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Reformation of the Deadbeat Noble – Capítulo 380

Nós Voltaremos (2)

Cento e cinquenta anos atrás.

O continente havia derrotado com sucesso os Sete Grandes Diabos sob a liderança do Reino Sagrado e criado leis internacionais proibindo guerras entre nações e raças. À primeira vista, a lei parecia absurda, mas ninguém a contestou. Todos haviam percebido que o caos resultante quebraria a barreira entre diabos e humanos, e sentiram-se aterrorizados só de pensar nos diabos.

Graças a isso, o continente atual era mais pacífico do que no passado. A parte ocidental girava em torno de cinco reinos, o centro era dominado pelo Reino Sagrado, e o leste havia se estabilizado em torno de Runetel. O norte também desfrutava de uma vida muito melhor desde que a guerra contra os orcs cessara.

E o sul…

— Continuava o mesmo. Havia reinos horríveis.

As palavras de Ignet Crecensia não puderam ser refutadas por ninguém. Nem mesmo Judith. Apesar de também ter tido uma infância miserável, ela já ouvira quão terrível era o sul.

“Não existe outro inferno para aqueles sem dinheiro ou poder.”

Corrupção desenfreada.

A feroz e desordenada luta pelo poder entre as pessoas não diminuiu com o passar dos anos.

Com a ameaça externa desaparecida, os altos funcionários apenas buscavam seus próprios interesses. Era comum ver príncipes e senhores lutando pelo trono, e a tirania dos monarcas era frequente. O comandante dos cavaleiros que deveria proteger o mundo acabou gerando novos reis corruptos. As pessoas eram obrigadas a suportar a dor das guerras internas.

Aqueles que não podiam pagar os impostos tornavam-se ladrões. Crianças órfãs devido às guerras aprendiam a furtar para sobreviver, e algumas acabavam se tornando criminosas.

Ignet Crecensia conhecia essa realidade melhor do que ninguém e queria mudá-la. Se isso fosse impossível, desejava construir um país livre dessa dor. Queria acolher aqueles que vagavam sem ter para onde ir.

Sua espada e sua vida existiam para proteger os que sofriam.

— Esse objetivo não é arriscado demais?

— Como assim?

— Preciso mesmo explicar? Você sabe do que estou falando.

Claro, nem todos veriam seu objetivo com bons olhos. Muitos expressaram sérias preocupações. Por mais sutil que fosse o significado, o nascimento de um novo rei inevitavelmente causaria conflitos.

Boas intenções nem sempre resultam em bons resultados. Pelo contrário, poderiam enfurecer muitas pessoas e causar uma fenda dimensional.

Brett levantava essas questões, mas Ignet discordava.

— E quais são os resultados agora?

— Resultados?

— O resultado de termos abandonado o sul. Você sabe quantas pessoas sofreram com guerras civis e corrupção, vivendo sob o pretexto de que isso era pelo bem da humanidade? E ainda assim…

Ignet fez uma pausa antes de continuar.

— …O diabo foi invocado pelos demônios. E não é um diabo qualquer. É um Rei Demônio, algo inédito na nossa história, correto?

— …

— Claro que eu não tinha intenção de agir de maneira imprudente para me proclamar rainha.

Ignet olhou ao redor.

Viu Brett Lloyd impressionado, Illia preocupada e até Judith, órfã, com a mesma expressão.

Então, ela mostrou três dedos.

— Habilidade, relações e causa.

— …

— …

— …

— Se você possuir essas três coisas devidamente, os efeitos colaterais podem ser minimizados.

Era natural aprimorar suas habilidades. Tornar-se um receptáculo que todos pudessem aceitar exige força, e, felizmente, Ignet tinha talento. Uma esgrima digna de ser registrada na história, carisma, discernimento e ações que sustentavam suas intenções. Tudo isso a trouxe até onde estava.

Claro que habilidade sozinha não bastava. Se ela quisesse enfrentar o continente inteiro, também precisava formar alianças. Por isso juntou-se ao Reino Sagrado. Atuando como comandante do reino mais proeminente, construiu amizades e relações e seguiu em frente com o apoio de Arvilius.

O que precisava agora era uma causa.

O poder do Reino Sagrado faria o continente reconhecer o nascimento de um novo reino. Quem poderia se opor às vítimas da guerra civil no sul e à criação de uma nação para acolher aqueles que os outros reinos rejeitavam?

— …Reconheço que foi bastante imprudente. Ainda está próximo do idealismo, mas considerando suas habilidades, não é impossível.

— Obrigada por dizer.

— Mas ainda há muitas preocupações. Você constrói um reino com cálculos e pensamentos nobres, mas nem todos serão iguais. Se a consciência de que qualquer um pode criar um reino se espalhar, até idiotas começarão a se proclamar reis, e um novo caos surgirá…

— Filho mais velho de Lloyd.

Olhando para Ignet, que o interrompeu, Brett assumiu uma expressão séria. A outra pessoa estava tão solene que ele nem quis forçar mais palavras. Procurou uma resposta em seus olhos, e ela disse.

— É a mudança ou os efeitos colaterais da mudança que o incomodam?

— …

— Claro que são os efeitos colaterais, mas me parece que existe também o medo da mudança em si.

— …

— Peço desculpas se estou errada. Talvez seja meu preconceito contra nobres de alto escalão. Mas…

— Não, não há necessidade de se desculpar.

Brett Lloyd balançou a cabeça e continuou.

— Não posso dizer… que não senti isso.

O crescimento exige mudança, e o desenvolvimento exige inovação.

