Uma brisa fresca de outono começou a soprar suavemente. Hoje era o dia do casamento de Ignet Cresensia, que passaria a ser conhecida como Ignet Meyers, a grande guerreira. Comparado ao renome de seu nome, o interesse do público por seu casamento era surpreendentemente baixo.
Todos conheciam Ignet como a Capitã dos Cavaleiros Negros. Sabiam que ela havia massacrado inúmeros demônios, mas a geração mais jovem nunca havia vivenciado diretamente o impacto de suas conquistas. Suas vidas diárias já eram difíceis o bastante para que se importassem com uma figura que parecia ter saído direto de uma biografia histórica.
No entanto, essa era apenas a reação do público em geral.
Para os líderes de várias nações, que testemunharam pessoalmente os feitos de Ignet, os esforços para preparar as delegações de felicitação foram consideráveis. Era necessário, especialmente quando se levava em conta o homem que se tornaria seu marido. Este casamento traria paz ao continente sulista, um evento cuja importância não podia ser subestimada.
— Quase não há ninguém aqui do continente Sul.
— Verdade.
— E nem um único nobre do Reino de Makan.
— Ah, você percebeu?
— Dei uma estudada. Uma nova repórter da Arena Semanal precisa ter paixão!
— Falando em paixão, o que foi que você disse quando soube do casamento? Perguntou se o noivo era o Georg Phoebe, né?
— Ah, é que… Eu sou repórter da Terra do Testamento. É difícil saber se um cavaleiro estrangeiro é solteiro ou casado…
— Bem, você tem razão, muita gente não sabe.
Georg Phoebe era o braço direito de Ignet, um guerreiro muito poderoso e atualmente mais famoso como cavaleiro representante do Reino Sagrado de Arvilius. Muitos confundiam sua lealdade inabalável com afeto romântico, mas ele era casado havia mais de vinte anos. Um marido tão dedicado não se casaria duas vezes.
Além disso, isso nem era o que importava no momento. O elfo Hinch, presidente da Arena Semanal, vasculhava os convidados com o olhar e disparava cliques com sua câmera. Era impressionante. Estavam ali pessoas que, em uma vida inteira, dificilmente se veria uma única vez.
Entre os presentes: os guerreiros mais fortes das cinco grandes famílias de esgrima que representavam os cinco reinos do Oeste; o grande e influente chefe orc Tarakan, que raramente deixava o Norte; os altos anciãos liderados pela elfa Karsia; e até Gia Runetell, a Rainha de todos os magos, que recentemente havia entrado em reclusão!
E não era só isso, estavam presentes os quatro heróis responsáveis pelas maiores conquistas da história da humanidade. Ao ver Airen Farreira, Illia Lindsay, Judith Lloyd e Brett Lloyd reunidos no mesmo lugar, Hinch foi tomado por uma profunda nostalgia.
“Jamais teria imaginado isso quando os vi pela primeira vez. Achei que só tinha conseguido um grande furo…”
Ainda se lembrava da paixão e energia dessas pessoas, que, na época, não eram muito diferentes de jovens de vinte anos, mas que, apesar da juventude, colocaram inúmeros guerreiros de joelhos. E agora, eram árvores imponentes, fortes e sólidas, capazes de sustentar todo o continente. E mais, Airen e Illia também deram frutos.
O filho mais velho, Russell, exalava uma aura indomável, mesmo com a perna protética. Elena, uma gênia entre os gênios, supostamente havia quebrado o recorde da mãe como Mestre mais jovem. Ao ver esses filhos crescerem firmes e alegres, mesmo sob o peso dos nomes dos pais, Hinch sentiu os olhos se encherem d’água.
Nesse momento, a nova repórter, Makaila, parou de olhar ao redor, perdida, e fez uma pergunta:
— Pensando bem, o casal Lloyd não tem filhos, né?
Hinch ergueu uma sobrancelha.
— Por quê? Eles não são tão próximos quanto parecem? Não, os olhares que trocam são tão carinhosos que não pode ser isso…
— Shh. Fique quieta. — Hinch franziu a testa e levou o dedo indicador aos lábios.
Makaila se encolheu. Se o chefe, sempre generoso e tranquilo, reagia assim, ela devia ter cometido um grande erro. Talvez até tivesse que escrever uma carta de desculpas ao voltar para o escritório. Felizmente, Hinch não a repreendeu mais. Em vez disso, se inclinou e revelou, em voz baixa, um fato surpreendente.
