Como o Lorde da Região Oeste, Roland naturalmente não tinha nenhuma experiência prática com costura para fazer um sutiã, então ele apenas desenhou e pediu para uma alfaiate confeccionar.
Apesar de Roland não ter nenhuma experiência pessoal com sutiãs, ele já tinha visto propagandas, programas de televisão e filmes mais do que o suficiente. No final, o 4º Príncipe decidiu criar o tipo mais comum de sutiã, cuja alça passava pelos ombros e prendia nas costas. Para fazer isso, ele decidiu usar três pequenos encaixes de cobre presos, em série, no tecido, o que permitia ajustar o aperto do sutiã com facilidade.
Devido à necessidade de estar sempre firme aos seios, Roland também pediu para a alfaiate medir o tamanho do busto das empregadas para confeccionar diversos tamanhos. A alfaiate já possuía uma rica experiência, devido aos seus longos anos de confecção, com os mais variados tipos de peças, logo, ao ouvir a explicação de Sua Alteza, ela imediatamente entendeu o papel do sutiã e, com as medidas já tomadas das empregadas, ela conseguiu confeccionar várias peças de tamanhos diferentes, com níveis de ajuste em cada uma delas.
Na verdade, há muito tempo que existia um protótipo de sutiã nesse mundo, chamado de espartilho. Ele não tinha a função de trazer conforto à mulher, mas, sim, apertar a cintura o máximo possível e segurar os seios para que o corpo delineasse a aparência de uma ampulheta. Os lindos vestidos aristocráticos também estavam de acordo com o design de cintura fina, então, para a maioria das mulheres, vesti-los seria uma experiência desagradável. Além disso, roupas apertadas dificultavam a circulação sanguínea, causando desmaios e outros problemas.
O sutiã, além de segurar o busto, também conseguia deixar os seios firmes e facilitar a movimentação dos braços e do resto do corpo. Vestir diariamente só faria bem às mulheres, deixando a vida mais confortável.
Em apenas dois dias, a velha alfaiate já tinha confeccionado vinte sutiãs. Seda e algodão de alta qualidade foram os materiais fornecidos por Roland para confecção, pois eram bonitos, agradáveis e permitiam uma boa ventilação, funcionando excepcionalmente bem.
No entanto, antes que Roland pudesse enviar os presentes para as bruxas, a caravana da Cidade Real chegou a Vila Fronteiriça.
Em comparação com o que havia sido programado no mês anterior, além da frota estar atrasada, havia menos navios e mercadorias que a última vez. Mesmo quando os navios atracavam no cais da vila, qualquer pessoa que olhasse para o cais sentiria que faltava algo.
— Vossa Alteza, nos encontramos novamente. — Margaret sorriu.
— Bem-vinda. Acredito que o transporte de refugiados deve ter esgotado você. — Roland olhou para a frota junto ao rio — A carga desta vez parece ser muito menor.
— Bem, é que tivemos um pequeno imprevisto. — Ela limpou o suor da testa — Se o senhor não se importar, poderíamos conversar na sala de estar? Está muito quente aqui fora.
— Concordo. — Hogg murmurou — Eu sou apenas um homem típico de Castelo Cinza, e um tempo desses acaba comigo. Se não fosse pelo motor a vapor, eu nem sairia de casa.
Roland assentiu e voltou para o castelo com o grupo de comerciantes. Ao entrar na sala de estar, eles sentiram o ar frio de repente rodeá-los. Hogg respirou fundo.
— Agradeço aos deuses por termos encontrado uma coisa tão boa. Se eu não tivesse visto o processo de fabricação do salitre com meus próprios olhos, jamais acreditaria que teria vindo do esterco. Ah, água gelada! Vossa Alteza, eu poderia…
— Claro. — Roland fez um gesto convidativo para que todos se sentassem e, em seguida, perguntou a Margaret sobre o foco da reunião — Então, qual foi o acidente? Houve uma queda na produção de salitre?
De acordo com o contrato, Margaret deveria fornecer a Vila Fronteiriça pelo menos três navios de salitre a cada mês, mas desta vez havia apenas um veleiro carregando salitre.
— Não, Vossa Alteza, a causa foi devido à recente demanda da oficina alquímica da Cidade Real de Castelo Cinza. Além do mais, a oferta deles foi abaixo do preço de mercado, mas como eles estavam sendo apoiados pelo Marquês Wyke, ninguém pôde dizer não. Definitivamente essa não foi uma transação comercial simples, pois os comerciantes estavam receosos de dizer não. — Margaret disse olhando nos olhos de Roland — Acredito que essa ordem veio de cima, de Timothy. Afinal, seu Primeiro-Ministro, Marquês Wyke, estava praticamente bufando de raiva.
— Timothy? — Roland perguntou intrigado — Ele não estava marchando para a Região Sul?
— Sim, está. — Ela assentiu — Parece que Theo já lhe informou a notícia. Ouvi dizer que ele deixou a Cidade Real de Castelo Cinza com muitos homens, cavalos e suprimentos. É muito provável que ele esteja se preparando para uma batalha contra Garcia. Logo após a sua partida, o Alquimista-chefe da oficina alquímica começou a comprar todo o salitre disponível.
Ao saber disso, Roland ficou ainda mais seguro de que enviar Theo para a capital foi a decisão certa a ser tomada. No início, ele recebeu apenas a notícia de que Timothy estava reunindo os ratos, e assim, para se precaver de uma invasão súbita, Roland fez com que Petrov fortalecesse as defesas de Forte Cancioneiro. Mas quando Roland recebeu a próxima carta secreta enviada por sua guarda pessoal, ele finalmente se sentiu aliviado, pois segundo o informe, Timothy havia partido em direção ao Sul. Aparentemente, o recrutamento dos ratos não foi para uma batalha contra a Região Oeste.
