Depois do ataque em Arvilius, Comandante dos Cavaleiros Negros, Ignet Crecensia.
No coração de Airen Farreira, uma grande chama com o poder de queimar o mundo inteiro havia nascido.
Ela estava repleta de seu ódio pelos diabos.
Estava repleta de sua raiva contra o Rei Demônio.
De sua raiva contra o mundo.
Airen precisou passar a maior parte do tempo no mundo de feitiçaria para controlar o fogo que parecia nunca se apagar. No entanto, havia outro problema ainda maior.
Tristeza.
Arrependimento.
Impotência.
O fogo que se espalhava ferozmente diminuiu, e as emoções sombrias que se estabeleceram em seu lugar não desapareceram, não importa quanto tempo passasse. Pelo contrário, apenas se tornavam cada vez mais escuras. Ele tentou usar a energia da terra para controlar o poço sombrio de emoções dentro de si, mas havia um limite para o que podia fazer. Sem a ajuda de Karin Winker, sequer construir a represa teria sido impossível.
Chak!
Chal!
E agora, finalmente, ela explodiu.
A represa que havia resistido ao sacrifício de Lulu já não podia mais suportar e se rachou. Incapaz de superar as emoções acumuladas por tanto tempo, a represa lentamente se quebrou e então desabou.
Ele não precisava mais esperar.
Não havia mais motivo para hesitar. Ondas selvagens de intensa aura se espalharam a partir de Airen, todas direcionadas ao Diabo que usava a energia de Khun e Ignet.
Kwakwakwakwang!
A fenda era diferente do mundo humano. Em um lugar completamente desprovido de árvores, rochas ou grama selvagem, até mesmo um Mestre Espadachim se sentiria impotente. Dizia-se que nem mesmo um usuário de aura com a capacidade de destruir uma cidade inteira poderia fazer algo ali.
Mas este era um caso excepcional.
Assim como Brett Lloyd empurrou o bufão. Assim como Judith queimou o caos na fenda.
Assim como a espada do céu de Illia Lindsay abriu seu próprio caminho pela fenda…
O ataque de Airen Farreira também sacudiu a fenda.
Pupupupupung!
O solo incolor se quebrou.
Parecia que o vazio seria empurrado para longe, e as fissuras que começaram a se abrir como teias de aranha se alargavam cada vez mais. Até mesmo o caos que espreitava dentro recuou, apavorado.
O mal era tão perigoso e sufocante que poderia ser comparado a um horror hediondo. Airen ignorou tudo o mais e concentrou-se apenas no ser que estava no limite de seu campo de visão. Concentrou sua aura de acordo com suas emoções.
Mas o Rei Demônio não recuou.
Ele nem sequer se chocou.
Envolto em trevas, ergueu-se do trono em que estava sentado, levantou a cabeça e olhou ao redor.
Humano e Diabo.
Dois seres opostos se encararam.
— …
— …!
Um momento de urgência…
Tão curto que não haveria tempo sequer para respirar. Airen sentiu como se o tempo estivesse fluindo mais devagar.
Ele conseguiu ver uma ilusão…
Viu o rosto do Rei Demônio se aproximando, usando seus sentidos.
Ele estava sorrindo.
Estava olhando para baixo, para ele.
No momento do choque, a escuridão saudou as ondas de aura, sem sequer tomar uma ação defensiva.
Houve um rugido, e o espaço rachado se abriu ainda mais com o som ensurdecedor. A fenda dimensional agora se despedaçava como fragmentos, criando uma cena bizarra. Parecia mais um sonho do que a realidade.
No entanto, o mais irreal era que o Rei Demônio estava ileso.
O corpo que caminhava para fora das ondas de aura contrastava completamente com a cena. Ele não parecia ferido. Seu caminhar era digno. De repente, com um som estranho, como se a casca de um ovo estivesse se quebrando, a escuridão que tinha a forma de Khun se aproximou.
Wheik!
