Mestre da Espada. Referindo-se àqueles que alcançaram o auge da esgrima, mestres da espada eram raros entre os inúmeros espadachins, com apenas cem deles em todo o continente.
Embora cem pudesse parecer um número elevado, a realidade se tornava evidente quando se considerava que essa quantidade era menor do que a de reis existentes.
“Bem, há muitos deles no meu círculo…”, pensou Brett.
De fato. Brett Lloyd conhecia muitos mestres da espada — incrivelmente jovens, além disso. Ele conseguia aceitar Ian, o diretor, e Keira Finn, a subdiretora da Academia de Esgrima Krono. No entanto, ao ver Illia Lindsay, que rompeu seus limites aos dezoito anos, e Airen, que alcançou um nível ainda superior ao de um mestre, Brett sentiu não apenas inveja, mas também incredulidade.
“Eu não perdi.”
Brett não vacilou. Ele não se desesperou nem parou. Ainda se lembrava do tempo em que era um aprendiz. Sentiu como se tudo pelo que havia trabalhado e ainda trabalharia não significasse nada. O soco de Judith e o conselho de seu pai o despertaram daquela depressão. Brett não sabia onde estaria se não fosse por aqueles dois.
“Eu não preciso saber…”, pensou.
De fato. Ele não precisava pensar no que não havia acontecido.
O homem de cabelos azuis fitou sua espada azul, um presente do chefe dos Drukali. A lâmina ainda brilhava com uma tênue aura azul.
Ao olhar para aquela luz, símbolo de um mestre da espada, Brett riu e chorou ao mesmo tempo.
— Haha, hahaha…
Mas sua comemoração não durou muito. Por mais empolgado que estivesse, ele ainda era Brett, calmo e centrado. Ele sabia o quão importante era aquele momento.
Concentrando-se em exalar sua aura e direcioná-la para a lâmina, fortaleceu a energia e refinou tudo ao balançar sua espada.
No início, foi cauteloso, como se temesse quebrar a lâmina frágil. No entanto, logo se ajustou, movendo a espada com mais rapidez.
Swish!
Swoosh!
Ele não fechou os olhos como Airen, seu amigo. Pelo contrário, os abriu ainda mais, como se não quisesse perder nenhum instante, gravando cada movimento em sua mente.
Seus movimentos eram um tanto desajeitados, talvez porque estivesse orgulhoso e sobrecarregado pela emoção. Mas ele não se importava. Em vez disso, deixou tudo fluir como uma onda violenta. O covil do diabo logo se encheu com a aura revigorante de Brett.
Airen ficou chocado. Aquilo não era a esgrima de um mestre. Brett não se preocupava em manter a forma tradicional da Aura da Espada. Ele se movia de um jeito que Airen nunca tinha visto antes.
Mas Airen percebeu que o que via combinava perfeitamente com Brett. Observou seu amigo como se quisesse gravar aquela cena em sua mente para sempre. Kiril e Lulu assistiam em silêncio, sentindo a tensão entre os dois.
O tempo passou.
Mais tempo passou. Contudo, apesar de estarem no covil do diabo, repleto de um ar desagradável, ninguém se incomodou… até que a aura de Brett retornou ao seu corpo e a estátua demoníaca, que deveria estar morta, falou de maneira maliciosa.
— Hahaha! Seus vermes! — rosnou.
— O que está acontecendo? Achei que estivesse morto! — murmurou Brett.
— Tudo bem. Só precisamos matá-lo de novo — respondeu Airen.
— Haha, acho que não. Como podem ver, eu já estou morto! Por mais poderosos que sejam, vocês não podem matar um diabo morto!
— Do que esse desgraçado está falando?! — perguntou Brett.
— Ah, deve estar se referindo àquilo…! Como era mesmo o nome… — disse Lulu.
— Maldição póstuma… — murmurou Airen.
— Isso! A maldição! — assentiu Lulu.
