Era estável.
Era sofisticado.
Não havia brechas, e era uma esgrima equilibrada que mostrava vestígios de longas horas de agonia. Essa foi a impressão que teve ao ver Brett Lloyd pela primeira vez. Mesmo sendo irritante, o Bufão admitia que o oponente era habilidoso.
Às vezes era suave e gentil, e às vezes era feroz. Se espalhava como uma névoa, confundindo seus sentidos, e a energia atravessava de forma silenciosa. Era um estilo de luta que havia mudado drasticamente em comparação ao passado.
Certo.
O Bufão estava se sentindo pressionado por aquele jovem.
Em vez de um confronto direto, o Diabo Bufão tentava executar um plano ardiloso. Ele conseguiu deixar o coração de seu oponente impaciente através de sua grande malícia e habilidade de engano.
Mas… o que aconteceu depois foi totalmente inesperado.
Kwang!
Wakng!
Kwang!
— Kuak! Ack! Kuak!
A tempestade continuava vindo contra ele. Cada golpe era poderoso o suficiente para derrubar uma montanha. Claro, ainda não era perfeito. Parecia bruto comparado à esgrima que ele usava antes.
Mas e daí?
“Há muitas brechas. Mas…!”
O Bufão não conseguia explorá-las.
Simplesmente não conseguia atacar. O espírito de Brett era feroz o suficiente para fazê-lo recuar. Era quente. O Bufão sentia o calor subir ao redor dele, e a raiva se espalhava em seu corpo ao enfrentar os ataques do humano.
“Como isso aconteceu?”
Ele não conseguia entender.
Brett Lloyd era apenas mais um humano. O Bufão havia aceitado os ataques dele e sentiu sua força. Às vezes, havia movimentos arriscados, mas eram feitos com o cálculo de que trariam maiores resultados. O Bufão percebia que esse homem era um nobre de uma nação, e de alto escalão.
Aqueles que têm muito a perder prezam por si mesmos.
Criaturas que possuem muitas coisas frequentemente se tornam egoístas.
Então, ele não se preocupava. Nunca se preocupou. Às vezes existiam aqueles que consideravam a missão dos outros como sua e estavam dispostos a se sacrificar…
Além disso, embora o Diabo Bufão soubesse que existiam humanos que usavam seu poder pelos outros, não acreditava que o humano à sua frente fosse um deles, disposto a vir para cima dele pronto para morrer.
“C-Como isso aconteceu!”
— Kuaaaak!
Woong!
O Bufão brandiu seus punhos em fúria. A estratégia defensiva que usava antes foi descartada. O ataque do Bufão avançou contra Brett cheio de pura raiva e intenção assassina. Mas essa ação era calculada.
Ele exploraria o momento de indecisão de Brett ao renunciar à própria vida.
Porque humanos tinham muito a perder.
Porque humanos eram criaturas que não estavam prontas para desistir da vida.
O motivo de Brett estar correndo daquela maneira não era preocupação com seus amigos, mas o medo e a ansiedade de que o Bufão pudesse alcançar esse objetivo.
“É assim que é. Ele deve ser do mesmo tipo!”
O olhar que atravessava a máscara do Bufão era aterrador. Seus olhos estavam manchados de sangue espesso e vermelho.
Brett não entrou em pânico.
Ele não sentiu medo. Na verdade, ele nem se importava com a aparência do Diabo. Porque ele não podia se importar.
— …
“Concentre a mente.”
“Concentre a raiva.”
“Concentre a aura.”
“Não tão rápido. Se eu atrasar a extensão da espada, sofrerei um dano enorme.”
Uma força gigantesca fora de seu controle poderia despedaçar seu corpo.
“Mas isso não vai acontecer.”
A espada de Brett tocou o queixo do oponente ao mesmo tempo em que o punho do Bufão tocou seu rosto.
Após um segundo, um estrondo que parecia devorar os céus varreu o Domínio Demoníaco.
