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Reformation of the Deadbeat Noble – História Paralela – Fantasia 6

Fantasia (6)

— E foi assim que aconteceu. Uh, então… o que veio depois foi…

Numa terra desolada, com objetos quebrados espalhados por toda parte, poeira se desprendia das rochas rachadas. Fendas e cadáveres cobriam o chão, as cabeças dos corpos prestes a explodir enquanto o sangue escorria e esfriava. A cena era horrível o suficiente para fazer qualquer pessoa comum desabar de medo. Mas ainda mais impressionantes eram os homens ouvindo a história do velho.

Suas expressões estavam completamente inalteradas, apesar do cenário macabro.

Cada um deles era alto e largo dos ombros, seus físicos naturalmente exalavam uma aura de intimidação e ameaça. Ainda assim, aqueles indivíduos cobertos de tatuagens e cicatrizes aguardavam as próximas palavras do velho com olhos brilhando como crianças ansiosas.

— E então?! O que aconteceu depois?!

— Eles encontraram aquela tal de Maçã Dourada, ou seja lá como se chamava?

— O que havia além do Portão Dourado?

— Com certeza não era só o vazio, né?

— Ah! Conta logo!

— Por que você ficou quieto de repente?!

— Ei! O que você tá fazendo!

— Conta logo! Rápido!

Mas o velho, Ian, permaneceu em silêncio por um longo momento. Seus lábios se curvaram num sorriso maroto, como o de uma criança brincalhona. Talvez fosse o sorriso sereno de um sacerdote desligado de todas as preocupações mundanas.

Com aquela expressão peculiar, ele olhou para cada membro do Crepúsculo e, de repente, perguntou:

— O que acham do Reino Demoníaco?

— Que pergunta é essa, do nada?

— É, Reino Demoníaco é Reino Demoníaco, ué! O que mais poderia ser?

— Chega, continua logo a história!

— Velho maldito! Sabe, o pior tipo de pessoa no mundo é aquela que começa a falar e para no meio da frase…

— Qual é a impressão de vocês sobre o mundo conhecido como Reino Demoníaco? — Ian repetiu, sua voz ecoando.

Os bandidos ficaram em silêncio na hora, e com razão. Por um instante, esqueceram que ele era um Mestre Espadachim. Ele já foi conhecido como um dos três maiores espadachins do continente, um testemunho de sua habilidade imensa. Apesar de estar com 130 anos e ter passado do auge, ele não era alguém com quem se brincava.

— Hmm… Minha aura foi um pouco demais? — Ian perguntou. — Parece que sim. Tudo bem. Acalmem-se e falem devagar quando estiverem prontos.

Apesar do incentivo do velho, os bandidos não conseguiam responder.

— Nenhum de vocês consegue pensar em nada?

Infelizmente, Ian estava certo. Eles não pensavam… Comer, beber e matar. Agiam apenas por instinto, como feras, então contemplar profundamente era uma tarefa mais árdua do que dominar uma técnica de espada altamente avançada. Kel, o vice-capitão de cabelos verdes, parecia ter algo em mente, mas permaneceu em silêncio com uma expressão pesada.

Quem falou por eles foi um homem ruivo. Ele apareceu atrás de Ian sem fazer barulho.

— Você é um velho engraçado.

— Engraçado… O que acha de engraçado em mim? — Ian perguntou.

— Você é engraçado porque está falando com feras como se fossem gente.

— Está dizendo que eles são feras?

— Estou.

— E por quê?

— Eles não aprenderam nada. E nem têm intenção de aprender — disse o ruivo. — Vão morrer vivendo como quiserem. Na minha opinião, colocar uma coleira em criaturas assim não os torna diferentes de animais. Alguém aqui discorda? Se sim, levante a mão.

Nenhum dos bandidos respondeu.

— Parece que ninguém discorda.

— Você é bem severo com seus subordinados.

— Aliás, não pareceu surpreso. Sabia que eu estava me aproximando?

— O que acha? Eu sabia ou estou só fingindo estar tranquilo pra manter a pose? — Ian perguntou.

Ele se virou lentamente e olhou para o líder do Crepúsculo. Seu nome era Zeke, o Sangue Carmesim. Zeke sustentou o olhar de Ian. Os dois se observaram, mediram e avaliaram um ao outro. Cerca de dez segundos se passaram assim.