Ignet lhe contara o quão teimosos a maioria dos diabos eram. Muitos persistiam mesmo após a morte, apenas para amaldiçoar aqueles que os derrubaram. E a estátua demoníaca parecia seguir o mesmo caminho. Não era mais um diabo propriamente dito. Feita de fumaça escura, parecia mais um boneco esfarrapado, com o enchimento escapando pelos buracos. No entanto, seus olhos continuavam tão malignos quanto antes.
— Achavam que tinha acabado, não achavam? Pois não acabou! Não acaba até que eu diga que acabou! Eu lhes ensinarei o verdadeiro significado do inferno! Condenarei vocês a um lugar pior do que labirintos! Condenarei vocês à eternidade num abismo! — bradou a criatura ameaçadoramente.
O boneco esfarrapado flutuava, rindo.
— Haha! Ahahaha… ugh!
Retornando à sua forma felina, Lulu saltou, mirando no espectro do diabo.
— Diversão, diversão! — gritou a gata.
— Seu pestinha! Eu não sou seu brinquedo! — guinchou o diabo.
— Airen, sabe como lidar com isso? — perguntou Brett gravemente, enquanto Kiril olhava Lulu com incredulidade.
Como um nobre bem informado, Brett conhecia bem as maldições demoníacas. Embora nunca tivesse experimentado uma, os registros históricos lhe contavam o suficiente sobre o quão terríveis podiam ser.
No entanto, ele não estava muito preocupado, sabendo que Airen já havia derrotado um diabo, um ainda mais poderoso do que aquele, antes. Ele devia ter um plano para superar essa situação.
Foi então que Airen, sem hesitar, convocou sua Aura da Espada e a cravou no chão.
Woosh! Crack! Flash!
Com um som nítido, uma luz dourada preencheu o covil do diabo, como uma fogueira iluminando a escuridão ou um farol guiando marinheiros perdidos de volta à segurança.
Até mesmo Brett sentiu esperança ao olhar para a aura de Airen.
— Kiril — chamou Airen.
— Sim, Airen — respondeu Kiril.
— Você tem espadas sobressalentes?
— Claro que tenho — disse Kiril, enquanto retirava uma espada em miniatura de sua bolsa mágica.
A lâmina em miniatura cresceu imediatamente até o tamanho da espada de Airen. O espadachim loiro testou a lâmina encantada antes de abrir um sorriso para o boneco esfarrapado.
O diabo congelou. Já havia percebido que algo estava errado quando o espadachim cravou sua espada dourada no chão.
— Você…! O que está tentando fazer…?! — guinchou.
Ignorando o diabo, Airen virou-se para Brett.
— Já ouviu falar da espada de um herói? — perguntou.
— A habilidade de Ignet com a qual ela nasceu? Ouvi dizer que causa grande dano aos diabos… — respondeu Brett.
— Não, você não precisa nascer com ela. Pode aprendê-la — explicou Airen.
— Sério?
— Sim. Isso pode soar estranho, mas este é o momento perfeito para aprender essa habilidade — disse Airen.
— Hm…
Brett franziu a testa antes de finalmente assentir. Afinal, as dificuldades só tornavam os heróis mais fortes. Como um homem que acabara de se tornar um mestre da espada, ele estava mais do que pronto para aceitar esse novo desafio.
— Certo. Seja lá o que for, posso treinar para isso aqui, certo? — perguntou.
— Sim — respondeu Airen.
— Então vamos começar agora mesmo.
— Certo. Primeiro, preciso explicar sobre a vontade humana de proteger, que se opõe à vontade destrutiva dos diabos…
O espectro do diabo os observava sem expressão. Não apenas aqueles humanos não se importavam com a maldição, como também pretendiam treinar ali mesmo. “Esses humanos eram insanos?!”
— Grrraaar! — rosnou Lulu.
— Ugh! Sai daqui! — gritou o diabo quando Lulu cravou os dentes em seu corpo.
O diabo sacudiu-se rapidamente para se livrar da gata, mas perdeu uma parte de seu corpo. Fumaça negra escorria da ferida.
