Anna assentiu. Ela esticou sua Chama-negra em um fio, pressionando-o gentilmente contra o caixão de gelo.
As bruxas seguraram subconscientemente suas respirações. Então elas viram uma fumaça verde subir no local onde a Chama-negra tocou. No entanto, essa não era a cor da fumaça em si, mas um reflexo da luz do Coração de Fogo.
A Chama-negra penetrou no gelo.
— Então, como está? — Tilly perguntou.
— É um pouco duro, realmente, mas posso abrir. — Anna respondeu.
De repente, o caixão de gelo começou a mudar. Com um estalo nítido, algumas rachaduras apareceram ao redor da área onde a Chama-negra penetrou. Parecia que todo o caixão estava subitamente coberto por teias de aranha. Quase ao mesmo tempo, Shavi levantou um escudo para proteger todas as bruxas.
Mas não houve explosão como elas esperavam. O caixão de gelo se despedaçou completamente, exalando um ar frio. E então, as bruxas descobriram que o caixão de gelo transparente era na verdade composto de duas camadas, e sua camada interna era um genuíno cristal de gelo. Instantaneamente, todas puderam sentir um calafrio, pois a temperatura do local caiu rapidamente.
Felizmente, Anna impediu que a temperatura caísse ainda mais ao ampliar a área de contato de suas chamas, o que aumentou gradualmente a temperatura.
Sob o calor ardente da Chama-negra, o cristal de gelo começou a derreter ainda mais rápido, e sua transparência diminuiu drasticamente. Alguns momentos depois e o cristal já não tinha a sua forma angular. Continuou derretendo e encolhendo sob o calor, como se fosse gelo comum. Mas Tilly notou que não havia uma grande poça d’água no chão. O gelo derretido se transformava em névoa e se afastava, como se o caixão de gelo nunca tivesse existido.
Depois que todo o cristal de gelo se dissolveu, a mulher selada lá dentro apareceu.
Ela ainda parecia estar em seu sono profundo. Seus longos cabelos e roupas não tinham nenhum traço de estarem encharcados, e pareciam o mesmo dantes de estar selada. Perdendo o apoio do caixão, a mulher caiu debilmente, mas foi segurada por Cinzas antes de cair no chão.
— Ela ainda está viva?
— Ela está fraca, mas seu coração ainda está batendo. — Cinzas pressionou a mulher em seu peito — Isso… é realmente incrível.
Sim, realmente incrível. — Tilly percebeu que em menos de uma semana desde que chegou em Vila Fronteiriça, ela havia testemunhado coisas mais bizarras do que no ano anterior por inteiro. Mas ela também ficou um pouco aliviada, já que a identidade dessa pessoa que sobrevivera nesse cristal de gelo certamente era a de uma bruxa.
Pelo menos esta aventura não foi em vão.
Quanto ao nome dela, sua origem e a razão pela qual ela estava presa nas ruínas… todos esses quebra-cabeças podiam esperar até que voltassem para a vila.
Andrea se sentiu um pouco entediada por estar esperando do lado de fora do buraco. De vez em quando ela olhava para o buraco, desejando ver Tilly voltar o mais cedo possível.
Nenhum vestígio de demônios foi visto em torno das ruínas. Mesmo bestas demoníacas eram raras de se ver. Ocasionalmente, alguns lobos demoníacos ou javalis demoníacos saíam da floresta, mas antes que Andrea puxasse o arco, Rouxinol já os matava com suas adagas, atirando-as certeiramente.
O tempo pareceu correr mais devagar. Tirando ela, todas as outras bruxas que estavam de guarda eram da Associação Cooperativa das Bruxas. Ela não conseguia encontrar ninguém com quem pudesse conversar para matar o tempo. Embora a mulher chamada Wendy parecesse muito gentil, Andrea não teve coragem de iniciar uma conversa com ela.
Como uma nobre superior do Reino do Alvorecer, a elegância e a discrição eram suas qualidades essenciais.
Ah, esquece. Vou conversar com Rouxinol. Ouvi dizer que ela recentemente lutou com Cinzas e surpreendentemente empataram. Sendo esse o caso, se eu tratar isso como coleta de informações sobre minha rival, isso não deve ser considerado como eu ter iniciado uma conversa, não é? Sim, é como se fosse meu dever de casa. — Andrea pensou consigo mesma.
Ela tirou a neve de seus cabelos e olhou ao redor. Seu coração de repente disparou. Rouxinol havia desaparecido!
Aquela mulher de cabelos loiros encaracolados e que parecia tão graciosa quanto uma nobre estava agorinha mesmo encostada no cesto do balão, mas de repente Andrea a perdeu de vista e não conseguia mais encontrá-la.