Não havia motivo para esperar. Airen assumiu sua postura.
Corte Vertical.
Ele segurou sua velha amiga, que o acompanhava desde que começou no caminho da espada. A espada dourada tingiu-se de vermelho num instante, exalando um calor tão feroz quanto a raiva de Judith. A raiva que pensava ter se reduzido a cinzas e o ódio pela escuridão que tentava destruir o mundo… tudo isso se manifestou em forma de chamas. Isso deu a Airen uma velocidade explosiva.
Kwaaaang!
Nada havia mudado em relação a antes. O Rei Demônio parecia não sentir qualquer tensão. Apesar disso, saltou para o ar. Estava aflito com o terrível calor e as chamas, mas não caiu. Pelo contrário, continuou sorrindo e avançando. Embora não fosse visível no começo, a casca que cobria seu corpo começara a se desprender.
A pele de Khun começou a voar.
Alguns fragmentos foram retirados pela mão do Rei Demônio. Sob eles, havia uma aparência jovem e exuberante. O corpo do Rei Demônio agora abrigava o maior talento da história do mundo humano.
Após observar por um momento a aparência de Ignet Crecensia, Airen disparou outro ataque de espada.
Nesse momento, o Rei Demônio, que até então estivera em silêncio, falou,
— Você sabe…
Chang!
— …que agora é impossível me impedir.
A personificação da escuridão de repente fez uma declaração.
Como se para provar suas palavras, a maneira como o Rei Demônio lidava com a aura de Airen era extremamente fácil. No entanto, Airen não se importou. Pelo contrário, apenas brandiu sua espada ainda mais rápido e ferozmente. Era aura bruta, preenchida por emoções não refinadas.
Mas o Rei Demônio não caiu.
Com uma mão nas costas e a outra erguida, ele continuou a falar.
Tung!
— Eu sabia que enfrentaria você um dia.
A aura de tristeza, que era espessa e profunda como o mar, foi repelida com apenas um gesto.
Pung!
— Quando a escuridão se ergue, a luz também. Por isso, eu não tentei forçar nada. É muito melhor criar uma situação favorável para você do que rejeitar o inevitável. Portanto…
O mesmo ocorreu com a aura de fogo que Airen espalhara como um incêndio. No momento em que enfrentou o punho do Rei Demônio, envolto em trevas, dissipou-se inutilmente. E o fogo espalhado pelo chão parecia até mesmo as chamas do inferno.
O ataque seguinte foi igual.
Kang!
— …eu construí uma plataforma para destruir o que você construiu. Aproveitou bem a jornada pelo continente oriental?
O mal, agora concentrado e condensado, desviou outro ataque e murmurou. Estava envolto em uma confiança de que nada poderia feri-lo.
Não, era mais do que simples confiança.
O jovem que estava diante dele naquele momento usava a coexistência como fonte de força.
A madeira adicionava energia ao fogo. Cinzas permaneciam onde o fogo queimava. A terra acolhia o fogo. Por fim, havia a água que se acumulava na energia do ferro.
Uma árvore cresceria absorvendo a água e, assim, as cinco energias normalmente criavam um ciclo virtuoso.
E isso precisava ser cortado.
Felizmente, havia um caminho.
Para matar o ímpeto do herói que tentava constantemente criar um milagre, o Rei Demônio mergulhou nos fundamentos da crença do jovem.
Na confiança e fé que o jovem depositava em seus amigos e familiares.
No amor e boa vontade que ele tinha para com o mundo.
O Rei Demônio sabia que, no momento em que abalasse isso, o herói não conseguiria mais sustentar sua crença. Ele não seria mais capaz de fazer crescer árvores.
Certo.
O ataque do Rei Demônio a este herói já havia começado há muito tempo.
Depois de confirmar que era absolutamente válido, os lábios do Demônio do Coração se curvaram em um sorriso e ele estendeu o punho.
Pung!
Jjjjjj…
— …Kuak!
