Swish…
Tak!
— Um, voltamos?
— Voltamos.
— Certo, parece familiar.
— …
Os quatro heróis que atravessaram o portal murmuraram. Eles caíram em algum lugar que não era o palácio real de Arvilius, mas isso não importava. O importante era que estavam no mundo humano. A fenda era realmente um lugar insano. Illia Lindsay mantinha uma expressão tensa ao se lembrar daquele local.
“Deixamos Ignet em um lugar assim.”
Ela percebeu o quão irracional era seu pedido, mas não se arrependeu. Ela lançou um olhar para seu amado e assentiu.
“Isso é o certo.”
A atmosfera não parecia boa. Não havia como ser diferente. Matar o Rei Demônio não era o único objetivo. Era o desejo deles resgatar Ignet Crecensia, a líder dos Cavaleiros Negros que agora era sua amiga.
No entanto, ela estava aliviada.
Se tivesse matado completamente aquela mulher e retornado, Airen Farreira poderia ter mergulhado em um abismo ainda mais profundo.
Claro, não é como se ele estivesse em boas condições agora.
Olhos profundos, ombros pesados. Era difícil acreditar que ele fosse o herói que derrotou o Rei Demônio sozinho.
Judith, que o observava, deu um tapinha em suas costas.
— Yah, por que está tão desanimado?
— …
— Salvamos o continente. Só nós quatro. Abra esses ombros e sorria, huh? Fique orgulhoso! Anime-se!
— Judith está certa. Precisamos nos esforçar para nos animar.
Brett Lloyd, que permanecia em silêncio, também falou.
Atravessaram um espaço sem nem mesmo a proteção de Deus e derrotaram o bufão que vinha destruindo o mundo desde tempos antigos. Também derrotaram Karl Lindsay, um demônio de poder equivalente ao bufão, e o Demônio do Coração, o mais poderoso de todos, e salvariam Ignet.
Certo.
Ela não foi abandonada. Ela seria salva.
Embora não tenha sido totalmente salva, fizeram o melhor que puderam.
— E faremos o nosso melhor no futuro.
— …
— Certo?
— …Certo.
Airen assentiu.
Os olhos enevoados voltaram a ter um pouco de vida e os ombros caídos se ergueram um pouco. Brett também assentiu. Ele olhou para Judith e sorriu ao perguntar:
— O que acha?
— Sobre o quê?
— Meu sorriso.
— …?
— Perguntei se você consegue sentir a aparência de um grande herói que protegeu o continente do Rei Demônio.
— Seu bastardo maluco…
— Eu não enlouqueci. Quanto mais heroísmo mostrarmos, quanto mais confiantes formos, mais as pessoas gostarão de nós. Elas se sentirão aliviadas e confortáveis. Se pensarmos que cada sorriso meu traz paz para aqueles com ansiedade e corações trêmulos, então preciso praticar para mostrar uma imagem melhor de mim mesmo a partir de agora…
— Cala a boca, já entendi, então cala a boca.
— Puah!
Judith e Brett brigavam como de costume e Illia sorriu ao vê-los.
Entre eles, Airen também sorriu. Não tão radiante quanto o sorriso de Brett, mas muito melhor do que a expressão pesada que carregava até então.
“Conseguiremos?”
Não, eles tinham que conseguir.
Não era uma questão de ser possível ou não. Recordando Ignet deixada sozinha na fenda, o herói loiro cerrou os punhos.
Ele olhou para seus amigos que caminhavam um pouco à frente e, então, se moveu para não ficar para trás.
E um ano se passou.
O Rei Demônio havia caído.
A queda do grande demônio que havia encurralado o continente foi anunciada.
Não foi apenas o desaparecimento do rei. Após a queda do Rei Demônio, o surgimento de demônios e diabos que brotavam por toda parte cessou. Os cavaleiros do Reino Sagrado, que mal conseguiam dormir devido a isso, finalmente puderam respirar um pouco, e os cavaleiros dos Cinco Reinos do Oeste e outras pessoas poderosas retornaram para suas casas.
E surpreendentemente, tudo isso foi feito por quatro heróis que ainda não tinham nem trinta anos.
— Certo. Jovens heróis. O mais importante é que o continente foi salvo por heróis que ainda vão atingir seu auge nas próximas décadas, e não por velhos que já estão perto da aposentadoria. — Enquanto bebia o chá quente, o Rei Sagrado murmurou.
Quando os 160 anos de paz foram quebrados e os demônios surgiram, qual era o elemento que mais deixava o povo ansioso?
A mudança geracional.
Porque a era dos três grandes espadachins, Julius Hule, Ian e Khun, já era antiga. A maioria dos homens fortes, incluindo os do top 10, já era suficientemente velha para morrer a qualquer momento. E em comparação aos demônios e diabos que continuavam surgindo, parecia evidente que o poder do mundo humano enfraqueceria a cada dia.
Mas agora, não mais.
Airen Farreira, Illia Lindsay, Judith e Brett Lloyd.
De fato, eles eram a esperança e o futuro do continente, que estarão ativos pelos próximos cinquenta anos. Tesouros dados por Deus que dissiparam a ansiedade do povo.
Enquanto eles viverem, o continente permanecerá seguro. Se qualquer diabo poderoso surgir novamente, eles o derrotarão.
O problema…
— Parece que há muitos diabos.
— …Isso é o normal.