Ah, é verdade, a habilidade dela é invisibilidade. — Tendo isso em mente, Andrea se acalmou para ouvir os sons ao redor. Quando ela não podia encontrar seus oponentes com os olhos, ela deveria utilizar suas orelhas e seu nariz.
Então ela ouviu uma série de passos abafados.
Será que é Rouxinol? Não, não é! — Andrea pensou e então um medo brotou em seu coração. Esses passos não eram de uma pessoa, mas sim de um grupo aproximando-se na floresta à sua frente, a não mais que 100 passos de distância! Ela manteve os olhos bem abertos, mas não conseguia ver nada além da floresta tranquila.
Os passos indicavam que os inimigos estavam se aproximando dela rapidamente.
Droga. Os inimigos estão invisíveis! — Andrea pensou, mas antes que ela pudesse avisar as outras bruxas, um rugido de repente explodiu perto de sua orelha.
Houve um clarão, seguido por um vento forte, e então um monstro de formato estranho apareceu bem diante de seus olhos. Ele tinha uma cabeça estreita e um par de garras afiadas, que fazia a criatura parecer como um louva-deus mutante. Mas o que o diferenciava de qualquer outro inseto era que ele estava andando ereto.
A bala disparada da arma de fogo deixou um lado do rosto da criatura em pedaços. Sangue negro começou a jorrar de seu crânio e quase respingou em Andrea.
O monstro desabou no chão. Ela viu o manto branco e o capuz de Rouxinol.
E então veio um segundo tiro!
Droga. Eu estava muito descuidada! — Andrea mordeu os lábios com força — Rouxinol notou o perigo mais cedo do que eu.
Ela convocou seu Arco-longo Mágico. Mas sem saber para onde atirar, ela lentamente recuou para o cesto, e ficou ali, de pé ao lado das outras bruxas.
Após quatro tiros, mais quatro monstros caíram, cada um sendo morto por um único tiro. Quando Rouxinol apareceu ao lado de um dos monstros já mortos, Andrea guardou sua arma mágica e caminhou rapidamente até ela.
— O que eles são?
— Bestas demoníacas ou demônios. — Rouxinol agachou-se, mexendo nas presas e nas garras daquelas criaturas — Mas a julgar pela cor de seu sangue, eles se parecem mais com bestas demoníacas.
— Quando você notou?
— Na mesma hora em que eles apareceram. — Rouxinol sorriu — Quando estou no mundo de névoa, os corpos com poder mágico brilham com tanta intensidade quanto as estrelas no céu noturno.
— As bestas demoníacas podem possuir uma habilidade tão forte assim?
— Hum… — Rouxinol sorriu — Penso que bestas demoníacas híbridas são, de certa forma, especiais.
Ao mesmo tempo, as sete bruxas que haviam descido voltaram. Com elas estava uma mulher de cabelos azuis no ombro de Cinzas.
— Era ela quem estava pedindo ajuda nas ruínas? — Andrea andou na direção delas e perguntou.
— Sim, ela mesma. — Tilly assentiu — Vou contar para vocês os detalhes quando subirmos no Observador. Eu sinto que quanto mais tempo passarmos aqui na floresta, mais perigoso será. Ah, e foi tudo bem aqui na superfície?
— Algumas bestas demoníacas híbridas bastante estranhas apareceram, mas estão todas mortas agora. — Rouxinol deu de ombros e disse.
O balão de ar quente rapidamente decolou. O cesto ultrapassou a altura das copas das árvores e começou a se mover para a vila. Neste momento, Sylvie apontou para baixo e exclamou:
— Céus! São bestas demoníacas?
— Onde? — Andrea esticou o pescoço e pôs a cabeça para fora do cesto, mas não enxergou nada.
Só que, de repente, ela percebeu alguma coisa se mexendo no chão. Parecia que os cadáveres das bestas demoníacas híbridas que estavam no chão estavam com metade de seus corpos enterrados. As manchas de sangue na neve perto dos cadáveres estavam uma bagunça, como se tivessem sido pisoteadas. Andrea podia ver várias criaturas minúsculas se mexendo entre a lama e a neve, indo em direção ao buraco. Era como olhar através de um copo de vidro. Se a pessoa não examinasse com cuidado, seria muito difícil perceber essas nuances.
— Parece que são bestas demoníacas híbridas, só que mais estranhas ainda. — Rouxinol falou de maneira casual — Parece que têm mais de cem. Elas estão correndo para tentar ver quem alcança primeiro o buraco, por isso estão pisoteando tudo o que veem pela frente. Será que foram atraídas por aquele verme gigante e estão querendo ter uma refeição daquelas? — Ela bocejou — Bem, de qualquer forma, isso não tem mais nada a ver conosco.