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Reformation of the Deadbeat Noble – Capítulo 356

Sonho (1)

Judith passou a infância na cidade costeira de Pavarre, em um bairro sujo repleto de homens brutais. Às vezes, quando fechava os olhos, lembrava-se vividamente daquela época: o cheiro de peixe fazendo cócegas em seu nariz, os bandidos trocando socos aqui e ali, as prostitutas os observando enquanto cobriam a boca com leques e riam…

Claro, nem toda parte da cidade era assim rude e áspera. As ruas voltadas aos viajantes ricos eram diferentes. Quando era pequena e achava que era seguro, Judith ia até esses lugares, embora não devesse.

Ela se lembrava das ruas varridas, das pessoas caminhando com expressões tranquilas, dos donos de lojas educados atendendo os ricos, e dos itens brilhantes e belos nas vitrines. E, na confeitaria mais famosa de Pavarre, havia o bolo mais tentador. A vitrine da loja exibia bolos inteiros lindamente decorados com frutas, chantilly e calda.

Claro, ela não podia comê-los. Nem sequer podia encará-los por muito tempo. Ser uma mendiga das favelas já era um crime naquela região.

Consumida pelo arrependimento, Judith voltava ao seu bairro e continuava a mendigar. Precisava mendigar com diligência todos os dias. Se não fizesse isso com desespero, não conseguiria cumprir sua cota diária. Se não a cumprisse, não receberia nem mesmo o pão preto e duro como pedra, quanto mais um pedaço de bolo.

A mão de Judith se moveu. Discretamente, ela esvaziou a tigela de um velho que adormecera de exaustão, atingindo sua meta. Rapidamente, correu para longe e suspirou aliviada. Naquela noite, recebeu o pão preto de seu chefe. Não era saboroso. Ela queria comer o bolo. Parecia muito mais gostoso, coberto com bastante fruta e calda.

A ganância cresceu em seu coração, e ela estabeleceu um objetivo. “Um dia, eu vou comer aquilo de verdade.”

Ao olhar para o passado, Judith sorriu amargamente. “Talvez tenha começado ali.”

Quando criança, havia muitas coisas que ela queria, muitas coisas que queria comer. Todas as suas carências a transformaram numa encarnação de desejo, e numa pessoa tenaz. Ela não queria perder. Não queria ficar para trás. Nunca queria voltar a ser a garotinha das favelas.

Esses pensamentos a levaram até a Academia de Esgrima Krono, o que a levou à sua colocação final: quarto lugar. Depois disso, tornou-se uma treinadora oficial, algo difícil até mesmo para gênios. E isso a levou a se tornar uma Especialista.

Claro, nada disso foi fácil. Tudo o que Judith desejava e queria conquistar, ela precisava alcançar em meio à competição. Precisava esmagar alguém, pisotear alguém. No momento em que ficasse para trás, morreria, ou sofreria com uma angústia tão intensa por causa da inferioridade que era como morrer. Somente com esse nível de determinação ela mal conseguia competir com os verdadeiros gênios.

Ela queimava os outros, queimava a si mesma. Só conseguia conquistar algo criando um inferno horrível…

— O que é isso?

— Nunca viu comida antes?

— Não, quero dizer, por que está me dando isso de repente?

— Se estou te dando, é pra comer. Não vai comer?

Mas agora, em vez de queimar tudo, Judith oferecia algo aos outros.

— Você tem agido meio estranha ultimamente.

— O q-que quer dizer?

Apesar de ter cem anos, Khun ostentava músculos que pareciam prestes a rasgar a roupa. Ele semicerrava os olhos e observava sua aluna. Embora surpresa, Judith manteve a compostura o máximo possível e concentrou-se no treino de esgrima.

Whoosh!

Ela desceu a espada verticalmente.

Whoosh!

Cortou na horizontal. Às vezes, dava algumas estocadas leves à frente ou conectava todos esses movimentos de maneira fluida. Era uma exibição de esgrima verdadeiramente elegante, capaz de arrancar a admiração de qualquer um. Até mesmo Khun, que era um dos três maiores espadachins do continente, exclamou:

— Oh!

