No terceiro dia, a montagem do novo balão de ar quente foi concluída e era chegada a hora de explorar as ruínas da Floresta das Brumas.
O novo balão de ar quente foi chamado de Observador. Seu enorme cesto podia acomodar mais bruxas e era cercado por uma tela para resistir ao vento frio e à neve pesada.
Quanto mais cedo as bruxas realizassem a missão, mais seguras ficariam, então, elas se despediram de Roland e pisaram no balão de ar quente. Elas decolaram do quintal do castelo e se dirigiram para a torre de pedra.
Para pousar rapidamente e combater os inimigos assim que os avistassem, o Observador voava a uma altitude muito baixa, quase tão baixa quanto os telhados das casas da vila. A maioria dos civis testemunhou aquela cena “milagrosa”. Alguns deles ficaram parados no lugar, enquanto outros gritavam “Viva Sua Alteza Roland”, pois aos seus olhos, tal milagre só poderia ter sido criado pelo Lorde de Vila Fronteiriça. Quando o balão de ar quente sobrevoou a muralha ao oeste, todos os soldados do Primeiro Exército o saudaram. Tanto Raio quanto Maggie, que estavam voando para escoltar o balão, já eram bem conhecidas pelos soldados. A garotinha Raio, que costumava guiar as direções de tiro do Esquadrão de Artilharia, provocou aplausos animados entre os soldados.
Logo, o Observador deixou a vila para trás e entrou na Floresta das Brumas pelo nevoeiro.
Tilly estava na beira do cesto, olhando para aquela floresta que parecia não ter limites.
O outono com neve durante os Meses dos Demônios deixou a floresta inteiramente branca. Os galhos mais altos das árvores gigantescas estavam cobertos por neve espessa, e pareciam plataformas altas e largas acima do solo à primeira vista. Do outro lado estavam as extensas cadeias montanhosas, que lançavam um tom de cinza na neblina obscura. Como os sopés das montanhas não eram visíveis, pareciam flutuar no ar.
— Que vista maravilhosa. — Shavi suspirou — Esta é a primeira vez que vejo uma região coberta de neve.
— Você também é uma bruxa da Região Oeste? — Wendy perguntou curiosamente.
— Eu morava na Serra do Dragão Caído. Era perto do sul, por isso raramente nevava no inverno, e quando nevava, era bem fraquinho, nem chegava aos pés daqui. Mais tarde, ouvi dizer que Lady Tilly estava desenvolvendo um lugar para as bruxas, e que esse lugar se chamava Ilha Adormecida, então viajei secretamente para o Porto de Água Clara de barco para me encontrar com as outras bruxas.
— Entendi. — Wendy disse, balançando a cabeça com um sorriso — Sua Alteza reclamava da falta de novas bruxas, mesmo depois de espalhar o boato da Associação Cooperativa das Bruxas de Vila Fronteiriça… Parece que ele estava um passo atrás de Lady Tilly.
— Vocês também espalharam mensagens para atrair as bruxas?
— Eles tentaram, mas a pessoa que eles enviaram não era lá muito hábil. Assim que ele chegou na Serra do Dragão Caído eu fiquei logo de olho. — Cinzas disse com satisfação — Então eu o enfrentei na Cidade da Prata. Como era o nome dele mesmo? Theo?
— Você também é uma bruxa. Claro que você iria saber desse boato estranho. — Andrea disse com uma careta — Se você não tivesse conhecido Lady Tilly, provavelmente você teria ido para Vila Fronteiriça.
— Eu jamais serviria Sua Alteza Ro…
— Oh! — Andrea disse, zombando da voz de Cinzas e a interrompendo — “Sua Alteza Roland”. Combina tanto com você falar essas palavras.
— Hahaha! — Tilly não pôde deixar de rir.
Ontem, Andrea parecia deprimida com alguma coisa, mas hoje, ela parecia ser ela mesma novamente. Em Ilha Adormecida, Andrea, filha de uma família nobre, era a única que se atrevia a revidar Cinzas. Tilly, então, disse:
— Não importa de onde somos, Ilha Adormecida ou Vila Fronteiriça, somos uma família, então não façamos distinção entre as bruxas.
Ela se virou e olhou nos olhos das bruxas, uma por uma.
Antes de partir, elas haviam descrito suas próprias habilidades para que pudessem ter uma maior cooperação em batalha contra os inimigos. Não havia tantas bruxas combatentes em Vila Fronteiriça como em Ilha Adormecida, e a maioria das bruxas mais velhas não era adequada para combates. No entanto, graças aos seus esforços incansáveis, a vila foi transformada no que era hoje.
Tilly concentrou o olhar em Anna. Se ela tivesse que escolher uma bruxa que mais a impressionou, seria essa mulher, que despertou suas habilidades neste lugar desolado e causou um profundo impacto em Roland.
