energia demoníaca.

— Certo. Vamos tentar de novo — murmurou, deixando sua crença fortalecê-lo.

O diabo bufão não se movia. Apenas esperava debaixo d’água, observando Airen.


Mais tempo passou.

Airen Farreira continuava a brandir sua espada sem conseguir cortar a água. Mas o que mais podia fazer? Afinal, o próprio Diretor Ian havia dito que isso não seria fácil. Para acalmar sua ansiedade, Airen respirou fundo e soltou o ar lentamente. Havia apenas um problema: ele não tinha muito tempo.

Drip, drip!

Drip, drip, drip!

A chuva começou a cair mais forte, obstruindo sua visão. Mas algo o incomodava ainda mais. O nível da água subira consideravelmente. Antes, chegava apenas até suas canelas, agora subia até sua cintura, quase alcançando seu peito. Sentindo-se sufocado, Airen golpeou a água com mais força.

Swish!

Crash!

Ele falhou de novo. Airen suspirou pesadamente. Algo parecia entalado em seu peito. Quase sentia vontade de vomitar.

— Phew…

Infelizmente, tudo o que pôde fazer foi soltar um longo suspiro. O desconforto permaneceu. Ele sacudiu a água da cabeça e ergueu a espada novamente. Como esperado, nada aconteceu. A chuva escorria por sua pele, e o bufão continuava imóvel, escondido sob a água crescente, apenas assistindo.


Ainda mais tempo se passou.

Agora, Airen não conseguia mais respirar, pois a água o cobria completamente. Mas ele não se afogaria. Só morreria se desistisse de tudo e aceitasse a escuridão. Afinal, aquele era um mundo criado por feitiçaria e energia demoníaca. O fato de estar vivo não significava que não estivesse em perigo.

Airen atacou ferozmente, incapaz de conter suas emoções.

Swoosh!

Swoosh!

No entanto, por mais poderosos que fossem seus golpes, ele não conseguia cortar a água. Sua espada apenas a afastava momentaneamente antes que ela retornasse com um splash. Airen quase quis gritar, mas não pôde. A própria água parecia segurá-lo enquanto suas emoções o consumiam.

De alguma forma, a mente de Airen desviou do objetivo de cortar a água para se concentrar em seu próprio fracasso. Quanto tempo mais teria que continuar? Se tentasse repetidas vezes, realmente conseguiria o que queria? O que faria se não conseguisse? Como poderia lidar com essa frustração que o sufocava? A raiva e o desespero o puxavam para baixo, como um peso encharcado e pesado.

Mas havia uma preocupação ainda mais séria.

“Quanto tempo estive aqui?”, pensou Airen, mordendo os lábios ao recordar o que aconteceu antes.

Dentro da barreira de feitiçaria que criara para superar sua fraqueza, ele obteve uma determinação de aço, uma técnica de espada formidável e confiança. No entanto, também perdeu algo: cinco anos de sua vida. Ainda sentia uma pontada no peito ao lembrar-se do rosto choroso de Kiril.

Agora, isso estava acontecendo de novo. Não, era ainda pior.

“Dessa vez… Eu realmente não sei quando isso vai acabar…”

Swoosh!

Crash!

Airen cerrou os dentes. Reunindo toda a sua aura, lançou o golpe mais poderoso que conseguiu. Mas o resultado foi o mesmo. A água recuou por um segundo a mais do que antes, mas logo retornou, rápida como sempre.

Airen expirou, incapaz de inspirar. As emoções negativas pareciam preencher cada parte de seu corpo, assim como a água preenchia aquele espaço. O bufão finalmente sorriu.

“Não vai demorar muito agora”, pensou, observando a mente de Airen com malícia.

Não demoraria. A energia negativa reprimida o deixava cada vez mais ansioso, mergulhando-o no desespero. O bufão não precisava pensar no que aconteceria em seguida. Afinal, já havia visto inúmeras vezes o que acontecia com humanos que se perdiam em suas emoções.

“Só um pouco mais… Só mais um pouco…”, pensou o bufão, sorrindo amplamente.

O jovem herói parecia cada vez mais vulnerável enquanto balançava sua espada sem parar.

O diabo bufão esperava pacientemente sob a superfície imóvel da água.


Muito tempo se passou.

A chuva já não importava mais. A dezenas de metros abaixo da superfície, Airen continuava a balançar sua espada. Ele já não sabia mais se aquilo significava algo. Sua lâmina apenas espirrava a água ao redor enquanto seu coração se enchia de emoções negativas.

O tempo também o preocupava. O que antes considerava o campo de treinamento ideal agora lhe causava uma dor interminável.

Ainda assim, Airen não desistiu. No fim, isso era tudo o que lhe restava…

Swoosh!

