Uma plebeia de origem humilde.
Era assim que a maioria das pessoas julgaria Judith.
Claro, algumas poucas pessoas ainda se importavam com isso. Talvez, nos tempos antigos, quando o sistema de status e classes era obrigatório, isso fosse importante. Mas na sociedade atual, ser uma Mestra Espadachim em seus vinte e poucos anos era algo grandioso, então quem ousaria falar mal dela?
“Não há nada de errado com suas habilidades.”
Por isso, Lorde Lloyd, um nobre de alta patente do Reino de Gaveira, não se importava com suas origens. Mas não era só isso. Se tivesse que escolher dois fatores mais importantes para alguém ser a esposa de alguém, seriam: ser humana e estarem apaixonados. Ele havia convidado Judith para confirmar isso pessoalmente.
“Meu filho é muito bom, mas como pai, preciso verificar pessoalmente.”
Claro, era difícil perceber isso imediatamente. Não importava quão apurado fosse seu olhar, como poderia compreender a verdadeira natureza de alguém apenas com uma refeição ou uma breve conversa? Além disso, se a outra pessoa estivesse se esforçando ao máximo para causar uma boa impressão, seu julgamento ficaria ainda mais turvo.
Judith estava assim agora.
Um sorriso desajeitado.
Uma fala desajeitada.
Expressões e atitudes rígidas, junto com movimentos tensos. Tudo indicava que Judith estava se esforçando demais para agradar. Mesmo depois de duas horas, a jovem não estava confortável e temia constantemente fazer algo errado diante dos nobres.
Ela tinha uma personalidade diferente.
E esse era o pensamento de Lorde Lloyd.
Mas, além disso, ele gostava dela…
“Ainda assim, posso sentir o quanto ela ama meu filho.”
Porque, sem dúvida, Judith falava de maneira muito sincera quando se tratava de Brett. Lorde Lloyd olhou para sua esposa. Ela também tinha uma expressão semelhante à dele. Sorriu e olhou para Judith.
Desajeitada e rígida, mas ainda assim adorável.
Queria vê-la mais, conhecê-la mais.
Por isso, sentiu-se um pouco envergonhada quando seu filho apareceu. Queria levantar vários assuntos sem a presença dele.
Mas isso não aconteceu.
— Vamos nos casar.
— …!
Após ouvir as palavras súbitas de Brett, a boca de Lorde Lloyd se abriu.
— …!
— …?
Claro, não era só ele. O casal Lloyd e até Gerard ficaram com expressões chocadas. Era surpreendente e tão repentino.
Mas, por mais chocados que estivessem, não podiam se comparar a Judith. Como uma estátua, ela não se moveu nem respirou, apenas olhou para Brett.
— …
— …
— …
O tempo parecia ter parado.
O silêncio continuou.
Claro, não durou para sempre. Brett Lloyd, que parecia o mais empolgado entre os cinco, aproximou-se calmamente de sua amada.
Não conseguia pensar em palavras ou ações românticas. Não havia palavras para expressar sua sinceridade…
— C-Com licença!
Dudududu
— …
— …
— …irmão, você a assustou.
— Cala a boca, seu pirralho.
Após bater na testa do irmão mais novo, Brett olhou para onde Judith havia desaparecido.
Ela ainda estava perto. Pensou em alcançá-la um pouco mais rápido.
“Será difícil obter uma resposta até derrotarmos o Rei Demônio.”
Ele havia se confessado, e embora Judith fosse ousada, era surpreendentemente tímida em assuntos assim.
Claro, ele não estava muito preocupado.
Gostava dela. E Judith também gostava dele. Gostavam tanto um do outro que poderiam passar a vida inteira juntos. Esse era um fato inalterável. Quando a empolgação de sua amada se acalmasse, e sua mente esfriasse… se ele fizesse a proposta de forma mais apropriada, teria certeza da vitória. Brett estava confiante.
“Então…”
“Temos que voltar vivos.”
Ele sorriu.
Era incrível. Estava pronto para morrer um segundo atrás, mas agora queria viver mais do que qualquer um. Era por causa de Judith. De certa forma, parecia que ela o fazia se agarrar à vida.