— …!
Boom!
A confusão se espalhou por todos os lados. A densa escuridão foi rasgada em pedaços, e então uma névoa noturna se espalhou. O corpo caído do Bufão se amontoava em pequenos fragmentos.
— Cof, cof!
O tronco do Bufão tremia.
Sangue negro jorrava constantemente. Felizmente, não era fatal. O Diabo, que quase havia visto o fim de sua vida, usou parte da magia para curar seu corpo. Embora partes de si tivessem sido esmagadas e despedaçadas pelo ataque de Brett, a energia negra havia feito seu trabalho. Ainda tinha força para lutar.
Mas o Bufão não queria.
“Estou com medo!”
Ele estava assustado.
“Está doendo demais.”
O Bufão estava dominado pelo medo.
“O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço?”
A situação era péssima.
Ele havia presenciado. Era uma situação unilateral; seu punho havia atingido o humano e causado dano. Mas como o humano se moveu no último instante, o dano sofrido foi mínimo.
O instinto de sobrevivência dentro dele dizia que havia caído numa armadilha. E por causa daquela ação tola, o Bufão não conseguiu superar seu medo, e o oponente ganhou ainda mais vantagem.
Pung!
“Ele está vindo!”
Ele podia ouvir o som do chão se quebrando. O Bufão se levantou apressadamente e assumiu uma postura. Sua mente lutava para permanecer calma. Ele se sentia tonto e queria tossir, mas resistiu.
Ele calculava formas de sobreviver.
“…agora, preciso arriscar minha vida!”
Não havia outro caminho. O Diabo Bufão sabia que, se continuasse preso no ritmo do oponente, sofreria uma derrota unilateral, independentemente de quem fosse mais forte.
O Diabo Bufão não queria morrer.
Ele queria viver, mesmo que isso significasse estar entre o lixo.
Tardiamente, a escuridão voltou a sair de seu corpo.
Whhh…
Kwakwakwakwakwang!
A partir daquele momento, o ritmo da luta mudou. Nenhum dos dois se importava com o futuro. Eles apenas focavam na situação atual e em como poderiam matar o oponente. Não se importavam em sobreviver. No momento em que mostrassem qualquer fraqueza, seriam devorados pelo outro. A morte e a ruína passavam uma pela outra em um instante.
O dano se acumulava em Brett. A alma do Bufão também estava ferida. O Diabo queria chorar. Seu corpo implorava para que ele voltasse para o seu lugar e vivesse como um morto, mas sabia que não seria capaz de viver assim se fugisse agora.
“E… já é tarde demais.”
O Bufão sorriu tristemente.
Certo. Já estava do lado errado. Embora tivesse escolhido a melhor opção para sobreviver, isso não significava que o melhor resultado viria. A aura do garoto de cabelo azul ainda corroía seu corpo. Mesmo que a luta parasse agora, o Bufão sabia que sua chance de sobrevivência era inferior à metade.
O mesmo valia para o outro lado. O corpo humano tinha escuridão dentro dele. Era reconfortante ver que a escuridão do Bufão não havia sido purificada mesmo depois de todos esses anos. Além disso, o desejo de viver do Bufão o fazia funcionar bem.
Woong!
“Preciso matá-lo.”
— Phew
“O moleque precisa morrer primeiro.”
O Bufão respirou fundo e reuniu suas forças enquanto olhava para o oponente.
O humano diante dele também estava cambaleando, mas não recuava… pelo contrário, o espadachim até deu meio passo à frente, como se demonstrasse que não desistiria.
“É porque ele desistiu de seu próprio futuro?”
Apesar das condições físicas miseráveis de ambos, a força entre os dois não diminuía em nada.
E então…
Uma existência que poderia mudar toda a situação apareceu.
— …Judith!
Brett chamou o nome de sua amada.