Airen, que mal conseguiu bloquear o ataque, gemeu. Ao ver o herói sendo empurrado para longe com um estrondo tão forte, o Rei Demônio sorriu profundamente.
— Você elevou a energia da terra para bloquear. Bom trabalho. Mas…
Wooong…!
— …não importa o quanto tente… com uma única energia, o resultado não mudará. Será como se sua espada nunca tivesse me tocado.
Swish!
Pung!
— …!
Após ser atacado novamente, Airen foi lançado para trás. Diferente de antes, quando de alguma forma conseguia manter o equilíbrio, agora ele tropeçou feio. Apressadamente, levantou a cabeça, mordendo o lábio inferior para recobrar os sentidos um pouco mais rápido. Um monstro na forma de Ignet Crecensia se aproximava dele, frio como a meia-noite.
— O que fará? — disse o Rei Demônio.
— Mesmo que continue lançando essas ondas de aura, não funcionará.
— Nem algo violento como a erupção de um vulcão pode me alcançar.
— Nem com uma energia afiada como o aço pode me cortar…
— Nem a forte energia da terra pode resistir ao meu poder.
— Sua árvore foi derrubada.
— E você é apenas um herói com crenças quebradas.
— Você não pode salvar o mundo.
— Então…
— Apenas morra.
O Rei Demônio murmurou enquanto se aproximava do espadachim loiro. Era uma visão que teria causado medo em qualquer um. Seria porque era um demônio que atacava o coração das pessoas?
À medida que o peso sobre o coração de Airen aumentava, a escuridão também crescia.
Ela assumiu novamente a forma de Khun.
A forma de Ignet já não podia mais ser vista.
O diabo, que agora estava quase tocando seu nariz, havia se transformado em um gigante feito de escuridão…
…como um monstro no quarto de uma criança.
Dududud…
O Rei Demônio ergueu o pé.
Como resultado, sua visão se turvou. Airen tremia ao observar a imensa escuridão se erguer à sua frente, tentando esmagá-lo. Lembrou-se do tempo em que era chamado de nobre preguiçoso. Mas a diferença entre ele daquela época e ele agora era o fato de que possuía os ensinamentos e memórias de sua vida anterior.
— …
Ele fechou os olhos.
Esqueceu-se da realidade.
Deixando para trás aquele momento de emoções intensas, Airen lembrou de um sonho que não tinha há muito tempo. No entanto, era um pouco diferente do habitual. Viu o céu, o muro e o quintal familiares. Até mesmo sua vida anterior, Karin Winker, que era mais familiar com tudo aquilo do que qualquer outro, continuava igual…
E havia mais uma pessoa.
— Não está sendo difícil?
— …
— Vou te dar isto.
Era um rosto muito jovem
…e olhos claros.
Alguém muito distante da malícia e da sujeira que preenchiam o continente. Sua vontade sequer se aproximava da grande crença de um herói em proteger o mundo.
Era apenas uma pessoa… alguém com um coração pequeno e puro.
E só isso.
Airen viu uma pequena menina segurando uma flor nas mãos.
Mas o que isso importava?
Porque não era uma árvore gigante que todos olhariam para cima…
Só porque era uma flor…
Era uma existência menor só por ser pequena?
“Não.”
Assim como a árvore do herói abraçava o mundo, a boa vontade da menina por uma única pessoa também era grandiosa.
Airen, que viu a expressão chocada de Karin Winker ao receber a flor, fechou os olhos e sorriu suavemente.
Não havia mais necessidade de ver.
Não havia mais razão para permanecer ali.
O jovem herói foi recebido por uma imensa escuridão assim que abriu os olhos.
Wooo…
Airen Farreira estendeu sua espada. Não era como antes.
Contudo, também não era totalmente diferente.
A quinta energia que floresceu timidamente criou um círculo de coexistência.
Os cinco elementos, finalmente completos mais uma vez, perfuraram os pés do Rei Demônio com pequenas e delicadas pétalas.