Crash.
— …
Embora sentisse um certo desconforto em seus enormes pés, o Rei Demônio não levou aquilo a sério. Mesmo ao esmagar um inseto, sente-se algo de leve. Mesmo um herói de coração partido gostaria de fazer seu último movimento. Então, ele colocou ainda mais força no pé direito.
No entanto, apesar da pressão crescente, ele não conseguiu esmagar o herói. Pelo contrário. A sensação em seus pés transformou-se em dor e os cantos de seus lábios, que estavam curvados em um sorriso, começaram a cair rapidamente.
— Ugh.
Ele aumentou ainda mais sua força.
O herói ainda resistia.
— Ugh.
Empurrou com mais força. A magia concentrada com a mesma pressão da aura, e centenas de milhares de espinhos mais afiados que as espadas dos antigos heróis começaram a brotar de suas solas.
Ainda assim, o herói não caiu.
Pelo contrário, ele emanou uma luz ainda mais deslumbrante, como se fosse capaz de empurrar o oponente de volta.
E de repente…
Crack!
Um milagre aconteceu. O corpo do Rei Demônio, grande o suficiente para cobrir o céu, começou a se partir.
Crack!
Grrrrr!
No fim, o corpo gigantesco do Rei Demônio desmoronou, incapaz de manter sua forma. Airen Farreira brandiu sua espada diante da visão do enorme gigante desabando. Fragmentos de escuridão que voavam descontroladamente foram varridos pelo círculo suave que ele fez com o movimento de sua espada. E Airen continuou repetindo esse movimento até que tudo tivesse sido completamente dispersado.
Então, o tempo passou.
Diante de Airen, que parecia um pouco exausto, apareceu o Rei Demônio, agora na forma de Ignet.
— É impressionante. Para ser honesto, estou chocado que tenha resistido até aqui.
O Rei Demônio que se aproximava ainda exibia uma expressão relaxada. De repente, a escuridão cresceu em seu braço direito erguido. Era uma espada. Totalmente diferente da de Khun ou da de Ignet, e uma aura repugnante condensava-se ao redor dela. Ela exalava hostilidade com clara intenção de matar…
– …!
…e foi usada com incrível velocidade.
— Kuak!
Airen inclinou a cabeça para desviar da espada lançada contra ele. Gotas de sangue começaram a escorrer quando a lâmina roçou levemente seu rosto. O segundo golpe veio imediatamente. Airen avançou contra o Rei Demônio, e, como um chicote em movimento, contornou-o e mirou em suas costas. E brandiu sua espada.
Whooo!
Mas o Rei Demônio não estava lá.
Para ser preciso, ele havia desaparecido, deixando para trás apenas sua forma. Airen, concentrando a mente para encontrar seu inimigo, de repente atacou às suas costas. Abrindo os olhos, olhou para cima e se assustou.
Uma escuridão mais profunda do que a noite estava se formando.
O Rei Demônio, pronto para dar um enorme salto, mostrou os dentes brancos.
— Vamos ver quanto tempo você vai aguentar.
Thud!
Kwaaaank!
E assim começou.
O Rei Demônio vagava por toda a fenda. Não havia limites de céu ou terra ali. A escuridão ao redor era um lugar que ele podia tocar, mover-se e também atacar Airen. Ele foi impiedoso com o herói, e o herói continuou a cambalear diante do ataque incessante.
Mas…
— …
Isso foi tudo.
Airen Farreira não caiu…
…nem sua espada quebrou.
Pelo contrário, ainda emanava a mesma luz brilhante de quando tudo começou… ainda querendo cortar o Rei Demônio.
E isso deixou o Demônio do Coração ainda mais chocado.
Não era que ele não compreendesse. Mas por que ele ainda está vivo? Será que sente que vai cair, mas está suportando? Será que está ainda mais forte do que antes?
Era porque seu coração estava vivo.
Era porque sua crença partida ainda permanecia ereta, e as cinco energias coexistiam. Isso mesmo. Ele não queria admitir isso. Como o soberano dos demônios, não podia aceitar facilmente que sua primeira estratégia como rei havia falhado.
Claro.
Tung!
Tung!
