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Reformation of the Deadbeat Noble – Capítulo 360

Retorno (3)

— Aaaaaaah!

Na tarde silenciosa, uma figura riscou o céu azul. As pessoas na vila abaixo olharam para cima, sua atenção capturada pelo som. O grito prolongado carregava um medo primitivo, mas também havia nele uma nota de confusão.

— Esse Diabo Bufão parece bem perturbado, não é?

— Hã? Ah, sim.

— Ótimo. Isso está divertido. Eu já estava planejando me mudar para um lugar mais isolado mesmo, então mais umas pancadas não vão fazer mal.

Com isso, Karin Winker se lançou do chão com força. Já era veloz, mas acelerou ainda mais. Subindo em diagonal, alcançou o Diabo Bufão num instante.

— Isso vai doer.

Craaash!

— Gaaaaaah!

Crack!

O corpo do Diabo Bufão se dobrou em um ângulo reto ao ser atingido na lateral pela parte chata da espada. Agora ele parecia um broto quebrado e foi lançado ainda mais longe, com gritos mais desesperados. A cena era até um pouco cômica. Pensando bem, o medo já não fazia parte da equação ao enfrentar esse diabo há um bom tempo.

“Ele mostrou tantos lados patéticos de si mesmo.”

O diabo não tinha mais um pingo de dignidade. No entanto, isso não era porque o Diabo Bufão fosse uma criatura insignificante. Era uma entidade monstruosa que assolava o continente havia bem mais tempo que o Rei Dragão Demônio. Mesmo em seu estado atual, Airen não podia ter certeza absoluta de que venceria em uma luta.

E mesmo assim, Karin o dominava, tratando-o como uma criança.

“Eu não sabia que ele era tão forte…”

Claro, Airen sabia que Karin havia desferido um golpe crítico no Diabo Bufão no final. Mas aquele único golpe foi alimentado por uma explosão final de energia e dependia da negligência do oponente. Até agora, era nisso que Airen acreditava. Para ser honesto, talvez ele tenha se concentrado mais na história e na vontade dentro do seu sonho do que nas habilidades reais do homem.

Enquanto esses pensamentos passavam por sua mente, Karin se aproximou dele.

— Parece que você já tomou sua decisão.

— Desculpe?

— Você decidiu consertar seu coração partido. Não é por isso que está me seguindo?

— Ah…

As palavras de Karin fizeram Airen se lembrar de um fato que havia esquecido. Por que ele estava ali? Por que queria completar a missão, derrotar o demônio e receber ajuda de um aliado? Era para se tornar mais forte.

Airen queria restaurar a Técnica Divina dos Cinco Elementos estilhaçada. Comparado ao final do Torneio dos Heróis, seu estado atual estava extremamente desequilibrado.

“Preciso fazer a árvore crescer de novo e consertar meu coração partido.” Essa era a prioridade de Airen.

Durante a jornada para Godara, as convicções de Airen foram destruídas. Ele deixou de ver o mundo como algo belo e já não conseguia mais nutrir a vontade ou a árvore em benefício do continente.

Então o que deveria fazer? Como poderia fazer a árvore se erguer de novo em seu coração? O conselho de Karin Winker poderia tornar isso possível? Seu eu passado nada sabia sobre a Técnica Divina dos Cinco Elementos, então seria mesmo possível?

A dúvida surgiu dentro dele, mas logo desapareceu. A manipulação e os métodos da aura não eram o importante. O que importava era o ‘coração’.

Airen assentiu, recordando a vida de Karin, ele havia suportado provações muito maiores, e a vontade que finalmente alcançou não era diferente do ideal que Airen buscava. Ele olhou para Karin, e a confusão dentro de si diminuiu bastante.

Karin Winker retribuiu o olhar com um sorriso.

— O que você deseja não pode ser obtido rapidamente.

As palavras pegaram Airen de surpresa.

— O quê?