— Brinca mais comigo! — disse Lulu.
— Cai fora!
— Heehee, você não vai escapar!
Poof, poof!
A gata negra disparava de um lado para o outro enquanto o diabo começava a entender o que era o medo. Kiril os observou por um momento antes de retirar um tapete de piquenique e um jogo de chá de sua bolsa mágica.
Trickle.
Enquanto preparava o chá com água quente, olhou ao redor.
— Hm, que cena interessante — murmurou, observando Lulu e o diabo pulando para lá e para cá sob a luz tênue, enquanto Brett e Airen treinavam diligentemente.
Aquilo era muito mais divertido do que ela imaginava. Poderia ficar ali por mais alguns dias.
“Vou apenas treinar magia quando estiver entediada”, pensou.
Dez dias se passaram, durante os quais Brett Lloyd aprendeu não apenas a invocar a Aura da Espada, mas também a utilizar a espada de um herói, a habilidade secreta de Ignet.
Claro, não foi fácil. A vontade de proteger era algo simples de compreender. Pensar em sua família, sua terra, seus amigos da academia e sua querida Judith enchia seu coração de determinação para enfrentar o diabo.
Mas pensar não era o suficiente. A arma secreta de Ignet envolvia manifestar essa vontade em forma de espada. Era mais do que um exercício mental, um movimento complexo, baseado em teorias intricadas que até mestres da espada achavam difíceis de entender. Brett se viu franzindo a testa de frustração.
Mas…
— Isso é difícil pra caramba… — murmurou.
— Sim. Mas você está pegando o jeito, não está? — respondeu Airen.
Apesar das reclamações, Brett conseguiu aprender a espada de um herói, ainda que de maneira imperfeita. Ele estava apenas começando. Mas isso já era o suficiente. Sua capacidade de compreender o que nem mesmo Sevion Brooks, o maior cavaleiro de Palanke, conseguiu, indicava seu talento extraordinário.
— Heh. Eu já era bom antes, mas acho que agora sou ainda melhor… — riu Brett.
— Um homem não pode fazer uma piada? — protestou Brett, enquanto os irmãos Farreira balançavam a cabeça e voltavam ao próprio treinamento.
Brett não foi o único a progredir. Airen também renovou sua determinação ao praticar a espada de um herói. Deixando de lado suas preocupações com o futuro e se concentrando em seus entes queridos, família, amigos, mentores, companheiros, seu coração e sua espada, antes vacilantes, tornaram-se mais firmes.
— Ufa…
Kiril também atingiu novos patamares. Embora a feitiçaria não pudesse ser medida em números, ela era inegavelmente a melhor em Cezar. Por mais forte que fosse a maldição demoníaca, não podia tocá-la, especialmente com a espada dourada de Airen por perto. Claro, ela sentia momentos de desânimo e desespero. No entanto, isso não era mais difícil do que os cinco anos que passou longe de Airen.
“Isso não é nada. Na verdade, é apenas uma oportunidade perfeita para treinar”, pensou Kiril.
Vários feixes de luz iluminaram Kiril enquanto ela fechava os olhos. Lulu, de olhos arregalados, acompanhava atentamente as formas geométricas que mudavam rapidamente diante dela.
Tadadada!
Enquanto a gata negra perseguia inocentemente a luz, o diabo agora em frangalhos gritou:
— Aaaaaaargh! Seus malditos lunáticos! Eu não aguento mais! Não aguento!
— Hã?
— O que foi agora?
— Eu tenho que sair daqui! Não posso me deixar ser exterminado por esses malucos!
Com um grito desesperado, o diabo se afastou rapidamente de Airen e seus amigos. A escuridão dissipou-se. A energia demoníaca que emanava do diabo adormecido desapareceu.
A barreira foi quebrada, ou melhor, o diabo fugiu.
Enquanto todos olhavam, atônitos, Brett gritou:
— Temos que pegá-lo!