O Rei Demônio havia realmente surgido.
Tornar-se um Rei Demônio não era simplesmente ser um diabo forte. Um Rei Demônio precisava ser uma criatura com habilidade e ambição para unir os demônios abaixo de si. Tinha que ser alguém capaz de estabelecer seu reino no mundo humano e, além disso, transformar o mundo humano no Reino Demoníaco. Até agora, apenas o Rei Dragão Demônio havia se aproximado desse nível. Todas as outras entidades permaneceram no nível de grande demônio.
No entanto, desta vez era diferente.
Poder pessoal?
Ele havia matado Khun, um dos três maiores espadachins do continente. Também foi cruel o bastante para corromper Carl Lindsay, um gênio entre gênios.
Habilidade de um rei?
Estava presente também. O diabo bufão, conhecido por ser tão forte quanto o Rei Dragão Demônio, estava sob seu comando. O incidente ocorrido na Cidade Sombria, Godara, foi chocante. Era inesperado ver tantos demônios reunidos em um só lugar e obedecendo ordens de outro.
Contra tal criatura…
Contra tal Rei Demônio…
Contra o Demônio do Coração, o continente contava apenas com quatro espadachins.
Illia Lindsay.
Brett Lloyd.
Judith.
E Airen Farreira.
Claro, cada um deles era um gênio forte o bastante para deixar sua marca na história, mas nenhum havia atingido seu potencial máximo ainda. Muitas pessoas expressaram preocupação em confiar uma responsabilidade tão importante a jovens que ainda nem tinham trinta anos.
Essa era também a razão pela qual todos mantinham silêncio sobre a situação no continente. Não queriam colocar ainda mais pressão sobre os jovens heróis.
— Isso é uma má ideia.
Foi o que o Rei Sagrado disse.
Certo. O que o mundo precisava agora era de heróis completos. Essas pessoas eram jovens e inexperientes, não conseguiriam carregar o mundo.
Mas o Rei Demônio iria agir considerando que seus oponentes eram apenas crianças?
Não.
Se esconder a verdade diminuísse o fardo dos heróis, isso seria correto?
Não.
Pelo contrário, se fossem indivíduos que não aguentassem sequer isso, então simplesmente não teriam capacidade para enfrentar o Rei Demônio. Se não fossem capazes de ajudar Ignet, seria melhor desistir dela e fortalecer o poder do mundo humano. Era preciso se preparar para a guerra iminente e transmitir os ensinamentos dos veteranos aos menos experientes.
— Claro… esse seria o cenário se eles não fossem heróis completos.
Diferente da expressão calorosa que sempre carregava, o Rei Sagrado olhou para os quatro espadachins diante dele com olhos arregalados.
Era difícil. Alguns pareciam completamente diferentes, enquanto outros tinham uma presença difusa, difícil de entender.
“Talvez eles tenham se tornado poderosos demais para que eu possa julgá-los.”
— Huhu.
Logo, o rei sorriu e assentiu. Ele realmente desejava que isso acontecesse. Esperava que suas capacidades não fossem imediatamente detectadas, nem por aqueles presentes, nem pelos olhos dos que viriam testá-los no futuro.
Ele queria que o povo do continente ganhasse esperança ao ver os quatro espadachins. Pensando nisso, levantou-se.
— Então… já disse tudo que precisava ser dito, agora vejamos.
Quatro heróis e alguns sacerdotes de alto escalão seguiram o velho que caminhava.
Depois de um tempo.
Quando chegaram ao palácio real, viram rostos familiares.
Nos últimos dias, os mestres espadachins, magos e outras pessoas fortes o suficiente para estar na linha de frente da guerra contra os diabos haviam chegado a Arvilius. A maioria deles voltou com a ajuda do portal de feitiçaria de Anya.
No entanto, os quatro não se concentraram em todos. Seus olhos foram atraídos para algumas figuras específicas.
Aquelas que estavam no centro.
Julius Hule.
Ian.
Karakhum.
Gia Runetel.
