Gulp.
Ethan engoliu em seco, suas mãos já suadas. Brodie Sharper, o mestre espadachim, um homem comparável aos diretores das renomadas academias de esgrima do oeste, estava bem diante dele. No entanto, por alguma razão, seus olhos não estavam fixos no espadachim, mas sim no homem ao lado dele: Gael Wise.
Assim que olhou para o líder da Guilda Wise, Ethan não pôde evitar encolher-se.
“Mas é claro”, pensou.
Um mestre espadachim era grandioso, mas aquele que podia comandá-lo era ainda maior. Quem mais poderia ordenar a um homem assim, a não ser um líder de uma nação poderosa? Em outras palavras, Gael Wise possuía uma autoridade comparável à de um rei.
— Ouvi vozes, então vim ver o que estava acontecendo — disse o grande homem em um tom suave e respeitoso, o que Ethan achou ainda mais ameaçador.
Afinal, um verdadeiro homem poderoso não precisava erguer a voz ou lançar olhares duros para conseguir o que queria. O mesmo se aplicava a Gael Wise. Seu poder parecia diferente de aura ou mana.
Sentindo a pressão, Ethan se perguntou o que deveria dizer. No entanto, seu companheiro parecia imune a isso.
— Boa noite, Lorde Wise. Meu nome é Aron. Peço desculpas por causar transtornos no meio da noite, mas há algo que preciso discutir com você — começou ele.
— Entendo, senhor Aron. Isso é importante? — perguntou Gael.
— É uma questão simples, mas eu apreciaria se pudesse me conceder um momento do seu tempo. Se estiver ocupado, posso voltar depois — respondeu o jovem loiro, sem demonstrar um único traço de hesitação, para a surpresa de Ethan, do especialista careca e dos outros espectadores. Afinal, Gael Wise possuía o ar misterioso de alguém nobre.
Brodie Sharper, o mestre espadachim, estreitou os olhos ao observar o jovem que mantinha a compostura impecável. Apenas Gael Wise parecia inalterado.
— Entendo. Acabei de finalizar meu trabalho, então por que não conversamos? — sugeriu.
— Obrigado — respondeu Aron, antes de repetir para Gael o que já havia dito ao careca, explicando os pequenos, porém incômodos problemas na distribuição das tarefas. Sem ofender ninguém, expôs os fatos de forma razoável e clara. Embora não fosse um grande orador, era articulado o suficiente para se fazer entender. Os espectadores assentiram em concordância.
Claro, só porque se fala com razão não significa que se será ouvido. Muitas vezes, o mensageiro importava tanto quanto a mensagem em si, e alguém de posição inferior tinha menos chances de ser levado a sério por alguém de posição superior.
No entanto, Gael Wise não era um homem mesquinho, pelo menos por enquanto. Com um aceno de cabeça, sorriu.
— Sinto muito. Com tantas pessoas, a organização deve ter se desajustado e causado problemas, como você mencionou — disse.
Com um pedido de desculpas direto, o meio-elfo chamou um de seus funcionários e deu-lhe instruções. O subordinado assentiu e desapareceu rapidamente. Gael então voltou-se para Aron.
— Mais uma vez, me desculpe. Acabei causando transtornos, independentemente da minha intenção.
— De forma alguma. Agradeço por me ouvir, mesmo que tenha sido uma conversa desconfortável — respondeu Aron.
— Mas é claro. Afinal, você poderia ter sido ou poderia se tornar um de nossos clientes. Ah! Não estou dizendo que o trataria mal caso não fizesse negócios conosco, hahaha — brincou Gael, antes de se virar.
Então, com uma voz clara e firme, quase teatral, ele dirigiu-se aos espectadores. Explicou que, com um grupo tão grande, acabara cometendo alguns erros e pediu compreensão, garantindo que não havia sido sua intenção. Por fim, assegurou que tomaria medidas para evitar que aquilo se repetisse e enfatizou que a porta da Guilda Wise estava sempre aberta para sugestões.
Os rostos dos viajantes se iluminaram.
— Essa é a Guilda Wise para você.
— Ele é tão bondoso quanto é bonito.
— Ver que ele se esforça tanto para resolver um problema tão trivial…
— Eu sei.
Enquanto as pessoas elogiavam Gael, Ethan olhou ao redor antes de voltar ao seu grupo. Ainda um pouco atordoado, percebeu Aron ao seu lado.
— Não achei que você fosse tão ousado — comentou.
— É mesmo? Não disse nada de especial. Você acha que eu deveria ter ficado quieto…? — perguntou Aron.
— De jeito nenhum. Você fez bem. Quero dizer, salvou este líder covarde quando ele estava em apuros.
— Mas é claro!
— O quê? Seu bastardo…
Ethan lançou um olhar feroz, mas Keenan Reyes continuou zombando dele enquanto Giovanni ria. Vulcan e Aron riram baixo e observaram. Apenas Jarin encarava nervosamente as costas de Gael Wise.
Era o terceiro dia deles na Floresta Tamoe.
Passaram-se mais quatro dias.
Embora, em circunstâncias normais, já tivessem alcançado o fim do caminho, o grupo ainda permanecia na floresta. O atraso supostamente era para garantir a segurança de todos, mas, mesmo assim, os viajantes se sentiam incomodados.