E um Lloyd sabe bem disso.

Porém, saber com a cabeça e aceitar com o coração são coisas diferentes. Apesar de ter viajado pelo mundo e conhecido plebeus, ele ainda era um nobre. Era o medo de pensar fora da caixa.

Como agora.

Ele sabia há muito tempo o quão ruim era a situação no sul. No entanto, foi indiferente. Sob o pretexto de que não havia o que fazer, todos ignoraram a oportunidade de ajudar o sul para melhorar seus próprios lugares.

Ele menosprezou isso.

Mas será que no fundo não era medo da mudança?

O que Ignet disse provocou uma onda na mente de Brett. Ampliou seus pensamentos antes limitados e lhe deu uma nova compreensão.

Após pensar um pouco, Brett voltou seu olhar para Ignet. Com uma expressão ainda mais séria, disse:

— Fale mais.

— Sobre o quê?

— Sobre sua espada, a espada que você forjou para se tornar rei. Estou curioso para saber o que você pensa.

— Hmm.

Ignet hesitou por um momento.

Embora estivesse falando, Ignet não estava livre de uma sensação de vergonha ao revelar seus verdadeiros pensamentos. No entanto, assim que deixou de pensar demais, ela sorriu.

“Ainda assim, quero parecer boa e grandiosa para todos.”

O resultado não importava. Ser verdadeira, mesmo que fosse desajeitada ou imperfeita, era o primeiro passo para uma conversa honesta.

Ignet assentiu e começou a falar sobre as várias coisas que vinha guardando.

— Hmm…

— Uh.

— Não, isso é um pouco…

— …

As reações foram diversas. Alguns assentiram, outros franziram a testa. Houve momentos em que desviaram o olhar. Até mesmo Judith reagiu de forma estranha às palavras sobre ela querer se tornar rei, e não apenas uma espada que ergue reis.

Mas ninguém riu.

Mesmo que fosse uma ideia difícil de aceitar, todos tentaram entendê-la da melhor forma que puderam, e só isso já abriu novas possibilidades. Sentindo isso, Ignet sorriu.

Claro…

Esse tempo não duraria muito.

Wheik!

— …

— …

— …

— …

Uma energia súbita ergueu-se de Ignet e envolveu os arredores.

Não, na verdade, não seria correto chamar de súbita. Todos já estavam sentindo. A escuridão estava deixando seu corpo e tingindo o ambiente. Seu corpo ainda não havia escapado do mal.

…a verdade é que ela já não podia mais ser considerada humana. E todos estavam cientes disso.

— Phew.

De repente, Ignet se levantou e exalou.

Ela queria ser rei.

Mas agora estava ali. O Demônio do Coração havia desaparecido, mas a influência que ele deixara em seu corpo permanecia, e estava corrompendo-a. Sua mente ainda era humana, mas ninguém sabia quanto tempo mais isso duraria. Corpo e mente estavam ligados de maneira inseparável.

“Antes de renascer como o Rei Demônio, isso precisa terminar.”

O demônio olhou para os heróis.

Judith.

Brett Lloyd.

Illia Lindsay.

E Airen Farreira.

Ignet olhou para o último deles e disse:

— Airen Farreira, erga sua espada.

— …

— Quero encerrar as coisas com a sua espada.

Wheik!

Chamas explodiram assim que ela falou; não eram chamas vermelhas, mas chamas negras de demônios que cercaram Ignet.

Todos os heróis se levantaram, observando. Judith, Brett e Illia recuaram.

Somente Airen permaneceu. Ele era o único que restava para enfrentar o demônio que o Rei Demônio havia deixado para trás.

Ele não deveria hesitar.

Não deveria ser assim, mas a aura de sua espada era tão fraca que não se comparava à que ele mostrara na luta contra o Demônio do Coração.

Woong…

A espada de aura gradualmente começou a desaparecer.

Ele não podia evitar. A razão pela qual Airen havia chegado tão longe era o respeito que tinha por aquela mulher. Pensava que derrotar o Rei Demônio seria uma maneira de recuperar Ignet.

Mas agora, ele não podia.

Brandir uma espada contra Ignet, que lutava para manter-se unida, estava longe de criar uma flor para um ente querido.

Woong

Wooong…

No fim, a espada de aura encolheu até o tamanho de uma chama de vela.

No entanto, ninguém poderia culpá-lo, nem mesmo Ignet. Ela suspirou e olhou para os outros três.

Brett havia lutado contra o bufão. Judith havia usado quase toda sua força para salvá-lo.

A resposta era clara.

O demônio olhou para Illia Lindsay.

— Illia Lindsay, empunhe sua espada por Airen.

— …

— Eu sei que você não hesitaria…

Wooong!

— …você me conhece bem.

Ignet sorriu ao ver a espada do céu ser erguida. Airen permaneceu imóvel, incapaz de agir. Judith e Brett o observavam, perplexos. Somente Illia permaneceu impassível. Ela tomou uma postura e se aproximou do demônio.

E então…

— Eu odeio isso.

— …?

…e recuou sua espada.

— O que você está fazendo?

Ignet ficou chocada. Não conseguia entender.

Airen estava de coração partido, Judith e Brett estavam exaustos. Apenas Illia tinha condições de derrotá-la. Illia também devia ter percebido isso.

Ainda assim, ela não levantaria sua espada?

O que ela estava planejando…

— Eu não vou matar você.

— Eu, nós, Airen…

Illia Lindsay exalou profundamente e então falou com coragem.

— …não com a capacidade de matá-la, mas com a capacidade de salvá-la, nós voltaremos.

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