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Reformation of the Deadbeat Noble – História Paralela – O Cepo 2 (3)

O Cepo 2 (3)

Cerca de cinco anos atrás, logo após se formar na Academia de Esgrima Krono, Russell Farreira era um jovem saudável, tanto física quanto mentalmente, diferente do homem que era hoje, com uma perna ausente e constantemente mergulhado em álcool.

Filho de Airen e Illia, Russell cresceu ouvindo as histórias heroicas dos pais e jurou se tornar um herói que traria benefícios ao continente. Após completar dezoito anos, partiu em jornada para a parte sul do continente. Foi então que o incidente aconteceu.

— Ouvi rumores sobre um demônio. Na verdade, não era só um, eram três… e ainda por cima, mantinham reféns.

Foi exatamente como Russell disse. Na época, ele possuía habilidades incríveis, estando no auge do nível de Especialista. No entanto, enfrentar três demônios de uma vez, especialmente aqueles que se fortaleciam com o caos do Sul, não era algo fácil.

No fim, Russell precisou sacrificar uma de suas pernas para conseguir derrotar os demônios e resgatar os reféns. Foi uma lesão grave, que nem água sagrada nem poções conseguiram curar. Por conta disso, talvez ele nunca mais pudesse viajar livremente pelo mundo.

Afinal, embarcar em uma longa jornada com uma perna protética não seria fácil. Também representava um retrocesso significativo na esgrima, era inevitável, já que um dos pilares que sustentavam seu corpo havia ruído. Mas ele não se arrependia.

Apesar de tudo, no momento em que recebeu a gratidão daqueles cujas vidas salvara, qualquer sentimento ruim derreteu como neve. Aos dezoito anos, Russell Farreira tornou-se herói de alguém antes de qualquer outro. Mas o problema surgiu seis meses depois.

— Os caras que salvei… eram bem piores do que pareciam. Digamos que… não eram boas pessoas — disse Russell, fazendo uma careta após tomar um gole de uísque.

Na verdade, ele já havia ouvido rumores sobre o caráter do grupo antes mesmo do resgate. Disseram que os capturados pelos demônios eram os mesmos que oprimiam os moradores locais. Disseram que ele não precisava arriscar a vida por eles. Mas, naquela época, Russell acreditava que era errado discriminar pessoas. Por isso, prosseguiu com a missão.

Achou que os resgatados mudariam de vida, e voltou para sua família em paz. Estava enganado. As notícias frequentes sobre os delitos cometidos por eles geraram um estresse extremo em Russell. Isso continuou por muito tempo, mesmo depois da intervenção da Academia de Esgrima Krono.

Foi uma escuridão profunda e pesada o bastante para quebrar um jovem que sonhava em ser herói. O desespero o levou a afundar nos bares.

— Você não é parecida? — perguntou Russell a Kairin.

— O quê?

— Esse ciclo interminável de pensamentos. Os pesadelos que não dá pra esquecer, por mais que se tente. Ficar se perguntando: ‘Será que fiz a coisa certa?’ E se não foi… ‘O que eu deveria ter feito?’ É um tipo de reflexão inútil, não é? Não dá pra voltar no tempo.

Kairin ficou em silêncio por um instante.

— Por isso eu bebo. Quando bebo, posso escapar, mesmo que só por um momento. Às vezes, quando bebo sozinho, o passado fica até mais claro e irritante… mas quando bebo com os outros, esses pensamentos não vêm. Estou ocupado demais rindo, conversando.

— Então é por isso que me ofereceu uma bebida?

— Em parte? Dizem que a desgraça adora companhia. Pessoas com feridas parecidas podem se consolar, beber juntas… Mesmo que lembrem de tudo no dia seguinte, por agora, que tal esquecer? Parece bom, né?

— Isso é uma proposta?

— É uma proposta. Nosso bar é bom. Tem uma variedade enorme de bebidas, e os preços são justos.

— Recuso. Obrigada pela bebida. — A expressão de Kairin endureceu. Ela devolveu a garrafa a Russell. Em seguida, virou-se e começou a se afastar sem hesitar.

Foi decepcionante. Ela ouvira porque ele se aproximou como se tivesse algo a dizer, como se tivesse conselhos para dar. Mas, no fim, era só uma fuga. Não havia motivo para continuar ouvindo os lamentos de um homem derrotado.

Era isso. Assim deveria ser. Mas… estranhamente, seus passos não tinham força.

E não era só isso. Seu corpo parecia mais pesado, como se o peso da espada tivesse dobrado. Seu coração estava carregado, como se tivesse engolido um nó. Foi então que percebeu que quase tudo que Russell dissera era autoindulgência inútil, mas uma coisa era verdade: o sentimento frustrante, denso e desconfortável em relação ao passado irreversível.

Esse sentimento a corroeria por muito tempo. Iria atormentá-la constantemente e impedi-la de seguir em frente.

— Se estiver cansada, não force demais.

— Fica quieto.

— Hmm, desculpa. Meu começo foi virar um bêbado.

— O que isso quer dizer?

— Achei que, depois de bater no fundo do poço, seria mais fácil me reerguer. E foi, pra mim.

— Você ainda vive no álcool. Que reerguida é essa?

— Talvez eu tenha sido um bêbado antes, mas hoje em dia eu não bebo pra ficar bêbado. Eu bebo porque gosto do sabor. Ultimamente me interessei por vinho. O gosto muda completamente dependendo da uva, do ano, do território. Fascinante, né?

— Diz logo o que quer dizer. Por que veio atrás de mim? O que você quer com…

— Quer trabalhar no nosso bar?

— O quê? — perguntou Kairin, incrédula.

Apenas um dia antes, ela havia matado um funcionário do bar, ainda que ele fosse um vilão. E agora, ele queria oferecer um emprego?