— O casal Lloyd… não pode ter filhos.
Makaila levou a mão à boca, sufocando o espanto.
— Judith Lloyd sofreu um ferimento durante a subjugação do Rei Demônio. Parece que é efeito colateral de feitiçaria… Não sei os detalhes exatos, mas é isso.
— Ah…
— Só estou te contando porque, embora seja meio sem noção, acredito que você sabe guardar segredo. Claro, quem precisa saber já sabe… mas você não deve ser a pessoa que traz isso à tona. Mesmo que alguém comente, aja como se não soubesse. Entendido?
— Sim, sim! Entendi! — Makaila assentiu vigorosamente e passou o polegar e o indicador sobre os lábios, como se estivesse fechando um zíper.
Hinch assentiu, satisfeito. “Agora ela entendeu.”
Estava prestes a tirar mais fotos quando Makaila voltou a falar:
— Hm, desculpe, mas… Posso fazer só mais uma pergunta?
— O que foi?
— É só que… Fiquei me perguntando se eles já consideraram adoção…
— Falamos sobre isso depois.
— Ah, tá. — Ela fez o gesto de fechar a boca com um zíper de novo.
Hinch tirou fotos com uma expressão rígida. Um clima desconfortável pairou por um tempo, mas apenas do ponto de vista de Makaila. O elfo experiente recordava as palavras que o casal Lloyd compartilhara com ele certa vez.
— Adoção? Estamos pensando nisso. A pessoa certa é que ainda não apareceu.
— Provavelmente está crescendo bem por aí. Aquele velho desgraçado… quer dizer, acho que ele nem é mais um velho desgraçado… Mas, enfim, precisamos encontrá-lo logo.
Uma lenda antiga dizia que, embora o auge que um espadachim pudesse alcançar fosse o nível de Mestre, havia um outro acima, o de Grão-Mestre. No momento em que alguém se tornava um Grão-Mestre, os céus lhe concediam um corpo perfeito para manejar a espada. E, caso morresse em um acidente infeliz, receberia uma nova vida por meio da reencarnação.
Claro, Hinch não acreditava nisso. “Nem sei se o nível de Grão-Mestre realmente existe… E é ainda mais absurdo imaginar que um ser tão elevado morreria logo em seguida. E reencarnação então…”
Ele não disse nada disso em voz alta. Não havia motivo para contrariar o casal Lloyd, que mantinha fé firme nessas ideias. No fim, tudo que Hinch podia fazer era sacudir a cabeça para afastar esses pensamentos desconfortáveis. Felizmente, algo aconteceu para tirar seu foco: a entrada dos noivos.
Sob os cuidados de Julius Hule, que havia assumido o título de Rei Sagrado cinco anos antes, a cerimônia transcorreu sem problemas, e os dois tornaram-se oficialmente marido e mulher. Era o momento em que o jovem rei de dezesseis anos do Reino de Makan e a veterana ex-capitã dos Cavaleiros Negros de Arvilius uniam-se como um só.
“Esse é, sem dúvida, um casal muito desigual”, pensou Hinch, aplaudindo com entusiasmo, mas de rosto impassível.
De um lado, um jovem rei com uma coroa vazia, vindo de Makan, um campo de batalha entre chacais. Do outro, a quinta heroína, que superou a maldição persistente do Rei Demônio e enfim retornou ao continente. Honestamente, estavam em níveis completamente diferentes. Mas, curiosamente, ambos pareciam muito satisfeitos com o casamento. Bastava olhar para perceber isso.
O sorriso tímido, mas genuinamente feliz, de Elijah Meyers, o rei de Makan, recebia os convidados ao lado de Ignet Meyers, que sorria com ainda mais brilho e energia do que ele.
Era algo estranho. Muito estranho mesmo.
“Bom, Ignet é órfã e originária de Makan… Deve carregar um desejo forte de que a guerra acabe e de que a paz, finalmente, chegue à sua terra. Mas é surpreendente que tenha aberto mão de seu título em Arvilius por isso…”
O Reino Sagrado de Arvilius havia proposto um tratado para proibir guerras entre nações, como forma de conter os surtos demoníacos. Todos os países envolvidos haviam concordado. Foi justamente esse tratado que permitiu a Makan travar uma guerra civil sem se importar com a opinião de outros reinos, e também o motivo pelo qual tantos que amavam a paz estavam cansados do continente Sul. Muitos justificavam isso como o sacrifício de alguns pelo bem maior, com efeitos colaterais inevitáveis.
