À medida que a floresta na margem sul do Rio Vermelho era gradualmente limpa, os dias de arar se aproximavam cada vez mais e mais.
A fim de facilitar o fluxo de pessoas do outro lado do rio que se estendia por cerca de cem metros, Roland havia ordenado a construção de uma ponte flutuante. Esta ponte estava apoiada por dezenas de jangadas de madeira, que foram feitas por carpinteiros, unidas por uma corda de cânhamo. Roland especificamente instruiu os carpinteiros para garantir que as duas extremidades de cada jangada fossem afiadas, afim de reduzir a resistência do impacto da água. Em cada margem, as extremidades da corda de cânhamo estavam amarradas em torno de quatro estacas grossas de madeira para manter a posição das jangadas o mais estável possível. Quatro longas tábuas de madeira foram colocadas em cada jangada para formar o convés. Estas tábuas grossas de madeira estendiam-se a dois metros das jangadas, de modo que quatro pessoas podiam andar lado a lado pela ponte.
A montagem da ponte flutuante era simples e altamente durável. Enquanto não houvesse incidentes de água subindo ou batendo violentamente, fazendo com que a corda de cânhamo se soltasse, Roland podia garantir que a ponte duraria de dois a três anos. Além do mais, a madeira da Floresta das Brumas era de excelente qualidade e também era usada para fabricar as colunas e soalhos do cais de Vila Fronteiriça, de modo que o cais era tão velho quanto Vila Fronteiriça. Embora o cais produzisse um ranger feio de madeira quando fosse pisado, nunca houve sinais de colapso.
Por meio da ponte para o oeste, o primeiro pedaço de terra a ser lavrado foi a fazenda experimental de Ramos. No momento, o perímetro já estava bem protegido, enquanto a entrada era guardada pelos soldados do Primeiro Exército. Durante estes dias, além de comer, frequentar às aulas e dormir, Ramos passava o resto do tempo na fazenda. Roland podia ver vagamente a cena cercada por tábuas de madeira de uma janela em seu escritório no terceiro andar. O trigo estava crescendo a um ritmo tão frenético que o que era apenas espigas verdes de trigo na manhã se tornariam um mar dourado pela tarde.
Estas Douradas[1], que dependiam do poder mágico para crescer, demoravam apenas um dia para amadurecer. Qualquer estranho que presenciasse isso provavelmente se ajoelharia e saudaria esse milagre.
Vendo que a terra, a população e os grãos estavam totalmente preparados, Roland decidiu que era hora de adicionar a peça final do quebra-cabeças: supervisores.
Ele convocou seu Ministro Adjunto, Barov, que estava terrivelmente ocupado até tarde.
— Creio que agora, seus aprendizes devem estar prontos para assumir papéis de liderança, certo? — Roland perguntou — Precisarei montar dois novos departamentos na Prefeitura.
— Vossa Alteza, mas… não temos mão-de-obra suficiente. — Barov respondeu embaraçosamente.
Você normalmente concordaria imediatamente antes de discutir os detalhes, mas parece que você aprendeu a se queixar recentemente. — Roland lamentou em seu coração e permaneceu indiferente por fora — Como assim? Recentemente não concedi a você um novo grupo de Cavaleiros?
Na primeira rodada de exames, Roland escolheu mais de cinquenta Cavaleiros capazes de ler e escrever. Como não havia necessidade de muitos professores, ele finalmente atribuiu a apenas nove desses cavaleiros a função de professor do ensino fundamental, enquanto os cavaleiros restantes foram designados para a Prefeitura e começaram como aprendizes.
— Vossa Alteza, esse grupo acabou por ser lento, preguiçoso e irresponsável. Eles até cometem erros enquanto copiam notas. Eles são completamente inaptos para serem aprendizes.
— Então cabe a você discipliná-los. — Roland bateu levemente na mesa — Se eles não seguirem suas instruções, envie eles direto para a mina da encosta norte. Definitivamente, eu preciso estabelecer esses dois departamentos.
— Tudo bem, Sua Alteza, como o senhor quiser. — Barov respondeu resignado.
Roland explicou:
— O primeiro departamento é o Ministério da Agricultura, que será responsável por supervisionar o plantio e cultivo das culturas dentro do meu território.
Barov ficou surpreso, sem dúvida porque esta foi a primeira vez que ele ouviu que a Prefeitura se encarregaria de assuntos agrícolas.
— Vossa Alteza, por que não deixar os servos lidarem com essas coisas eles mesmos? Plantar ou colher não tem nada a ver conosco. Precisamos apenas cobrar o valor certo do imposto.
— É por isso que seu… não, quero dizer, é por isso que as safras deste ano foram tão baixas. — Roland levantou a xícara e bebeu um bocado de água, como se estivesse enrolando a língua — Uma Prefeitura responsável precisa cuidar de como as pessoas comem, bebem e defecam.