— Ah, na verdade, não é ‘nosso’ bar. É do Kubharu, pra ser preciso… Mas tenho influência suficiente pra recomendar alguém. E aí, quer tentar?

— Explica direito essa bobagem.

— Bobagem, é? Que cruel…

Uma energia poderosa emanou de Kairin.

— Não estou brincando.

Ela passou a vida inteira empunhando a espada para vingar a irmã mais nova, que perdeu ainda criança. Somava-se a isso seu talento nato e os sentimentos confusos após enfrentar o Jack mudado. Sua energia era ameaçadora. Era uma situação perigosa, se não tivesse cuidado, poderia cair em um Demônio do Coração.

Vendo aquilo, Russell recuou totalmente sua aura em vez de se defender. Isso surpreendeu Kairin. Ela agira daquela forma porque sabia que seu oponente era habilidoso, mas… ele se mostrar tão indefeso? Sua aura poderia machucá-lo.

Mas não aconteceu. No momento em que sua energia tocou Russell, Kairin sentiu, ele realmente se preocupava com ela. Ele se importava. Apesar da aparência despreocupada causada pela bebida, seu núcleo era surpreendentemente sólido e íntegro.

— Já disse isso pra outra pessoa… mas um bar é um lugar onde muitos tipos de pessoas com muitos tipos de preocupações se reúnem. Bêbados viram amigos, não importa quem sejam. Escutam as angústias uns dos outros e tentam encontrar respostas juntos. Que tal considerar isso?

Kairin franziu o cenho.

— Claro, você pode ir pelo mundo e buscar as respostas sozinha, enfrentando tudo de frente. Mas, como seres humanos, às vezes a gente se cansa e se desgasta. Como eu agora. Como você. Então… — disse Russell devagar — até recuperar um pouco da força… até sua mente confusa se acalmar e você puder se levantar de novo… que tal trabalhar no nosso bar?

Kairin refletiu longamente, mas sua decisão já estava tomada. Estendeu a mão de novo e disse:

— Me dá.

— O quê? Ah, a bebida? Aqui…

Kairin pegou a garrafa e bebeu.

— Ugh, urgh…

Imediatamente, Russell ficou atônito. Ver ela virar dois terços de uma garrafa de uísque com 48% de teor alcoólico de uma vez só foi um choque. Mais chocante ainda foi que Kairin não demonstrou nenhum sinal de embriaguez. Apenas franziu levemente o rosto enquanto ele a encarava, surpreso.

Então Kairin acrescentou, com uma expressão séria:

— Depois do expediente, me pague uma bebida. Uma cara.

— Acho que meu salário da semana já era…


— Então, a Kairin vai ocupar o lugar deixado pelo Jack. Ela começa a trabalhar amanhã.

— Você é mesmo habilidoso nisso. Conseguiu convencê-la e trazê-la pra cá em um único dia…

— Posso ser um preguiçoso, mas sou bom de lábia, sabia?

— Você não nega que é um preguiçoso?

— Se eu negasse, aí eu seria um canalha, não um preguiçoso. De qualquer forma, consegui reforço, então vou bater ponto mais cedo hoje!

— O quê? Nem pensar! Estamos super ocupados agora…

— Desculpa! Ouvi dizer que o bar ao lado conseguiu um vinho raro!

— Esse sujeito… Não só está dando migué, como ainda vai aumentar as vendas do bar vizinho?! — reclamou Kubharu, levantando a voz, mas Russell já havia deixado o Cepo.

Ele balançou a cabeça com uma expressão de ‘lá vai ele de novo’. Claro, ele não parecia realmente bravo. Pelo menos, foi o que Lulu percebeu. A reação dele a deixou intrigada.

— Kubharu.

— Hm?

— O Russell… Por que ele ainda está no Cepo?

— Como assim…

— Ele já atingiu o nível de Mestre, não foi? — perguntou Lulu. — Então, já deveria ter superado as feridas do seu coração, não? Ele poderia sair pelo mundo de novo… então por que continua aqui?

Lulu não conseguia entender. Russell era um Mestre da Espada. Não havia como chegar a esse nível sem superar um Demônio do Coração, então ele não precisava mais do apoio do Cepo. Se quisesse, podia sair pelo continente e perseguir seus objetivos naquele exato momento.

Então por que ainda estava ali, bebendo, contando sua história e ouvindo as histórias dos frequentadores? Por que desperdiçava seu tempo? Claro, Kubharu sabia o motivo, mas não conseguia expressá-lo em palavras próprias.

Ele sorriu e citou algo que Russell havia dito antes:

— Há um certo charme em um herói que faz companhia aos bêbados num bar de esquina, não acha?

— Que bobeira sentimental.

— Pelo menos ele parece satisfeito. — Kubharu deu uma risada, lembrando de Russell saindo do bar sorrindo, junto com a vingadora Kairin.

Mas foi então que aconteceu.

Bem no centro do Cepo, onde os bêbados normalmente se reuniam e tagarelavam alto, surgiu um misterioso portal dimensional, surpreendendo a todos. Mesmo que já tivessem ouvido rumores sobre as habilidades de Anya Marta, ainda assim, era uma visão e tanto.

Claro, Kubharu não se abalou. Desde que Lulu começou a frequentar o Cepo, Anya aparecia com frequência usando seus poderes assim, só para visitar a amiga. Ele pensou que, como de costume, ela daria umas voltas pela cidade por algumas horas e depois sumiria com um aceno de mão.

Mas ele estava errado. A notícia que Anya trouxe surpreendeu não apenas Kubharu, como também Lulu.

— O que… você acabou de dizer?

— A Ignet Crecensia vai se casar!

— Casar?! Com quem?

Anya sorriu inocentemente antes de revelar a identidade do noivo.

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