Quanto ao porquê Timothy reuniu esse grupo de ratos, a opinião de Roland e Theo eram basicamente a mesma. Os ratos não eram adequados para combate frontal e eram ainda menos disciplinados que civis e servos. Timothy iria usá-los exatamente como da última vez. Primeiro ele daria as pílulas aos ratos, tornando-os viciados, depois ele os forçaria a saírem na linha de frente da batalha. O uso contínuo da estratégia de bucha de canhão[1] era a principal força de Timothy, pois como um rei que possuía dois terços de todo o Reino de Castelo Cinza, isso ainda parecia uma estratégia segura.
Mas por que o Alquimista-chefe da capital de repente tem adquirido tanto salitre? — Roland se perguntava — Tudo bem que o pó de neve foi um dos produtos de sucesso, mas a taxa de erro durante o seu processo de fabricação ainda era muito alta, e tais produtos defeituosos seriam somente usados para demonstrações ou saudações cerimoniais. Será que encontraram a receita certa para a pólvora? Eles planejam fabricar em grandes quantidades ou estão tentando comprar o máximo possível para fazer diversos testes?
Roland balançou a cabeça e pôs de lado as dúvidas que surgiram em sua mente, especulando que isso não ajudaria em nada agora. Embora ele sentisse que, assim que possível, seria prudente concluir a industrialização da produção de ácidos e bases para a fabricação de pólvora química mais avançada.
— Bem, isso significa que você não terá como garantir a entrega dos três navios com salitre no mês que vem?
— Isso… eu não sei dizer. — Margaret disse, e embora parecesse um pouco envergonhada, ainda falou sem rodeios — Eu tive muito trabalho para trazer esse navio da Cidade da Prata para a Região Oeste. Estamos na parte mais quente do verão, então a demanda pelo salitre é muito grande. Não tenho certeza se consigo comprar a quantidade suficiente para suprir a sua demanda. Se fosse em qualquer outra estação do ano, eu poderia garantir o suprimento dos três navios.
— Entendi. — Roland tomou um gole de água gelada e continuou — Então tente novamente no próximo mês, tudo bem? Não há necessidade de você se esforçar tanto. Além disso, eu gostaria de comprar outras coisas de vocês.
— Oh? — Margaret ficou aliviada — E o que seria? Minérios?
— Pedras de lavar, aquelas utilizadas para lavar roupa. — Roland respondeu — Elas parecem um pedaço de rocha, ou uma pedra pequena cheia de buraquinhos. Se você colocar na água, elas ficam com uma textura bem diferente, lembrando a de um sabão em pedra. Eu lembro de ser bem comum na capital.
— Sim, com certeza é um minério. — Margaret, embora sem graça, disse sorrindo — Estou curiosa, claramente o senhor tem uma grande mina em seu domínio, e ainda assim não dispõe desse tipo de mineral tão comum, é difícil entender algo assim. Bem, acredito que posso conseguir. Mas, o que o senhor vai fazer com isso?
— Naturalmente, é para lavar melhor as roupas. — Roland riu.
Roland se lembrava que as pedras de lavar, ou pedras-pomes, eram essencialmente uma substância com pH básico, pois seu principal componente era o bicarbonato de sódio, que dispunha de um forte efeito bactericida e abrasivo. Nas eras passadas no antigo mundo de Roland[2], as pedras-pomes, juntamente com a mistura de cinzas de plantas e pâncreas de porcos, constituíam as principais substâncias utilizadas para limpeza. Na ausência de uma membrana de troca iônica, a eletrólise da água salgada coletaria hidróxido de sódio com uma eficiência extremamente baixa[3]. O sal não era um produto barato nesta era, então Roland pretendia comprar uma matéria-prima mais barata que fornecesse sódio em grande quantidade para produzir soda cáustica. Com soda cáustica suficiente, ele poderia fazer sabão em grande escala, bem como o glicerol, que é um subproduto da fabricação de sabão.
[1] Bucha de canhão é o termo utilizado para designar aqueles soldados que vão na frente, em um campo de batalha, para levar os tiros e proteger os canhões que estão atrás.
[2] Nem todas as pedras-pomes possuem essa composição e, talvez, o autor também tenha feito uma referência ao natrão, que também é um mineral rico em carbonato e bicarbonato de sódio. Pode ser que na China, terra natal do autor, esse tipo de rocha vulcanizada tenha uma composição com uma maior concentração de bicarbonatos de sódio. Roland precisa do sódio para fazer hidróxido de sódio, e como o sal era caro, ele pensou em comprar esta pedra em grande quantidade. Além disso, as cinzas das plantas foram um dos primeiros materiais utilizados, juntamente com a gordura animal, para se fazer sabão. Na China antiga não se utilizava gordura animal, como os fenícios que utilizavam gordura de cabra, mas pâncreas de porcos. Eles misturavam cinzas de plantas, com alta basicidade, e o pâncreas de porco, com alto teor de gordura, fabricando assim o sabão pancreático, ou sabão de porco.
[3] Embora todo o conceito seja um tanto complexo para explicar em poucas linhas, a membrana de troca iônica é uma membrana semipermeável que permite somente um tipo de íon passar por ela. Por exemplo, em uma solução aquosa de NaCl, ela deixaria somente os cátions Na+ passar, retendo os ânions Cl–.