Após ouvir as palavras de Gia Runetel, o rei assentiu.
Certo, o demônio sozinho não era o problema. Havia um problema ainda maior que permanecia sem solução.
— O ser humano… a malícia humana é a parte que nunca desapareceu desde tempos antigos e talvez seja pior do que os próprios diabos.
Era verdade.
Mesmo mil anos atrás.
E cem anos atrás.
Dez anos atrás, um ano atrás, ontem e hoje. Incidentes indescritíveis continuavam acontecendo no mundo. Todos causados pelas mãos humanas.
Mercadores ricos sugando o sangue dos pobres, sacerdotes corruptos extorquindo dinheiro de seus fiéis.
Só porque uma pessoa é pobre, não significa que seja boa. Um jovem que, por necessidade, entrou para um grupo de bandidos, acaba despertando para o prazer de ouvir os gritos das vítimas enquanto empunha sua espada.
O Rei Sagrado sabia disso melhor do que ninguém, sabia que inúmeras pessoas cometiam essas atrocidades. O problema não era o demônio.
Mesmo que existisse uma diferença… o continente sempre estaria em caos.
“Será que ficará tudo bem…”
Ele estava preocupado.
Havia tristeza no rosto do rei. Era por causa de Airen Farreira.
O jovem herói que havia partido para treinar a fim de purificar Ignet Crecensia… De que forma ele abordaria o mundo de hoje?
Será que ele mostraria um lado melhor do que quando foi enfrentar o Rei Demônio? Ou mostraria um lado que não era muito diferente?
Talvez, nem mesmo isso. E talvez ele voltasse quebrado… Que tipo de expressão ele teria?
— Só espero que ele não sofra demais…
O Rei Sagrado fechou lentamente os olhos, unindo as mãos. Ele ansiava pelo calor de Deus, que olhava para o jovem Airen.
Gia Runetel, que o observava, lambeu os lábios. Por alguma razão, ela se sentia mais inquieta do que quando a paz foi quebrada.
Claro, isso não importava para ela.
Ela franziu a testa enquanto pensava em um problema difícil que não havia sido resolvido por muito tempo.
— Lulu… como posso acordar o dragão do sono?
Ao longo do último ano, ela acumulou todo o conhecimento possível para obter qualquer pista sobre o que estava acontecendo. Desde incidentes passados até lendas orais e mitos, tudo que pôde encontrar, mesmo entre os orcs, nada foi deixado de lado.
Ainda assim, ela falhou. Não conseguiu encontrar nenhuma pista.
Phew, ela suspirou.
— …
— …
— Phew…
— Phew…
Assim, os reis das duas nações mais fortes passaram seu tempo em silêncio e suspiros.
Naquele momento.
— …
Um ser que ocupava as preocupações dos dois reis. O grande herói, Airen Farreira, havia retornado para sua família.
O Barão Farreira, não, agora Conde devido à honra, estava ficando cada vez mais forte.
— É aqui? A terra onde o jovem lorde Airen Farreira, o herói que matou o Rei Demônio, nasceu e foi criado…
— Como esperado, sinto uma energia diferente. Se treinarmos nossa espada aqui, acho que teremos algumas conquistas.
— Ah, isto…!
Milhares de pessoas vinham.
Não era apenas para espadachins ou inspiração. Para ver um herói vivo em vez de apenas ler sobre ele, para respirar e viver no lugar de uma lenda, muitas pessoas tinham vindo. Era difícil aceitar apenas aqueles cujas habilidades fossem garantidas, então consideravam expandir a propriedade para permitir a vinda de mais pessoas.
Kang! Kang!
Ferreiros liderados por Vulcanus martelavam o ferro.
— Venham, olhem! O elixir especial de feitiçaria que pode ser encontrado no Ducado de Cezar…
Em consonância com a fama crescente de Kiril Farreira, os feiticeiros começaram a aumentar sua influência. Além disso, diversas e talentosas pessoas que jamais viriam para essa pequena propriedade estavam vindo e exibindo suas habilidades.
Do ponto de vista de Harun Farreira, era uma situação extremamente favorável.
No entanto, não era. Ele não conseguia sentir isso.
Recordando o retorno de seu filho há um ano, ele tinha uma expressão rígida.
— Ele deve estar passando por muita dor no coração.
Ele não conseguia saber.
Airen, que havia deixado a família com uma expressão complicada, retornara mais abatido e sombrio do que quando partiu. Ele tentou mostrar uma aparência alegre em cada refeição para não causar preocupação, mas nem isso durou muito.
Harun Farreira olhava para o quarto do filho. Sua esposa, Amelia, também olhava para lá com olhos tristes.
Recordando Airen Farreira, que não saía há três dias, eles caminhavam pelo jardim.
— …
Não havia como eles não saberem pelo que seu filho estava passando.
Mas agora não havia nada que pudessem fazer. Porque percebiam claramente o estado atual dele. Seu eu presente não estava bem.
Ele não conseguia agir como o herói que mudou o mundo caótico. E também não conseguia reunir forças para purificar Ignet.
Tudo o que podia fazer era deitar e encarar o teto.
Sentindo como se tivesse voltado à época em que tinha quinze anos, Airen fechou os olhos e foi dormir. No entanto, nem mesmo conseguia sonhar.
— Faz tanto tempo.
— …
Um homem que empunhava a espada todos os dias em seus sonhos.
Karin Winker agora estava na vida real.