— Como as pessoas comem, bebem e defecam…. Vossa Alteza, o senhor está brincando?
— Claro que não. Eu não preciso falar sobre a importância de comer e beber. Se meu povo não tiver comida suficiente, tanto a Prefeitura quanto eu somos culpados de abandono do dever. Quanto a defecar, você não percebe que o projeto de banheiro público foi feito para esse propósito? — Seu tom casual tornou-se sério — Não sei como funciona a Prefeitura da Cidade Real de Castelo Cinza ou se a vida dos povos comuns não é de grande importância para eles, mas aqui, em Vila Fronteiriça, eu quero estabelecer uma agência governamental universal que entenda claramente as várias condições e situações em que as pessoas vivem. Somente dessa maneira eu serei capaz de obter o apoio integral de meu povo e, assim, garantir que os decretos que eu emitir sejam efetivamente realizados. Certifique-se de lembrar o que eu disse sobre a criação deste departamento, bem como sobre as tarefas das quais este departamento será responsável.
— Sim, Vossa Majestade. — Barov limpou o suor de sua testa.
— Vá para os arquivos e encontre três ou quatro pessoas que costumavam fazer o trabalho agrícola e recrute estas pessoas para o Ministério da Agricultura. Em seguida, escolha dois de seus aprendizes para se encarregar dos registros e estatísticas. No total, seis pessoas devem ser suficientes.
— Só um momento… o senhor quer que alguns plebeus sirvam como funcionários na Prefeitura? — Barov revelou uma expressão de choque.
— Eles não são apenas obedientes, mas também muito entusiasmados para fazer estas coisas, então, por que não? Os funcionários não são equivalentes aos nobres. E o Ministério da Agricultura exigirá que alguns profissionais orientem todos os trabalhos relativos à agricultura a partir de agora.
— Mas a maioria deles nem são alfabetizados…
— É por isso que você terá que atribuir dois aprendizes para gerenciar a papelada. — Roland interrompeu — Esta situação não durará muito tempo. Em breve, implementarei um programa de educação universal em todo o meu território para ensinar todos a ler e escrever. Quando chegar a hora, você não terá que se preocupar com a falta de mão-de-obra.
Claramente, essa notícia foi ainda mais surpreendente para Barov do que a decisão de permitir que os plebeus se juntem à Prefeitura. Ele ficou em silêncio na frente de Roland por um longo tempo.
Roland não estava preocupado em obter sua aceitação e continuou dizendo:
— De volta ao assunto do Ministério da Agricultura, quando os servos cultivarem suas próprias terras, inevitavelmente haverá padrões e resultados diferentes. Alguns vão cavar o solo mais profundo enquanto outros irão pôr mais sementes em um determinado espaço. Esta será uma excelente oportunidade para observá-los. As seis pessoas do ministério precisarão numerar cada pedaço de terra, registrar cada etapa realizada pelos servos e fornecer informações detalhadas sobre o quão profundo eles cavam e quanto de espaçamento eles deixam entre cada semente. Eu darei ao Ministério as ferramentas de medição necessárias e irei ensinar estas pessoas a como utilizar as ferramentas.
— Vossa Majestade, este… é um trabalho de comparação? — Embora Barov fosse antiquado em certos aspectos, seu cérebro funcionava mais rápido do que ele geralmente acreditava.
— Sim, exatamente. Para a primeira rodada de cultivo a quantidade de colheita não será muito importante. Continuaremos a importar grãos e… usar algumas novas variedades de trigo para garantir que nosso povo não passe fome. O que preciso agora é descobrir o método mais adequado de todos e escrevê-lo na forma de um manual. Em seguida, usaremos este método amplamente, com o Ministério da Agricultura encarregado de promovê-lo, orientar as pessoas a usá-lo e supervisionar o uso.
Embora Roland não fosse versado na agricultura, isso não o impedia de usar o pensamento científico para elaborar um conjunto de melhores métodos agrícolas. Uma vez que fosse concluído, o rendimento médio por pedaço de terra seria mantido em um nível relativamente alto, mesmo que a área fosse aumentada ou mãos inexperientes fossem adicionadas.
Barov franziu a testa e não respondeu por um longo tempo. Era óbvio que ele havia caído em um estado de desconforto completo.
Roland riu e balançou a cabeça.
— Você pode voltar e tentar compreender tudo em seu próprio tempo. Mas primeiro, faça o que eu indiquei.
O Ministro Adjunto, ainda visivelmente atordoado, levantou-se e saiu. Quando ele chegou à porta, ele virou a cabeça abruptamente.
— Por favor, Alteza, o senhor mencionou dois ministérios anteriormente. Qual o segundo?
— O Ministério da Educação. — Roland respondeu — Este eu irei lidar pessoalmente.
[1] Douradas é como Roland chamou as espigas de trigo com o melhor aproveitamento e produção de sementes. Você pode conferir novamente a sua evolução aqui no capítulo 126.