Vendo os homens mais fortes do continente emanando uma força aterradora, os sumo-sacerdotes do Reino Sagrado engoliram em seco.
E, nesse clima pesado.
Passo.
— …venha.
O mais forte paladino do continente, Julius Hule, deu um passo à frente e olhou para Illia Lindsay.
Wooong!
— …
— …
Havia um silêncio pesado entre eles. No início não era tão quieto, mas agora nem o som da respiração podia ser ouvido. Tudo que chegava aos ouvidos era o som da aura surgindo. Apesar de estar próximo dos 90 anos, o homem ainda era muito forte.
Passo. Passo. Passo.
Mas Illia Lindsay permaneceu calma.
Embora inúmeros olhares estivessem voltados para ela, ela não se importava com nenhum deles, muito menos com Julius Hule. Deu um passo à frente. A tensão no salão aumentou ainda mais. Um dos três maiores espadachins do continente, que manteve essa posição por décadas, enfrentava uma das quatro jovens heroínas destinadas a liderar o continente no futuro.
A pressão aumentava.
O ar se tornava pesado.
Todos esperavam o momento em que Illia sacaria sua espada, mas então um som estranho veio de cima.
– …!
— Um!
Foi um som ensurdecedor. Parecia o som de espadas colidindo. Um grunhido escapou da boca de Julius Hule ao bloquear o ataque. Havia choque em seu rosto.
Ele tinha certeza de que nada havia saído da mão de Illia.
O céu.
Vendo a espada se mover numa direção inesperada, todos ficaram chocados e admirados ao entender o que significava.
A Espada do Céu!
Era como se o Deus do Vento tentasse destruir a escuridão. Após o choque, a espada celeste de Illia, que agora se afastava, moveu-se livremente no ar. E então voou novamente em direção a Julius Hule.
Ching!
Para impedir que a espada que transcendeu seus limites o ferisse, ele precisou dar tudo de si!
Um Escudo de Aura surgiu instantaneamente ao seu redor.
Mesmo que fosse um ataque imprevisível, não haveria problema se ele pudesse bloqueá-lo!
Agachado como uma tartaruga, os olhos do velho cavaleiro brilharam, claramente tentando encontrar o ponto fraco de sua oponente.
Foi então.
Srng!
Chik!
— …!
Illia Lindsay, que até então permanecia imóvel, se moveu pela primeira vez. Sua espada, que estava em sua cintura, foi puxada.
A espada que voava no céu se juntou a ela. A aura desenvolvida agora se fundia em uma única entidade, emitindo um brilho ofuscante.
Julius Hule rangeu os dentes. Como resposta, comprimiu o Escudo de Aura espalhado ao seu redor em uma esfera e o girou como um cone.
No entanto, nada poderia parar aquela espada.
Ian e Karakhum intervieram rapidamente para conter o impacto.
Kwaaaaang!
— Kuak!
— Ack…!
Não era o fim, mas o impacto havia sido forte demais. Os sumo-sacerdotes e os poderosos que assistiam cambalearam com a aura que se espalhou. Khubaru, que observava o duelo, quase foi atingido por uma pedra que quicou. Felizmente, foi bloqueada por seu irmão.
Ele agradeceu imediatamente.
— O-Obrigado.
Mas não recebeu resposta. Não havia tempo para isso.
Illia permanecia de pé com um rosto calmo, sua espada voadora girando ao seu redor diante da enorme cratera que havia criado.
— Preocupação inútil…
— Hmm…
— Um.
Halifa e Tarakhan assentiram em concordância.
Certo. Não havia necessidade de preocupação. Os jovens heróis já carregavam o futuro do continente em seus ombros. E não eram apenas fortes; a Espada do Céu de Illia havia provado isso.
Como prova, Julius Hule não apontava mais sua espada para ela.
— A verificação de Illia Lindsay está concluída.
Havia uma pequena rachadura em sua espada sagrada, e o velho cavaleiro encarava a mulher da família Lindsay.