No entanto, essa não era sua verdadeira habilidade, mas Judith se sentia satisfeita. A espadachim ruiva, escondendo todo seu poder, disse ao mestre:

— E então? Valeu a pena ir ao Torneio dos Heróis, né?

— Hmm…

— Ah, qual é! Dá pra ver claramente que fiquei muito mais forte!

— Hmm…

— Ha, ainda não vai admitir. Odeia tanto assim elogiar sua aluna?

— É claro que odeio. Não devo elogiar uma aluna arrogante como você com frequência.

— Argh, tô cansada disso. — Balançando a cabeça, Judith entrou na casa de madeira.

Khun ainda achava o comportamento de Judith estranho, mas logo perdeu o interesse. Em vez disso, brandiu sua espada como sempre fazia.

Judith observava a figura de seu mestre pela janela. — Nunca vão me pegar — murmurou, assentindo com uma expressão firme.

Ela não sabia como aquilo aconteceu, mas havia entrado num sonho. E não estava sozinha ali. Seu mestre, Khun, estava com ela.

Ele a acolheu como se nada tivesse acontecido e perguntou como fora o Torneio dos Heróis. Na verdade, a provocou, perguntando como era voltar depois de uma derrota miserável. Até essa resposta irritante foi boa, embora ela ficasse feliz com qualquer coisa.

Amigos, amantes, família… era possível encontrar felicidade sem competição. Era possível cultivar esses laços sem pisotear a si mesma nem aos outros… Essas eram as peças mais preciosas da felicidade na vida de Judith.

Até agora, ela nunca imaginou que veria Khun novamente. Mas, no momento em que viu seu mestre, que era mais como um avô para ela, Judith desistiu da ideia de escapar daquele sonho. Perdeu completamente o motivo para voltar a Godara.

“Da próxima vez, será que faço uma massa simples? Não, pode parecer meio estranho se eu simplesmente fizer isso do nada.” Pensou Judith, com a expressão se contorcendo de forma estranha.

Ela queria dizer e fazer coisas que antes não podia. Ao contrário de alguns outros desejos, o avanço dos relacionamentos não exigia competição. Ela se sentia realizada ao oferecer algo aos outros, e percebeu isso, mesmo que tardiamente.

“Não. Ainda não é tarde demais. Enquanto não me pegarem… enquanto ele não souber que isso é um sonho, então não vou mais precisar sofrer…”

Enquanto pensava isso, uma gata preta apareceu diante dela.

Poof!

— Isso não é uma boa ideia — disse Lulu. — Eu já expliquei isso antes, Judith. Sua missão é sair do sonho. Nada vai mudar se você simplesmente ficar aqui.

Ela não respondeu.

— Está me ouvindo, Judith?

Judith se levantou sem responder. Pegou sua espada e abriu a porta. Saiu.

Click!

Agora sozinha, Lulu observava Judith pela janela. Judith parecia feliz, mas também triste, enquanto discutia com Khun.

— No fim das contas, ela precisa fazer isso sozinha.

A gata preta observou os dois por mais um tempo antes de desaparecer com um olhar amargo nos olhos. Lulu estava preocupada, mas não ansiosa. Não parecia necessário intervir.

“É para isso que o ajudante serve.”

Lembrando-se da expressão confiante do velho, Lulu voltou ao seu lugar e descansou. Embora passasse mais de dois terços do dia dormindo ultimamente, não era por ser uma gata.

Flash!

Lulu retornou à sua forma de dragão e caiu em sono profundo.


Um mês se passou, e Khun se concentrou em seu treinamento. Para se destacar e se tornar o mais forte do continente, brandia sua espada dia e noite. Perto dali, Judith o observava calorosamente.

— Que tipo de cara de cachorro é essa?

— Hã? O que quer dizer?

— Você fez uma cara estranha.

— Não fiz, não! É só que meu rosto é estranho.

— Perdeu o juízo? Tá se rebaixando só pra não perder a discussão?

— Por mais estranho que seja, ainda é melhor que o seu.

— Hah, se me permite dizer, quando eu era jovem…

Outra discussão começou enquanto mestre e aluna se estranhavam. Não era ruim. Ela queria aquele clima. Alegre, Judith também brandia sua espada, e Khun a observava com prazer.