A atmosfera descontraída da contação de histórias sumiu por completo. Agora estava mais tensa do que quando Kel esmagou a cabeça de um subordinado. Os dez segundos pareceram uma eternidade.

Quem quebrou o silêncio foi Zeke, o mesmo que iniciara a disputa verbal. Ele riu e balançou a cabeça.

— Isso não dá. Tentar jogar com a mente de um velho experiente como você é estressante demais… Isso não combina comigo. Que tal uma boa e limpa luta em vez disso? Eu poderia começar sem pedir, mas estou sendo cortês. Você merece isso, no mínimo.

— É mesmo? Você acha mesmo isso? — Ian perguntou.

— Acho. Se Ian, o antigo Mestre Espadachim de Krono, não tem as qualificações, quem teria?

— Não era isso que eu quis dizer.

— Hã?

— Eu estava perguntando se você tem as qualificações.

Zeke lançou um olhar feroz para o velho.

— Brincadeira — disse Ian. — Você também tem. Um feito e tanto pra alguém tão jovem.

O comentário foi genuíno. Zeke não parecia nem ter quarenta anos ainda. Ian estava ainda mais surpreso, e desapontado, do que quando avaliou Kel. Como alguém com tanto talento e habilidade poderia cometer atrocidades assim?

Ele queria fazer muitas perguntas a Zeke para entender, mas parecia que não haveria tempo. Seu oponente parecia bem impaciente. Talvez só algumas palavras fossem tudo que poderiam trocar. Ian assentiu e olhou de volta para Zeke.

Zeke franziu a testa. Algo parecia diferente nos olhos do velho, e ele estava prestes a falar quando…

— O que você acha? — Ian perguntou.

— Achar do quê? — Zeke perguntou com voz baixa. Estava irritado por o velho ter quebrado seu ritmo.

No entanto, Ian não deu atenção à irritação do outro. Apenas o encarou com olhos profundos e inquisitivos e disse:

— Do Reino Demoníaco. Que tipo de mundo você acha que ele é?

— Isso importa?

— Importa. Especificamente, o que você pensa sobre ele.

Zeke o encarou com desconfiança.

— Não precisa responder se não quiser.

— Não. Eu vou dizer. Mas antes tenho uma pergunta pra você.

— Certo. Pergunte.

— Se eu te matar, um dos Quatro Grandes Espadachins vai vir atrás de mim?

Ian riu.

— Você é bem confiante. Sim, imagino que um deles viria.

Ian estava genuinamente impressionado, não irritado. Não tinha vivido tanto tempo para se incomodar com uma provocação dessas. A audácia de provocar não só a ele, mas também os heróis mais fortes do continente, não era algo comum. Por isso suas próximas palavras foram tão lamentáveis.

— Muito bem. Gosto dessa resposta. Então vou responder também. Minha resposta é… Não tenho nenhuma opinião em particular sobre isso — disse Zeke.

— Você não tem nenhuma opinião em particular?

— É, não mesmo. Nem era uma história interessante pra começo de conversa. Esse tipo de história é comum no Sul. Se é isso que define o Reino Demoníaco, então o lugar onde nasci também é o Reino Demoníaco. — Zeke sorriu. — E eu sou o Rei Demônio que o devorou.

— Rei Demônio… — Ian repetiu.

— Isso. Eu sou o Rei Demônio que vai devorar tudo — disse Zeke. — Aquele que vai controlar todo o continente… Sou mais rei do que qualquer rei… “o verdadeiro rei”.

Zeke sorriu. O sorriso era branco e exalava cheiro de sangue. Foi de arrepiar.

O velho olhou para aqueles dentes e suspirou, sua expressão tingida de tristeza. Aquele Zeke não lamentava ter nascido num lugar terrível como o Reino Demoníaco, mas também não se incomodava com ele. Em vez disso, cometia atrocidades e vilezas, devorando seus seguidores por completo e se transformando em algo ainda mais abominável.

Não havia espaço para redenção.

“Mas…” Ian voltou o olhar.

Segundo Zeke, os bandidos eram feras, não humanos. Mas para Ian, pareciam ter mais potencial. Eram apenas como crianças que não sabiam o que era certo ou errado, que não tinham senso de identidade, e que estavam apenas manchadas pela escuridão ao seu redor.