Quando se aproximava de Anna, ela sentia uma mistura de grandiosidade e tranquilidade indescritível, um sentimento completamente novo para Tilly. Se ela tivesse que colocar em palavras, era como a sensação de se deitar em um campo vasto, com o chão macio, mas firme em suas costas, fazendo qualquer um sentir-se extremamente à vontade.
Com exceção de Roland, Anna não costumava falar muito com os outros, e suas expressões faciais também não mudavam muito. No entanto, era difícil de ignorá-la quando ela estava entre as bruxas.
Sylvie disse a Tilly que Anna foi a primeira bruxa que evoluiu em Vila Fronteiriça e que também tinha um poder mágico incrivelmente vasto, além de sua Chama-negra ser extremamente poderosa e maleável. Mais ainda, ela foi a primeira bruxa que leu o livro Fundamentos Teóricos da Ciência Natural, um fato que fez Tilly se sentir mais próxima dela.
Neste inverno, se eu puder sentar com Anna ao lado de uma lareira e ter uma boa discussão sobre o conteúdo dos livros, com certeza seria algo muito proveitoso. — Tilly pensou em silêncio, ansiosa por esse momento.
Em seguida, a Princesa Tilly olhou para Raio, que estava voando ao lado do cesto. Como a filha de Trovão, Raio tinha muito em comum com seu pai, o explorador número um nos Fiordes. Ela era animada, curiosa e uma garota sempre disposta a agir.
Parece que ela realmente nasceu para voar. — Tilly pensou — Somente o céu infinito poderia acomodar seu coração aventureiro.
Embora Trovão quisesse que sua filha tivesse uma vida pacífica, Tilly sabia que Raio estava destinada a ser uma exploradora. Tilly soube disso no momento em que pôs os olhos na menina. Talvez, ela seria uma exploradora melhor e mais famosa que seu pai.
Tudo o que ela podia fazer era tentar o seu melhor para proteger Raio.
— Estamos quase lá. — O pensamento de Tilly foi interrompido por Raio, que chegou perto do cesto para informar a todas.
— Então entre e descanse um pouco. — Wendy disse, preocupada — Seus lábios estão brancos e cheios de gelo.
— Eu estou bem. Só o meu rosto que está um pouco entorpecido. — Ela acariciou suas bochechas rosadas — Felizmente, eu tenho o cachecol que Sua Alteza fez pra mim, então minhas orelhas estão quentinhas.
Elas não encontraram demônios ferozes ao longo da jornada. As bestas demoníacas que rastejavam pelas florestas ocasionalmente rugiam uma ou duas vezes na direção delas, mas obviamente não tinham a capacidade de atacar um balão de ar quente no céu, de modo que a primeira metade da jornada foi bastante tranquila. No entanto, quando o Observador chegou acima do seu destino, todas ficaram chocadas com a visão abaixo.
A floresta parecia ter sido varrida por algo enorme. Troncos e galhos quebrados estavam espalhados por toda parte, e a neve no chão estava totalmente virada e misturada com lama, formando uma cena bastante caótica.
— Onde está a torre de pedra? — Cinzas perguntou.
— Costumava estar lá. — Raio apontou para o espaço aberto sob elas, não acreditando no que estava vendo — Ela… se foi!
Tilly olhou na direção em que Raio estava apontando. No chão marrom e branco, havia um enorme buraco. Era tão negro que parecia não ter fundo, como se alguém houvesse cavado um túnel em direção ao abismo. No entanto, de acordo com o tamanho da entrada do buraco, seja lá o que for que criou isso deveria ser extremamente grande.
— Sylvie, olhe o que há dentro do buraco.
Sylvie rapidamente franziu a testa e sua expressão ficou horrorosa.
— Um… um monstro parecido com um verme! Está se movendo para o noroeste. Espere um momento, a torre está no estômago dele!
— O quê? No estômago? — Cinzas perguntou chocada.
— Sim, estou vendo a torre de pedra… o caixão de gelo está lá exatamente como as meninas disseram. — Sylvie tentou dizer da forma mais clara possível — Céus! O monstro engoliu as ruínas! Engoliu tudo!
— E o que vamos fazer? — Todas as bruxas olharam para Tilly.
— Tem alguma outra coisa lá além desse verme? — A Princesa Tilly perguntou em um tom sério — Como demônios?
— Humm… há algumas bestas demoníacas, mas todas estão no estômago do verme. Acho que estão mortas. — Sylvie observou por um momento e balançou a cabeça.
Tilly pensou por um momento e disse, decidida:
— Vamos aterrissar. Algumas ficam aqui fora vigiando e as outras vão comigo pelo buraco matar o verme e recuperar o caixão de gelo!