— Estou a ponto de atacar a grande Judith, então nem parece que estou preocupado com o Rei Demônio ou o Diabo Bufão.
Ele realmente sentia isso.
Assentiu e caiu na risada.
— Haha, hahaha, hahaha…
Gerard Lloyd observou seu irmão com uma expressão preocupada.
— Acho que ele teve o maior choque…
Todos riram.
Judith, que havia fugido da família Lloyd, foi treinar. Não, na verdade, era uma fuga disfarçada de treino. Fazia isso para escapar de problemas que eram difíceis de lidar… para fugir daquele momento que chegou muito mais rápido do que esperava.
Claro, não conseguiu.
Quanto mais golpeava, quanto mais usava aura, mais seu coração disparava. O rosto de Brett, sua voz… tudo girava em sua mente, e ela não conseguia se acalmar.
Não era como se ela não tivesse gostado.
Para ser precisa, ela ficou feliz, mas também ficou confusa. Havia um pouco de ressentimento dentro dela.
Por que agora?
Em dez dias, iriam enfrentar o Rei Demônio. Era em grande parte para salvar o mundo, mas, pessoalmente, para vingar seu mestre. Claro, para Judith, a vingança tinha um peso maior. Estava convencida de que seria ela quem queimaria a escuridão que havia tirado sua única família. Isso era mais importante para ela do que o próprio mundo.
— E claro, Brett… ele sabe disso.
— Uh, ah!
Judith soltou um gemido.
Era uma pessoa que ela nunca conseguiria odiar. Ele não havia feito nada de errado. Era apenas um pouco… um pouco decepcionante por causa da hora. Talvez ela nem tivesse percebido que só queria culpar outra pessoa porque não tinha coragem de agir primeiro.
Ela sacou a espada e elevou sua energia. Sua aura se movia como chamas. Sentia que precisava descarregar um pouco daquela energia para se livrar daquele humor. Era uma noite tranquila, e os salões de treinamento do palácio tinham acabado de ser abertos.
— Judith.
— …vá embora. Não estou me sentindo bem agora.
Sem nem olhar para Illia, Judith respondeu friamente ao chamado.
Originalmente, não queria comparar a situação com Airen. Mas, naquele momento confuso, não queria falar com Illia de forma alguma.
— Vou ignorá-la se ela falar. Ou vou me afastar.
Pensando assim, Judith assumiu sua postura. No entanto, isso não foi possível.
No momento em que ouviu as próximas palavras de Illia, ficou paralisada.
— Eu estava assistindo.
— …
— Brett foi corajoso.
— …!
— Então, estou um pouco assustada… pode abaixar sua espada? Não vim treinar, mas conversar…
— …
— Trouxe um pouco de álcool também para beber com você.
— …
— Não consegue pensar? Apenas relaxe.
— …phew.
Judith balançou a cabeça e suspirou enquanto comandava sua aura. Sua espada flamejante foi silenciosamente embainhada, e então suas mãos tocaram a garrafa. Ela caiu sentada no chão, ao lado de Illia. E Illia bebeu junto com ela.
Gulp.
Gulp
O ar frio da noite.
O palácio silencioso…
A leve embriaguez do álcool.
Tudo isso combinado ajudava a acalmar Judith. Fazia com que ela voltasse a ser ela mesma. Deixando o orgulho de lado, olhou para frente e confidenciou a Illia o que estava sentindo.
Ficou surpresa com algumas partes, e outras a agradaram. Algumas a irritaram, e outras a deixaram frustrada.
Depois de desabafar sobre todas as emoções que sentia, a vergonha veio. Nos últimos dias, ela pensava que não estava sendo ela mesma, e sua expressão mudou.
“Se você pensar em zombar de mim…”
“A próxima luta vai ser difícil para você.”
Enquanto Judith pensava isso, Illia respondeu.
— É algo que realmente vale a pena se preocupar.
— Uh?
— Às vezes pode ser assim. Para ser honesta, você e Brett estão em situações diferentes. Você é uma pessoa que acabou de perder alguém muito próximo e não gosta do fato de estar embriagada pelos próprios sentimentos em relação a outra pessoa. Honestamente, deve ter sido embaraçoso, certo?
— Uh, hum. Não… quer dizer…
Judith ficou chocada.