— Recuperar sua fé no mundo, ou ao menos se livrar da desconfiança desnecessária que sente por ele… reacender sua vontade de proteger todo o continente. É um modo de pensar que combina com você… mas leva tempo. E não vai ser conquistado num espaço criado por feitiçaria, mas sim por meio de experiência, sabedoria e maturidade adquiridas ao viver a vida real.

Airen abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu.

— Você com certeza sabe a diferença entre saber algo intelectualmente e de fato aceitá-lo, não é?

Airen assentiu devagar, com pesar. Sempre soube que o mundo não era todo belo e puro. Aprendeu isso enquanto vivia com a tribo orc Drukali. Histórias de humanos e orcs cometendo atos mais atrozes que os demônios preenchiam a história deles.

“Mas naquela época, meu coração não se partia ao pensar nisso tudo. O verdadeiro desafio veio depois que experimentei a escuridão do mundo com meus próprios olhos.”

Era isso, saber algo intelectualmente e vivenciá-lo diretamente eram coisas completamente diferentes. Manter o mesmo coração apesar disso e empunhar a espada pelo mundo novamente como se nunca tivesse sido ferido era uma história totalmente diferente.

Airen correu atrás do Diabo Bufão voador, com os ombros caídos. Karin estava certo. Alcançar seu ideal de novo provavelmente levaria mais tempo. Ainda assim, sentia-se desanimado.

Karin lhe ofereceu algumas palavras de consolo.

— Não fique tão abatido.

Quando Airen se virou para olhar, a aparência de Karin o surpreendeu. Não havia notado enquanto o seguia, mas sua aparência havia mudado. Karin passou de seu auge para a meia-idade e, por fim, para a velhice. Mas não estava fraco. Não, Karin Winker havia retornado ao ponto mais forte de sua vida, o momento em que feriu gravemente o Diabo Bufão.

— A árvore em seu coração não é algo que apenas um herói ou alguém com um grande propósito pode plantar — explicou Karin. — Mesmo sem uma causa grandiosa que beneficie todo o continente, o mundo contém inúmeras vontades preciosas, igualmente valiosas.

Airen o observou, escutando.

— Você está sendo teimoso agora. Está obcecado em conseguir rapidamente algo que não pode ser conquistado dessa maneira. Isso está pesando em seu coração, tornando-o pesado… Hmm. Assim não vai dar. Antes de pensarmos mais sobre a árvore, precisamos preparar o terreno. E precisamos de outro ajudante.

— Preparar o terreno? Um ajudante? Quem… — respondeu Airen, franzindo a testa.

As palavras de seu eu passado rodopiavam em sua mente. Algumas ele compreendia, mas outras continuavam vagas. Era difícil se concentrar direito em uma coisa só quando a conversa mudava de direção antes que ele pudesse entender um conceito por completo.

Claro, mesmo assim, seus pés nunca pararam de se mover. Olhou ao redor. Estavam em uma nova região agora. Diante dele havia uma floresta vasta e escura, intocada pelas mãos humanas.

Um arrepio percorreu sua espinha. E não era só pela passagem do tempo. A floresta exalava uma energia demoníaca densa, como a boca de uma fera. Ainda mais sinistro era o fato de que o Diabo Bufão havia parado de gritar em algum momento.

— Haaa… — o Diabo Bufão exalou, espalhando um fedor repugnante por toda parte.

Mas o cheiro não era o motivo da expressão tensa de Airen. O diabo aparentemente havia recuperado a compostura. E o olhar que lançou para eles antes de desaparecer na floresta deixou Airen inquieto.

Fssshh!

A vegetação da floresta se agitou.

Rumble!

O chão tremeu. Depois, silêncio. Airen engoliu em seco e começou a reunir sua aura quando um gigante surgiu da parte mais profunda da floresta.

Craaaash!

— Rooooooooooar!

Imediatamente, Airen invocou sua espada larga. Com toda a força, liberou sua Aura da Espada no exato momento em que se deu conta:

“Eu nunca vi o poder total do Diabo Bufão!”