Whoosh!

Whoosh!

Eles falavam menos e o número de golpes aumentava.

O sonho permanecia doce.


Após um ano, Khun perguntou de repente:

— A propósito, por que aquele homem não veio?

— Hã? Quem?

— Quem mais seria? Seu amante galante.

Judith imediatamente parou de brandir a espada. Depois voltou a se mover, mas não com a mesma naturalidade de antes.

— Bem, ele deve estar ocupado.

Ela queria mudar de assunto, mas não conseguia pensar em nada para dizer. Seu coração batia forte no peito. O fato de aquele lugar ser um sonho a deixava ansiosa, nervosa e miserável.

— Hmm, faz sentido. Já faz mais de três anos que não vejo a Keira também.

Judith riu sem graça.

— Realmente faz tempo.

— É mesmo? Será que eu devia ir vê-la depois de tanto tempo?

— Não! — disse ela rapidamente. Quando Khun ergueu a sobrancelha, ela completou: — I-i-i-isso, ahm… tô com dificuldade aqui, pode me ajudar com essa parte?

A mudança de assunto forçada criou um clima estranhamente peculiar.

Khun observou sua aluna em silêncio por um tempo antes de concordar.

— Muito bem. Vamos ver.

Claro, sua orientação não foi gentil. Consistiu em palavras extremamente rudes, ações duras e um treino intenso!

O treinamento exigiu muito de Judith. Eventualmente, ela desabou no chão e murmurou:

— Ah, vou morrer!

Mas o treinamento não era a única coisa que a exauria, forçar-se a esconder suas habilidades também a deixava exausta.

— Fracote — zombou Khun.

— Você não tem o direito de dizer isso à sua aluna — disse Judith, apesar do cansaço.

Outra discussão se seguiu e trocaram palavras duras. Mas tudo bem. Mesmo fazendo pose de durona por fora, Judith sorria por dentro. Ela estava feliz.

O sonho continuava, e permanecia doce.


Dois anos se passaram. Normalmente, as refeições eram barulhentas, mas a de hoje estava muito silenciosa. O único som era o ocasional tilintar de pratos e garfos, e até isso foi sumindo aos poucos. Logo, o silêncio absoluto se instalou. Mestre e aluna permaneceram assim por um longo tempo.

Nervosismo, inquietação e preocupação dominavam Judith. Ela mantinha o olhar fixo num ângulo de quarenta e cinco graus para baixo. Não queria encarar Khun nem falar com ele. Pelo menos não agora, mas não poderia evitar para sempre.

Khun encarava sua aluna com olhos profundos.

— Volte agora.

O estômago de Judith se revirou. Ela sabia que seria descoberta algum dia. Sabia que não poderia permanecer ali para sempre. Khun já estava morto. Ela precisava deixá-lo ir. Precisava.

Mas não conseguia.

Whoosh!

Judith reuniu sua energia de fogo, erguendo lentamente a cabeça com os olhos ardendo intensamente.

Mantendo contato visual com calma, Khun perguntou:

— Tem algo a dizer?

— Tenho, sim. — Assentindo, ela se levantou da cadeira e pegou sua espada.

Como agia no passado para conseguir o que queria? Ela lutava.

Uma enorme energia explodiu da lâmina vermelha de Judith.

Whoooooosh!

— Vamos lutar.

Khun a observou em silêncio.

— Vamos decidir assim. Se eu vencer você, vou ficar aqui o tempo que quiser.

Khun levantou o olhar. Imediatamente, chamas subiram de Judith. Elas chegaram tão alto que quase tocaram o teto. Era mais brutal que a de qualquer outro Mestre Espadachim, mas mais intensa do que a de um Mestre comum. Aos olhos de Khun, aquilo já era uma Aura da Espada plenamente formada.

— Parabéns por se tornar uma Mestre Espadachim — disse ele. — Vamos lá fora.

O mestre deixou a mansão e a aluna o seguiu.

Instantes depois, os dois apontaram suas espadas um para o outro.

Clang!

Bang!

A luta começou.

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