“Talvez mereçam mais uma chance?”

Com esse pensamento, Ian virou completamente o corpo. Ficou de frente para os bandidos, dando as costas por completo ao líder. Zeke, o Sangue Carmesim, sorriu de forma feroz. O aparente desprezo de Ian o enfureceu.

Então, palavras inacreditáveis saíram da boca do velho:

— Fantasia, a verdadeira identidade do Reino Demoníaco… é o Reino Humano.

Todos o encararam, sem palavras.

— É o futuro do Reino Humano. O que os quatro heróis viram na Árvore Diabo… foi a escuridão manchando aos poucos o Reino Humano, até que se tornasse o Reino Demoníaco — disse Ian. — Isso não desperta nada em vocês? Estou dizendo… Quanto mais aumentam suas maldades, mais o Reino Humano se aproxima de se tornar o Reino Demoníaco.

Mesmo assim, nenhum dos bandidos falou.

— Humanos, incapazes de permanecer humanos, se transformarão em escuridão sem nem precisar fazer um contrato com um demônio — disse Ian. — Vocês não sentem nada?

As palavras do velho encheram o lugar com um silêncio pesado. O Reino Demoníaco era o Reino Humano? Os habitantes do Reino Demoníaco, os demônios, eram originalmente humanos? Os bandidos ficaram confusos. Forçaram suas mentes relutantes a pensar. Refletiram por um instante sobre os atos insensatos que cometeram.

Mas o tempo era curto.

— Ei, velho. — Zeke, o Sangue Carmesim, sacou sua espada. — Era só isso que você tinha a dizer?

Uma aura sinistra brilhou ao redor da espada. A energia carmesim, fiel ao seu apelido, exalava um cheiro nauseante de sangue. O odor era tão forte que parecia capaz de fazer um nariz cair. A tensão tomou o ar, mas Ian não sacou sua espada.

Em vez disso, manteve-se de costas para Zeke e se dirigiu aos bandidos com um tom relaxado, porém firme:

— Vou lhes dar uma chance de se arrependerem dos seus pecados.

Os bandidos se entreolharam, a confusão aumentando.

— Claro, não será fácil. Não esperem uma vida confortável. Terão que carregar o peso de suas maldades inconsequentes pelo resto da vida. É um peso que nunca sentiram antes — explicou Ian. — Mas se estiverem prontos para viver uma vida diferente, uma vida humana em vez de uma de demônio… então ajoelhem-se. Ajoelhem-se, baixem a cabeça, juntem as mãos… e se arrependam dos seus pecados.

A voz firme e pesada de Ian ecoou por toda a planície. Era espantoso falar assim diante do líder, uma presença tão forte e temível. Mas as palavras do velho ressoaram profundamente nos bandidos. Sentiram sua sinceridade, sua compaixão genuína, e sua tristeza por eles.

Claro, não eram muitos os que mudariam só por isso.

— Um. Só um?

— Jack?

— Esse filho da… Você enlouqueceu, Jack?

— Ei, levanta! O líder está olha…

— Esquece. Corta as pernas dele pra ele não levantar.

— O quê? Ah! Ah…

— Não, eu mesmo vou fazer isso. Antes disso…

Uma aura poderosa explodiu do corpo de Zeke. Foi tão intensa que assustou até os bandidos, já desnorteados, que falavam com Jack. O vice-capitão Kel, e até Ian. O velho finalmente se virou, mas ainda assim não empunhou sua espada. Em vez disso, gemeu como se o corpo doesse, bateu nas costas e baixou a cabeça.

Sentindo-se humilhado e confuso, Zeke se preparou para liberar sua fúria, quando uma longa faixa de aura vermelha surgiu.

Slash!

Slash, slash, slash, slash, slash, slash!

Slash!

A trilha de aura era uma luz muito mais brilhante que a de Zeke, desenhando um círculo com vinte e cinco metros de raio.

De algum modo, houve três sobreviventes. O bandido chamado Jack, que já estava ajoelhado e havia se urinado de medo, e Ian, que mantinha a cabeça baixa. Um verdadeiro monstro decapitou todos os membros do Crepúsculo, incluindo Zeke, com um único golpe. Era um dos quatro grandes Espadachins do continente.

— Faz tempo, Mestre — disse Judith.

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