Era verdade. O Diabo Bufão que enfrentou na realidade já estava gravemente ferido. E em sua vida passada, o diabo não conseguia usar todo seu poder por não estar em sua própria base. A força dos diabos  variava drasticamente dependendo de onde lutavam. E o Diabo Bufão agora estava…

“Está escuro. Quase tão escuro quanto Godara!”

Boom!

Crash!

Craaaash!

O Diabo Bufão se tornou tão gigantesco quanto uma montanha e então pisou com força. Ondas de choque se espalharam em círculos concêntricos. Milhares de árvores se partiram na hora, e os demônios escondidos na Floresta Negra fugiram em todas as direções, incapazes de suportar o impacto.

Airen se assustou.

— Isso é ruim!

Embora os demônios parecessem tão indefesos quanto um bando de pássaros, não eram. Cada um deles possuía poder suficiente para superar um Mestre comum. Só de imaginar o caos que poderiam causar fora da floresta, sua cabeça girava. Mesmo com o coração partido, um herói ainda era um herói.

No entanto, tais preocupações se mostraram desnecessárias. A versão idosa de Karin Winker permanecia calma mesmo em meio ao caos. Ele empunhou sua espada e sua aura. Então realizou um corte horizontal largo no ar.

Swiiiiiiiish!

Um milagre aconteceu, não havia outra forma de descrever. O movimento simples de Karin apagou instantaneamente onze demônios poderosos, independentemente da distância entre eles. Sua esgrima estava muito além da compreensão de Airen.

O mesmo valia para o Diabo Bufão. Pegue de surpresa com a virada inesperada dos acontecimentos, ele levou alguns golpes, mas ainda acreditava que venceria. Planejava esmagar Airen sem piedade, triturá-lo da cabeça aos pés e saborear cada gota de seu desespero.

Mas não podia. Instintivamente, sabia que não conseguiria vencer. Contudo, seu orgulho como diabo não lhe permitia recuar…

Thump!

Antes que o Bufão pudesse terminar esse pensamento, Karin se lançou do chão. Ficava mais rápido a cada segundo. Aterrorizado ao ver o velho saltando em sua direção, o Diabo Bufão juntou as mãos numa tentativa de esmagá-lo. Mesmo em pânico, o ataque foi executado com uma velocidade aterradora.

Clang!

Karin rebateu o ataque do diabo. O Diabo Bufão ergueu os braços no alto. Agora era apenas um torso completamente indefeso e um par de olhos gigantescos, tomados pelo medo. A espada do velho se expandiu rapidamente e a cabeça do Diabo Bufão afundou com um estalo nauseante.

Craaaash!

Crash! Crash! Boom!

Os ataques continuaram sem parar, dez vezes, vinte vezes, cem vezes. Não havia fim à vista. O corpo gigantesco do Diabo Bufão não só se despedaçou como também encolheu consideravelmente. O velho, que em algum momento pousou no chão, balançava sua espada feito um louco.

Crash!

Crash!

Crash!

Crash!

Craaaash!

De repente, o velho desapareceu. Em vez de subir ao céu, afundou no chão. Mesmo com o solo cedendo pelo impacto e abrindo uma cratera enorme, Karin não parou. Airen assistia a tudo com um olhar de absoluto choque.

Trinta minutos depois, o ataque impiedoso finalmente chegou ao fim. Como se tivesse se livrado de um grande peso, Karin agarrou o Diabo Bufão pela nuca e o puxou para cima.

— Peço desculpas. Acho que guardava alguns sentimentos ruins em relação a você — disse ele. — Mas, de toda forma, tenho um favor a pedir… Vai me ouvir?

— S-Sim… — respondeu o Diabo Bufão, com o rosto escuro e horrível sob a máscara destruída. — Qualquer coisa… farei como ordenar…

E assim, Karin conquistou mais um ajudante para Airen Farreira.

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