— …
— …
“Você não poderá se manter tão teimoso por muito tempo.”
Negar a verdade não faz bem a ninguém. O Rei Demônio assentiu com a cabeça…
Por um momento, fechou os olhos e a escuridão cresceu lentamente até formar centenas de indivíduos.
Ddddk!
— …!
Eles eram apenas montes do Rei Demônio, todos com aparências diferentes, como a dos humanos.
Até rostos familiares.
Não que tivessem estado juntos por muito tempo, mas pareciam pessoas que cruzaram seu caminho…
“…você nunca será esquecido.”
Um sopro quente escapou da boca de Airen ao ver os seres malignos que encontrara durante a travessia do continente oriental.
— Não vou me incomodar em perguntar como você recuperou a energia da árvore.
A voz do Rei Demônio ressoou. Ele não estava sozinho. Todos os cem seres falaram a mesma coisa ao mesmo tempo, era um escárnio dirigido a Airen.
— Esse broto aí não é menos lamentável do que antes…
Deixe-me cortá-lo novamente.
Com essas últimas palavras, uma onda de malícia e maldade investiu contra o herói.
Airen Farreira não era perfeito.
Não havia nada de errado nas palavras do Rei Demônio. O herói ainda não confiava no mundo. Humanos são tão terríveis quanto demônios, e estão por toda parte.
Ele sentia profundamente que boas intenções podem se transformar em malícia e hostilidade. Levou dez anos para cultivar a nova árvore, mas não era uma tarefa impossível.
Mas.
Flores são diferentes.
No momento em que essa onda de escuridão investiu, Airen fechou novamente os olhos.
— …
Com uma expressão dolorosa no rosto, olhou para Karin Winker, que continuava a treinar em agonia.
Ele viu algo mais. Pôde sentir o mundo de mil anos atrás, que era ainda mais feroz do que o atual, que empurrou até mesmo Karin Winker, o homem mais sábio, para a escuridão.
Flores floresceram.
O coração puro daquela pequena menina que passava havia sido oferecido ao velho que havia sido corrompido pelo mal.
Certo.
Não importa o quão espessa seja a escuridão que cobre o mundo, ela não pode cobrir toda a boa vontade existente em cada pessoa. Não pode esmagar todas as pessoas.
Blink.
Após um breve pensamento, os personagens mudaram novamente. Era Ignet Crecensia, com sua expressão confiante, talvez um pouco arrogante também.
Olhando para trás agora, não era uma memória agradável.
A mulher que apontava cada uma de suas falhas.
Ele não conseguia responder e era constantemente provocado.
Foi assim mesmo após o primeiro encontro. Houve momentos em que sofreu com o sentimento de competição e a inferioridade da derrota. Pensando bem, era algo vergonhoso.
Claro…
— …eles são amigos preciosos agora.
Blink.
Airen abriu os olhos desta vez.
O tempo havia parado?
Mesmo pensando por tanto tempo, a paisagem à frente continuava a mesma. Os clones do Rei Demônio que investiam ainda estavam ali.
Não, não era isso.
Aquelas criaturas avançavam a uma velocidade assustadora, como se um riacho bloqueado tivesse se aberto.
Sons desagradáveis podiam ser ouvidos vindo deles.
O escárnio de quem queria matar um homem miserável.
O riso alegre de quem desejava que isso acontecesse todos os dias.
A aparição desses demônios corruptos gritando ao fundo, assim como as inúmeras pessoas malignas que Airen encontrara ao viajar pelo continente oriental, inundaram o local, todos tentando romper implacavelmente o coração do herói.
Airen não caiu.
Inspirando profundamente, ele cerrou a boca e avançou.
E então.
Nesta fenda de espaço rachado, o caminho da luz começou a se abrir.
Woooooong!
Kaaaaaaa!
Gritos puderam ser ouvidos ao redor. Era o som dos demônios. A maioria daqueles que foi tocada por essa luz dourada e brilhante que se abria não conseguiu manter a forma e derreteu. Alguns tentaram avançar impiedosamente para esfaquear o herói, mas nada aconteceu. Todos derreteram como flocos de neve na primavera, e a flor no coração de Airen ainda permanecia brilhante.