Ele não conseguia acreditar. Mas também não odiava aquele sentimento.
Simplesmente esperava que os outros três jovens tivessem alcançado o mesmo nível.
Ele assentiu e recuou. Ian e Karakhum, que estavam ali, também retornaram aos seus lugares.
Sabiam que aquilo não era o fim. Era apenas o começo. Sentiam a imensa força se acumulando na atmosfera.
Gia Runetel avançou.
— Venha, Airen Farreira.
Wheik.
Jik…
Chamas espessas e relâmpagos deixavam rastros no chão enquanto ela caminhava. Devido ao calor intenso, o piso sob seus pés derretia, tornando o salão ainda mais quente.
Mas não parou por aí.
Enquanto Gia Runetel balançava seu longo cajado, magia saía dele. Era como se chamas e raios moldados juntos surgissem.
— Vamos ver. O quão forte você se tornou.
O dragão mágico voou para o alto.
Flutuava no céu e olhava para Airen com olhos vermelhos e azuis. Era o olhar da Rainha dos Magos, e era diferente do olhar que Julius Hule lançou a Illia.
Era diferente do passado.
Sua forma no Festival dos Guerreiros havia sido louvável, mas aquela não era mais a espada dele. Como maga, Gia não conseguia entender por que não sentia nada vindo de Airen. Só podia sentir o fluxo das cinco energias em seu corpo. Após ouvir as explicações dos orcs sobre como se tornar um espiritualista, ela quis compreender a grande árvore que representava suas crenças.
Mas agora algo inesperado acontecia.
Nada podia ser sentido.
Claro, sua presença como Mestre ainda estava ali, mas era só isso. Mesmo sendo tão poderosa, ela não conseguia sentir a mesma atmosfera que Airen emanava no passado, quando carregava a convicção de salvar o mundo. Por isso, escolheu testá-lo agora. Gia Runetel se concentrou ainda mais em sua magia para suprimir a ansiedade que crescia dentro dela.
Kiiin!
Grrrr…
O olhar afiado do dragão o examinava.
Sentindo o ímpeto de Gia Runetel, os poderosos ali presentes também se sentiram estranhos. Ninguém olhava para Airen. Esqueceram até porque estavam na sala de treinamento. Apenas se sentiam esmagados pela força avassaladora e olhavam para o dragão e para a rainha.
Não havia nada de diferente em Airen. Ele olhava para Gia Runetel flutuando e para o dragão sobre ela.
Havia apenas uma coisa diferente.
Ao olhar para a magia, o que sentiu não foi medo, mas tristeza.
Depois de um tempo.
Com os olhos fechados, uma energia incomparável surgiu de seu corpo.
— …
Matar apenas pela pressão exercida.
Muitos pensariam ser impossível, mas era possível. Se alguém fosse um especialista de nível superior, poderia usar a aura para pressionar o oponente. Mesmo sem usar uma espada, uma pessoa comum estaria próxima da morte nessa situação.
E um especialista assim poderia ser encurralado por um Mestre. Para fazer isso com pura força contra outro Mestre, era preciso estar além do nível de Mestre. Ou pelo menos infinitamente próximo disso.
Contudo, não demorou para todos perceberem a situação.
Woong!
Inasio Karahan sacou sua espada.
Não havia acabado.
Devan Kennedy e Ralph Penn também empunhavam suas espadas. E resistiam à força que os pressionava.
Todos resistiam.
Não tinham escolha.
Os fortes… cada um deles sentiu uma ameaça psicológica e usou tudo o que podia para se proteger; aura, magia, feitiçaria, espírito e poder sagrado. Eles se protegiam das ondas de energia que vinham contra eles.
E o que rompeu a série de eventos…
Foi Brett Lloyd que se aproximou de Airen.
— Já chega.
— …
— Isso já é o suficiente. Então… pare.
— …
— Estou errado, Rainha de Runetel?
Com a mão sobre o ombro de Airen, Brett olhou para a mulher.
Uma gota de suor descia pela testa dela.