Na prática, a questão do Reino de Makan era extremamente delicada. Mesmo neste caso, não faltaram vozes de preocupação, afinal, se Arvilius, como nação poderosa, interferisse nos assuntos internos ou mesmo indiretamente na guerra civil sob o pretexto de um casamento com a família real, estaria violando o direito internacional. Os altos oficiais de Makan não compareceram ao casamento por esse motivo.
Claro, para apaziguar tais protestos, Ignet renunciou ao título de condessa em Arvilius e recebeu uma nova nobreza pela família real dos Meyers. Além disso, ela era originalmente de Makan… mas mesmo assim…
“Será que isso vai mesmo dar certo?”
Ninguém podia prever o futuro. O cenário mais provável era que o pequeno território sob influência da família Meyers fosse poupado dos horrores da guerra.
— Bem, talvez só isso já seja bom o bastante — disse Hinch em voz alta.
— O quê é bom o bastante? — perguntou Makaila.
— Você não precisa saber.
— Você não disse que conhecimento é poder pra um repórter?
— Ainda é cedo para discutir relações internacionais com alguém que nem sabe que o Georg Phoebe é casado.
— Aff… Eu vou estudar mais, de verdade… — resmungou Makaila, reforçando sua determinação.
Hinch riu e voltou a pegar a câmera. Um repórter tinha que ser fiel ao seu dever. E assim, o casamento, onde todos pareciam felizes na superfície, chegou ao fim com sucesso.
— Nunca imaginei que tudo fosse correr tão bem.
Depois de retornar do casamento, ou melhor, de fugir para o território do Conde Cezar, um aliado da família real, o jovem rei de dezesseis anos, Elijah Meyers, exibia um sorriso satisfeito.
Jamais poderia ter previsto esse desfecho quando escapou das garras do duque Koffland, um verdadeiro demônio em forma de homem. O coração de um rei que tentou buscar asilo em outro país, ignorando os cavaleiros leais que morriam tentando protegê-lo, era tão miserável quanto possível.
“Mas não mais.”
Pouco após se refugiar em Arvilius, algo incrível aconteceu: a proposta de casamento de Ignet. Houve muitos obstáculos políticos, mas todos foram resolvidos. Era uma sorte que ela fosse originária do Reino de Makan. E um alívio ainda maior que tivesse feito tantas concessões, como abrir mão do título de condessa.
Graças a isso, embora não tenha voltado à capital onde se localizava o palácio real, Elijah retornou ao Reino de Makan… Foi uma bênção disfarçada.
Claro, ainda não havia acabado. Para manter a paz atual, a paz da família real, teria que agir com cautela dali em diante.
— Rainha.
— Chamou, Vossa Majestade?
— Sim, sim… Você não esqueceu o que lhe instruí, não é?
Elijah a havia orientado a não provocar os cinco duques e dois condes que dividiam o Reino de Makan entre si. Não importava que Ignet fosse uma ex-condessa de Arvilius, ela não era mais. Se permanecessem quietos, respeitariam a família real por causa do Reino Sagrado, mas um único deslize poderia provocar uma reação.
— Vou repetir: não faça nada que irrite os nobres. Mas também, nesse território rural, nem há muito o que fazer… — Elijah riu. — Só estou dizendo isso por preocupação, então não se preocupe demais.
— Entendido, Vossa Majestade. Com sua licença.
— Vai dar um passeio? Vá sim. Deve ser sufocante pra você, vinda de um país estrangeiro.
Com isso, a rainha Ignet retirou-se respeitosamente. Sua bela esposa, que facilmente passava por uma jovem de vinte e poucos anos, desapareceu de vista. Elijah ficou ainda mais satisfeito.
Boatos realmente não podiam ser confiáveis. “Como é possível que uma mulher tão virtuosa seja a mesma caçadora de demônios feroz com temperamento flamejante de que tanto falam?”
Devia ser exagero de Arvilius. Concordando consigo mesmo com um aceno de cabeça, o rei tomou um gole de bebida sozinho pela primeira vez em muito tempo, antes de adormecer. Assim, a vida pacífica seguiu seu curso por um tempo.
Mas, após um mês, ele percebeu, ainda que tardiamente, que havia algo estranho na atmosfera do território.