Era uma voz cheia de alegria e arrependimento, mas ele não podia evitar. Logo percebeu que aquilo era apenas um engano do Bufão.
“Não. A culpa é minha. Fui emocional demais.”
Como um idiota, ele caiu na armadilha.
Mas ele era assim.
No momento em que a segurança de Judith parecia comprometida, seu julgamento foi lançado pela janela. Sua expressão mudou. Era difícil conter o sorriso ao perceber que havia cometido um erro.
A boa notícia era que sua amada ainda estava segura.
Reassegurado com a chegada dela, Brett desmaiou em pé… sua mente cedeu ao limite ao vê-la.
— …
E não foi apenas ele.
O Bufão sentiu o mesmo. Não, ele reagiu ainda mais sensivelmente.
O Bufão poderia ter dado o golpe final que havia preparado para Brett.
Ou poderia ter agarrado Brett, que havia desmaiado.
Mas não conseguiu fazer nenhuma dessas coisas.
Sentindo a força da humana de cabelos vermelhos, o Bufão não ousou resistir e simplesmente se ajoelhou onde estava.
“Eu vou morrer.”
“Eu vou morrer.”
“Eu vou morrer.”
“Eu vou morrer. Eu vou morrer. Eu vou morrer. Eu vou morrer. Eu vou morrer. Eu vou morrer.”
O Bufão não conseguia pensar em mais nada.
Nem sequer conseguia perceber que sua vida estava se esvaindo, pois nada havia mudado.
Poder esmagador!
O Bufão sentia ainda mais medo agora do que quando enfrentou Karin Winker. O Diabo Bufão apenas curvou a cabeça, esperando silenciosamente pela morte. Apenas aguardando aquele momento fatídico com medo.
Mas.
Uma palavra completamente inesperada veio da humana à sua frente.
— Vá.
— …?
— Eu disse para sumir. Vai embora.
“Ela me pouparia?”
“Eu?”
“Por quê? Sério?”
O Bufão ficou chocado. Não conseguia entender, pois era difícil demais aceitar. Não ousava levantar a cabeça e, num instante, sua expressão mudou.
No entanto, o Bufão estava decidido.
“Preciso viver.”
O Bufão podia estar sendo feito de bobo, mas se conseguisse escapar dali em segurança… sabia que tinha que agarrar essa chance de sobrevivência.
O Bufão se levantou.
Com uma reverência educada, retirou-se rapidamente.
Judith observou o Diabo ir embora por um longo tempo antes de se virar.
Seus olhos encontraram seu amado.
— Está tudo bem — ela assentiu.
Essas não eram palavras vazias. Fechando os olhos, ela recordou o passado.
Ela havia sentido inveja de Illia.
Ela havia sentido inveja de Brett Lloyd.
No entanto, de quem mais sentira inveja era de Airen Farreira.
Ela precisava mais.
Seu coração era desesperado. O mínimo que podia fazer era não ficar para trás. Por que não havia obtido um milagre da feitiçaria? Houve vezes em que Judith não conseguiu dormir por causa desse pensamento. Talvez até hoje ela não tivesse mudado seu modo de pensar.
E agora ela percebia.
Esse desejo finalmente havia se concretizado.
No momento em que controlou essa energia que penetrava em sua testa, teve a certeza de que renasceria como a mais forte espadachim. Uma que superaria até mesmo seu mestre.
— Haha.
Não era necessário.
Não, para ser honesta, não era necessário. Mas não haveria arrependimentos. Judith se aproximou de Brett enquanto guardava sua espada na bainha.
Ela deixou de lado seu desejo de vingança por seu mestre. Até mesmo a menor quantidade de poder precisava ser poupada para derrotar o Bufão.
Wheik!
Chamas se ergueram em suas mãos.
Eram brasas quentes e suaves, que não poderiam ferir ninguém.
Judith sorriu enquanto olhava para seu amado e tocava seus lábios.
Assim…
Um milagre aconteceu.