Era isso.
Uma confiança que nunca poderia ser quebrada.
Uma mentalidade que jamais mudaria.
Mesmo que por um tempo odiasse o mundo.
Não havia como ele odiar as pessoas que estavam ao seu lado e aquelas que o guiaram.
Família.
Illia Lindsay.
Judith.
Brett Lloyd.
Lulu.
Khubaru.
Ian, Khun, Lance Patterson e muitos outros.
Os laços com as pessoas do continente ocidental, os orcs da tribo dos orcs e os veteranos que conheceu no Festival dos Guerreiros.
“E… Karin Winker.”
Airen Farreira, que se lembrou dos rostos de seus entes queridos, parou de caminhar e levantou a cabeça.
Ainda enorme, mas não tanto quanto no início.
Ao ver a expressão confusa no rosto do Rei Demônio na forma de Ignet, ele ergueu a espada.
— Obrigado.
Woooo…
A aura subiu.
— E me desculpe. Por ter demorado.
Woooong…!
Ela subiu mais alto, maior e mais forte.
O Rei Demônio sentiu-se ameaçado com isso e começou a liberar magia. Já não estava relaxado. Estava nervoso, como um rato encurralado sem saída, e brandiu sua espada.
Whooo!
Airen impediu que ela se aproximasse.
Não foi difícil.
Pelo contrário, parecia fácil demais. Sentindo-se inferior, o Rei Demônio pressionava sua espada constantemente para tentar esmagar o herói, mas o herói não se movia, apenas o olhava com olhos tristes.
Um segundo, dois, e depois três.
Um tempo curto o bastante para se dar uma respiração, mas que parecia longo no silêncio.
Ao perceber o que estava fazendo por Ignet, o Rei Demônio ficou chocado.
— Então… adeus.
— Você…!
Tuuung!
O Rei Demônio tentou falar, mas Airen não lhe deu chance. Tung. Quando uma força ainda mais forte foi aplicada, a espada do Rei Demônio foi empurrada para o céu. O braço que segurava a espada também foi erguido.
O rosto dele mostrava impaciência, mas seu olhar baixou. A atenção desceu do rosto familiar para o peito largo. E a espada dourada se moveu. Brandiu com mais força do que nunca.
Kwaaang!
A espada do herói despedaçou o corpo do Rei Demônio.
— haa, haa, haa…
Airen exalou respirações ásperas.
Derrotar o Rei Demônio. A maior crise do continente havia terminado, era uma enorme pressão. Contudo, a condição do herói não era boa. Se estivesse no mundo humano onde nasceu e foi criado, poderia ter se recuperado com descanso, mas esta era uma fenda dimensional. E tais coisas não aconteciam aqui.
Em meio ao esgotamento, Airen sentiu-se vazio.
Pelo bem de uma existência preciosa, ele havia encerrado uma existência preciosa com as próprias mãos.
Mesmo que fosse apenas uma casca que ele quebrou, a dor que sentia não era pequena. A vergonha que vinha reprimindo explodiu. Se tivesse voltado um pouco mais rápido, poderia tê-la protegido. Gostaria de tê-la salvo antes que o Rei Demônio tomasse seu corpo.
…quando pensava nisso.
Algo surgiu da escuridão.
Chin!
— …!
Airen conseguiu reagir. Um sinal de alerta ressoou em sua mente. Estava exausto, mas essa pressão não era pequena. Vários pensamentos cruzaram sua mente.
Quem é esse?
Alguém além do Rei Demônio? O irmão de Illia? Ou o bufão?
Não, não eram eles. Ele não sabia quem era, mas sentia isso.
Então quem é?
Estavam planejando uma jogada reserva?
Se não…
“O Rei Demônio ainda não está morto?”
Kwang!
Aura foi fortemente concentrada na espada. Airen, que havia recuado para manter uma distância segura, olhou para o oponente com um olhar afiado.
— …
E então viu algo que não deveria ver.
Um corpo familiar.
Uma espada cuja forma ele conhecia bem.
Confuso, franziu o cenho e lutou para confirmar o rosto sob o manto.
Depois de um momento, uma voz cheia de surpresa ecoou.