Uma vez, ele tentou fugir de sua dor. Para esquecer os traumas de sua infância, mergulhou num sono profundo e tentou permanecer ali.

Swoosh!

Uma vez, ele sucumbiu ao desespero. Culpou-se e duvidou de si mesmo por não conseguir crescer, mesmo depois de brandir sua espada milhões de vezes dentro da barreira de feitiçaria.

Swoosh!

Mas ele emergiu vitorioso. Por isso, não fugiria nem se esconderia. Não afundaria para evitar o medo e as dificuldades, mas ergueria sua espada para seguir em frente. Ele a balançava não porque sabia que essa era a resposta, mas porque entendia que, se sequer tentasse, nunca avançaria.

Isso não era diferente. Se desistisse apenas porque não conseguia ver esperança, aquele seria seu fim. Sua única oportunidade desapareceria, e ele permaneceria naquele lago para sempre, esmagado sob a água. Não permitiria que isso acontecesse. Não podia permitir que isso acontecesse. O que impulsionou Airen Farreira até agora continuava a instigá-lo.

Swoosh! Swoosh! Swoosh!

Airen balançou sua espada repetidas vezes, tantas que até perdeu a noção de quanto tempo estava fazendo isso. Era como se estivesse determinado a continuar para sempre. Focava apenas em sua lâmina.

Sua ansiedade e dor desapareceram. Embora não conseguisse emergir acima da água, tampouco afundava.

No centro da barreira repleta de água, o jovem herói balançava sua espada incessantemente. Foi então que o bufão finalmente apareceu.

— Por quê…? — perguntou.

— Por quê, por quê, por quê, por que você continua tentando se isso não leva a nada?!

A voz do diabo era rápida, ofegante.

Airen não respondeu. Não porque estava ignorando o bufão de propósito, mas porque não tinha resposta para lhe dar. Tampouco podia abrir a boca, já que estava submerso. Mas o diabo deve ter interpretado isso como um desafio.

— Seu desgraçado! Seu maldito… como pode… como ousa…! Diga logo! Como…

Airen franziu a testa, incapaz de entender a enxurrada de palavras confusas do bufão. Mas uma coisa ficou clara: o diabo estava furioso e ansioso.

“O que está acontecendo?”, pensou Airen, sacudindo a cabeça e afastando-se para continuar golpeando a água.

Ele sabia que estava resistindo bem. Mas só isso. Ainda não sabia como cortar a água. Apenas continuava a se mover porque desistir não era uma opção.

Mas algo parecia incomodar o bufão, que continuava a gritar furiosamente. Claro, isso não incomodava Airen nem um pouco. Ele sabia que o bufão não podia machucá-lo assim como ele não podia feri-lo. Ainda assim, era irritante.

Airen suspirou enquanto os gritos do diabo ecoavam em seus ouvidos. Suas bolhas de ar subiram lentamente. O bufão começou a berrar de novo. Mas, por alguma razão, desta vez Airen conseguia entender suas palavras.

— Você não consegue! Você nunca vai conseguir! Cortar a água? Ridículo! Você nunca será capaz de cortar a água aqui…

Airen parou. Ficou imóvel, como se o tempo tivesse parado junto com ele. Lentamente, virou-se para encarar o bufão.

O diabo franziu a testa ao encontrar seu olhar.

— O-o quê? — perguntou.

Airen moveu os lábios sem som: “Você me enganou, não foi?”

— Do que você está…! — gritou o bufão, voltando a resmungar apressadamente.

Mais sangue, pus e malícia escorreram de sua máscara, tingindo a água de vermelho ao envolver Airen. Ele não se importou.

Ao recordar o momento em que entrou nesse lugar pela primeira vez, assentiu.

— Sua lâmina precisará cortar o que deve ser cortado… Só então você conseguirá escapar…

De fato, o bufão apenas dissera que Airen deveria cortar o que precisava ser cortado. Nunca mencionou que deveria cortar ‘água’.

“Pensando bem, o diretor Ian também nunca disse que eu deveria cortar a água.”

Airen assentiu novamente, começando a entender por que permaneceu preso ali e por que o bufão estava tão confiante. O tempo todo, ele havia interpretado tudo errado. Seus olhos brilharam ao perceber a verdade.

“O que devo cortar… não é a água, mas…”

Airen assumiu sua postura, sereno e relaxado.

Sentindo-se mais leve do que nunca, ergueu sua espada.

Woosh…

Não havia mais fogo em seu olhar. Ele parecia tão comum quanto sempre foi. Até mesmo sua Aura da Espada, o símbolo de um mestre espadachim, parecia simples. Mas Airen não se importava. Afinal, aquela era a melhor espada para cortar não a água, mas a emoção que o consumia: ‘a obsessão’.

Swish.

A espada de Airen Farreira cortou através do lago.

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