Ainda assim, o clima não era tão ruim, pois Gael Wise, o líder da guilda, supervisionava o grupo e resolvia qualquer reclamação ou dúvida.
— Que grande homem. Ele merece todo o respeito.
— Já é bom o suficiente que esteja conosco, mas ele ainda faz questão de cuidar de tudo pessoalmente.
— Eu sei. Dá para entender por que seus subordinados gostam dele.
Acordando antes e dormindo depois de todos, Gael Wise passava todo o seu tempo dedicando-se ao grupo sem uma única queixa. Seu comprometimento era tamanho que até fazia os outros se sentirem culpados. Naturalmente, isso levou ao ressentimento de Ethan e seu grupo.
— Ele precisava reclamar tão abertamente?
— Claro que não. Não era algo tão sério assim. Foram exigentes demais por algumas coincidências infelizes.
— Aliás, você sabia dessa?
— O quê?
— Aquele jovem ali afirmou ser Airen Farreira…
— Sim, eu ouvi. Ugh, o que ele estava pensando?
— Imaginar que ainda tem gente que faz esse tipo de coisa…
Ethan não pôde evitar sentir-se nervoso. Era verdade que o problema não era algo que ele não pudesse relevar. Mas, por outro lado, era algo com que ele poderia facilmente implicar. Afinal, no início, as pessoas concordaram que sua reclamação era razoável. Ele ainda se lembrava de quantos assentiram naquele momento.
Claro, suas preocupações não eram nada comparadas às de Aron. Ethan olhou com simpatia para o jovem que trabalhava em silêncio.
“Giovanni, aquele desgraçado… Por que teve que sair espalhando piadas internas?”, pensou.
Para ser justo, não era culpa de Giovanni. Quando entraram na Guilda Wise, ele também riu junto com os outros enquanto Giovanni zombava de Airen. Jamais imaginou que a piada voltaria contra ele assim. Na verdade, ele não entendia o clima atual.
— Como isso chegou a esse ponto? — Ethan murmurou baixinho.
Ele não sabia. Não conseguia entender.
O que era claro era que eles não haviam feito algo tão errado. Infelizmente, ninguém os escutaria. Só restava sair da Guilda Wise assim que deixassem a Floresta Tamoe. Além disso…
“Não, isso não pode ser…”, pensou.
Ethan suspirou ao lançar um olhar para Jarin.
De fato. Seria exagero presumir que tudo isso aconteceu por causa da rixa entre Jarin e Gael Wise. Para ser sincero, a história era difícil de acreditar, principalmente considerando que um era o filho mais velho de uma guilda que dominava o continente e a outra era uma maga de distintivo prateado.
“Agora que o vi melhor, ele não parece tão ruim assim.”
— Pff… Não sei quanto a isso.
Ethan suspirou.
Ele realmente não sabia. Embora Jarin fosse uma elfa confiável, não queria antagonizar a Guilda Wise apenas por causa do que ela disse. O adversário era poderoso demais.
Dizendo a si mesmo que deveria esquecer isso e ir embora assim que saíssem da Floresta Tamoe, Ethan adormeceu. Por isso, não viu Jarin se levantar e se aproximar de Aron.
— Desculpa — disse ela.
— Hã? — respondeu Aron.
— Eu disse que sinto muito. É por minha causa que estão falando merda de você…
— Do que você…
Aron ergueu os olhos de sua meditação, surpreso. Ele sabia que os outros viajantes o ridicularizavam como um impostor que se passava por Airen. Mas isso não era culpa de Jarin. Primeiro, era sua própria culpa por ter deixado as pessoas interpretarem errado. Segundo, era culpa de Giovanni por espalhar a história quando entraram no grupo. Então por que essa elfa estava assumindo a culpa?
Ele logo descobriu o motivo.
— Eu e Gael Wise não nos damos bem — explicou ela.
— Hã?
— Difícil de acreditar, né? Mas é verdade. Ah, não posso te contar o porquê. Se soubesse, você poderia estar em perigo. Digo, acho que você nem acreditaria em mim, de qualquer forma.
— Haa… Viu? Você tá me olhando como— bom, é minha culpa. O que eu tô dizendo…
— De qualquer forma, essa atmosfera negativa é por minha causa. Me desculpe. Era isso que eu queria dizer.
Após suas palavras misteriosas, Jarin se calou.
Aron, não, Airen, não sabia o que dizer. Embora pudesse enxergar o que estava acontecendo, não havia provas que sustentassem as palavras dela.
“Ainda assim…”
Airen olhou nos olhos de Jarin. Embora fosse um espadachim, também era um feiticeiro, o que significava que era mais sensível aos sentimentos alheios. Esse poder se tornou ainda mais forte depois que percebeu a energia da água.
O instinto que cultivou ao interagir com os outros dizia que Jarin estava sendo sincera. Ela realmente estava preocupada com ele.
“Então é justo que eu responda com sinceridade…”, pensou Airen, refletindo sobre o que deveria dizer para acalmar essa elfa e livrá-la de suas preocupações.
Felizmente, não precisou pensar por muito tempo.
Com um sorriso, Airen Farreira sugeriu:
— Quer ouvir minha história?