O que Illia disse era verdade. Mesmo assim, ouvir seus próprios pensamentos vindos de outra pessoa que não fosse Brett a fez se sentir estranhamente envergonhada, mas ela não ficou com raiva.
Nesse momento, Illia sorriu. Um sorriso maduro.
Vendo a expressão vazia de Judith, Illia falou com uma voz calorosa.
— Mas as pessoas não podem ser sempre perfeitas, certo?
— Uh? Uhuh, certo…
— Você também sabe disso. Brett está sempre blefando, é meio idiota, tenta impor suas palavras aos outros e, quando sente algo, cria suas próprias teorias também. E mesmo agora, ele não pensou em correr atrás de você… mas nenhuma das ações de Brett, que poderiam te deixar triste ou irritada, foram feitas com más intenções. Você sabe disso, não é? Sabe o quanto ele te valoriza.
— …
— Se você não esquecer disso, não poderia aceitar as coisas de um jeito um pouco diferente desta vez?
…Judith, que pensou por um momento, assentiu.
Illia estava certa.
Ela amava Brett.
E Brett a amava.
Era um fato inegável, e não havia chance de Brett ter feito algo daquilo só para provocá-la. Talvez o amor entre eles tivesse crescido tanto que nem eles mesmos haviam percebido.
Talvez ela fosse quem estivesse sendo ansiosa demais. Talvez fosse por ser jovem, ou talvez fosse pelo fardo de carregar o destino do continente.
Certo. A situação do mundo era crucial naquele momento. Mas, mais do que isso, ela precisava daquela pessoa. E acreditava nesse relacionamento. Judith entendeu o que Illia estava sugerindo e passou a enxergá-la de uma maneira diferente.
Ela estava diferente. Embora, em Krono e na Terra da Provação, essa mulher fosse uma gênia com a espada, era desajeitada ao lidar com pessoas. Mas agora…
Judith olhou para Illia.
Illia havia definitivamente mudado. Era mais do que apenas a compreensão da Espada do Céu. Comparado à época em que havia derrotado Julius Hule, ela parecia ainda mais grandiosa…
— Illia, Judith.
— Airen!
— Uh?
— Uma luta leve soa bem para vocês? Não precisamos exagerar.
— Boa ideia!
Illia Lindsay se levantou com uma expressão completamente diferente de antes.
Judith assentiu ao ver aquilo. Ao contrário dos outros, Airen estava um pouco calado demais. Era natural que Illia ficasse feliz por ele ter se aproximado primeiro.
Mas não Judith.
Ela não conseguia se sentir feliz em uma situação onde deveria estar.
A raiva pelas pequenas coisas que a incomodavam crescia dentro dela.
Essa era a diferença entre ela e Illia.
Enquanto sua visão se limitava apenas à espada, Illia lutava por outros valores. Judith percebeu que sua amiga havia se tornado muito mais madura do que ela mesma.
“Ainda assim, não estou tão chateada.”
Heh.
Judith se levantou com um sorriso e olhou para o lado. De repente, viu Brett Lloyd se aproximando.
Seu sorriso se alargou.
— Huhu, huhuhu…
— …por que está assim? Está me assustando.
— Chega. Vamos lutar também?
— Hum, tem certeza de que está bem…
Olhando para ela, Brett assumiu sua postura.
E o duelo entre os dois pares começou.
A luta que começou entre Airen e Illia, junto com Judith e Brett, continuou sem que houvesse o conceito de um oponente fixo. Sem fim, tornou-se uma dança de espadas que brilhava intensamente no salão.
Ian, junto de Julius Hule, assistia aquilo com alegria.
Ninguém estava com medo.
Ninguém estava desanimado.
Mesmo quando eram apenas aprendizes, havia uma tensão sutil entre eles enquanto se preparavam para a avaliação final. Mas agora, o ambiente era tão confortável que era difícil acreditar que estavam se preparando para enfrentar o Rei Demônio. Era porque sabiam que dias mais importantes viriam, e que tempos valiosos continuariam a surgir.
E assim, o dia passou.
E então mais alguns dias se passaram.
E no décimo dia, a escuridão recuou, e a manhã chegou.
— …então vamos?
O dia do confronto finalmente havia chegado.